— Meu irmão já está assim, e você ainda vem pressioná-lo. Você não tem um pingo de humanidade? — Tânia gritou, furiosa.— O estado do seu irmão não é culpa minha. Então, por favor, pare com esse discurso moralista. — Eu respondi, pegando de volta o acordo de divórcio, que ela havia tomado de mim, e dei dois passos à frente para colocá-lo sobre o criado-mudo ao lado da cama. — Davi, vou repetir: eu salvei sua vida, fui além do que qualquer pessoa faria. Foi você quem me traiu primeiro, então não me culpe por estar sendo fria agora. Assine logo o acordo de divórcio e, pelo menos uma vez, faça o que é certo.Davi me encarou fixamente. Quando terminei de falar, ele levantou a mão devagar e pegou o documento.Eu pensei que ele fosse rasgá-lo e avisei:— Eu trouxe várias cópias. Rasgar essa não vai adiantar nada.Mas, para minha surpresa, ele deu uma olhada no acordo, girou o papel levemente na minha direção e disse apenas uma palavra:— Caneta.Eu fiquei paralisada por um instante, sem ente
Davi levantou os olhos para mim, com uma expressão de surpresa:— Kiara, você realmente mudou. Em apenas dois meses, é como se você fosse outra pessoa.— É mesmo? Então você deveria me parabenizar por ter renascido das cinzas. Finalmente deixei de ser a tola que qualquer um podia manipular. — Respondi.As grandes mudanças e os inúmeros golpes que enfrentei nesse tempo foram, para mim, uma verdadeira provação. Mas eu me orgulhava de ter superado tudo. Minha vida e minha carreira tinham dado um salto.Se eu tivesse sido um pouco mais fraca ou ingênua, já teria desaparecido sem deixar nenhum rastro. Não teria a chance de estar aqui, ouvindo as bobagens que ele tinha a dizer.Davi e as duas mulheres ao seu lado me encararam, sem palavras.Eu respirei fundo, organizei os papéis do divórcio e guardei na bolsa. Depois, virei-me para ele:— Cuide-se. Estarei te esperando no cartório.Caminhei até a porta, mas, ao puxar o trinco, ouvi a voz de Davi novamente:— Kiara, eu vou ajudar o tio Carlos
Bela ficou surpresa:— Não acredito! Como ele mudou de atitude assim, do nada?— Eu também não sei. Agora ele parece estar completamente fora de si, impossível entender o que ele está pensando. Ele chegou ao ponto de dizer que vai ajudar o Carlos. E o pior? Disse que é por mim, que está fazendo isso porque tem medo que eu me arrependa no futuro, como se quisesse pagar pelos meus pecados. — Respondi.— O quê? — Bela ficou boquiaberta. — Ele está com o quê? Problemas mentais?Eu ri, sem saber como responder. Era algo realmente difícil de explicar.Depois de encerrar a conversa com Bela, fiquei com a cabeça ocupada, pensando no centenário da universidade. Eu queria saber se Jean tinha recebido o convite, mas não me sentia à vontade para ligar e perguntar. Afinal, eu mesma ainda não tinha recebido nada.Porém, como se ele tivesse lido meus pensamentos, meu celular tocou. Quando olhei o visor, era Jean.Eu não consegui segurar um sorriso. A sintonia entre nós era algo que me fazia sentir um
— Ainda não está confirmado. Mas eu acabei de ir ao hospital e levei o acordo de divórcio. Acho que ele teve um momento de consciência e assinou tudo sem hesitar. Agora é só esperar ele sair do hospital para cuidarmos dos trâmites.Enquanto eu falava, minha voz transparecia uma alegria leve, como se já tivesse um pé fora do cárcere do casamento.— Que bom, parabéns! Finalmente está prestes a se livrar desse pesadelo.— Obrigada. — Agradeci. Então, ouvi vozes do outro lado da linha, provavelmente colegas de trabalho dele. Percebendo que ele estava ocupado, me apressei em dizer. — Continue com o que está fazendo. Estou dirigindo agora, depois a gente conversa.— Certo. Dirija com cuidado.Desliguei a ligação e, logo em seguida, já estava chegando na empresa. Assim que estacionei o carro, um pensamento estranho me atravessou. Não sei se era coisa da minha cabeça, mas parecia que Jean estava muito interessado em saber quando eu finalmente me divorciaria.E o fato de eu “relatar” o progress
