Sol, árvores, lagos, bosques, fazendas e animais. Tudo o que via quando abria os olhos por alguns segundos e voltava a dormir em seguida.
Já tinha passado por isso, viagens longas quase sem fim. Mas foram pouquíssimas. Como professor já tinha viajado bem mais do que quando era criança. Raramente saia de North Battleford, não tinha muitos motivos para sair. Só saia quando precisava comprar algo excepcionalmente necessário na capital.
A única vez que lembro de ter saído da cidade para se divertir foi aos catorze anos, quando um cliente me ofereceu grana suficiente para eu pagar meus remédios por meses.
Eu lembro que realmente era muito dinheiro, devia ser 2 mil cad$ ou algo assim.
Ele me levara para uma cabana isolada em pleno inverno. Foram dois ou três dias de viagem, fomos de carro com vários problemas durante o caminho, mas conseguimos chegar.
Com total certeza ele não foi o meu pior cliente. Pude comer o que quisesse por toda aquela semana, e,
Quando Jack sai de cima de mim, não estou mais sentindo os dois lados do rosto.Foi preciso dois professores e mais um aluno para tirar ele de cima de mim. A barraca que estava lutando tanto para montar agora estava embaixo de mim. As barras faziam minhas costas doer tão dolorosamente que sentia vontade de chorar, igualmente meu rosto ardido que começava a inchar.Fecho os olhos e fico apenas focado no som das conversas, pessoas indignadas e risadas de alunos. Maravilha.Fui jogado na diretoria do acampamento com um saco de gelo no rosto. Tive de ficar mudando o saco de lado sempre que a dor começava a voltar para outro lado do rosto novamente.— Meu-Deus-Hector — diz Romy pronunciando cada palavra em indignação.— Não está sendo um bom dia mesmo, devia ter ficado em casa — ajusto o saco de gelo no rosto. — Jack já falou alguma coisa sobre o ocorrido para o diretor?— Não, disse que vai esperar você falar sua versão. Quer f
As manhãs sempre são mais deliciosas quando transo com Angus pela madrugada. Parece uma magia ou algo até anti-inflamatório.Respiro o ar e me estico do lado de fora da barraca. Tem realmente poucas pessoas à vista, talvez estejam esperando o sol ficar mais forte para acordarem.Dou mais uma olhada e retorno de volta a barraca para trocar de roupas e pegar a escova de dentes.As roupas que escolhi para trilha são ótimas e bem confortáveis. Um shorts acima do joelhos, uma regata e tênis de corrida. O vestimento completo para uma trilha. Queria sim usar uma blusa de frio para cobrir o rosto, mas todo mundo já tinha visto, não tinha porquê esconder.Tomo mais dois comprimidos inteiros de anti-inflamatório, as dores nas costas já estão quase começando a aparecer e teria um dia longo demais para ficar gritando silenciosamente de dor.Esvaz
Erguemos pó de terra a cada passo corrido. Gargalhamos e continuamos a correr.O sol no topo nos segue. O suor escorre e o meu pulmão arde.Cessamos a corrida na beira de um lago com tom dourado. Os raios do sol batem na nossa pele fervendo, fazendo que protejamos os nossos olhos com as mãos.— Isso é incrível! — exclama Angus, e eu concordo levemente encantado.Não tem som algum além dos pássaros e da movimentação da água. O ar está mais salgado e grudento, e o sol com certeza mais forte.— Será que eles passaram por aqui? — questiono. Angus tira os cabelos da testa e nega.— Não, Heather disse que iriam para o lado oposto, para mais perto da avenida.— Não vamos nos perder não, né Angus? — observo seu rosto receoso.— Não, tenho todo o caminho decorado &m
— Olha onde você nos meteu, Angus — não faltam mais do que duas horas para o sol ir embora e mal sabemos onde era o lago.— Não me irrite Hector, estou tentando descobrir.Meus olhos se mexem outra vez para cima, e, desta vez, vejo nuvens escuras tampando o sol suavemente. Como se estivesse avisando que uma tempestade virá.— Antes de sair de casa, vi que a tempestade durará uma semana — comento. Angus não diz nada por um momento, mas logo para e se vira.— Amanhã de noite o ônibus sai ao meio-dia. Eles irão revirar essa mata atrás da gente mesmo se não conseguirmos achar o caminho de volta.— Eu sei, mas logo irá chover e escurecer. Onde ficaremos?— Embaixo de uma árvore ou caverna, se tiver. Você é o adulto aqui, não eu Hector.— Mas foi você que meteu a gente nessa
