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CAPÍTULO 4: O COMEÇO DE UMA MUDANÇA

         A manhã estava agitada na mansão da família Smith, os presentes do casamento agora de Lucas e Izze estavam sendo enviados para lá, havia também a movimentação dos profissionais contratados como: maquiadores, cabelereiros, fotógrafos. Izza, não pode deixar de rir, como havia sido tola em acreditar que todo aquele luxo seria para ela, desde a infância havia sido deixada em segundo plano. Não encontrou ninguém da sua família, então, deviam estar no andar de cima, melhor assim não faziam nenhuma questão de ver algum deles. Segurou a bolsa com força, ia sair antes que alguém aparecesse, podia ser obrigada a muitas coisas naquela casa, mas, não se submeteria a presenciar o casamento daqueles dois traidores, ainda mais com o apoio do seu pai. Como um pai podia fazer acepção entre as duas filhas como Thomas Smith faziam era irreal.

         Izze começou a percorrer as ruas do centro da movimentada cidade N, não conhecia muito coisa, era proíba por seus “pais” de ficar vagueando pela cidade, enquanto, sua irmã podia frequentar as melhores baladas, restaurantes, as festas mais exclusivas. Não pode deixar de notar a ironia em sua cidade, os empregados da mansão tinham mais privilégios do que a filha mais velha dos Smith. Ao passar em frente a uma vitrine não pode deixar de mirar sua imagem: apesar da aparência jovem estavam totalmente sem brilho, os cabelos amarrados, sem maquiagem, nem mesmo um batom, as roupas surradas, que foram era luxuoso.

         - Posso ajudá-la? Perguntou a atendente desconfiada. descartados por Izza, os sapatos baixos gastos, as unhas por fazer. Lembrou do cartão que sua mãe havia dado antes de partir, nunca quis gastar sempre pensando no amanhã, enfim, o amanhã havia chegado. Sim, poderia se arrepender do gasto, mas, pela primeira vez na vida ia se dar o luxo de cuidar de si mesma. Entrou no primeiro salão encontrou, o ambiente

         - Quero o seu melhor tratamento, por favor. Respondeu com confiança.

         - Não creio que a senhorita possa pagar. Retrucou cinicamente.

         - É assim que você atende os seus clientes? Devolveu ao cruzar os braços.

         - Apenas não quero perder tempo com qualquer uma. Deu de ombros.

         Mordeu os lábios, era uma Smith, uma família conhecida e mesmo assim era tratada como qualquer uma. Como pode aceitar que sua “família” a se coloca nesse lugar? Como tinha permitido ser colocada nessa situação? Não aprendeu a se defender, apenas aceitar e recuar e foi o que fez. Percorreu algumas ruas até encontrar outro salão, um ambiente modesto em relação ao anterior.

         - Olá, em que posso ajudá-la, querida? Cumprimentou a mulher de meia idade.

         - Gostaria de mudar o cabelo. Disse insegura.

         - Apenas o cabelo? Sorriu. – Pela minha experiência você deseja uma transformação, errei?

         - Sim, isso mesmo. Torceu as mãos.

         - Uma jovem tão bonita facilita o meu trabalho. Disse aproximando. – O que acha que clareamos um pouco o seu cabelo? Um tom mel ficaria perfeito! Entusiasmou-se.

         - Acho que sim. Não tenho nada em mente.

         - Não se preocupe, querida. Confortou-a. – Veio ao lugar certo, também podemos diminuir o comprimento do seu cabelo.

         - Tudo bem. Concordou.

         - Não, não, não. Repreendeu a senhora. – Você não pode simplesmente aceitar, diga o que quer, minha querida, você pagará pelo serviço, tem o direito de exigir. Concluiu.

         Direito? Pensou Izze, essa palavra tinha perdido o significado em sua vida a tanto tempo.

         - Quero clarear e cortar o cabelo. Disse hesitante.

         - É um começo, sente-se, por favor. Respondeu e indiciou uma cadeira.

         - Você precisa de mais alguma coisa como roupas novas? Adivinhou a senhora.

         - Sim, eu preciso de algumas roupas. Confirmou contente.

         - Excelente! Temos parceira com algumas lojas de roupas e sapatos, Alana irá buscar para você experimentar.

         - Alana. Gritou e uma adolescente sorridente saiu de uma sala nos fundos do salão.

         - Sim, vovó.

         - Busque algumas roupas para essa senhorita experimentar. Olhou Izze através do espelho. – Seu tamanho deve ser médio, acertei? Questionou confiante.

         Izze confirmou com um aceno de cabeça.

