—Ai, meu Deus! Eu não vou pagar isso!A surpresa de Anja era tão genuína que Milo só pôde rir.—Não importa, eu pago! —garantiu enquanto olhava para o espelho.—Claro que você paga!, mas quem é que fica com o azar? —repreendeu Anja.—Dividimos cinquenta-cinquenta?—Três anos e meio de azar para cada um? —resmungou Anja—. São três anos e meio a mais do que me cabe! Melhor você ficar com todo o azar, eu já me rendo com a minha cota de má sorte!O riso escapava dos lábios da moça, até que ficaram quietos e ela pareceu perceber onde estava. Seus olhares se encontraram em um instante, um brilho especial que refletia a cumplicidade que havia surgido entre eles em um só segundo, mas nenhum dos dois se atrevia a dizer em voz alta.Os antebraços de Milo estavam firmemente fechados ao redor de sua cintura e os pés descalços de Anja balançavam no ar, fazendo com que ela tivesse que se apoiar naqueles ombros enormes. O silêncio persistia, criando uma tensão palpável entre eles, mas finalmente Anja
O pé de Milo parecia um brinquedo de corda, batendo insistentemente no chão do elevador enquanto este subia. Só iam ver prédios, não era nada extraordinário, mas vê-la estava provocando ultimamente algumas reações muito pouco apropriadas.Bateu na porta e quando ela abriu, Milo ficou sem palavras por um momento. Usava uma blusa vermelha de seda e uma calça escura justa que realçava todas as suas curvas.—Oi, já estou pronta, me dá um minuto para pegar a bolsa.—Oi... —sussurrou ele enquanto a via se inclinar sobre o sofá e jogar dentro daquela bolsa qualquer coisa que não importava porque ele só tinha olhos para sua bunda."Tenho que conseguir um sofá mais alto para ela", pensou, porque se ela continuasse se inclinando assim ele ia perder todos os parafusos.Aquela onda de desejo era difícil de ignorar, mas rapidamente lembrou a si mesmo que não podia se deixar levar por esses sentimentos. Ela era a mãe do Niko e teria feito qualquer coisa para ter seu filho de volta, qualquer insinuaç
—Anja!—Quê?!Era provocação, desafio, afronta e tudo mais, e enquanto o peito da moça subia e descia contra o seu, os olhos de Milo só estavam fixos naquela boquinha zangada, determinada e feroz, pensando na forma tão absoluta em que teria gostado de devorá-la e o covarde que era por não fazê-lo ali mesmo.A respiração de Anja estava entrecortada, podia sentir o hálito de Milo muito perto de sua boca e havia algo, algo que não podia explicar e que fazia suas pernas tremerem como se fossem de manteiga.—Deus sabe que não sou um homem controlador, mas se vai fazer isso não quero você a mais de três metros de mim a partir de agora —sentenciou—. Não sai, não come, não dorme a menos que eu tenha você à vista, ficou claro?—Vou pedir um tapete grosso para o chão do meu quarto —respondeu ela e ele teve que morder o lábio inferior para não responder a isso.Tinha sabido desde o primeiro dia, era das rebeldes, das indomáveis, mas se não podia contê-la então tinha que fazer até o impossível par
Anja se espreguiçou de repente, percebendo que ficar olhando para Milo não era a melhor ideia naquele momento. Caminhou pelo corredor procurando o quarto que ele havia mencionado e ao abrir a porta seus olhos se arregalaram, porque ela havia esperado um quarto de hóspedes, mas em vez disso estava no próprio quarto de Milo.Tudo ao redor era como uma extensão de sua personalidade. Uma parede cheia de livros, uma escrivaninha repleta de gadgets eletrônicos que ela nem sabia para que serviam... uma cama extra grande, muito extra grande!Pigarreou tentando não pensar nisso, nem conseguia lembrar a última vez que tinha dormido com alguém, então melhor não tentar o corpo. Caminhou até o closet e o cheiro dele pareceu invadi-la, abriu uma das gavetas e tirou uma camiseta tamanho "mastodonte" que chegava quase aos joelhos, mas não podia ficar com toda a roupa molhada, se trocou e pensou cem vezes como fazer para procurar a lavanderia, mas antes de sair do banheiro viu algo em um dos armários d