Ainda parece ser de noite mesmo já sendo 1PM. A chuva cai do lado de fora como um tsunami acompanhado de raios e relâmpagos. Com certeza não vamos conseguir fazer nada hoje além de andarmos pelados pelo chalé enquanto esperamos nossas roupas secarem e a chuva passar.Estou sozinho no primeiro andar tomando um café da manhã ou o que devia ser um café da manhã. Maçãs, um copo de água e um doce de abóbora enlatado que encontramos aqui.“Abóbora enlatada, feijões misturados enlatado, molho de tomate enlatado, almôndegas enlatada, mais feijões enlatados, suco artificial em pó e massa de macarrão,” dizia Angus tirando as coisas do armário e colocando em cima do balcão da cozinha.“A massa de macarrão também é em latada?” Ele riu e depois balançou a cabeça em negativo.“Temos comida suficiente para cinco ou seis dias."“Bom, mas não vamos ficar cinco ou seis dias, no mais possível vamos embora amanhã se a chuva melhorar.”“Eu espero.”“Esper
Acho que eu não merecia essa vida. Deus poderia ter me matado quando ainda estava na barriga, que seria bem melhor. Mas acho que Deus queria me ver sofrer muito antes de encontrar Angus.“Vi seu namorado em uma festa gay em South Battleford. Ele estava sendo espancado por dois brutamontes no estacionamento,” Jojo Gatget comentou uma vez comigo no trabalho. Eu era assistente de caixa em uma loja de cupcake e às vezes também fazia cupcakes. Jojo era uma das minhas amigas de trabalho na loja de cupcakes. Ela era uma garota loira com piercing no nariz, lábios e língua, e um braço recheado de tatuagens aleatórias.“Não somos namorados, só fiquei com ele algumas vezes.”“Pensei que eram, mas… dou graças que não são. Ele é meio bizarro para você. Eu acho mais provável você namorar um dos caras que tava espancando ele do que ele próprio,” Jojo gargalhou e pegou uma bandeja de cupcake para levar a uma mesa.“Os caras me bateram tanto que nem senti eles roubando mi
Nos enfiamos debaixo do chuveiro, no banheiro da suíte. Estamos tendo praticamente uma estadia gratuita nesse chalé, e nem imagino qual seja o valor da diária aqui.— Quantas vezes vou precisar dizer que te amo até você me dizer o mesmo? — digo, enquanto esfrego as costas de Angus com shampoo.— Eu direi quando for a hora. Estou confuso ainda sobre várias coisas, não especificamente você, mas muitas coisas comigo — passo o shampoo em sua cabeça e começo a entrelaçar os dedos pelos os fios.— Angus… — começo —, eu te dou o tempo que quiser. Mas logo mais, você estará morando comigo e estará vendo minha cara todo o dia, e piorará quando casarmos.— Do casamento eu não tenho medo, só do meu futuro. Não faço a menor ideia se ficaremos por muito tempo ou terminaremos logo no começo — seu corpo vibra sutilmente quando massageio seu ombro.— Só terminará no começo se você quiser, por mim, pode durar facilmente cinquenta anos — movo com carinho sua cabeça
— Sul fica na esquerda e norte fica na direita — ainda no chão da cabana tento descobrir para qual caminho Hector foi.A porta do chalé está arreganhada. O vento traz além do frio, a chuva, que molha o piso de madeira e faz a água escorrer.Minhas lágrimas já pararam de descer, talvez por consequência do vento que as secou.Merda! Quero gritar outra vez e outra até as cordas vocais estourarem. Ódio, raiva, angústia, dor e mais sei lá o que estou sentindo. O que foi que fiz? Horrível. Hector vai encontrar o caminho de volta e vai estragar tudo. Tudo!O que vou dizer para Eltery? O que ele fará na verdade? Ficará com muita raiva com certeza. Vejo o rosto dele de decepção e vejo também Hector me ignorando quando voltarmos ao internato. Acabou… acabei com tudo.Se pelo menos Hector não fosse tão desconfiado é provável que as coisas estariam de pé até agora, mas ele é muito inteligente, e eu não sei mentir. Nunca soube e nunca vou saber.