Eu acho que, se não gostasse tanto dele, não pensaria tanto assim. Nesse momento, finalmente entendi o significado daquela frase:Gostar é querer possuir, amar é saber conter.O que sinto por Jean, em apenas alguns meses, já superou o que senti por Davi em mais de seis anos de convivência.Eu o amo. É por isso que me preocupo tanto com ele e penso tanto em como minhas ações podem afetá-lo. Não sei se deveria me culpar por ter mudado de coração tão rápido ou se Jean deveria ser culpado por ser tão irresistível.— Como você pode me envergonhar, sendo tão incrível? — Ele disse, erguendo a mão e, inesperadamente, apertando minha bochecha. Seu sorriso foi tão caloroso e indulgente que parecia derreter todas as minhas defesas. — Kiara, seja um pouco mais egoísta. Você vai ser mais feliz assim.Levantei os olhos para ele, e minha resistência interna desmoronou ainda mais.— Já está tarde. Vá se lavar e descanse. Amanhã eu venho te ver. — Ele disse, apertando levemente meu ombro com sua grande
Eu me sentei no sofá, tão assustada que quase saltei dali:— Bela! Você cale a boca!Jean também ficou surpreso por um momento. O olhar dele alternou entre mim e Bela, até que os cantos de seus lábios se curvaram levemente. Ele me olhou e disse:— Acho que foi quando ela me tirou do rio...— Meu Deus! — Bela arregalou os olhos, com uma expressão de choque extremo, e virou-se lentamente para mim. — Kiara! O que foi que eu acabei de ouvir? De repente, sinto que... Davi foi o seu anjo da guarda! Se você tivesse passado seis anos com outra pessoa, agora provavelmente estaria casada, talvez até com filhos! Como você teria chance de esperar pelo Sr. Jean?Jean entrou na sala de estar. Enquanto Bela continuava a exclamar, ele virou a cabeça para me olhar. O olhar dele era profundo e gentil, e sua expressão era contida, mas corada.Sim, eu vi claramente em suas sobrancelhas marcantes e expressivas uma timidez evidente. Era como se as palavras de Bela o tivessem deixado sem jeito, a ponto de su
Eu fiquei com medo de que ele se abaixasse para me ajudar a calçar os sapatos, então balancei a cabeça e disse:— Não precisa, vou com este mesmo.Os chinelos de casa eram macios e confortáveis, além de serem fáceis de tirar quando eu fosse fazer o tratamento mais tarde.— Tudo bem, já que vamos de carro, serve. — Jean respondeu.Ele me apoiou com uma mão enquanto, com a outra, abriu a porta. Com sua voz suave, ele me lembrou para tomar cuidado onde pisava e andar devagar, sem pressa.Nenhum amigo comum, ainda mais um amigo do sexo oposto, cuidaria de mim com tanta paciência, carinho e atenção aos detalhes.Embora eu não tivesse admitido claramente o que havia entre nós, todas as ações recentes de Jean eram mais convincentes do que qualquer palavra.Eu podia até não admitir com a boca, mas no fundo sabia: não tinha como escapar mais.Quando entrei no carro, nós dois permanecemos em silêncio. Porém, Jean estendeu a mão e segurou a minha. Eu, sem olhar para ele, virei o rosto para a jane
— As homenagens e as saudades podem ser guardadas no coração. Quando você melhorar, vai até lá. — Jean me consolou, com os olhos fixos nos meus. Ele fez questão de acrescentar. — Eu vou com você.— Você vai comigo? — Fiquei surpresa, mas logo entendi o que ele quis dizer.Era como se ele estivesse falando sobre o típico momento de um relacionamento em que se conhece a família do outro. Mas eu ainda não tinha aceitado oficialmente o amor dele. Depois do choque inicial, tratei de mudar de assunto rapidamente:— Quando eu melhorar, a gente vê. Talvez você nem tenha tempo.Jean sorriu, mas não respondeu. Ele claramente percebeu que eu estava fugindo da conversa.Quando terminamos a sessão de acupuntura, já era quase uma da tarde. Assim que voltamos ao carro, Jean disse:— Como você está com dificuldade para se locomover, não vamos comer fora. Já pedi comida, vão entregar direto na sua casa.Ele sempre pensava em tudo, cuidando dos mínimos detalhes. Era impossível não se sentir confortável
