POR: MARGARET LESNYAK CASCONI
A LITERATURA NACIONAL está tendo um grande avanço em nosso território e quem ganha com isso somos nós leitores. Essa obra de Rafael Zimichut denominada - UM SALTO PARA AS ESTRELAS - está aqui para nos provar a força dessa literatura.
O autor renomado que já escreveu mais de trinta livros, vem nos presentear aqui com essa narrativa forte, com o pano de fundo da cruel 2° Grande Guerra Mundial.
O próprio subtítulo já deixa claro o recado de Rafael Zimichut:
"...Existe sempre um alto preço pelos seus sonhos..."
De certa forma a narrativa nos embala aos acontecimentos de uma trama onde o preço pode ser alto demais. Acontecimentos esses que seguem o ritmo ficcional, mas caminham por imitar a própria vida. O autor vem nos trazer mais uma prova de que a arte é o espelho da vida.
Assim, essa obra tendo como pano de fundo a uma guerra real que marcou nosso mundo, envereda pelo caminho do Mundo da Moda e de seu esplendor nesse período.
Personagens fortes e bem trabalhados deixam a história envolver o leitor que segue pelas páginas para descobrir os porquês dos fios condutores que ligam o passado ao futuro.
Aparentemente dois assuntos distintos, mas que se esbarram no momento em que a personagem "Gladys Viermond" vai tomando forma e dentro dela nascendo uma força própria para defender os homossexuais da perseguição dos Nazistas...
As duas principais protagonistas "Tânia Copelli" e "Gladys Viermond" apresentam estilos completamente opostos o que de início monta um cenário de rivalidade entre elas. Esse contexto de rivalidade deixa um ar de suspense e acaba por surpreender o leitor posteriormente.
Assim, as aparentes rivais no mundo da moda acabam tendo suas vidas entrelaçadas pelo destino e pelos seus próprios ideais... Como símbolo disso o autor cria um ícone - o "lenço azul". Esse símbolo criado tem uma real importância aqui na obra de Rafael Zimichut. Lembremos que o lenço, na simbologia, pode nos levar a pensar no "ato de desbravar" e a cor azul nos remeteria à pensar na "comunicação e na conexão", abrindo grandes caminhos comunicativos. Caro leitor, talvez seja essa a conexão que nasceu entre as protagonistas. Cabe agora, à você caminhar por esse universo criado pelo autor e descobrir os caminhos de uma trama altamente reflexiva.
Margaret Lesnyak Casconi
Tânia Copelli era dona da marca mundialmente famosa "Blue Scarf" e por muitos anos foi sinônimo de moda, beleza, criatividade e ousadia, mesmo agora, no auge de seus oitenta e nove anos de idade, prestes a completar noventa, trazia traços de uma beleza clássica que desfilou mundo afora por mais de sessenta anos.Dona de olhos verdes vivos e um sorriso largo fácil, ela foi até o seu guarda-roupa e tirou a caixinha de música que havia ganhado da avó antes dos acontecimentos trágicos que cercavam a sua família e que continuaram a acontecer com ela, mas se não fosse por Gladys Viermond tudo aquilo seria um ciclo de desgraças sem fim.No fim das contas, tudo sempre girou em torno dela...Suas mãos gentis e frágeis pela idade abriram a caixinha de música que imediatamente começou a tocar "As quatro estações" deViv
DETROIT – 1928A chuva estava muito forte naquela noite e a família Copelli, o senhor Carl, Janice e a pequena Tânia, de apenas oito anos de idade, estavam indo em direção à fazenda da família no interior do Estado para passar o Dia de Ação de Graças.— Querido, não acha melhor pararmos em algum hotel?Mulheres...— E existe algum hotel neste fim de mundo, Janice? Tinha que ter pensado nisso antes de insistir em vir com esse tempo.Ela percebeu que a ideia tinha sido realmente idiota, o marido sempre foi uma pessoa responsável e que colocava a vida e o bem-estar delas acima de todas as coisas. Jamais colocaria a vida delas em risco, diferente dela que havia insistido numa idiotice e para evitar ainda mais brigas, ele pegou as chaves e saiu estrada afora com a família.Carl e Janice vinham tendo inúmeras bri
NICE, FRANÇA – 1920FRANCESCA VIERMOND estava em trabalho de parto, porém, a parteira olhou para a sua auxiliar e sua expressão não era nada boa.Ela fez sutilmente a negativa com a cabeça.— O bebê não está virado na posição correta para sair.— E o que iremos fazer?— Quem sabe um milagre resolva...Francesca gritava de dor, ela não acreditava que uma gravidez tão tranquila e planejada estava tendo um desfecho como aquele.Quando Jamien, seu marido, entrou no quarto e viu a esposa agonizando de dor entrou em completo desespero, ela não era apenas a sua esposa, era sua melhor amiga, confidente e a pessoa com quem tinha planejado passar todos os dias de sua vida.— Senhor... – Disse a parteira – terá que escolher, ou tentamos salvar o bebê, ou, provavelmente os dois
