Eu confiava no meu talento profissional, mas precisava admitir que administrar pessoas não era exatamente meu ponto forte. Esses dias estavam sendo uma verdadeira montanha-russa: trabalho intenso, preocupações constantes e uma pressão que parecia não dar trégua.No final da tarde, enquanto eu olhava pela janela o céu escurecendo e começava a arrumar minhas coisas para ir embora, o celular tocou. Era Bela.— Onde você está? — Perguntou Bela, num tom leve e descontraído.— No escritório, fazendo hora extra... — Respondi, exausta.— Tá de brincadeira, né? Em pleno fim de semana, você não relaxa nem um pouco e ainda tá trabalhando?— Não tenho escolha. Agora tudo depende de mim. Ainda não consegui firmar meus passos, como vou relaxar? — Suspirei.Desde que meus amigos decidiram investir na empresa, a pressão só aumentou. Eu vivia com medo de que, se as coisas dessem errado, acabasse prejudicando eles e fazendo com que perdessem dinheiro.— Chega disso, sai daí agora! Eu preparei um program
Bela não respondeu de imediato. Continuou ao telefone enquanto saía pela porta. Pouco depois, voltou acompanhada de uma jovem deslumbrante. A garota usava um vestido curto sob medida, que realçava sua juventude e energia. Tinha um ar doce e encantador, com uma maquiagem impecável que a fazia parecer uma boneca Barbie.No primeiro instante, fiquei intrigada. O que uma pessoa tão jovem e moderna, que parecia saída do ensino médio, estaria fazendo ali? E como Bela a conhecia?Mas, ao olhar para o rosto dela com mais atenção, um lampejo de surpresa me atingiu. Meu Deus, era ela! A garota que, dias atrás, dirigia um Porsche como se fosse um Uber e me levou para casa na saída do hospital!Bela interrompeu meus pensamentos com seu tom jovial:— Kiara, esta aqui é a Amélia Pimenta. Você lembra daquela confusão no dia do casamento, que viralizou e foi parar nos trending topics? Pois é, eu disse que ia resolver. Acabei conhecendo a Amélia por acaso. Ela tem contatos com os altos escalões das emp
Um enorme banner foi pendurado na parede atrás de mim. Virei-me para olhar e, naquele instante, a única coisa que queria era fugir.No banner, estava escrito:[Cidade Saurimo tem milhares de beldades, mas a Srta. Kiara sempre será a Nº 1!]E ainda tinha algo sobre [sempre dezoito anos] e outras coisas assim!Pelo visto, minhas amigas tinham planejado tudo com antecedência para esse dia especial.Bela estava com o celular na mão, gravando tudo. Quando tentei tirar a coroa da cabeça, ela rapidamente me impediu:— Nem pense nisso! Hoje você vai usar a coroa a noite inteira!Miguel e Renata, um de cada lado, seguraram minhas mãos para me impedir também, rindo tanto que mal conseguiam se manter em pé.— Hoje temos gente nova aqui, não assustem os convidados. — Tentei avisar com boa intenção.Amélia, que também gravava com o celular, sacudiu a mão, gargalhando:— Kiara, relaxa! Tá tudo perfeito!Fiquei sem palavras. Pelo jeito, realmente os semelhantes se atraem. Essa garota, que tinha um ro
A porta se abriu, e, ao ver quem entrava, o sorriso no meu rosto desapareceu num instante, dando lugar a uma expressão de rejeição. Era o Davi!Olhei para Bela, claramente irritada:— Por que você o chamou? Pra estragar a festa?Bela deu de ombros, com um sorrisinho provocador:— Chamei só pra ele ver como você está ótima agora, aproveitando a vida!Ela se levantou e foi até Davi, ignorando completamente o semblante fechado dele. Com a voz cheia de sarcasmo, disparou:— Sr. Davi, está vendo? A Kiara está com tudo! Voltar com você? Esquece. Então, por favor, supere e pare de persegui-la!Eu fiquei satisfeita com a provocação. Bela tinha razão, essa advertência era mais do que necessária.O rosto de Davi ficou ainda mais sombrio, e ele me encarou com aqueles olhos frios e severos. Sua voz cortante ecoou pelo ambiente:— Kiara, é assim que você se rebaixa? É isso que você acha que merece?Deixei escapar uma risada e, com um olhar desfocado, levantei a mão para apontar a coroa na minha cab
