As roupa três vezes maior que seu tamanho não lhe fazia justiça, mas Anja tinha um corpinho de boneca, com curvinhas delicadas nos lugares certos. Os certos para despertar toda classe de instintos que ele acreditava ter muito controlados desde que era pai e exemplo moral a seguir.O problema era que havia uma parte dele, uma consideravelmente... entusiasta, que naquele momento só queria ser exemplo de outra coisa.Milo fechou o casaco longo e negou.—Não... nada, não disse nada —murmurou—. Olá!—Oi —Anja sorriu suavemente.—Vejo que você... gostou da roupa —respondeu ele coçando a nuca.—Adorei, obrigada. Você não devia ter feito isso, mas entendo que não posso ir apresentar um projeto de jeans, né? —disse ela tentando ajeitar o vestido—. Mas este é o único que aceito, os outros nem toquei.—Mas são seus.—Não, claro que não, a última coisa que quero é abusar. Um porque é necessário, mais que isso seria demais.Ela estendeu a mão e quando colocou aquela gabardina por cima, Milo sentiu
Anja sentiu que todos os olhos estavam postos nela, mas Milo se inclinou sobre seu ombro.—Não se assuste, eles estão atordoados porque você é a primeira garota que trago aqui.Ela tentou rir, mas a verdade era que estava muito nervosa. Milo lhe cedeu o assento principal na mesa e ela tirou o computador para mostrar o projeto que havia desenhado. Começou a expor com detalhes a ideia que tinha para criar um lar temporário para as crianças resgatadas, onde poderiam receber amor, atenção e cuidado até que pudessem se reunir novamente com seus pais.Falou do projeto arquitetônico que precisavam para as brincadeiras, o aprendizado e o descanso; dos profissionais que trabalhariam no projeto e sobre uma estimativa geral de custos.O ambiente ficou tenso enquanto os advogados escutavam Anja com atenção, mas aparentemente tinham objeções a cada uma de suas ideias. Finalmente, o chefe dos advogados tomou a palavra.—O projeto é muito bom em si, na teoria, mas na prática é um pouco difícil de rea
Milo se agachou para receber Niko, que corria em sua direção com os bracinhos abertos, esperando sempre seu aviãozinho para que Milo o levantasse no ar e o fizesse dar algumas piruetas.—Campeão! O que você está fazendo aqui? Pensei que iriam ao parque de manhã! —disse carregando-o e dando um beijo estalado em sua bochecha.—Desculpe, senhor Keller —se desculpou a babá que o cuidava—. Estávamos no parque mas de repente começou a chamá-lo e a chorar, e não ficou tranquilo até que eu o trouxesse.—Não se preocupe, às vezes ele fica inquieto, mas podemos resolver —respondeu Milo com gentileza.Deu uma volta com Niko e este se pendurou em seu pescoço como um macaquinho.—Papai! —exclamou e Milo não pôde evitar rir.—Quer tomar sorvete?—Sorvete! —concordou o pequeno e Milo se viu ali naquele corredor, com seu filho pequeno nos braços, enquanto um sorriso iluminava seu rosto.O menino ria e estendia seus bracinhos, empolgado com o sorvete que estavam prestes a buscar, mas seu pai adotivo sa
Começou a tomar seu sorvete em silêncio enquanto observava Niko. Era um menino precioso e em quase tudo se parecia muito mais com ela do que com qualquer pessoa.—Quantos anos você tem, querido? —perguntou com carinho, tentando criar qualquer tipo de conversa com ele e aquele era um tema neutro.Ele levantou dois dedinhos e disse com muita segurança.—Esses.—Dois aninhos? —sorriu Anja encantada, vendo que ele não parava de comer. Sentia que morria de amor só de vê-lo.—Hummm —respondeu Niko olhando para seu pai com curiosidade, como se quisesse saber por que havia uma estranha perguntadora com eles tomando sorvete.—Ele ainda não fala muito —disse Milo a Anja—. Quando o resgatamos não dizia nem uma palavra, agora já tem um vocabulário mais amplo e um pouquinho mais... bem...—Sujo? —perguntou Anja e viu Milo fazer um biquinho.—Sim, desculpe, quando estava no time eu vivia xingando e soltando palavrões. Quase consegui eliminá-los mas você vê que nessa idade tudo gruda neles como se fo
