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Capítulo IV: Futuros Noivos

360 dias até o casamento

Thomas

—Sei que não posso comprá-la com dinheiro e nem tenho essa intenção —Comecei a dizer, tentando formular cuidadosamente as minhas palavras— Mas acredito que seria uma oferta justa te oferecer metade do que tenho no fundo financeiro, assim que eu o receber.

Não falei tudo o que pensei em voz alta, mas já tinha feito as minhas contas. O dinheiro que estava lá era praticamente perdido, a não ser que eu corresse contra o tempo. Mesmo oferecendo a ela todo esse valor, eu ainda receberia mais do que investi e, mesmo que recebesse a mesma coisa, ainda era mais vantajoso do que simplesmente excluir aquele dinheiro da minha vida.

—Me soa controverso, se sabe que dinheiro não é o suficiente para conseguir o que quer de mim, então por que me ofereceu dinheiro? —ela me desafiou. Era justo, da mesma forma que eu não aceitaria um acordo daquele tipo, apenas por dinheiro, eu sabia que ela também não o faria. 

—Porque acho que é justo que receba por isso, uma vez que meu retorno também será financeiro. Vou ser honesto, mesmo cedendo a você metade do que tenho para receber, vou ganhar bem mais dinheiro do que investi. Dinheiro pode não ser o suficiente para fechar um acordo, mas não sou injusto, se aceitar se casar comigo para conseguir me tornar um milionário pelos meus próprios meios, nada mais justo que você partilhe dos mesmos benefícios.— fui sincero, se eu queria fazê-la aceitar aquele acordo, precisava disso, mostrar a ela que eu não estava fazendo jogos e tirando vantagens indevidas ou desconhecidas.

—Sabe que a minha principal vantagem será evitar a divulgação das fotos, certo? Isso pode acabar com a carreira de uma mulher e, bem, não me deixar crescer profissionalmente, pelos meus próprios meios- debochou do jeito que eu havia falado. Me segurei para não revirar os olhos e respondi:

—Mais um motivo para te oferecer esse dinheiro. Pode ser que as suas fotos sejam divulgadas mesmo se você cumprir com o que seu ex decretou, nós dois sabemos disso. Se acontecer, o acordo não teria funcionado para você, mas ao menos você sairia dele com dinheiro suficiente para recomeçar e ter mais uma garantia. Sei também que as ameaças de seu ex não precisariam te levar até o altar, então acho justo que você tenha uma vantagem extra para, digamos que, estender o plano e levá-lo a um outro patamar.

—Me parece justo, ainda assim, talvez eu conseguisse resolver tudo isso de alguma maneira mais fácil. Mais dinheiro é sempre bom, ainda mais em grande quantia. De fato me ajudaria com meus projetos pessoais, mas não sei se vale o risco de me envolver em algo tão grande, quando posso resolver o meu problema com um namoro de algumas semanas, quando sei que tenho potencial para me estabelecer financeiramente sozinha, com a ajuda dos meus pais, é claro. 

—E se ele divulgar as fotos, mesmo assim? Você disse que isso poderia acabar com a carreira de uma mulher, o dinheiro que você receberia de mim seria o suficiente para garantir uma vida boa—arrisquei dizer, era a minha última cartada, meu último argumento para tentar convencê-la de que se casar comigo seria duplamente vantajoso.

—Está tentando me convencer a me casar contigo ou a correr dessa ideia? Porque eu tenho certeza que você detestaria a possibilidade disso acontecer e de sua “querida esposa” ficar com a imagem manchada por aí— Eu não contava com isso, não contava que ela pensaria assim de mim. 

Olhei em volta, seu pai roía as unhas, os meus me encaravam. Ninguém diria nada, estavam deixando que encontrássemos o nosso próprio acordo. E eu sabia o que pensavam: que sairíamos todos daquela sala sem nada acertado, que Fiorella desligaria a chamada e logo em seguida começaria a procurar por outro hotel para comprar. 

Eu, porém, só podia usar da minha honestidade para tentar convencê-la de que não estava doido, de que a minha ideia seria boa para nós dois. E eu não era injusto, não iria sugerir algo que trouxesse somente (ou mais) vantagens a mim. 

