Acalmá-la foi mais difícil do que Milo havia esperado, afinal, havia muitos anos de dor acumulados no coração daquela garota, mas quando começou a faltar ar novamente, Anja não teve escolha senão fazer sua parte e se acalmar.Desembarcaram no aeroporto de Zurique e imediatamente subiram nas vans que já os estavam esperando. Jhon seguiu para Lucerna, onde Chiara e suas filhas o esperavam, e Milo levou a moça para um belo hotel no centro da cidade.Anja olhou ao redor assustada quando entraram, e Milo a viu limpar instintivamente as mãos na calça, como se temesse sujar algo. A suíte era enorme, com um quarto, uma sala, um pequeno bar e uma varanda.—Espero que você goste, vai ficar aqui por alguns dias até que possamos decidir o que fazer —explicou Milo deixando sua bolsa sobre o sofá—. Por enquanto descanse, tome banho, tente se acalmar. Virei buscá-la à tarde para irmos à clínica fazer o exame de DNA. Tudo bem?—Hum... tudo bem. Como você disser.A verdade é que ela tinha um monte de p
Milo estava convencido de que Anja era a mãe de Niko, mas não podia simplesmente entregá-lo. Precisava de tempo para conhecê-la em um ambiente onde ele pudesse controlar qualquer situação.Viu-a sair poucos minutos depois e, após agradecer ao médico, foram para seu hotel.—O resultado do exame demorará algumas semanas —murmurou Milo e ela caminhou até a janela da varanda abraçando o próprio corpo.—E quando... quando poderei vê-lo? —perguntou Anja e a preocupação nos olhos de Milo lhe disseram que ainda não—. Você não quer que eu o veja.—Preferiria que o exame saísse primeiro e ter tempo... —mordeu o lábio inferior, metendo as mãos nos bolsos—. Preciso de tempo para compartilhar com você, para te conhecer. Sinto muito mas Niko está comigo, sou seu tutor e tenho que me certificar de que você é boa para ele —confessou com sinceridade—. Desde que ele chegou a mim tenho procurado você, não deixei de procurar nem um dia porque entendo que Niko precisa da mãe dele, mas... ele não é uma cois
Anja podia ver em sua expressão, o que ele queria saber, o que queria perguntar, mas não podia resistir a isso porque finalmente a verdade era que ela era uma mulher que havia matado um homem, e Milo precisava entender por quê.Era evidente que ele estava intrigado por sua história e não podia perder a oportunidade de falar com ela sobre o que realmente havia acontecido.—Posso te fazer uma pergunta? —indagou ele e ela assentiu com um gesto de cansaço.—Pode falar.—O que aconteceu realmente? Por que você ficou três anos na prisão?Anja apertou os lábios, mas manteve seu olhar.—A esta altura eu teria pensado que você já leu o relatório do meu caso —disse com um tom de resignação em sua voz.—Sim, li —respondeu ele—. Mas isso é só o que outras pessoas escreveram sobre coisas que não viveram. Quero que você me diga o que realmente aconteceu, com suas próprias palavras, porque se tem algo que eu sei é que ninguém mata outra pessoa por prazer a menos que seja um sociópata e você não é. Nã
Milo franziu a testa.—Será que eles tiveram algo a ver com o seu desaparecimento?Ela deu de ombros.—Não sei... já não sei de nada. Mas se tivesse que fazer tudo de novo, faria.Milo assentiu com tristeza.—Sinto muito pelo que você passou —disse em um tom suave—. Ninguém deveria passar por algo assim. E sinto muito por ter feito você relembrar esse momento.—Não se preocupe —respondeu Anja—. É parte da minha vida, e não posso mudar isso. Só posso mudar a pessoa que fui, só posso ser mais forte.Mas Milo tinha certeza de que não era só isso, ela não estava mais forte, estava mais isolada, mais sozinha, mais vulnerável. Anja já não acreditava em ninguém nem em nada e isso eventualmente acabaria destruindo sua vida. Mas talvez quando tivesse Niko de volta... sim, quando tivesse Niko de volta tudo seria diferente.—Quer ir comigo buscar esse computador? —ele a animou, mudando completamente de assunto—. Além disso, seria bom você conhecer um pouco a cidade.Ela hesitou um momento mas aca
