A situação virou de cabeça para baixo. As mesmas pessoas que há pouco tentavam me convencer a perdoar Davi agora estavam todas compradas por interesses próprios.Davi estava ajoelhado ali, claramente sem acreditar que eu o humilharia publicamente daquela maneira. Seu rosto alternava entre pálido e avermelhado, e as mãos erguidas começavam a tremer.— Kiara... — Ele murmurou, com as pupilas dilatadas, cuspindo as palavras em puro choque.— Davi, entre nós dois nunca mais vai existir reconciliação. Você entendeu? — Olhei diretamente para ele, apagando qualquer resquício de emoção e reafirmando minha posição.— Eu não acredito... Você está só engasgada com isso, não consegue engolir o que aconteceu. Você quer se vingar de mim. Não acredito que seis anos de relacionamento possam ser descartados assim, como se não significassem nada...A voz de Davi veio baixa, quase um sussurro, mas carregada de emoção. Se escutasse com atenção, dava até para perceber o choro engasgado. Seus olhos já estav
A voz da minha avó soava preocupada, e eu fiquei confusa ao ouvir:— Não aconteceu nada, vó. Por que pergunta?Ela respondeu, irritada:— Agora há pouco, aquela Isabela ligou do celular do Carlos e começou a gritar comigo, dizendo que eu não soube educar nem minha filha nem minha neta. Disse que vocês duas não prestam, que você fez um escândalo no velório da Clara e não deixou a menina descansar em paz. E ainda soltou uma porção de maldições!Enquanto ouvia, franzi a testa repetidamente:— Vó, não liga pra ela. Ela está igual a um cachorro louco agora, perdeu completamente a razão.— Como não ligar? Eu devolvi na mesma moeda! Passei anos engolindo sapo dessa mulher, nunca tive oportunidade de falar umas boas verdades, e hoje ela fez questão de me dar essa chance. Aproveitei e soltei tudo!O tom da minha avó me tranquilizou, e eu rapidamente a consolei:— Que bom que colocou tudo pra fora, vó. Mas não fique nervosa, o importante é cuidar da sua saúde.— Nem se preocupe, minha saúde está
“LongVoyage Comércio Ltda?”Minha mente deu um estalo na hora, e eu entendi imediatamente que era a empresa do Carlos que tinha se metido em problemas.Tatiana, ao meu lado, falou:— Senhor, acho que deve haver algum engano. Nós somos uma empresa de confecção, sempre pagamos nossos impostos corretamente.Saí de trás da mesa e, em voz baixa, instrui Tatiana:— É um assunto de família. Vou acompanhar os senhores da Receita Federal. Aqui na empresa, você fica encarregada de administrar a situação. Fale com os outros e peça para ninguém especular nada.— Certo, entendi. — Respondeu ela com um aceno de cabeça, visivelmente preocupada.Sorri para tranquilizá-la:— Fique tranquila, tenho tudo sob controle. Não vai dar em nada.Depois de organizar rapidamente o que era necessário, acompanhei os agentes da Receita Federal para fora da empresa.Desde que, há algumas semanas, Carlos começou a agir de forma mais amigável, oferecendo transferir para mim as ações que restaram da minha mãe e até part
Eu estava completamente confusa:— Não tinham acabado de dizer que eu precisava esperar?Antes que o funcionário pudesse responder, uma voz baixa e firme soou na entrada do escritório:— Kiara.Virei-me de repente e fiquei pasma. Era o Jean!Arregalei os olhos, surpresa:— O que você está fazendo aqui?Jean fez um gesto com a mão, chamando-me:— Vamos, saímos e conversamos lá fora.A alegria tomou conta de mim, e um sorriso apareceu involuntariamente no meu rosto. Caminhei até ele, e Jean, de forma natural, colocou a mão em meu ombro, conduzindo-me para fora, em direção ao grande salão do escritório.Não demorou muito para que o chefe da Receita Federal viesse apressado ao nosso encontro:— Sr. Jean, por que não nos avisou que viria? Teria sido um prazer recebê-lo na entrada.Jean curvou levemente os lábios, com uma expressão formal e educada:— Só vim buscar alguém. Não pretendo atrapalhar, já estamos de saída.— Não gostaria de ficar mais um pouco?— Não, tenho outros compromissos.—
