“Será possível que alguém da família Auth também tinha sangue raro, como o meu, e esteja tentando me manter por perto como um “banco de sangue” permanente?” Desde pequena, por causa do ambiente hostil em que cresci, aprendi a enxergar a verdadeira face das pessoas e a desconfiar das intenções alheias.Se até mesmo os meus próprios parentes foram tão cruéis e calculistas, por que alguém que não tem nenhum laço de sangue comigo seria tão bom e generoso? E eu, ingênua, achava que era apenas sorte, que tinha encontrado um “anjo protetor”.Lembrei-me do almoço de alguns dias atrás, no Condomínio Florensa, quando a Sra. Auth soltou aqueles comentários enigmáticos e cheios de segundas intenções. Isso só reforçou minha convicção de que a aproximação da família Auth não era nada inocente.Além disso, não foi o próprio Davi que, certa vez, disse que a família Auth era “um mar profundo” e que eu não tinha chance contra Jean? Será que ele sabia de algo que eu ainda não entendia completamente?Quan
Mas Jean recusou:— Não precisa ter pressa. Se você não pode amanhã, marcamos em outro momento.— Mas acho que não vou ter tempo nos próximos dias... Se minha irmã falecer, vou ter que lidar com muitas coisas por um bom tempo. Para não atrasar o seu lado, é melhor que minha assistente vá até você para resolver isso.Falei com toda a educação e sinceridade possíveis, acreditando que isso não o incomodaria. Mas Jean não era ingênuo. Ele percebeu algo estranho nas entrelinhas e foi direto ao ponto:— Kiara, por que você está tão formal e distante de repente? Agora usa formalidades, evita me encontrar... Aconteceu algo? Eu ou minha família fizemos algo que te desagradou?Suas palavras diretas me deixaram sem reação. Minha língua parecia travada, incapaz de formar uma resposta convincente.Jean, no entanto, manteve a calma, falando com paciência:— Se fizemos algo errado, você pode me dizer. Não tem problema.— Não, não... De jeito nenhum. Pelo contrário, vocês foram bons demais comigo, e é
Embora isso estivesse dentro das minhas expectativas e fosse exatamente o resultado que eu queria, ainda assim meu coração apertava. A imagem de Jean flutuava na minha mente. Apesar de termos nos conhecido há pouco tempo, cada expressão, cada sorriso e cada movimento elegante dele permaneciam claros como o dia na minha memória.Passei um bom tempo imersa nessa melancolia, mas, ao perceber que já era tarde, sacudi a tristeza e comecei a me preparar. Era hora de ir ao hospital. O confronto com a família Mendes prometia ser mais uma batalha dura, e eu não tinha nem forças nem tempo para me perder em devaneios românticos. Restava deixar que o tempo apagasse essas lembranças aos poucos.Quando cheguei ao hospital, vi que Carlos e Isabela já tinham sido liberados. Não era difícil imaginar que isso era obra de Davi.A situação de Clara, como haviam dito, era realmente crítica. Ela estava na UTI, cercada por uma infinidade de aparelhos. Tubos a envolviam por todos os lados, e ela usava uma más
Davi provavelmente já sabia há muito tempo quem Clara realmente era. Mas, como já havia feito sua escolha errada, preferia insistir nela a admitir o erro e perder a compostura. Agora, com Clara admitindo tudo abertamente, sem sequer se dar ao trabalho de fingir, era como se ela o humilhasse na frente de todos. Como ele poderia não se sentir constrangido? Como poderia manter a aparência?Clara, à beira da morte e ciente de que seus dias estavam contados, parecia ter perdido qualquer vergonha. Ela estendeu a mão magra e, com uma voz arrogante, ordenou:— Passe o bracelete. Você já assinou os papéis para recuperar as ações. Vai querer voltar atrás agora?Eu segurei o bracelete com firmeza, sem dizer nada, apenas olhando para ela com um olhar frio e impassível.Vendo que eu não respondia, Clara virou a cabeça para Davi e, com a voz fraca e cheia de afetação, pediu:— Davi… pega o bracelete para mim. Me ajuda a colocar.Ela ergueu com dificuldade a mão que não estava conectada ao soro, este
Clara estava muito emocionada. Mal havia terminado a frase, começou a tossir violentamente. Os aparelhos ao lado da cama emitiram sons de alerta, e Davi imediatamente se aproximou para ajudá-la, dando leves tapinhas em suas costas para aliviar a respiração.— Clara, você está fraca. Não fale mais nada. — Pediu ele, preocupado.— Não se meta comigo! — Clara afastou Davi com um movimento brusco e levantou o olhar para mim, um sorriso fraco mas cheio de sarcasmo surgindo em seus lábios. — Kiara… Você e sua mãe sempre fizeram o mal. Agora estão pagando por isso. Veja sua mãe… tão jovem e já...Ela não conseguiu terminar a frase. Outra crise de tosse violenta a interrompeu, e parecia que ela não conseguiria se recuperar tão cedo.O rosto de Davi ficou sombrio. Ele se aproximou novamente, dando leves tapinhas em suas costas para ajudá-la a respirar, mas sua paciência parecia estar no limite.— Clara, já falei para você parar com isso! Pense na sua saúde! Você já conseguiu tudo o que queria.
