“LongVoyage Comércio Ltda?”Minha mente deu um estalo na hora, e eu entendi imediatamente que era a empresa do Carlos que tinha se metido em problemas.Tatiana, ao meu lado, falou:— Senhor, acho que deve haver algum engano. Nós somos uma empresa de confecção, sempre pagamos nossos impostos corretamente.Saí de trás da mesa e, em voz baixa, instrui Tatiana:— É um assunto de família. Vou acompanhar os senhores da Receita Federal. Aqui na empresa, você fica encarregada de administrar a situação. Fale com os outros e peça para ninguém especular nada.— Certo, entendi. — Respondeu ela com um aceno de cabeça, visivelmente preocupada.Sorri para tranquilizá-la:— Fique tranquila, tenho tudo sob controle. Não vai dar em nada.Depois de organizar rapidamente o que era necessário, acompanhei os agentes da Receita Federal para fora da empresa.Desde que, há algumas semanas, Carlos começou a agir de forma mais amigável, oferecendo transferir para mim as ações que restaram da minha mãe e até part
Eu estava completamente confusa:— Não tinham acabado de dizer que eu precisava esperar?Antes que o funcionário pudesse responder, uma voz baixa e firme soou na entrada do escritório:— Kiara.Virei-me de repente e fiquei pasma. Era o Jean!Arregalei os olhos, surpresa:— O que você está fazendo aqui?Jean fez um gesto com a mão, chamando-me:— Vamos, saímos e conversamos lá fora.A alegria tomou conta de mim, e um sorriso apareceu involuntariamente no meu rosto. Caminhei até ele, e Jean, de forma natural, colocou a mão em meu ombro, conduzindo-me para fora, em direção ao grande salão do escritório.Não demorou muito para que o chefe da Receita Federal viesse apressado ao nosso encontro:— Sr. Jean, por que não nos avisou que viria? Teria sido um prazer recebê-lo na entrada.Jean curvou levemente os lábios, com uma expressão formal e educada:— Só vim buscar alguém. Não pretendo atrapalhar, já estamos de saída.— Não gostaria de ficar mais um pouco?— Não, tenho outros compromissos.—
— Sim, essa história é longa... Suspirei, sem jeito, antes de começar a contar, de forma resumida, como Carlos havia enganado minha mãe anos atrás, apropriado-se dos negócios dos meus avós maternos e, mais recentemente, fingido boa vontade ao devolver as ações que pertenciam à minha mãe, apenas para me atrair para a armadilha que ele preparou com tanto cuidado. Jean ouvia tudo com uma expressão séria, franzindo a testa várias vezes. Seus olhos, fixos em mim, carregavam uma mistura de compaixão e indignação. Quando terminei, ele perguntou, incrédulo: — Ele é mesmo seu pai biológico? — É, sim. — Rspondi com um sorriso sarcástico e indiferente. — Dá para acreditar que um pai pode ser tão cruel com a própria filha? Pois é, essa é a realidade. No fundo, ele preferia que quem tivesse morrido fosse eu, não a Clara. Jean balançou a cabeça, desaprovando, e murmurou em um tom grave: — Um homem assim vai pagar caro por tudo isso. — Talvez. Mas mesmo que Deus não o puna, eu não vou d
Quando desci as escadas novamente, uma verdadeira disputa entre as senhoras da alta sociedade já estava em curso. Todas pareciam ansiosas para se aproximar de mim, buscando um pretexto para puxar conversa, na esperança de garantir um lugar na lista de encomendas das roupas sob medida.Jean apenas assentiu com a cabeça, com sua típica calma:— Certo, vocês podem entrar em contato. Vejam o que ela prefere.— Claro, vou perguntar a ela daqui a pouco.Depois do jantar, Jean insistiu em me levar de volta à empresa. Não tive escolha a não ser entrar novamente no carro dele. No caminho, ele permaneceu ocupado ao telefone, alternando entre ligações que não pareciam ter fim. Era evidente o quão atarefado estava. Assim que desligou, abriu o notebook no banco ao lado e começou a trabalhar.— Desculpe, preciso resolver algumas coisas agora. — Disse ele, sem desviar os olhos da tela.— Sem problema, pode continuar. — Respondi com um sorriso, tentando não parecer desconfortável.Na verdade, quem dev