         - Pode ir, Alana e não demore, nada de ficar papeando. Alertou a senhora.

         A menina saiu ao comando da avó.

         - Não tenha medo querida, tenho anos de experiência, você ficará mais linda ainda. Tranquilizou a mulher ao começar a trabalhar no cabelo de Izze. Logo chamou uma funcionária para auxilia-la.

         - Sua mãe deve ter muito orgulho de você. Arriscou a mulher.

         - Não tenho mãe. Encontrou os olhos da mulher no espelho. – Desde os cinco anos.

         - Alana também perdeu o pai cedo. Lamentou. – Você deve ter uma avó? Sorriu.

         - Meu pai, e uma madrasta. Seu olhar entristeceu. – Uma irmã mais nova.

         - Isso é muito bom, pequena. Animou-a. – Uma feliz família de quatro pessoas.

         Izze permaneceu em silêncio.

         - Eu e minha boca grande. Repreendeu-se.

         Há muito tempo alguém não tinha interesse genuíno por ela, na verdade, desde os cinco anos. Aquela senhora parecia enxergar além da aparência e Izze sentiu-se confortável em desabafar.

         - Temos muitas divergências. Replicou.

         - Nem toda família é feliz, minha querida. Fez uma pausa. – Principalmente os segundos que são acompanhados de filhos do primeiro casamento.

         - Acontece isso com sua neta? Quis saber.

         - Sim, Alana passou por maus bocados. Entristeceu-se. – Sua mãe foi cega por muito tempo, mas, enfim abriu os olhos e divorciou-se.

         Izze engoliu em seco.

         - Meu pai tem uma predileção por minha irmã. Abaixou os olhos.

         - Duvido que seja tão linda quanto você. Sorriu. – Apesar das suas roupas, deduzo que você não é de uma família pobre.

         - Minha família tem uma boa condição financeira. Concordou.

         - Mas, existe um problema. Incentivou-a a continuar.

         - Sim. Confirmou envergonhada.

         A mulher não insistiu no assunto, pode perceber nas palavras não ditas que o assunto era mais complexo do que poderia imaginar. Não deixou de compadecer daquela criança a sua frente, fragilizada por tantas situações da vida.

         - Meu nome é Rose Alvarez, minha criança.

         - Izze Smith. Sorriu.

         A tarde rapidamente, Rose era experiente e sabia exatamente o que fazer. Enquanto, trabalhava falava abertamente sobre a sua vida, de sua filha e neta. Contou sobre o tempo que trabalhou num salão de luxo até que pode abrir o seu próprio, que apesar de modesto oferecia serviços de qualidade. Também se queixou de sua filha não querer trabalhar com ela e a neta, e do sonho de transformar o salão em referência para alta sociedade. Alana chegou com várias modelos de roupas, sapatos e acessórios. Apesar da pouca idade, ela tinha um bom gosto inquestionável. Ao final daquela tarde, ao olhar-se no espelho Izze mal pode acreditar no resultado, estava tão diferente quase irreconhecível.  O cabelo macio e brilhante, a maquiagem leve realçava seus traços delicados, unhas discretas e elegantes. O vestido escolhido parecia abraçar o seu corpo, estava muito satisfeita.

         - Obrigada, Rose. Disse ao entregar o cartão para efetuar o pagamento.

         - Você tornou o meu trabalho muito simples. Disse com sinceridade. – Minha querida, se um dia você precisar, minha casa estará de portas abertas para você.

         - Você nem conhece, Rose. Segurou as lágrimas.

         -  O extinto dessa velha nunca falha. Segurou-lhe a mão. – Repito: se um dia precisar, minha casa estará de portas abertas, moramos nos fundos do salão.

         - Você não sabe o quanto ouvir isso é importante para mim.

         - Quer escutar um conselho, Izze. Não esperou resposta. – Tão importante quanto viver é aprender a se defender.

         Izze saiu do salão com o coração aquecido, ser tratada com respeito e afeto não fazia parte de sua rotina. O seu dia a dia era Sua madrasta e sua meia irmã faziam do seu dia um tormento, sempre a rebaixando, acostumou-se com as migalhas deixada pelos outros, acostumou-se com o pensamento que não merecia e nem era digna de mais. Precisou de uma desconhecida lhe dizer que ela podia almejar mais. Olhou o relógio, oito horas, a cerimônia deve ter sido finalizada, e a recepção iniciada. O dia que deveria ser dela. Não chore, repreendeu-se. Olhou ao redor para se localizar e percebeu que estava na porta do hotel mais exclusivo da cidade N. Por que não entrar, pensou, se não podia se casar, pelo menos podia beber.    

        

        

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