— ELA VAI FICAR BOA, doutor?O doutor Fellow aferiu a temperatura e a criança estava com mais de 39 graus de febre e aquilo o estava preocupando, nada do que tinha feito havia surtido efeito, o peito da menina estava chiando feito um gato ronronando feliz da vida pelos carinhos do dono.— Acredito que ela esteja com pneumonia.A avó dela chegou bem perto dela e a beijou na testa e sentiu a temperatura dele e ficou apavorada, mas não demonstrou.— Minha pequena, você é a única coisa que ainda me prende neste mundo ingrato... não me tire isso também... seja forte como só uma Copelli pode ser...O doutor colocou a mão em seu ombro solícito com aquela senhora que havia perdido em uma única noite o marido, a filha e o genro.— Doutor... tenho que...— Eu sei, Genara... enterre seus mortos que cuidaremos dos vivos... é tud
A primeira lembrança que Genara tinha era de seus pais embarcando em um navio na Itália e desembarcando em uma fria Nova York, ver a neve caindo do céu era como estar em um paraíso particular.— O que é isso, mamãe?— Neve, filha... aqui é tão frio no inverno que a água congela no céu e cai em flocos de gelo.— É a coisa mais linda que já vi na vida.— É porque você ainda não se olhou em um espelho.As duas riram e continuaram a vislumbrar a nova terra em que iriam morar.Era uma nova língua, novos costumes, mas o melhor de tudo, eram novas oportunidades...ELA LEMBRA DOS PAIS trabalhando e ganhando dinheiro como jamais haviam ganhado na vida, era como se a vida de miséria que tinham levado finalmente tinha ido embora.Genara cresceu dentro dos galpões das fábr
Jamien estava com a filha no colo enquanto viam descer o corpo sem vida de sua esposa dentro de um caixão.Ao contrário do que tinha acreditado durante toda a vida, ele não estava preparado para aquilo, estava preparado para aproveitar a vida ao máximo, mas nunca para deixá-la, de certa forma ele achava aquilo injusto, apesar da taxa de mortalidade ser alta devido a parto, a ideia é que as estatísticas negativas sempre alcance no máximo o vizinho, nunca ele, o problema era que ele era o vizinho desta vez.— Vai ficar tudo bem, Gleide, querida – disse ele à filha enquanto a via dormir despreocupadamente em seu colo – você será maior do que a vida, você brilha, minha querida, sua mãe deu a vida para que você nascesse e vencesse tudo e todos.NAQUELA SEMANA, Jamien vendeu tudo o que tinha e partiu para Paris, sua vida de fazen
Genara entrou no quarto do hospital e ficou todos aqueles dias ao lado da neta, revezando entre orar a Deus e fazer promessas a si mesma, principalmente depois do erro grotesco que cometeu em mandar matar o marido, o infeliz do assassino saiu correndo de sua casa, e após perder muito sangue, desmaiou ao tentar abrir a porteira, onde a vaca saiu correndo, atravessou a pista e o carro de sua família o acertou em cheio, por um milagre a menina sobreviveu caindo justamente em cima da vaca, amortecendo a sua queda.Deixe que os mortos enterrem seus mortos...Foi isso o que aquela velha cigana desgraçada disse daquela vez no circo quando decidiu levar a filha ver aquele espetáculo há tantos anos.Maldita a hora que fui ver aquelas cartas...GENARA ESTAVA COM A FILHA de cinco anos de idade quando o circo chegou na cidade, e tudo aquilo era extraordinariamente mágico, principa
Gleide estava crescendo e já era uma menina que chamava a atenção pela beleza exuberante que irradiava, seu apelido era Esmeralda, devido seu livro favorito, O corcunda de Notredame, de Victor Hugo, era magra, com seios Espanhóis sobressalentes e protuberantes, seus olhos verdes cristalinos e um cabelo encaracolado que saltava os olhos.Não nega a sua descendência cigana...Seu pai já não sabia mais o que fazer para conter os inúmeros pedidos de casamento, ele sabia que mais dia ou menos dia teria que tomar uma decisão, ela gostando ou não, o dinheiro que tinha levado para Paris estava quase no fim, daria para eles manterem seus pequenos luxos por apenas três meses, depois disso estariam à mercê de seus próprios destino, assim como todo bom cigano gostava de viver.— Vou facilitar para você, meu anjo.— Não quero saber de