No final, fiquei sozinha para voltar para casa. Olhei para Amélia, meio sem jeito, e sorri:— Amélia, mais tarde eu chamo um carro, pode deixar.— Tudo bem...— E você? Tá tão tarde... Você sozinha... não, isso é perigoso. — Eu mal conseguia abrir os olhos de tão bêbada, mas ainda lembrei de me preocupar com ela.— Meu irmão vem me buscar, não se preocupe comigo. — Respondeu Amélia, tranquilizando-me.— Ah, que bom... — Murmurei, enquanto meus olhos se fechavam e eu desabava no sofá. Vagamente, percebi que as pessoas começaram a ir embora, uma por uma.Bela, depois de vomitar, aparentemente tinha adormecido no banheiro. Foi sua cunhada quem apareceu no camarote para encontrá-la. Com a ajuda de um garçom, a retiraram de lá praticamente carregada.Não sei quanto tempo dormi, mas senti alguém me sacudindo pelo ombro.— Kiara, meu irmão chegou. Eu também vou embora. Quer ir comigo? — Amélia me chamou, tentando me acordar.Abri os olhos por alguns segundos, mas minha cabeça parecia ainda ma
Eu inclinei a cabeça, olhei para ele e dei um sorriso bobo:— Ele se chama Jean. E aí? O nome não é super elegante? Aposto que você nunca ouviu falar dele... Ele é muito misterioso... e discreto.— Que coincidência. Eu conheço. — O homem riu de leve e, em seguida, levantou-se, segurando meu braço. — Vamos, vou te levar para casa.— Você vai me levar? Quem é você? Por que vai me levar? Foi a Bela... que te mandou aqui? Ela contratou tantos modelos hoje... Quanto ela pagou pra vocês? Mas você... chegou tarde... A festa já acabou...— Não, não fui contratado por ela.— Então você é quem...?Antes que eu conseguisse terminar a pergunta, o celular dele começou a tocar. Ele segurava meu braço com uma mão enquanto atendia o telefone com a outra.— Você bebeu ou não? Tem certeza de que não bebeu? Com quem você foi? Certo, já sei... Sim. Sim... Já estou com ela.Eu ouvia pedaços da conversa, mas minha mente já estava tão embaralhada que não conseguia juntar as peças para entender o que estava a
Na névoa dos meus pensamentos confusos, senti como se estivesse revivendo um sonho que já tinha tido antes.Sonhei certa vez que beijava Jean... E agora, nos braços de um homem que era assustadoramente parecido com ele, meu coração disparava. Engoli em seco, estiquei lentamente o pescoço e me aproximei. Meus lábios tocaram seu queixo. A sensação das cerdas da barba era curiosamente divertida.Quis continuar, subir mais e beijar sua boca, mas ele recuou o rosto, como se estivesse desconfortável.— Está com vergonha? Isso não é o que vocês fazem no trabalho? — Brinquei, deixando escapar um riso fraco enquanto balbuciava. — Fica tranquilo... Eu não sou qualquer uma... Eu e meu ex-marido ficamos juntos por seis anos... E, acredita? Nunca rolou nada íntimo entre nós... Os homens deste mundo... nenhum presta. Nenhum vale o meu sacrifício. Só estou te provocando...Depois dessas palavras desconexas, empurrei-o de leve e me encostei na porta do carro, voltando a dormir. Não sei quanto tempo se
— Por que você está se aproximando de mim? Qual é a sua intenção? Você quer... arrancar meu coração? Tirar meus órgãos? Ou talvez... sugar todo o meu sangue?Minha visão estava turva, e eu mal conseguia focar no rosto dele. Mesmo assim, percebi que a expressão de Jean congelou. Ele ficou paralisado, entre surpreso e sem saber se ria ou chorava. Depois de um momento de silêncio, perguntou, com um tom incrédulo:— Eu não sou açougueiro. Por que eu arrancaria seu coração, tiraria seus órgãos ou sugaria seu sangue?— Isso você que tem que responder... Eu... eu não sei! Mas tem algo errado com você. E com sua mãe também... Vocês são estranhos, sendo bons comigo sem motivo. É assustador. — Balancei a cabeça, agitando a mão no ar, enquanto balbuciava. — Muito assustador...Jean suspirou, intrigado:— Então você acha que somos bons com você porque queremos roubar seus órgãos? Que medo absurdo é esse que te fez começar a me evitar?Encostei-me no sofá, fraca, e murmurei:— Não... não é só isso.