Clara chorava descontroladamente. De repente, como se tivesse tomado uma decisão, soltou a mão de Davi e arrancou o bracelete do pulso com um movimento brusco.— Davi, eu não vou mais disputar nada com ela, não quero mais nada! Nem mesmo esse bracelete! Eu só quero você, só quero que fique ao meu lado... — Declarou Clara, com a voz embargada.Antes mesmo de terminar a frase, ela levantou o bracelete que acabara de tirar e o arremessou com força aos meus pés. Todos no quarto ficaram paralisados, chocados com o que acabara de acontecer. Meu rosto endureceu, mas meu corpo reagiu no instinto e me abaixei rapidamente para tentar agarrá-lo no ar. Porém, era tarde demais.O bracelete atingiu o chão com um som seco, partindo-se em pedaços.— Clara! — Davi rugiu, sua voz reverberando pelo quarto.Ainda agachada, fiquei olhando para os pedaços espalhados pelo chão, como se o tempo tivesse congelado. Meu corpo permanecia imóvel, quase como se estivesse preso em uma camada de gelo.Clara, por sua
Davi mantinha o rosto inexpressivo, como se tudo aquilo não tivesse nada a ver com ele. Nem sequer olhou para Clara, permanecendo imóvel, indiferente.— Davi! Você ficou surdo? — Clara finalmente explodiu. Pegou o que estava ao alcance no criado-mudo e atirou contra ele.— Clara, calma, minha filha! — Isabela correu para tentar contê-la, assustada ao ver que a filha havia arrancado a agulha do soro no calor do desespero.Davi desviou os objetos que vinham em sua direção, movendo-se tranquilamente. Só então, decidiu responder, ainda com o mesmo tom frio e distante:— Se você quer tanto assim, vá pegar você mesma. Eu tenho coisas para fazer. Já vou embora.E foi exatamente o que ele fez. Davi virou-se e saiu sem olhar para trás. Sua determinação era impressionante. Quando ele decidia algo, não deixava espaço para dúvidas ou arrependimentos. Um mês atrás, ele havia tomado a decisão de me abandonar para se casar com Clara. Na época, suportou toda a pressão que veio com isso, me deixando se
Eu confiava no meu talento profissional, mas precisava admitir que administrar pessoas não era exatamente meu ponto forte. Esses dias estavam sendo uma verdadeira montanha-russa: trabalho intenso, preocupações constantes e uma pressão que parecia não dar trégua.No final da tarde, enquanto eu olhava pela janela o céu escurecendo e começava a arrumar minhas coisas para ir embora, o celular tocou. Era Bela.— Onde você está? — Perguntou Bela, num tom leve e descontraído.— No escritório, fazendo hora extra... — Respondi, exausta.— Tá de brincadeira, né? Em pleno fim de semana, você não relaxa nem um pouco e ainda tá trabalhando?— Não tenho escolha. Agora tudo depende de mim. Ainda não consegui firmar meus passos, como vou relaxar? — Suspirei.Desde que meus amigos decidiram investir na empresa, a pressão só aumentou. Eu vivia com medo de que, se as coisas dessem errado, acabasse prejudicando eles e fazendo com que perdessem dinheiro.— Chega disso, sai daí agora! Eu preparei um program