Eu olhei para ele com uma expressão de culpa evidente no rosto. Depois de hesitar um instante, decidi insistir:— Você ainda não almoçou. Vai sair com fome?Enquanto eu falava, o som do elevador chamou nossa atenção. A porta abriu, e um jovem de terno impecável saiu carregando uma caixa térmica.— Sr. Jean, aqui está o almoço que o senhor pediu. — O jovem disse com respeito, levantando a caixa e entregando-a a ele.Quando estendi a mão para pegar a caixa, Jean, preocupado que eu não pudesse carregar peso, foi mais rápido e a pegou antes de mim:— Certo, obrigado.— O senhor é sempre tão gentil, Sr. Jean. — O jovem respondeu antes de se virar e entrar novamente no elevador.Olhei para Jean e reforcei:— Coma antes de ir, por favor.Jean sorriu levemente, falando com um tom baixo:— Só o fato de você se importar já me deixa satisfeito. Pensei que, ao ver seus familiares, você ficaria mais que feliz em me mandar embora logo.Quando vi um leve sorriso de autodepreciação surgir em seu rosto
— Tia Júlia... você não precisa... — Eu tentei interromper o assunto, mas Jean foi mais rápido do que eu. — Tia Júlia, eu estou tentando conquistar a Kiara, mas ela ainda não aceitou. Esses dias, por causa do acidente, tive a oportunidade de cuidar dela.Eu fiquei paralisada, como se meu corpo inteiro tivesse sido jogado em uma fogueira. Em menos de um dia, primeiro Bela expôs nosso relacionamento ambíguo sem nenhum filtro, e agora Jean, com toda sua coragem, admitia seus sentimentos abertamente.Nenhum deles pediu minha permissão antes de avançar com tanta determinação, sem se importar se eu conseguiria lidar com tudo isso. E, ao que parecia, o impacto não foi só meu. Minha avó e tia Júlia, sentadas no sofá, também estavam atônitas.Elas claramente não esperavam que Jean fosse tão direto e ousado. Ficaram com os rostos paralisados, sem saber como reagir.Jean sorriu com discrição e disse:— Desculpem se minha sinceridade as assustou, mas eu estou falando sério. Kiara salvou minha vida
Eu não aguentei mais e rapidamente empurrei uma tigela de sopa na direção dele, interrompendo:— Comam, comam, bebam a sopa. Não vamos mais falar sobre isso! Vó, tia Júlia, parem de perguntar também. Eu sei o que fazer com a minha vida. Vou pensar com calma antes de tomar qualquer decisão.Cortei a conversa dos dois lados, só queria acabar logo com o almoço.Tia Júlia, percebendo que ela e minha avó juntas não eram páreo para Jean, imediatamente concordou comigo:— Isso, isso, comam logo. Daqui a pouco a comida esfria.Olhei de relance para Jean, soltei um suspiro de alívio e voltei minha atenção para a sopa. Ele também me olhou, mas seus olhos estavam cheios de um sorriso leve, sem nenhum sinal de desconforto ou tensão.Ele era assim. Alguém que, desde pequeno, tinha vivido grandes momentos, mantendo sempre confiança, calma e equilíbrio. Nada no mundo parecia capaz de tirar Jean do controle ou deixá-lo abalado.Depois de terminarmos o almoço, Jean se levantou para ir embora. Eu tentei
— Vó, eu entendo o que a senhora quer dizer. Eu também me preocupo com isso, por isso ainda não aceitei ficar com ele.Enquanto eu respondia à minha avó, os conselhos de Jean ecoavam na minha mente.Ele me dizia para ser mais egoísta, para pensar mais em mim mesma, porque só assim eu poderia ser realmente feliz. Mas mudar minha personalidade era algo difícil demais.Na minha família, as pessoas ou eram extremamente sem escrúpulos, como Carlos, ou eram boas demais, como minha avó.Eu queria ser capaz de ignorar tudo, de aproveitar o que a vida tinha a oferecer agora, sem me preocupar com o futuro. Mas o medo de machucar alguém que me considerava preciosa demais me paralisava.Eu não suportaria viver com essa culpa pelo resto da vida.— Diferenças de classe trazem muitos obstáculos. Você já passou por isso uma vez e deveria entender melhor do que ninguém como o coração das pessoas pode ser imprevisível. — Minha avó não disse muito mais, mas eu compreendi cada palavra.O coração humano é