Capítulo V: Aruba

344 dias até o casamento

Fiorella

Quando cheguei em Aruba, os noivos já estavam aqui há uma semana. Nós iríamos aproveitar alguns dias em família, no paraíso, mas também havia muita coisa para ser feita, no que diz respeito ao casamento. Tudo isso me fazia pensar se era uma escolha consciente passar por todo esse processo sem estar perdidamente apaixonada, sabendo que um divórcio era certeiro. 

A minha família já estava ciente das ameaças de Kyle. Nós éramos unidos ao ponto de não escondermos as coisas um do outro, por isso, se eu e Thomas fossemos a frente em nossos planos, eu contaria para eles. Jamais conseguiria manter o teatro de família feliz e conseguir enganar os meus irmãos, a minha mãe. 

Enquanto ela e meu irmão tentavam resolver a situação, eu tentava encontrar uma forma para explicar como seria a minha relação com Thomas Cox. Era difícil, até para mim, administrar a proposta que recebi e o que me fez aceitá-la com mais facilidade do que eu deveria. 

Eles percebiam que algo estava acontecendo, meu pai solicitou um convite extra aos noivos, sob a desculpa da venda do hotel-cassino, dizendo que ele estava relutante perante as nossas tentativas de acordo e que talvez a abordagem alternativa funcionasse. 

Acho que não acreditaram, porque nós evitamos misturar vida pessoal e negócios, a menos que seja um caso de vida ou morte. Também não fazem ideia do que está realmente acontecendo, provavelmente pensam que meu pai está tentando dar uma de cupido para cima de Thomas e eu. Ou então que eu e o herdeiro da família Cox já estamos envolvidos. Eu sabia que, se o contrato fosse firmado, as dúvidas não pairariam por muito tempo: eu precisaria conversar com a minha família antes que as especulações começassem, antes de Fanny e Henry partirem para a lua de mel. 

Tudo aconteceria muito rápido, porque Thomas chegaria no país horas antes do casamento, o que me dava o prazo da noite de núpcias e um pedaço da manhã seguinte, para decidir o que faria. Aquela seria uma notícia que eu precisava dar cara a cara, para ter a chance de me explicar, e já que Fanny teria uma longa viagem de lua de mel, talvez eu até mesmo já estivesse noiva, quando ela voltasse para os Estados Unidos, eu não sabia qual linha do tempo Thomas desejaria seguir. 

E Deus, me odiarei eternamente pelo que vou dizer, mas não se parece com uma história de romance?

Eu já tinha desistido da hipótese de viver uma história como as dos livros, fazia muito tempo. E não que eu tivesse alguma esperança com esse falso relacionamento em que eu estava me metendo, eu sabia que nada aconteceria e sabia também que, apesar de acreditar nos romances, eles não eram para mim, estavam muito longe da minha realidade.

Não tinha esperanças, nem vontade, de desenvolver nenhum sentimento por Thomas Cox, ou vice e versa. Isso, entretanto, não me livrou da curiosidade de buscar seu nome no g****e e admirar as fotos que apareceram. Ele estava de terno em todas elas, sempre muito bem-vestido, com cabelos muito bem penteados, sempre alinhado como um mauricinho.

Parecia gostoso, não ia negar. Seus músculos eram perceptíveis por cima das roupas sociais, parecia alto, mesmo para os meus 1,75 cm. Tinha cabelos castanhos, olhos que mais pareciam pedaços de chocolate, levemente puxados e com cílios longos, sobrancelha grossa, a barba rala e o rosto quadrado. Não parecia ser um playboy, mas eu sabia que não havia outro caminho a se seguir, quando se era rico e bonito como ele. 

Em contrapartida, parecia sério, responsável. Talvez fosse um daqueles nerds gostosos, porque eu sabia que até a sua voz era sexy. Tudo isso me levava a pensar que seu pé deveria ser feio, ou ele era incrivelmente chato e acabava se tornando feio por isso, ou o que ele guardava dentro das calças não agradava (ou funcionava como deveria), porque ninguém era perfeito, ninguém.