—Vamos supor que eu sou uma mulher inteligente —disse Anja com expressão impenetrável enquanto cruzava os braços sobre o peito—. Me fale dessa proposta.Hamish esboçou um sorriso torto. Tinha entrado no escritório no último ano e graças ao seu talento tinha se tornado o segundo dentro do escritório jurídico. Por sorte ou por azar, Anja tinha experiência suficiente para saber que talentoso e esforçado não era a mesma coisa, então estava certa de que o que aquele homem queria lhe propor não era nada bom.—Sei que você está neste projeto pelo dinheiro —começou Hamish diretamente.—Estou pelas crianças, mas sim, acho que me pagam bem —respondeu ela.—Pois existe uma diferença entre te pagarem bem e ganhar o que você merece.Anja semicerrou os olhos. Podia sentir o cheiro da ganância no advogado como se fosse uma úlcera podre. Talvez esse fosse seu sexto sentido depois de tudo o que tinha acontecido em sua vida: detectar gente podre.—E quanto você acha que eu mereço? —ela o confrontou.—Mu
No entanto, nesse exato momento, Milo recuou silenciosamente para o outro extremo do corredor, sem revelar sua presença a ninguém.Enquanto se escondia temporariamente em um canto, uma mistura de surpresa e preocupação tomou conta de seu rosto. Tinha ouvido vozes ao chegar à porta e não tinha conseguido evitar ficar espionando. Não estava certo, mas ouvir a palavra "roubar" da boca de Anja o tinha paralisado em seu lugar atrás daquela porta.Não tinha conseguido reconhecer a voz do homem que falava com ela, mas uma coisa era certa, estavam planejando roubá-lo miseravelmente com algo que lhe importava demais. Também tinha ouvido a ameaça que Anja tinha recebido, mas não queria acreditar que só por isso ela tinha aceitado o golpe.Anja, alheia à presença de Milo, recolheu todas as suas coisas com uma sensação de nojo e irritação. Tinha acreditado que chegava a um bom lugar, e Milo realmente parecia um cara legal, ele era, para criar uma criança que não era sua devia ser um bom homem, no
—Ai, meu Deus! Eu não vou pagar isso!A surpresa de Anja era tão genuína que Milo só pôde rir.—Não importa, eu pago! —garantiu enquanto olhava para o espelho.—Claro que você paga!, mas quem é que fica com o azar? —repreendeu Anja.—Dividimos cinquenta-cinquenta?—Três anos e meio de azar para cada um? —resmungou Anja—. São três anos e meio a mais do que me cabe! Melhor você ficar com todo o azar, eu já me rendo com a minha cota de má sorte!O riso escapava dos lábios da moça, até que ficaram quietos e ela pareceu perceber onde estava. Seus olhares se encontraram em um instante, um brilho especial que refletia a cumplicidade que havia surgido entre eles em um só segundo, mas nenhum dos dois se atrevia a dizer em voz alta.Os antebraços de Milo estavam firmemente fechados ao redor de sua cintura e os pés descalços de Anja balançavam no ar, fazendo com que ela tivesse que se apoiar naqueles ombros enormes. O silêncio persistia, criando uma tensão palpável entre eles, mas finalmente Anja
O pé de Milo parecia um brinquedo de corda, batendo insistentemente no chão do elevador enquanto este subia. Só iam ver prédios, não era nada extraordinário, mas vê-la estava provocando ultimamente algumas reações muito pouco apropriadas.Bateu na porta e quando ela abriu, Milo ficou sem palavras por um momento. Usava uma blusa vermelha de seda e uma calça escura justa que realçava todas as suas curvas.—Oi, já estou pronta, me dá um minuto para pegar a bolsa.—Oi... —sussurrou ele enquanto a via se inclinar sobre o sofá e jogar dentro daquela bolsa qualquer coisa que não importava porque ele só tinha olhos para sua bunda."Tenho que conseguir um sofá mais alto para ela", pensou, porque se ela continuasse se inclinando assim ele ia perder todos os parafusos.Aquela onda de desejo era difícil de ignorar, mas rapidamente lembrou a si mesmo que não podia se deixar levar por esses sentimentos. Ela era a mãe do Niko e teria feito qualquer coisa para ter seu filho de volta, qualquer insinuaç