As roupa três vezes maior que seu tamanho não lhe fazia justiça, mas Anja tinha um corpinho de boneca, com curvinhas delicadas nos lugares certos. Os certos para despertar toda classe de instintos que ele acreditava ter muito controlados desde que era pai e exemplo moral a seguir.O problema era que havia uma parte dele, uma consideravelmente... entusiasta, que naquele momento só queria ser exemplo de outra coisa.Milo fechou o casaco longo e negou.—Não... nada, não disse nada —murmurou—. Olá!—Oi —Anja sorriu suavemente.—Vejo que você... gostou da roupa —respondeu ele coçando a nuca.—Adorei, obrigada. Você não devia ter feito isso, mas entendo que não posso ir apresentar um projeto de jeans, né? —disse ela tentando ajeitar o vestido—. Mas este é o único que aceito, os outros nem toquei.—Mas são seus.—Não, claro que não, a última coisa que quero é abusar. Um porque é necessário, mais que isso seria demais.Ela estendeu a mão e quando colocou aquela gabardina por cima, Milo sentiu
Anja sentiu que todos os olhos estavam postos nela, mas Milo se inclinou sobre seu ombro.—Não se assuste, eles estão atordoados porque você é a primeira garota que trago aqui.Ela tentou rir, mas a verdade era que estava muito nervosa. Milo lhe cedeu o assento principal na mesa e ela tirou o computador para mostrar o projeto que havia desenhado. Começou a expor com detalhes a ideia que tinha para criar um lar temporário para as crianças resgatadas, onde poderiam receber amor, atenção e cuidado até que pudessem se reunir novamente com seus pais.Falou do projeto arquitetônico que precisavam para as brincadeiras, o aprendizado e o descanso; dos profissionais que trabalhariam no projeto e sobre uma estimativa geral de custos.O ambiente ficou tenso enquanto os advogados escutavam Anja com atenção, mas aparentemente tinham objeções a cada uma de suas ideias. Finalmente, o chefe dos advogados tomou a palavra.—O projeto é muito bom em si, na teoria, mas na prática é um pouco difícil de rea
Milo se agachou para receber Niko, que corria em sua direção com os bracinhos abertos, esperando sempre seu aviãozinho para que Milo o levantasse no ar e o fizesse dar algumas piruetas.—Campeão! O que você está fazendo aqui? Pensei que iriam ao parque de manhã! —disse carregando-o e dando um beijo estalado em sua bochecha.—Desculpe, senhor Keller —se desculpou a babá que o cuidava—. Estávamos no parque mas de repente começou a chamá-lo e a chorar, e não ficou tranquilo até que eu o trouxesse.—Não se preocupe, às vezes ele fica inquieto, mas podemos resolver —respondeu Milo com gentileza.Deu uma volta com Niko e este se pendurou em seu pescoço como um macaquinho.—Papai! —exclamou e Milo não pôde evitar rir.—Quer tomar sorvete?—Sorvete! —concordou o pequeno e Milo se viu ali naquele corredor, com seu filho pequeno nos braços, enquanto um sorriso iluminava seu rosto.O menino ria e estendia seus bracinhos, empolgado com o sorvete que estavam prestes a buscar, mas seu pai adotivo sa
Começou a tomar seu sorvete em silêncio enquanto observava Niko. Era um menino precioso e em quase tudo se parecia muito mais com ela do que com qualquer pessoa.—Quantos anos você tem, querido? —perguntou com carinho, tentando criar qualquer tipo de conversa com ele e aquele era um tema neutro.Ele levantou dois dedinhos e disse com muita segurança.—Esses.—Dois aninhos? —sorriu Anja encantada, vendo que ele não parava de comer. Sentia que morria de amor só de vê-lo.—Hummm —respondeu Niko olhando para seu pai com curiosidade, como se quisesse saber por que havia uma estranha perguntadora com eles tomando sorvete.—Ele ainda não fala muito —disse Milo a Anja—. Quando o resgatamos não dizia nem uma palavra, agora já tem um vocabulário mais amplo e um pouquinho mais... bem...—Sujo? —perguntou Anja e viu Milo fazer um biquinho.—Sim, desculpe, quando estava no time eu vivia xingando e soltando palavrões. Quase consegui eliminá-los mas você vê que nessa idade tudo gruda neles como se fo