Somente quando contratei um gerente profissional que me agradou para assumir completamente a gestão da minha empresa de moda, consegui respirar um pouco aliviada.Mas, antes que eu pudesse relaxar, um novo problema bateu à porta.Logo de manhã, enquanto eu estava ocupada no meu estúdio particular no andar superior da empresa, Tatiana apareceu para me atualizar:— Kiara, a Isabela está aqui de novo. Ela insiste em falar com você.Eu saí de trás de um manequim, já sentindo que coisa boa não era:— Isabela?— Sim, e já chegou com um jeito nada amistoso. O Sr. Lucas está tentando atender ela, disse que você não está na empresa hoje, mas ela não quer ir embora de jeito nenhum. O que faço? Chamo a segurança para tirar ela ou você quer descer para falar com ela?O “Sr. Lucas” ao qual Tatiana se referia era Lucas Oliveira, o novo gerente profissional que eu havia contratado. Um homem com anos de experiência no mercado de moda internacional e uma reputação impecável.Eu já tinha uma boa ideia d
Eu me aproximei e me sentei, cruzando as pernas com tranquilidade. Levantei a mão e fiz um gesto de calma:— Não precisa se exaltar. Sente-se e vamos conversar com calma.Isabela me lançou um olhar furioso, com o rosto rígido, claramente sem nenhuma vontade de “conversar com calma”. Mas, como parecia estar precisando de algo, ela respirou fundo e acabou cedendo, sentando-se novamente.Tatiana trouxe para mim uma xícara de chocolate quente. Ao colocá-la sobre a mesa, sussurrou:— Eu fico por aqui, caso você precise.Tatiana provavelmente estava preocupada que Isabela pudesse partir para a agressão física. A ideia dela era me dar algum suporte moral e, se necessário, intervir.— Então, diga logo. O que você quer comigo? — Perguntei, dando um gole no chocolate quente e mantendo um tom indiferente.Na frente de Isabela, havia uma xícara de café já pela metade. Ela se ajeitou na cadeira, segurando a xícara com ambas as mãos para esquentá-las. Seu rosto mostrava um misto de constrangimento e
— Kiara... Você... você é desprezível! Você é cruel, fria como uma cobra! Sua mente é cheia de veneno! — Isabela ficou em silêncio por um longo tempo, procurando brechas nas minhas palavras. Quando não encontrou nenhuma, acabou explodindo, tremendo de raiva, com a voz trêmula de ódio.Eu apenas mantive um sorriso tranquilo, impassível. Era incrível como, mesmo depois de tudo o que fizeram comigo as humilhações, acusações e até armações, eles sempre se colocavam como vítimas. E, pior, depois que eu conseguia reverter a situação, ainda tinham a coragem de me atacar, como se o mal fosse meu. Era inacreditável o nível de hipocrisia e desfaçatez.Peguei minha xícara de chocolate quente, planejando dar mais um gole antes de sair. Porém, pelo canto do olho, percebi um movimento brusco de Isabela. Ela estendeu a mão em direção à sua xícara de café.Tudo aconteceu em questão de segundos. Ao ver que ela estava prestes a me jogar o café, meu corpo reagiu antes mesmo de eu pensar. Num reflexo, eu
Eu achava que, depois de Isabela passar vergonha na minha frente, o assunto estava encerrado. Mas não. Ela não aceitou o golpe e resolveu trazer reforços.No dia seguinte, um sábado, eu já tinha combinado um encontro com Bela e Amélia no restaurante Bom Sabor. Bela tinha insistido em nos convidar.Passei o dia trabalhando no estúdio e, ao fim da tarde, fui direto para o restaurante. Assim que cheguei e as vi, mal cumprimentei as duas, meu celular começou a tocar.Olhei para a tela: era tia Camila.— Bela, Amélia, conversem aí. Eu preciso atender.— Você não para um segundo, hein? — Bela comentou com um tom de brincadeira.Eu sorri, um pouco sem graça, e saí do reservado para atender a ligação:— Alô, tia Camila, tudo bem? Aconteceu alguma coisa?Do outro lado da linha, tia Camila respondeu com uma voz mansa e simpática:— Kiara, como você está? Tudo bem por aí?Assim que ouvi aquele tom, já percebi que vinha coisa. Sorri levemente e fui direta:— Tia Camila, estou no meio de um comprom