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Capítulo III: Acordo Improvável

360 dias até o casamento

Fiorella

 Já fazia mais de meia hora que os Cox tinham deixado a sala de reunião. Durante esse tempo, enquanto dirigia até o meu apartamento, cheguei a perguntar ao meu pai se ele tinha alguma ideia do porquê deles terem interrompido a reunião, porém não obtive nenhuma resposta convincente. Depois de ser questionada sobre a minha situação com Kyle e do que faria para me livrar do grande problema que eu tinha arrumado, finalmente consegui desviar do trânsito e chegar em casa.

 Tinha acabado de me jogar no sofá do apartamento, quando a movimentação do outro lado da linha do celular, naquela hora já jogado na mesa de centro, me fez prestar atenção. Eles tinham voltado para a sala de reuniões, só não sabia se aquele era um bom ou mal sinal.

—Luigi, nos perdoe por uma interrupção tão longa —O senhor Cox disse, pouco depois do barulho da porta fechando ter sido escutado.

—Sem problemas, foi bom tirar esse tempo para um café e para acertar algumas coisas com a Fiorella —Ele respondeu e eu sabia que estava falando sobre a nossa breve conversa sobre Kyle.

—Nosso filho pensou em uma proposta um tanto quanto inusitada, mas acho que não custa nada trazê-la à tona, deixando claro que a intenção não é fazer vocês se sentirem pressionados a aceitá-la. Queremos apenas que cogitem a hipótese calmamente, pois apesar de parecer estranha, essa pode ser a solução para o problema de ambos os nossos filhos— A senhora Cox quem falou, me fazendo achar o rumo daquela reunião estranha. Não era a maior fã desse tipo de encontro de trabalho, mas desejei estar em Los Angeles, cara a cara com eles e podendo ler suas expressões faciais.

—Queremos mesmo ouvi-los, nossa ideia é encontrar uma proposta que seja agradável para ambos os lados. Entendemos a importância do hotel para vocês, mas Fiorella se apaixonou por ele e é exatamente por ela sentir que ele é o lugar certo para começar, que estamos abertos a negociar, que vamos tentar alternativas e fazer o possível para chegarmos em um acordo aqui. Buscar negócio com outros não é nossa intenção, no momento. —Meu pai falou por nós dois.

—Tudo bem, sei que o que vou propor pode parecer um absurdo para quem escutar pela primeira vez ou fora do contexto, por isso peço que antes de tomarem decisões, me deixem explicar exatamente cada ponto, pois a minha intenção é sair daqui com um acordo justo. Vocês têm a minha palavra, jogos e armações não serão feitas e estou sendo completamente verdadeiro em minhas constatações —Thomas começou a dizer.

Precisei me concentrar para prestar atenção em suas palavras, sua voz causava leves vibrações através da linha telefônica, parecia sexy, não ia negar. Não havia me sentido assim, quando a escutei pela primeira vez, quando ele interrompeu a reunião. Eu estava tão afobada e nervosa por conta da confusão com Kyle que não fui afetada, não prestei tanta atenção.

—É claro, iremos ouvir e pensar bem antes de darmos uma resposta —ouvi a voz do meu pai, mas sabia que ele parecia levemente desconfortável. Eu sabia o motivo da sua mudança de humor, não era só a confusão de mais cedo, mas a sensação de que algo grande estava por vir. Pela forma como Thomas e seus pais começaram a apresentar o assunto, era nítido que a proposta dele não era tradicional e que não seria aceita logo de cara, sem pesar os prós e os contras. Mas eles pareciam ter cartas nas mangas, motivos para nos convencer de que tinham encontrado o melhor caminho para o nosso negócio, por mais incomum que ele fosse.

—Imagino que estejam inseguros com toda a situação de Fiorella e seu ex-namorado, Kyle, certo?

—Sim, estou. Eu mentiria se dissesse que as ameaças feitas por ele permitirão que eu durma tranquila esta noite —fui sincera ao falar. Preferi não revelar, entretanto, que estava ainda mais insegura por eles terem ouvido a nossa conversa e poderem usar aquilo contra mim, se desejarem. Eu jamais revelaria essa segunda parte, entretanto.

—Acho que posso te ajudar a resolver o seu problema, enquanto você me ajuda a resolver uma velha encrenca em que me meti!

—Não estou entendendo. —Meu pai quem disse, rapidamente. Dei de ombros, mesmo sabendo que ele não poderia me ver, mas querendo deixar que Thomas concluísse. Eu não poderia compreender antes de deixá-lo terminar de falar e se explicar.

—Há alguns anos, enquanto eu estava na faculdade, ajudei na criação de um aplicativo de celular, que foi desenvolvido por um amigo íntimo e administrado por mim. O negócio era promissor e nós conseguimos o vender por um valor alto, que na época facilmente poderia ditar metade do meu patrimônio.

Comparando com a minha família, os Cox tinham um padrão de vida parecido. Portanto, eu podia entender os valores subentendidos naquela conversa. Éramos ricos, isso era nítido, milionários, por isso havíamos ganhado influência na sociedade empresarial e tínhamos olhos voltados para nós, mas havia muita gente neste país que tinha infinitamente mais dinheiro que nós.

