Capítulo 3

Cheguei ao iate e logo ouvi uma voz familiar me cumprimentando:

— Olá, prazer. A Anita me falou que você era muito bonita, mas não sabia que chegava a tanto.

Eu ri, um pouco surpresa, e respondi:

— Ela esqueceu de me avisar que ia encontrar alguém tão galanteador, mas obrigada pelo elogio.

Ele sorriu e perguntou:

— Você bebe alguma coisa?

— Sim, mas algo leve, por favor. Tenho trabalho amanhã e minha ressaca costuma durar um bom tempo. Fico dias no "mundo da lua" — disse, rindo um pouco de mim mesma.

— Fica tranquila, o que você está bebendo é bem suave.

Enquanto conversávamos e nos divertíamos, algo na atmosfera do lugar me fazia sentir um misto de relaxamento e expectativa. Até que, de repente, vi Anita avistando alguém.

— Olha quem está chegando... O "miss simpatia" — disse ela, com um sorriso travesso. Eu olhei na direção que ela apontava e, para minha surpresa, lá estava Miguel meu chefe, no iate.

Fiquei sem reação por um momento. Miguel se aproximou de mim, e por impulso, quase derrubei a taça que segurava.

— Oi, Ana Que surpresa vê-la por aqui — disse ele, com um sorriso amigável, embora sua presença fosse, no mínimo, inesperada.

— Minha amiga me convidou, achei uma boa oportunidade para conhecer pessoas novas — respondi, tentando manter a compostura.

Ele assentiu, parecendo relaxado.

— Está certo. Vou deixar você com seus amigos então. Tenha um bom fim de semana, Ana. 

— Obrigada, para o senhor também.

Ele se afastou, indo conversar com o pai de Anita, mas algo em mim sentia que ele ainda estava me observando de longe. De repente, quando me dei conta, ele havia desaparecido da vista.

— Com licença, senhores, vou ao banheiro — disse ele, e eu vi que estava caminhando em direção ao outro lado do iate.

Fui até o canto da varanda, onde a brisa do mar estava mais forte, e fiquei ali, com os olhos fechados, tentando me acalmar. Talvez a bebida tivesse começado a fazer efeito, porque me sentia um pouco tonta. Senti algo tocar meu cabelo e, de repente, Miguel estava bem atrás de mim. Ele me tocou de maneira inesperada, deslizando suas mãos até meu pescoço. Eu me assustei e, de impulso, virei rapidamente, sem querer, caindo em cima dele.

— Essa cena está se repetindo, não, Ana? — disse ele, com um tom de voz divertido, mas também um pouco sério.

— Não acho que seja nada demais repetí-la — respondi, falei rindo sem pensar muito. A sensação de embriaguez estava me fazendo falar sem freios. — Inclusive, estou achando divertido os "replays" — completei, com um sorriso leve.

Ele me olhou com um olhar sério e, em seguida, falou com uma voz suave:

— Acho que você bebeu demais, senhorita Ana. Melhor eu te levar para casa.

— Eu quero ficar! O senhor não manda em mim aqui. Não estou no trabalho, então me deixe em paz — rebati, talvez mais impulsiva do que deveria.

Ele suspirou, parecendo perder a paciência.

— Vou falar com a Anita para ligar para sua mãe. Acho melhor você não chegar em casa nessas condições.

Ele conversou com Anita , que rapidamente ligou para minha mãe, avisando que eu ficaria na casa dela, para tranquilizá-la.Após isso, Miguel me colocou no carro e me levou para sua casa de praia. A sensação de tudo girando e a escuridão ao meu redor me fez perguntar se realmente tinha sido "raptada". A confusão no meu corpo e mente só aumentou.

— Onde estou? O que está acontecendo? — pensei, enquanto ele me segurava e me carregava no colo para um dos quartos.

No quarto, ele parecia cuidar de mim com certa preocupação. Deixou-me deitada, e eu não tinha forças para protestar.