Eu mal tinha conseguido me firmar no chão quando ouvi, às minhas costas, aquela voz suave e firme, que parecia sempre encontrar uma brecha para me desarmar:— Kiara...Meu coração disparou, e os pelos da nuca se arrepiaram. Virei-me rapidamente:— Hã?Jean ainda estava no carro, ligeiramente inclinado em minha direção. Seus olhos, brilhantes como estrelas numa noite calma, traziam um calor inesperado, enquanto um sorriso discreto suavizava sua expressão séria:— Não se preocupe, estou muito bem de saúde. Obrigado pela preocupação.Seu tom era tão sincero que, sem querer, meus nervos tensos relaxaram de imediato. Acabei sorrindo suavemente:— Que bom.— Até mais. — Ele fez um leve gesto com a mão.— Até mais. — Respondi, retribuindo o gesto.Minha intenção inicial era fugir dali o mais rápido possível, mas a sua resposta gentil, carregada de uma tranquilidade que parecia me envolver, me fez mudar de ideia. Eu permaneci parada na calçada, observando o carro dele partir. Por algum motivo,
Assim que entrei no carro, peguei o celular e liguei diretamente para Carlos. Na primeira vez, ele não atendeu. Tentei novamente. Nada. Só na terceira tentativa ele finalmente atendeu, e sua voz veio carregada de irritação:— O que foi? Estou ocupado!— Ocupado com o quê? Não me diga que você também foi levado pela Receita para prestar depoimento? — Fui direto ao ponto, sem rodeios.Do outro lado, ele ficou em silêncio por um instante, como se estivesse surpreso, mas logo tentou disfarçar:— Do que você está falando?Eu soltei uma risada fria. Não acreditava nem por um segundo que ele não soubesse sobre o que tinha acontecido comigo naquela manhã:— Carlos, você me jogou no meio de uma armadilha. Agora vai ter que acertar as contas comigo.— Que absurdo! Desde quando uma filha se refere ao próprio pai pelo nome? — Ele tentou usar o tom autoritário de sempre, mas dessa vez eu não estava disposta a ceder.— Pai? Você acha que merece esse título? Até chamar você de animal seria um insulto
— Não vou embora! Quero ver ela no chão, acabada, humilhada! Antes, por causa da Clara, eu me ajoelhei para pedir ajuda a ela, e ela nem sequer piscou! Hoje, quero que ela se ajoelhe e bata a cabeça no chão pedindo perdão, ou vou mandá-la direto para a cadeia! — Isabela gritou, com a voz cheia de ódio.De repente, a porta foi escancarada com um estrondo. Eu entrei rindo friamente e disse em alto e bom som:— Ajoelhar e bater a cabeça no chão? Isso é coisa de ritual para os mortos. Você decidiu morrer hoje, madrasta? Vai fazer companhia para sua filha querida no além?A porta bateu na parede com força, ecoando pelo escritório, e os dois se viraram assustados. Quando me viram, a expressão de Isabela mudou do medo para uma raiva grotesca:— Kiara! Quem você pensa que está amaldiçoando?!— Quem me mandar ajoelhar, eu amaldiçoo.— Sua...! — Isabela ficou tão furiosa que não conseguiu terminar a frase. Avançou em minha direção, levantando a mão para me dar um tapa.Antes que ela conseguisse,
Eu assenti, peguei os documentos de volta e me virei para a multidão:— Certo, pessoal, vamos nos acalmar. — Levantei a voz para interromper a confusão, caminhando até o centro da sala com os papéis em mãos. — Meu querido pai, você não queria provas? Aqui estão elas.Carlos, que tinha acabado de sair de uma discussão acalorada e estava vermelho de raiva, olhou para os documentos na minha mão. Sem sequer tentar ler, avançou rapidamente e os arrancou de mim.Não resisti, deixei que ele pegasse.Ele, tomado pela fúria, rasgou tudo no mesmo instante, os pedaços voando pelo chão enquanto ele esbravejava:— Não sei o que é isso, mas tenho a consciência limpa!Dei de ombros, impassível:— Sem problema. Eu tenho outras cópias. Pode continuar rasgando. Quando se cansar, conversamos sobre como resolver isso.Peguei outra cópia das mãos de Hana e a entreguei diretamente a ele.Carlos me encarou com olhos cheios de ódio, enquanto os músculos de seu rosto tremiam de raiva:— Kiara! Você é cruel! So