Eu quis dizer que não precisava, mas Jean já havia concordado com o médico:— Então pode preparar.Virei-me para ele, mas sua resposta foi direta e sem cerimônias:— Você entende mais do que o médico?Fiquei sem palavras e tive que engolir minha opinião. O rosto dele carregava uma expressão séria e autoritária, bem diferente da sua habitual calma e gentileza. Não sabia se ele ainda estava chateado pela discussão da manhã ou se era minha lesão que o tinha deixado irritado.A enfermeira me empurrou na cadeira de rodas e, obediente, fui fazer a ressonância magnética. Quando o resultado saiu, era pior do que eu imaginava.— Edema na medula óssea da patela causado pelo trauma, além de derrame no saco suprapatelar e na cavidade articular. O tratamento inicial será conservador. Você precisará descansar de quatro a seis semanas, com o mínimo de movimentação possível e bastante repouso. — O médico explicou rapidamente antes de começar a prescrever os remédios.Meu humor despencou. Faltava pouco
Eu me afastei um pouco do peito de Jean e virei a cabeça para olhar meu joelho. Mas meus olhos estavam cheios de lágrimas, e tudo parecia embaçado.Jean olhou para mim e, para minha surpresa, sorriu:— Está chorando? É tão assustador assim?Eu o odiei naquele momento. Odiei o fato de ele ter me feito passar por essa “tortura”. Então, preferi nem responder. Ele, no entanto, parecia não se importar. Tirou um lenço do bolso e o estendeu para mim:— Vai querer se limpar sozinha ou prefere que eu faça isso por você?Com um biquinho nos lábios e cheia de ressentimento, arranquei o lenço da mão dele e limpei minhas lágrimas. Quando comecei a me acalmar, pensei em me afastar e fingir força, mas, antes que pudesse, o médico se aproximou novamente.— Agora vou movimentar as agulhas. Não se preocupe, não vai doer.Olhei para as finas agulhas de aço que cutucavam minha pele inchada e avermelhada, subindo e descendo nas mãos do médico. O medo tomou conta de mim novamente, e, sem pensar, virei o ros
Foi um sonho breve, mas doce e reconfortante. Não sabia ao certo se foi por estar encostada em Jean, mas acordei com uma sensação de paz incomum.— Consegue andar? — Jean perguntou, assim que o carro parou. Ele desceu primeiro, deu a volta e abriu a porta do meu lado.Levantei a perna, testando, e rapidamente respondi:— Consigo sim, depois da acupuntura está bem melhor.Era verdade. Não podia negar que o médico que Jean havia encontrado era realmente habilidoso. Por mais assustador que fosse o tratamento, o alívio pós-sessão era notável. A dor tinha diminuído consideravelmente.Jean assentiu e permaneceu ao lado da porta, esperando pacientemente enquanto eu descia devagar. Quando finalmente coloquei os pés no chão, ele segurou meu braço para me ajudar. Caminhei vagarosamente, e ele me acompanhou com passos firmes, carregando os remédios em uma mão e me segurando com a outra. O trajeto curto até o prédio parecia uma jornada interminável, e cada passo meu durava uma eternidade.Ao entra
Eu acho que, se não gostasse tanto dele, não pensaria tanto assim. Nesse momento, finalmente entendi o significado daquela frase:Gostar é querer possuir, amar é saber conter.O que sinto por Jean, em apenas alguns meses, já superou o que senti por Davi em mais de seis anos de convivência.Eu o amo. É por isso que me preocupo tanto com ele e penso tanto em como minhas ações podem afetá-lo. Não sei se deveria me culpar por ter mudado de coração tão rápido ou se Jean deveria ser culpado por ser tão irresistível.— Como você pode me envergonhar, sendo tão incrível? — Ele disse, erguendo a mão e, inesperadamente, apertando minha bochecha. Seu sorriso foi tão caloroso e indulgente que parecia derreter todas as minhas defesas. — Kiara, seja um pouco mais egoísta. Você vai ser mais feliz assim.Levantei os olhos para ele, e minha resistência interna desmoronou ainda mais.— Já está tarde. Vá se lavar e descanse. Amanhã eu venho te ver. — Ele disse, apertando levemente meu ombro com sua grande