O que aconteceu depois foi um borrão. Quando acordei no dia seguinte, minha cabeça doía intensamente. Olhei em volta e tudo estava estranho. Eu me encontrava em um quarto que não reconhecia. A dor de cabeça era insuportável, e eu não sabia o que fazer.

— Que lugar é esse? Onde estou? — murmurei, sentindo o ambiente cada vez mais distante da realidade.

Andei até encontrar Miguel, que terminava um telefonema. Ao me ver, parecia surpreso, mas também atento.

— Senhorita Ana, calma. Uma pergunta de cada vez — ele disse, tentando me acalmar. — Você bebeu demais ontem, e eu achei melhor trazer você para cá. Não se preocupe, não aconteceu nada entre nós... Nada ainda — completou, rindo de leve, como se a situação fosse engraçada.

Senti meu rosto esquentar, mas ele continuou:

— Você está com minha roupa porque a sua estava encharcada. Eu só queria que você estivesse confortável.

Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo tudo o que ele dizia. A confusão mental me impedia de falar o que realmente pensava. Até que ele disse, com um tom mais sério:

— Eu pedi para um dos meus seguranças trazer uma roupa para você. Enquanto isso, que tal tomarmos um café?

— Está bem — respondi, ainda sem saber muito bem o que fazer ou o que pensar.

Miguel, então, fez uma pergunta que me pegou de surpresa.

— Então, o rapaz que estava com você é algo seu? Acho que ele não vai gostar de saber que você está aqui comigo.

— Não, ele é apenas um amigo — respondi rapidamente, tentando manter a calma.

Nesse momento, alguém bateu na porta.

— Seu pedido, senhor — o segurança entregou uma sacola.

— Vê se vai servir em você, Ana Liz — Miguel disse, com um olhar atento.

Passei por ele para pegar a sacola, mas ele me segurou levemente, o que me fez parar e olhar diretamente em seus olhos. A tensão entre nós parecia palpável.

Ele se aproximou e, com um tom quase confessional, falou:

— Eu quero muito fazer algo, mas não sei se devo.

Não resisti e, mordendo o lábio inferior, disse:

— Faça.

Miguel me puxou para mais perto dele, seus olhos fixos nos meus, e senti minha respiração ficar mais rápida e pesada. Quando ele se aproximou para me beijar, parecia que ambos estávamos esperando por aquele momento há muito tempo. No entanto, ele rapidamente parou o beijo e se afastou.

— Senhorita Ana, isso não pode acontecer — disse ele, afastando-se um pouco mais. — Não sou um homem que gosta de se envolver. Tenho certeza de que você tem planos, e não sou um homem romântico. Dessa forma, acho melhor ficarmos até aqui.

Eu estava desconcertada, sem saber como reagir.

— Eu... não sei o que deu em mim, não deveria ter dito nada. Isso não vai se repetir, senhor — disse, tentando me recompor. — Já vou me trocar. Pegando a sacola, perguntei: O senhor pode me levar em casa?

— É isso que farei — respondeu Miguel, com um tom suave.

Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim.

Pensamentos turbulentos passaram pela minha mente. O que foi aquilo? Meu coração estava prestes a sair pela boca. E por que ele não quer se envolver? Que homem estranho.

Logo, voltei para a sala, já vestida com a roupa que ele me trouxe.

— Pegou suas coisas, Ana Liz? — perguntou Miguel.

— Sim, já estão todas aqui. Já podemos ir — respondi, tentando manter a calma.

Enquanto saíamos da casa e nos dirigíamos para o carro, ele me perguntou:

— Senhorita?

— Oi?

— Muito obrigada — disse eu, sentindo uma onda de gratidão. — Por ter cuidado tão bem de mim. É a primeira vez que alguém me cuida assim. Obrigada!

Miguel, com um leve sorriso, respondeu:

— Não precisa agradecer. Agora vamos, tenho um compromisso ainda hoje pela manhã.