—Pelo contrário, Fiorella. Uma situação como essa seria muito ruim para você, sabemos disso. Se eu sei que vivemos em uma sociedade machista, tenho certeza que você pode me comprovar isso com as suas próprias experiências pessoais. 

—Sim— respondeu apenas, sua voz fraquejou. 

—Temo dizer que, pensando na hipótese das fotos serem divulgadas: se você estiver namorando e, logo após aparecer solteira, a mídia encontrará nisso um argumento para chamá-la de nomes que nem gosto de dizer em voz alta. Por mais injusto que seja, vão se basear nisso para dizer que você estava traindo o seu então parceiro e contarão histórias ainda mais baixas. 

—Então, se eu estiver contigo, vou me livrar de todos os xingamentos, vou me desvincular da imagem de vadia? —ela me provocou, seu tom era de desafio, como vinha mantendo em toda a conversa. Parecia duvidar de mim, da verdade por trás das minhas palavras. Aquilo não me abalaria, entretanto, porque eu sabia que estava jogando de forma justa. 

—Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que não acho que a existência e o possível vazamento dessa foto te deslegitimam como pessoa. Poderia acontecer com qualquer um, não acho que seja uma vadia por isso. —Achei importante alinhar os meus pensamentos e expor a minha opinião pessoal. 

—É o mínimo que eu esperaria do meu futuro marido— ainda manteve o tom, testando a minha paciência. Respirei fundo e tentei, mais uma vez, encontrar uma forma melhor de me expressar:

—O que quero dizer é que eu não me sentiria prejudicado, em nosso acordo, caso as suas fotos vazem. Posso até mesmo dizer que seria vantajoso para ambos os lados, porque para mim, afirmaria que estou em um relacionamento tão sólido e verdadeiro que nem mesmo um escândalo seria capaz de destruí-lo. E para você, estando com um aliança em seu dedo, tendo um marido que te apoiaria, você conseguiria se desvincular de qualquer imagem ruim. A permanencia do relacionamento comprovaria que não houve traição ou deslealdade, apenas um passado já superado. 

—Então eu preciso de um homem ao meu lado para comprovar que eu não sou o erro que cometi? —Mais uma vez era uma provocação, um desafio. Sendo honesto, àquele ponto da conversa, eu já não esperava nada diferente, sabia que ela continuaria agindo daquela forma, até que estivesse convencida da minha proposta, ou de não aceitá-la. 

—Não, não é como penso e como acredito que as coisas deveriam funcionar. Mas estou sendo realista sobre o mundo em que vivemos, facilitaria as coisas para você, se tivesse um homem ao seu lado, concordando com o que diz e levantando a voz para te defender das acusações que podem te atingir. Não é uma questão de mérito ou poder para mim, mas de demérito de uma sociedade que, nós dois sabemos, ainda não aprendeu a ouvir a voz das mulheres e respeitar a liberdade sexual feminina.

—E no fim culparíamos a mídia, durante o divórcio, por ter desgastado o nosso relacionamento? —Questionou. 

—Talvez. Ainda não parei para pensar sobre o possível divórcio... 

—Entre nós dois, se houver casamento, haverá divórcio, Thomas. 

—Então haverá casamento? —pude sentir a minha voz criar vibrações em todo o meu corpo, conforme a curta frase saía dos meus lábios. Eu estava tentando resolver o meu problema, os nossos problemas, e sabia que estava o fazendo da maneira correta. Talvez não funcionasse, mas eu nunca saberia se iria, se não tivesse tentado. 

—Ok, você passou no teste! —sua voz foi cortada pela ligação telefônica e por alguns segundos eu acreditei ter entendido errado, tanto que perguntei: 

—O que? —franzi o cenho, ela era doida?

—Entendi o que quis dizer desde o início, Thomas. Eu precisava fazer um teste, ver como você me explicaria a situação, se em algum momento você tentaria me induzir ou me manipular a pensar que você estaria me fazendo um favor ou que a sociedade estaria certa com relação a mim, as fotos e a você sendo a minha "salvação". 