—Obrigada, mas não acho que seja corret...—Você gostaria de ficar para almoçar conosco? —perguntou Milo interrompendo-a e cortando aquela tentativa de fuga—. Niko está de bom humor hoje porque fizeram a comida favorita dele, então... topa?Anja assentiu com um sorriso radiante, cada momento que podia estar com seu filho era mágico para ela.—Claro! Agradeço, só deixa minha roupa terminar de secar e já vou.—Não se preocupe com isso, deixa aí, você está bem assim —disse Milo sem dar importância—. Se estiver com pudor, naquela gaveta tem alguns shorts e cuecas novas, pode usar... só não cheira.Anja abriu a boca pronta para responder, mas ele fugiu correndo do quarto. Resmungando, foi até a gaveta e viu de fato cuecas que nela ficariam quase como legging, pegou uma e teve a tentação de levar ao nariz."São novas, não vão ter o cheiro dele, não seja boba... Mas por que você quer cheirar as cuecas dele!? Droga, droga, droga!"Deixou de novo como se assim evitasse a tentação e saiu dali pr
Anja sentia que o coração batia com muita força. Ficar nervosa de vez em quando era aceitável porque só o via alguns minutos por dia, mas algo lhe dizia que tudo isso pioraria no momento em que vivessem sob o mesmo teto.—Milo, não posso me mudar com você, não é correto. Você tem sua privacidade e não seria certo eu invadir...—O que você está dizendo, Anja? Minha privacidade é o que menos deve te preocupar. Você já se meteu na boca do lobo com o assunto do Hamish Randall para descobrir quem está me roubando, e combinamos que se você quer fazer isso, então não vou te perder de vista, um trato é um trato. Ou você pretende me decepcionar logo de cara?—Ei! —reclamou ela, mas a expressão de Milo parecia determinada—. Não quero ser um incômodo.Milo quase revirou os olhos.—Como você pode pensar isso? Esqueceu que fui eu que cruzei um monte de fronteiras para te encontrar? Você não é um incômodo, além disso, Niko também precisa ir se adaptando a você. Seria muito bom para ele se você estiv
Milo se sentia como se estivesse no melhor restaurante do mundo, desfrutando da companhia de sua família improvisada, mas deixou claro uma e cem vezes que não comeria aquela sobremesa tão horrível.Depois do jantar, decidiram assistir a um filme juntos na sala de casa. Milo acendeu a lareira e ajeitou o sofá para que os três se deitassem para ver... todos os episódios do Pica-Pau!—Se acostume —sussurrou Milo por cima da cabeça de Niko, que se acomodava entre Anja e ele—. Não somos mais donos da TV.—Não se preocupe —respondeu ela no mesmo tom—, quando ele dormir a gente se vinga com um filme de terror.Milo fez uma careta, como se fosse uma criança assustada, e Anja cobriu a boca para não rir porque Niko já estava cochilando de tanto sono. Finalmente, meia hora depois, o menino respirava tranquilamente, dormindo como uma pedra sobre o peito da sua mãe.—Posso levá-lo para dormir? —pediu Anja e Milo assentiu com doçura, mas cinco minutos depois ela não tinha se movido do lugar.—Não va
—Isso não é trapaça! Você prometeu! Disse que provaria minha sobremesa se gostasse do filme, e como nós dois sabemos que você vai gostar, acho que está na hora de cumprir sua palavra —sentenciou Anja com a maior seriedade.Milo estremeceu um pouco, aparentemente desconfortável com a ideia, mas não teve escolha a não ser segui-la até a cozinha com um gesto de resignação.Observou o prato que Anja segurava nas mãos depois de tirá-lo da geladeira e franziu a testa.—Mas Anja, é que a sobremesa parece realmente... feia —protestou Milo, tentando encontrar uma desculpa para evitar prová-la.Anja deixou escapar uma risadinha travessa e sacudiu um guardanapo limpo diante dos olhos de Milo.—Não se preocupe, o que os olhos não veem, o coração não sente —garantiu dobrando o guardanapo e aproximando-o dele—. Se fechar os olhos, não vai saber como ela parece. Só se concentre no sabor —sugeriu, piscando um olho.A contragosto, Milo fechou os olhos e deixou que ela colocasse aquele guardanapo. Prepa