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Criada para temer, cobrada para guerrear - Parte 2

Eu sei que errei muito na vida, queria liberdade, mas permiti que cortassem minhas asas. Criar animais, ter que resolver as coisas da casa, ajudar a cuidar da casa... tudo isso foi me prendendo sem eu perceber. Descobri isso apenas depois da minha “crise existencial nível hard”. Ficar em um ambiente que não me identifico muito, só me fazia adoecer. Precisar continuar nele por um tempo, ainda me incomoda, mas os pensamentos são diferentes agora.

Escutar pessoas me mandando fazer um concurso, porque acabei virando “freelancer” e trabalhando em casa, era um saco e me incomodava muito. Hoje eu não me importo. Claro, não quero passar a vida toda aqui. Mas para sair eu preciso me organizar mais, preciso de formas de ganhar dinheiro mais fixas. Preciso de metas a serem traçadas e concluídas.

Não quero sair para voltar. Não quero ter que pedir ajuda. Não quero deixá-los desamparados. O ano que morei fora foi sufocante, justamente por estar “presa” a casa dos meus pais, aos meus animais e ao meu namorado da época. Não consegui me divertir, não consegui ser eu mesma. Era como se estivesse sendo vigiada e controlada (o que de fato estava sendo mesmo) a todo o momento.

Sair de casa se tornou uma meta não só para minha saúde emocional, mas também para a minha saúde física e mental. Quando penso sobre pais assim, que colocam “medo” nos filhos, para que eles achem que viver na casa deles é melhor do que “sair no mundo”, eu fico extremamente preocupada e os acho completamente egoístas.

Se você quer seu filho preso a você, sem ter sua vida, colocando medo em tudo, como ele vai viver bem, quando você se for? Tudo bem, você o ensinou a cuidar de você a vida toda, a viver para você. Mas e aí? Filhos criados assim, sequer aprendem a se cuidar, vivem pelos outros, querendo agradar aos outros, o que pode, inclusive, fazê-los entrar em relacionamentos tóxicos por medo de ficarem sozinhos. É isso que pais querem para os filhos?

Ou será que o que importa mesmo é o enquanto estiver vivo? Depois que morrer, não importa a decisão que o filho tomar. Já vi pais ficarem felizes quando os filhos dizem “ah, se o senhor morrer, eu morro junto”, que tipo de pensamento é esse? Fico realmente assustada e preocupada com isso.

É preciso que você acorde para o fato de que o amor próprio deve vir em primeiro lugar. Não estou falando em tratar mal os outros ou em jamais ajudar alguém. Estou falando de se conhecer e não ultrapassar limites que te façam mal, deixar de cuidar de si para cuidar de pessoas com quem você sabe que não poderá contar, inclusive se essas pessoas forem seus pais.

Ter colocado você no mundo não os torna proprietários seus. Você não veio aqui para satisfazer as vontades dos seus pais ou realizar os sonhos deles. Você é uma pessoa diferente, com sonhos e metas diferentes. Quantas vezes eu ouvi “meu sonho era que você aprendesse a tocar teclado”, só que eu nunca quis aprender a tocar teclado. Ao me forçar a isso, meu corpo parecia rejeitar aquela situação.

E a gente não aprende a escutar essas reações físicas. Adoecemos por guardarmos mágoas e raiva. Só que às vezes, não identificamos a causa de tal doença. Sendo que não dá para tratá-la apenas com remédios, é preciso cuidar das emoções e da alma. É preciso se conhecer ao ponto de dizer “isso eu não quero”. Já parou alguma vez para entender a si mesmo? Já parou para pensar na verdadeira causa daquela enxaqueca chata e das suas dores nas costas? Não? Então chegou a hora de olhar para si mesmo.

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