Eu não estava com paciência para ficar trocando mensagens, então liguei diretamente para Nina. Nós conversamos animadamente durante todo o caminho, rindo e relembrando os velhos tempos. Combinamos que, quando ela viesse a Saurimo, ficaria hospedada na minha casa para termos tempo de colocar o papo em dia.Quando o carro estava se aproximando do Condomínio Florensa, avistei de longe uma figura esguia parada na entrada. Ele estava de pé, contra o frio do inverno, ereto como um pinheiro, com uma elegância natural que chamava atenção.Meu coração deu um pequeno salto, e, sem saber por quê, senti um leve constrangimento. Eu tinha certeza de que Jean estaria no trabalho hoje, mas, pelo visto, ele havia decidido tirar o dia de folga.O Rolls-Royce personalizado estacionou suavemente, e Jean se aproximou para abrir a porta do carro para mim.Eu sorri, um pouco nervosa e envergonhada, tentando rapidamente encontrar um assunto para quebrar o gelo:— Você está com tempo livre hoje?— Nem tanto. A
— Pode me dizer por quê? É porque você não gosta de mim ou está preocupada com o que os outros podem dizer?Jean me encarava diretamente, com uma expressão tranquila, mas sua pergunta me deixou completamente desorientada. Meu rosto queimava, e meus olhos começaram a desviar de um lado para o outro, incapazes de encará-lo.— Eu… eu só acho que… eu já fui casada. Minha reputação não é boa, então…Apesar de não ter dito claramente, minhas palavras tinham um significado evidente. Eu sabia que ele entenderia exatamente o que eu quis dizer.Para minha surpresa, Jean apenas sorriu, como se aquilo fosse algo trivial:— Eu já sabia do seu divórcio há muito tempo. Isso não é novidade para mim. Além disso, o fracasso desse casamento não foi culpa sua, foi ele quem te decepcionou. Por que você está se pressionando tanto?— Falar é fácil, mas as pessoas são cruéis nos julgamentos, e a sua família tem um histórico impecável…Não consegui terminar a frase.A verdade era que a família Auth tinha um no
Os olhos da Sra. Auth brilharam enquanto ela pegava a echarpe e assentia repetidamente, satisfeita:— Adorei! Esse tom de azul índigo é tão elegante e refinado, e o bordado é discreto e sofisticado.A Sra. Auth se levantou imediatamente e colocou a echarpe sobre os ombros, girando duas vezes diante de mim.— E então, o que acha?— Ficou ótimo. A senhora tem uma elegância natural. Qualquer coisa que vestir vai ficar perfeita.— Você tem um jeito com as palavras! — A Sra. Auth riu, claramente satisfeita, e continuou: — Na verdade, é você que tem bom gosto. Aquele vestido que você fez para Amélia ficou um espetáculo. Ela estava maravilhosa com ele.Os elogios dela me deixaram tão animada que eu mal conseguia esconder o sorriso.— Muito obrigada, fiquei muito feliz que tenha gostado. — Disse a Sra. Auth. Ela acariciou a echarpe nos ombros, sem nenhuma intenção de tirá-la, e então se sentou novamente, mantendo o tom cortês.— É só um pequeno presente. Se a senhora gostou, já valeu a pena. —
Eu soltei um suspiro discreto de alívio, mas, ao levantar o olhar, encontrei o de Jean. Ele curvou levemente os lábios em um sorriso tranquilo, como quem dizia para eu não me preocupar tanto.Mas como eu poderia não me preocupar?Nos últimos tempos, a atmosfera entre nós estava cheia de uma tensão sutil, quase palpável. Eu sabia que não deveria permitir isso. Ele era de uma família muito acima da minha, e eu deveria ter consciência disso, mantendo uma distância respeitosa.Ao mesmo tempo, como empresária, e agora como dona do meu próprio negócio, eu entendia mais do que nunca a importância de cultivar relacionamentos. Pessoas com a posição e o prestígio de Jean eram raras. Quem, em sã consciência, rejeitaria uma conexão como essa?Ter o apoio dele era uma oportunidade que ninguém recusaria. Mesmo que não fosse por mim, eu precisava pensar nas dezenas de funcionários que dependiam da minha empresa. Alinhar-me com alguém como Jean significava abrir portas, atrair oportunidades e garantir