Eu me sentei no sofá, tão assustada que quase saltei dali:— Bela! Você cale a boca!Jean também ficou surpreso por um momento. O olhar dele alternou entre mim e Bela, até que os cantos de seus lábios se curvaram levemente. Ele me olhou e disse:— Acho que foi quando ela me tirou do rio...— Meu Deus! — Bela arregalou os olhos, com uma expressão de choque extremo, e virou-se lentamente para mim. — Kiara! O que foi que eu acabei de ouvir? De repente, sinto que... Davi foi o seu anjo da guarda! Se você tivesse passado seis anos com outra pessoa, agora provavelmente estaria casada, talvez até com filhos! Como você teria chance de esperar pelo Sr. Jean?Jean entrou na sala de estar. Enquanto Bela continuava a exclamar, ele virou a cabeça para me olhar. O olhar dele era profundo e gentil, e sua expressão era contida, mas corada.Sim, eu vi claramente em suas sobrancelhas marcantes e expressivas uma timidez evidente. Era como se as palavras de Bela o tivessem deixado sem jeito, a ponto de su
Eu fiquei com medo de que ele se abaixasse para me ajudar a calçar os sapatos, então balancei a cabeça e disse:— Não precisa, vou com este mesmo.Os chinelos de casa eram macios e confortáveis, além de serem fáceis de tirar quando eu fosse fazer o tratamento mais tarde.— Tudo bem, já que vamos de carro, serve. — Jean respondeu.Ele me apoiou com uma mão enquanto, com a outra, abriu a porta. Com sua voz suave, ele me lembrou para tomar cuidado onde pisava e andar devagar, sem pressa.Nenhum amigo comum, ainda mais um amigo do sexo oposto, cuidaria de mim com tanta paciência, carinho e atenção aos detalhes.Embora eu não tivesse admitido claramente o que havia entre nós, todas as ações recentes de Jean eram mais convincentes do que qualquer palavra.Eu podia até não admitir com a boca, mas no fundo sabia: não tinha como escapar mais.Quando entrei no carro, nós dois permanecemos em silêncio. Porém, Jean estendeu a mão e segurou a minha. Eu, sem olhar para ele, virei o rosto para a jane
— As homenagens e as saudades podem ser guardadas no coração. Quando você melhorar, vai até lá. — Jean me consolou, com os olhos fixos nos meus. Ele fez questão de acrescentar. — Eu vou com você.— Você vai comigo? — Fiquei surpresa, mas logo entendi o que ele quis dizer.Era como se ele estivesse falando sobre o típico momento de um relacionamento em que se conhece a família do outro. Mas eu ainda não tinha aceitado oficialmente o amor dele. Depois do choque inicial, tratei de mudar de assunto rapidamente:— Quando eu melhorar, a gente vê. Talvez você nem tenha tempo.Jean sorriu, mas não respondeu. Ele claramente percebeu que eu estava fugindo da conversa.Quando terminamos a sessão de acupuntura, já era quase uma da tarde. Assim que voltamos ao carro, Jean disse:— Como você está com dificuldade para se locomover, não vamos comer fora. Já pedi comida, vão entregar direto na sua casa.Ele sempre pensava em tudo, cuidando dos mínimos detalhes. Era impossível não se sentir confortável
Eu olhei para ele com uma expressão de culpa evidente no rosto. Depois de hesitar um instante, decidi insistir:— Você ainda não almoçou. Vai sair com fome?Enquanto eu falava, o som do elevador chamou nossa atenção. A porta abriu, e um jovem de terno impecável saiu carregando uma caixa térmica.— Sr. Jean, aqui está o almoço que o senhor pediu. — O jovem disse com respeito, levantando a caixa e entregando-a a ele.Quando estendi a mão para pegar a caixa, Jean, preocupado que eu não pudesse carregar peso, foi mais rápido e a pegou antes de mim:— Certo, obrigado.— O senhor é sempre tão gentil, Sr. Jean. — O jovem respondeu antes de se virar e entrar novamente no elevador.Olhei para Jean e reforcei:— Coma antes de ir, por favor.Jean sorriu levemente, falando com um tom baixo:— Só o fato de você se importar já me deixa satisfeito. Pensei que, ao ver seus familiares, você ficaria mais que feliz em me mandar embora logo.Quando vi um leve sorriso de autodepreciação surgir em seu rosto