—Realmente, ainda estou confuso com a mudança de assunto —Meu pai novamente interrompeu. Forcei uma tosse, para que ele deixasse Thomas continuar o que dizia, antes de qualquer coisa.

—Nessa época, eu estava noivo e decidi investir esse dinheiro em um fundo considerado de alto risco, pois eu só conseguiria resgatar o patrimônio se me casasse antes dos vinte e cinco anos. Bem, como vocês devem imaginar, estou prestes a completar vinte e quatro e não estou em um relacionamento, muito pelo contrário meu noivado terminou há algum bom tempo. Fui ingênuo ao pensar que conseguiria desbloquear o fundo com facilidade, o negócio estava em processo de testes, quis me tornar uma cobaia porque o banco me prometeu triplicar o valor. Achei que logo estaria casado e com este dinheiro em mãos, mas as coisas foram para um caminho diferente e enquanto o fundo gera mais dinheiro do que o que me foi previamente prometido, a cada dia que passa eu fico mais perto de só conseguir liberá-lo aos oitenta anos, quando o acordo acaba e o não cumprimento do critério deixa de importar.

—E como você planeja fazer para liberá-lo? Há alguma brecha no contrato? Porque acredito que não vá abrir mão de todo esse dinheiro— falei, curiosa. Ele seria louco se desistisse e resolvesse, de braços cruzados, esperar até o seu aniversário de oitenta anos.

—Não vou e nem posso, não sabemos o dia de amanhã. Porém, venho estudando alguma forma de conseguir o dinheiro e infelizmente a única saída é o casamento, não há nenhuma brecha no contrato. Antes de deixar claro o que quero propor, gostaria de dizer que agora Fiorella tem um segredo meu em mãos, é uma troca justa, depois de termos, mesmo que sem querer, ouvido sobre a sua relação com Kyle —Acredito que ele tenha falado isso direcionado ao meu pai. Era nítido que, antes de propor qualquer coisa, Thomas queria garantir a sua integridade, deixando claro que aquela não era uma tentativa de nos passar a perna, pelo contrário, ele parecia estar buscando ser o mais transparente e justo possível.

—Além disso, há o hotel entre nós, já que aparentemente nós dois o queremos —falei, franzindo o cenho e tentando raciocinar sobre onde ele queria chegar. A única hipótese que passava pela minha cabeça parecia surreal demais para se quer ser dita em voz alta.

—Exatamente. Por isso, pensei que seria importante para você ter um relacionamento, para conseguir se livrar das ameaças de seu ex-namorado e assegurar que ele não terá motivos para fazer nada contra você. Assim como, para mim, seria primordial estar em um casamento, verdadeiro para a sociedade, mesmo que secretamente baseado em um contrato, para conseguir recuperar o meu dinheiro.

—Realmente acho que entendi errado, na verdade todo este papo está sendo uma tremenda confusão, para mim. —O tom de voz de meu pai mostrou que ele estava assustado com a possibilidade que ficou subentendida, mas eu não podia negar, aquilo também me pegou de surpresa.

Eu até tinha cogitado essa possibilidade, quer dizer, eu imaginei que a conversa poderia chegar a esse ponto. Mas não pensei que iria, afinal, a vida real não era um livro de romances e nós não estávamos no Século XIX.

—Está dizendo que deveríamos nos casar? —questionei de uma vez, a fim de sanar as minhas dúvidas.

—Acredito que seria válido para ambos os lados, conseguiríamos nossos maiores objetivos e poderíamos partilhar o hotel. Teríamos um acordo pré-nupcial que separaria os nossos bens e você compraria metade do hotel da minha família, com um preço abaixo do mercado e sob um acordo que te garantiria como administradora e te permitiria fazer do hotel parte de sua futura franquia.

—Veja bem, Thomas: na pior das hipóteses, a minha filha precisa encontrar um namorado, para prevenir que Kyle a exponha na internet. Dito isso, ainda nos resta outras possibilidades menos radicais, como contar que uma mãe advogada e um irmão hacker conseguirão resolver a situação, antes que um namorado se faça necessário e que fotos sejam compartilhadas. Posso te garantir que se Fiorella precisar encontrar um namorado, ela não terá dificuldades de encontrar alguém que queria estar com ela. Agora se casar? Acredito que vocês têm objetivos traçados em comum, como o hotel, e problemas que podem ser resolvidos de maneira parecida, mas há um abismo entre um namoro com um interesse não tão genuíno e um casamento falso —meu pai quis responder por mim, mas tentei manter o sangue frio para a situação.

Eu precisava pensar, como a família Cox nos pediu para fazer, antes de julgar mal a situação e dar uma resposta negativa por impulso, por falta de análise. Parecia absurdo e impulsivo, mas analisando bem, não era.

—Eu provavelmente sairia prejudicada desta situação. Porque como meu pai disse, para mim não é válido estender um namoro por contrato até o altar, mas tudo pode ser conversado, para que isso se torne igualmente vantajoso para ambos —cogitei a possibilidade. Eu não sairia perdendo, se decidisse entrar nesta loucura.

—Tenho algo em mente— Thomas disse e me preparei para ouvir.

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