Entrei no carro e logo me vi imersa em meus pensamentos. Por que ele tem que ser tão frio? Seria mais fácil se ele se abrisse um pouco... Por que ele ficou assim? Ou ele sempre foi assim?

Miguel percebeu meu silêncio e, de forma calma, perguntou:

— Senhorita Ana Liz, posso lhe fazer uma pergunta?

— Claro, senhor. O que deseja saber?

— O senhor tem alguém, digo, está conhecendo alguém? — Perguntei, embora soubesse que ele provavelmente não responderia.

Ele me olhou por um momento antes de responder com frieza:

— Não falo sobre minha vida pessoal, especialmente com funcionários. Mas se é essa sua curiosidade, não, não tenho ninguém. Meus "relacionamentos", vamos chamar assim, não passam de uma noite. Sabe, senhorita, eu não acredito no amor. Eu consigo viver bem sem ele e, sinceramente, não me faz falta. É só isso, sua curiosidade?

Eu me senti um pouco triste com a resposta, mas tentei manter o controle.

— Sim, era só isso mesmo — falei, com um tom mais baixo e introspectivo.

Miguel parou o carro e se aproximou, falando diretamente no meu ouvido:

— Senhorita Ana, a pessoa que se relacionar comigo precisará assinar um termo onde não poderá falar sobre nosso envolvimento. Ela fará o que eu pedir, quando eu quiser, na hora que eu quiser. Como já falei, eu não sai de contos de fadas. Não amo, e sei que você entendeu muito bem o que estou dizendo. — Seus dedos deslizaram suavemente sobre o meu rosto enquanto ele sussurrava.

Eu estava ofegante, ainda processando suas palavras.

— Senhor Miguel, vamos... Já podemos seguir? Não tenho mais nenhuma pergunta — disse, o rosto corado, sentindo-me constrangida.

Ele sorriu ligeiramente e, com um tom tranquilo, disse:

— Não precisa se assustar. Não tocarei em você, sem que assine o contrato com minhas condições.

— Não precisará de contrato algum — respondi rapidamente. — Não quero nenhum envolvimento com o senhor, a não ser o profissional.

— Então, podemos abrir as janelas do carro? — perguntei, sentindo o calor apertando.

— Ficou com calor, Ana ? — ele perguntou, com um sorriso de canto. — Vou ligar o ar.

Durante o trajeto até minha casa, nenhum de nós falou mais nada. Pensamentos conflituosos continuaram a passar pela minha cabeça. Ele é tão frio, jamais ficaria com alguém assim, que despreza o que é real. Jamais aceitaria ser propriedade de ninguém. Acho que ele deve ser dominador.

Chegamos à minha casa e Miguel disse:

— Chegamos, senhorita Ana Liz. Tenha um excelente final de semana. Estarei esperando você no trabalho na segunda-feira, pontualmente.

— Está certo. Muito obrigada pela roupa, mais uma vez. Enfim... por tudo — falei, saindo rapidamente do carro. Sentia-me sufocada e precisava sair dali o quanto antes.

Ao entrar em casa, minha mãe me recebeu com um sorriso.

— Oi, filha! E aí, gostou da festa? Por que não ligou? Está tudo bem?

— Sim, mãe, está tudo bem — disse, tentando disfarçar a tensão. — Pedi para a Tânia ligar, porque estava no banheiro. Acho que alguma comida de lá não me fez tão bem — respondi, tentando rir de mim mesma.

— E essa roupa nova, filha? — perguntou, curiosa.

— Acabei derramando bebida na que estava, então vesti essa. Agora, o que você acha de passarmos a tarde inteira assistindo série? Um programa mãe e filha?

— Acho maravilhoso! Vamos sim! — ela respondeu animada. — Enquanto você vai para o quarto, vou preparar a pipoca. Está bem?

— Está ótimo, mãe! — respondi, sorrindo, finalmente sentindo que poderia relaxar um pouco.

Continua.. 

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