Talvez eu tivesse perdido tempo demais admirando as suas fotos e os detalhes de seu rosto, talvez eu tenha tentado entender a sua personalidade se baseando apenas na sua aparência e nas notícias que consegui encontrar sobre ele. No fim do dia, percebi que se Thomas tivesse decidido fazer o mesmo comigo, ele estaria acreditando que eu era uma pessoa completamente diferente do que eu realmente sou.

Por isso, decidi assumir a minha melhor versão de garota plástica e patricinha metida. E não era uma mentira, eu era uma farsa, meu peito era falso, minha barriga chapada era falsa, até mesmo as minhas unhas, os meus cílios, meu cabelo, a minha sobrancelha, era tudo tão falso quanto a minha personalidade forjada. Só era meu porque o meu dinheiro comprou. Mas, nesse mundo, era apenas mais fácil ser assim!

E naquela manhã, assim que eu levantei da cama, me preparando psicológicamente para o grande dia, eu recebi algumas mensagens de um número não salvo: 

"Bom dia, Fiorella." 

"Sou eu, Thomas. Por favor, salve o meu número"

"Espero que não se importe, mas pedi para que seu pai me passasse o seu contato". 

"Estou preso em uma conexão em Fort Lauderdale" 

"Meu voo está atrasado e devo chegar um pouco antes do casamento" 

"Estou avisando porque não quero que pense que eu desisti de acordo" 

Era até um pouco fofo da parte dele se preocupar em avisar e assim evitar que eu tivesse impressões erradas sobre ele. Mas isso, no fim das contas, não mudava muita coisa. O nosso acordo ainda não estava selado e Thomas sabia disso. 

"Ainda há tempo de fugir, Cox" 

Enviei apenas, como resposta. Demorou quase uma hora até que ele respondesse novamente e, enquanto terminava o meu café da manhã com minha mãe e meu padrasto, li a sua nova mensagem: 

"Eu não seria tão burro"

Segurei a vontade de revirar os olhos e apenas digitei mais uma resposta, de qualquer jeito: 

"Vou fazer questão de não estar sóbria na hora da sua chegada"

"Talvez assim eu aceite essa loucura toda" 

Não mexi mais no celular, pelas próximas horas. Eu precisava seguir o cronograma detalhado que Fanny havia montado para todas as convidadas que caminhariam até o altar. Eu vestia um roupão felpudo, quando meu pai bateu na porta do meu quarto. Ainda era cedo para ele estar me chamando para a cerimônia, então acreditei que estava aqui para me avisar da chegada de Thomas, quando ouvi a sua voz chamando o meu nome, do outro lado da porta da minha suíte.

—Papai, eu tenho um problema gigante. Eu estou me sentindo horrível em todos eles!— falei, de costas para a porta, encarando os três vestidos pendurados em minha frente. Uma cabeleireira e um maquiador já tinham passado por aqui, me deixando completamente pronta, quer dizer, faltava a parte mais importante, escolher o que vestir. —Fanny me odiaria se eu fosse ao casamento dela de roupão? Porque eu não sei o que fazer! 

Ok, poderia parecer meio estranho falar sobre roupas com o meu pai, mas digamos que nossa relação sempre foi assim, ele sempre foi muito mais ligado a moda do que a minha mãe e, mesmo quando eles eram casados, era ele quem eu procurava para pedir algum conselho fashion.

Eu continuei encarando as três peças, imaginando que o meu genitor estava fazendo o mesmo, logo atrás de mim. Dessa vez, porém, ele me pegou de surpresa ao forçar uma tosse. Me virei para trás, tentando entender o que estava acontecendo, mas foi então que dei de cara com Thomas Cox, em carne e osso, de pé, bem na porta do meu quarto.

Merda!