Quem não entendia mais nada era eu. Ao mesmo tempo em que tinha a minha consciência limpa de ter sido sincero, eu me questionava se realmente tinha me expressado bem, se não tinha passado a impressão errada para Fiorella. Porque, no fim do dia, eu sabia que ela seria muito julgada e que eu podia ser uma barreira para esses julgamentos, mas eu também teria o poder de torná-los muito maiores, se esse fosse o meu desejo. Ela precisava confiar em mim, nós dois sabíamos disso, e eu faria de tudo para mostrar para ela que eu era confiável, que a minha intenção não era prejudicá-la.  

 —Então temos um acordo? —a perguntei. Vi, de canto de olho, o seu pai negar com a cabeça. Sabia que ele deveria estar se perguntando que merda a filha dele estava prestes a fazer, mas não retirei a minha pergunta. Meus pais pareciam igualmente confusos com o rumo daquela conversa, mas mais satisfeitos e confiantes que Luigi, de fato. 

—Entende que, se as fotos não forem divulgadas, eu não vou ter motivos além do dinheiro para levar essa união até o altar? Entende que posso ser vista como a maior mercenária?—ela era boa em argumentar, muito boa.

—Entendo. E vejo que você tem quatro motivos para aceitar esse acordo, um que não o obrigaria a levá-lo até o altar, que seria barrar a divulgação das fotos, o outro o dinheiro, mas também, a chance de uma imagem menos manchada, caso tudo dê errado e as fotos sejam realmente vazadas e o último, o hotel que você tanto deseja, em suas mãos com mais facilidade. Eu, por outro lado, tenho dois motivos: o dinheiro e a chance de continuar sendo dono de uma parte do hotel. É injusto colocar em uma balança, porque sei que fui eu quem fiz a oferta e que a proposta pode pesar, pode parecer mais interessante para o meu lado, mas eu estou disposto ao que quiser, durante os anos que estivermos juntos, vou fazer o possível para tornar as coisas mais fáceis, para ampliar o seu leque de vantagens, dia após dia. E se não confia em minha palavra, podemos deixar tudo regulamentado por meio de contratos. 

—Separação total de bens, então. Tudo que eu tenho continua sendo meu, tudo que eu construir durante o casamento também continua sendo meu. E vice e versa. Dividimos o hotel antes do casamento, metade meu e metade seu, isso não irá mudar durante o divórcio ou depois da criação da minha rede, porque diz respeito a uma unidade. Implementamos uma cláusula que me dá direito a metade do seu fundo financeiro. Nada mais justo do que você ficar responsável pelos custos do casamento, de moradia e despesas mensais básicas de nós dois, já que será o maior privilegiado com o casamento. Quando assinarmos o divórcio, a casa que construírmos é sua e eu vou poder continuar a frente da administração do hotel. Cada um segue a sua vida, mantendo apenas o hotel em comum. E mais uma coisa, como só vou ter direito a cinquenta por cento do hotel, só vou pagar o equivalente a metade de seu valor de mercado, para ser justo.

Entre ganhar e economizar dinheiro, dependendo de cada ponto específico, aquele acordo tinha acabado de se virar contra mim. Talvez, no fim das contas, fosse muito mais vantajoso para Fiorella do que para mim, mas ainda era a minha única opção de manter comigo dois dos meus bens mais valiosos: o hotel onde cresci e o dinheiro que pode me garantir uma vida tranquila.

—Me parece justo— falei, por fim— Quando acertaremos o nosso negócio?

—No casamento da minha irmã! Vamos nos conhecer e ver se ainda estamos de acordo com o plano, depois que estivermos cara a cara. —disse firme, do outro lado da linha, como se duvidasse que eu fosse manter a proposta de pé, depois de estar com ela.

—Precisamos de um roteiro, de uma data para o casamento e como vamos prosseguir até lá— falei, me adiantando, eu não desistiria.

—Antes disso, precisamos ter certeza se iremos querer mesmo a união. Mas teremos tempo suficiente para resolver toda a situação, em Aruba.

—Em Aruba?

—Fanny se casará no mês que vem, em Aruba— seu pai se pronunciou, pela primeira vez nos últimos minutos. Não deixei de notar a expressão de desgosto que ele fazia, enquanto os meus só pareciam assistir àquela loucura, como se estivessem em um circo.

—Tudo bem, acertaremos os detalhes em Aruba, então.

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