A Sra. Auth se levantou, sem responder ao comentário de Jean, e apenas disse:— Comam com calma. Vou subir para descansar. Kiara, venha nos visitar de novo quando tiver tempo.Eu realmente achei que tinha desagradado a Sra. Auth e que ela fosse me mandar embora. Quem diria que, no final, ela ainda me convidaria para voltar?Senti um alívio imediato e, cheia de gratidão, levantei-me educadamente:— Claro, Sra. Auth. Muito obrigada pelo almoço.— Não há de quê. — Ela respondeu com um leve sorriso antes de se virar e sair da sala de jantar.Jean me olhou e disse, com a voz calma e convidativa:— Sente-se. Coma mais um pouco, sem pressa.Eu abaixei os olhos para ele, hesitante, antes de responder baixinho:— Já estou satisfeita. Além disso, tenho trabalho à tarde e preciso voltar para a empresa.Jean me olhou com seus olhos brilhantes e serenos, o rosto sempre impecável e tranquilo, e comentou:— Ficou assustada com algumas palavras da minha mãe? Ela não quis te pressionar. Só acha que voc
Eu fiquei imóvel por um instante, mas respondi:— Estou bem, não estou com sono.No entanto, no segundo seguinte, não consegui segurar um bocejo.Jean deu uma leve risada:— Durma um pouco. Vamos levar uma hora até chegar à sua empresa.Eu pensei que, se não dormisse, o silêncio no carro ficaria ainda mais desconfortável. Por outro lado, se tentássemos conversar, poderia surgir um assunto delicado, o que tornaria tudo ainda mais constrangedor.Dormir parecia a opção mais sensata. Mesmo que eu não conseguisse, poderia ao menos fingir.— Certo, acho que posso tentar descansar um pouco.Minha intenção inicial era apenas fechar os olhos e fingir que estava dormindo, enquanto pensava nos croquis que precisava preparar ou em como organizar o desfile de moda em Milão após o Ano Novo. Mas, antes que eu percebesse, Jean apertou um botão, e o encosto do meu assento se ajustou automaticamente a uma posição ergonômica perfeita, me deixando praticamente deitada, confortável como nunca.Instintivame
Jean manteve o olhar calmo, os traços serenos, enquanto me encarava por alguns segundos antes de falar em um tom tranquilo:— Kiara, eu posso esperar. Um ano, dois, três ou até cinco. Eu posso esperar.Minha mente simplesmente explodiu! Fiquei paralisada, como se o mundo ao meu redor tivesse parado, enquanto uma leve tontura tomava conta de mim. Ele realmente disse isso, assim, de forma tão direta, sem aviso, sem rodeios?Eu não fazia ideia de qual expressão estava no meu rosto naquele momento, mas meu coração estava disparado como nunca antes. Como eu deveria responder? Recusar novamente? Ou dizer “então espere”?— Sr. Jean, eu…— Eu já te pedi para não me chamar de Sr. Jean.Minha cabeça, que já estava uma bagunça, ficou ainda mais confusa com a interrupção dele. Não consegui dizer mais nada.Jean abriu a porta do carro e saiu, caminhando calmamente até a frente do veículo e, em seguida, vindo para o meu lado. Eu, ainda atordoada, virei para encará-lo, com os olhos arregalados como o
Mas aquele “tum” alto não assustou apenas as pessoas que esperavam o elevador do lado de dentro, como também pegou Jean de surpresa.— Kiara! — Ele gritou de repente, alarmado.Eu, no entanto, estava tão envergonhada que não tive coragem de responder, muito menos de parar.O elevador chegou naquele exato momento. Os funcionários que aguardavam começaram a entrar, e eu, sem diminuir o passo, gritei um “esperem” enquanto corria para dentro, ainda com a mão na testa. As portas se fecharam, e o elevador começou a subir.Soltei um longo suspiro de alívio, mas meu coração continuava disparado, e minha cabeça parecia um turbilhão. Eu sequer queria imaginar qual teria sido a reação de Jean. Ele, com certeza, devia estar pensando o quanto eu era desajeitada e, pior ainda, que eu estava tão apaixonada por ele que fiquei completamente sem rumo depois da declaração.Quando cheguei ao andar da empresa e entrei, percebi algo inesperado ao passar pela sala do gerente geral. Havia alguém lá dentro. Ol