Merda, merda! Meu pai não podia ter feito isso, podia? Como ele trouxe Thomas para o meu quarto, sem me avisar antes? E se eu estivesse pelada? Pior! Eu tinha acabado de admitir que me sentia horrível, na frente dele. Eu tinha acabado de jogar todos os meus princípios no lixo, tinha demonstrado fraqueza logo no primeiro segundo em que estive na frente dele.

Respirei fundo uma, duas, três vezes! Estava sem reação... 

Segui o olhar de Thomas e o encontrei em minha perna, fixo na tatuagem de cobra que subia e se enrolava em volta do meu tornozelo. Franzi o cenho, encarando a sua expressão, bem, eu não me parecia em nada com a garotinha inocente que ele estava procurando, isso se tornou claro quando os seus olhos esbarraram no azul dos meus.

Me senti ainda mais insegura e dei um passo para trás, a minha respiração estava acelerada e eu podia sentir as batidas do meu coração em meu pescoço. Os olhos do Cox ainda estavam fixos nos meus e, naquele momento, eu realmente me senti como a menininha amedrontada que ele deveria estar procurando para ter como sua esposa. 

—Fiorella, Thomas chegou— a voz do meu pai saiu baixa, como se ele estivesse mais focado em nossa interação, nos movimentos que nós dois fazíamos. Meu pai parecia arrependido por tê-lo trazido aqui de surpresa, eu não precisava nem olhar para o seu rosto para sentir isso. E eu não desviei meus olhos dos do homem em minha frente, mas ele o fez assim que as palavras saíram da boca do meu pai.

—Posso ver— meu tom de voz também foi mais rouco do que o normal, nem sei como consegui formular alguma coisa— Pode me ajudar com meu vestido, ou não? —ajeitei a minha postura, joguei meus ombros para trás, levantei o nariz e subi de volta em meus saltos imaginários.

Estava pronta para ignorar o homem que possivelmente se tornaria meu noivo, pelo menos até que o meu problema de vestuário estivesse resolvido. Meu pai me barrou, entretanto. 

—Seja educada, Fiorella— ele me repreendeu, como se eu fosse a porra de uma criança.

Respirei fundo, mais uma vez. Dei cerca de cinco passos até onde eles estavam, estiquei a minha mão e abri um sorriso falso:

—Prazer em conhecê-lo, Thomas! —senti seu toque em minha pele e quando ele apertou a minha mão com firmeza, pensei que deveria estar com calor dentro daquele terno, já que sua pele parecia quente, quase como se tivesse febre. Não dei muita atenção e tentei não demonstrar nada perante ao contato, por mais que tenha conseguido sentir o meu coração acelerar. Outra coisa estava me deixando desesperada, por isso me virei para o meu pai e disse: —Agora, realmente preciso de ajuda com o meu vestido, porque se não estiver pronta em meia hora, Fanny irá arrancar o meu fígado de dentro do meu corpo e servi-lo no jantar, para todos os convidados.

—Sente-se aqui, Thomas— meu pai apontou para uma das poltronas do meu quarto— Eu posso te jurar que ela não é assim todo o tempo, está apenas nervosa com o casamento de sua irmã!

Mas que merda, agora ele me acharia insegura e ansiosa. Mais uma vez tinha falhado, minhas fraquezas estavam expostas. Ele tinha que pensar que eu era linda, intocável, bem resolvida. Era o que todos pensavam de mim, era a minha reputação que não podia ser colocada em risco.

—Qual é o problema com os vestidos, Fiorella? —meu pai me perguntou. Vi o homem ao seu lado se sentar confortavelmente na poltrona, ainda mantendo a postura reta e parecendo se importar demais com o meu dilema de vestuário, já que ele não tirava os olhos de mim. Ainda assim, não tinha aberto a boca para dizer uma só palavra.

Eu ainda não tinha vivenciado o prazer de escutar a sua voz, pessoalmente. 

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