— Sim, essa história é longa... Suspirei, sem jeito, antes de começar a contar, de forma resumida, como Carlos havia enganado minha mãe anos atrás, apropriado-se dos negócios dos meus avós maternos e, mais recentemente, fingido boa vontade ao devolver as ações que pertenciam à minha mãe, apenas para me atrair para a armadilha que ele preparou com tanto cuidado. Jean ouvia tudo com uma expressão séria, franzindo a testa várias vezes. Seus olhos, fixos em mim, carregavam uma mistura de compaixão e indignação. Quando terminei, ele perguntou, incrédulo: — Ele é mesmo seu pai biológico? — É, sim. — Rspondi com um sorriso sarcástico e indiferente. — Dá para acreditar que um pai pode ser tão cruel com a própria filha? Pois é, essa é a realidade. No fundo, ele preferia que quem tivesse morrido fosse eu, não a Clara. Jean balançou a cabeça, desaprovando, e murmurou em um tom grave: — Um homem assim vai pagar caro por tudo isso. — Talvez. Mas mesmo que Deus não o puna, eu não vou d
Quando desci as escadas novamente, uma verdadeira disputa entre as senhoras da alta sociedade já estava em curso. Todas pareciam ansiosas para se aproximar de mim, buscando um pretexto para puxar conversa, na esperança de garantir um lugar na lista de encomendas das roupas sob medida.Jean apenas assentiu com a cabeça, com sua típica calma:— Certo, vocês podem entrar em contato. Vejam o que ela prefere.— Claro, vou perguntar a ela daqui a pouco.Depois do jantar, Jean insistiu em me levar de volta à empresa. Não tive escolha a não ser entrar novamente no carro dele. No caminho, ele permaneceu ocupado ao telefone, alternando entre ligações que não pareciam ter fim. Era evidente o quão atarefado estava. Assim que desligou, abriu o notebook no banco ao lado e começou a trabalhar.— Desculpe, preciso resolver algumas coisas agora. — Disse ele, sem desviar os olhos da tela.— Sem problema, pode continuar. — Respondi com um sorriso, tentando não parecer desconfortável.Na verdade, quem dev
Eu mal tinha conseguido me firmar no chão quando ouvi, às minhas costas, aquela voz suave e firme, que parecia sempre encontrar uma brecha para me desarmar:— Kiara...Meu coração disparou, e os pelos da nuca se arrepiaram. Virei-me rapidamente:— Hã?Jean ainda estava no carro, ligeiramente inclinado em minha direção. Seus olhos, brilhantes como estrelas numa noite calma, traziam um calor inesperado, enquanto um sorriso discreto suavizava sua expressão séria:— Não se preocupe, estou muito bem de saúde. Obrigado pela preocupação.Seu tom era tão sincero que, sem querer, meus nervos tensos relaxaram de imediato. Acabei sorrindo suavemente:— Que bom.— Até mais. — Ele fez um leve gesto com a mão.— Até mais. — Respondi, retribuindo o gesto.Minha intenção inicial era fugir dali o mais rápido possível, mas a sua resposta gentil, carregada de uma tranquilidade que parecia me envolver, me fez mudar de ideia. Eu permaneci parada na calçada, observando o carro dele partir. Por algum motivo,
Assim que entrei no carro, peguei o celular e liguei diretamente para Carlos. Na primeira vez, ele não atendeu. Tentei novamente. Nada. Só na terceira tentativa ele finalmente atendeu, e sua voz veio carregada de irritação:— O que foi? Estou ocupado!— Ocupado com o quê? Não me diga que você também foi levado pela Receita para prestar depoimento? — Fui direto ao ponto, sem rodeios.Do outro lado, ele ficou em silêncio por um instante, como se estivesse surpreso, mas logo tentou disfarçar:— Do que você está falando?Eu soltei uma risada fria. Não acreditava nem por um segundo que ele não soubesse sobre o que tinha acontecido comigo naquela manhã:— Carlos, você me jogou no meio de uma armadilha. Agora vai ter que acertar as contas comigo.— Que absurdo! Desde quando uma filha se refere ao próprio pai pelo nome? — Ele tentou usar o tom autoritário de sempre, mas dessa vez eu não estava disposta a ceder.— Pai? Você acha que merece esse título? Até chamar você de animal seria um insulto