344 dias até o casamento ThomasEu reparei no momento em que Fanny havia jogado o buquê, prestei atenção quando ele ameaçou cair nos braços de um dos convidados e como ele o socou de volta para cima, como se não quisesse recebê-lo. Coloquei as mãos sobre os olhos, quando um vento forte correu, com medo que graus de areia atingissem os meus olhos. Mas quando eu os abri, só consegui ver as flores se aproximando de mim e abrir os braços a tempo para não deixar o buquê cair no chão. Eu não estava participando da busca, mas parece que as margaridas se interessaram por mim mesmo assim, como se tivessem sido capazes de prever a minha busca por uma noiva e o fato de ter encontrado alguém doido o suficiente para cogitar o meu plano. Eu estava conversando com Luigi, o pai da noiva e, bem, também da minha futura noiva, no momento em que tudo aconteceu. Não sei o explicar bem o que passou na minha cabeça na hora, ou o que qualquer um dos convidados pensou quando me viu segurando as delicadas
343 dias até o casamento FiorellaJá era madrugada, muito, muito tarde. Talvez o sol estivesse perto de nascer, mas as comidas e os drinks não paravam de chegar e eu deveria aproveitar a noite, afinal, era o casamento da minha irmã e nós esperávamos que ela se casasse apenas uma vez na vida.Talvez fosse também a última vez que eu participasse de um evento como aquele, antes de estar comprometida, casada e depois divorciada. As coisas já não faziam mais tanto sentido, poucas pessoas ainda estavam na festa e Thomas já tinha sumido do meu campo de visão há horas. Em algum momento, um dos convidados caiu na piscina e quem ainda estava por ali se jogou também, era uma pena pensar em quantos vestidos estavam sendo estragados pela água com cloro. Eu havia bebido o suficiente para sentir algum efeito do álcool, mas não posso ser hipócrita, odiava como a bebida era romantizada e como as pessoas glamourizavam a sensação de não estar no controle de seus corpos. Não gostava de encarar o álco
343 dias até o casamento Thomas Fiorella não estava bêbada, mas nitidamente havia bebido algo, além de aparentar estar muito sonolenta e cansada, apesar de eu não saber se ela tinha noção disso. E quando ela entrou no banho, eu logo tratei de abrir as janelas e deixar o quarto aquecer. Depois disso, peguei um energético dentro do frigobar, porque eu também estava cansado e com sono. Dormi por cerca de três horas, até Fiorella me interromper, com batidas na porta. Falando nela, conferi através do olho mágico, para ter certeza de que a mulher não estava mais ali, mas o meu campo de visão era muito limitado e não pude ter certeza. Eu ainda tentei ligar para a recepção, enquanto aguardava Fiorella sair do banho. Ninguém me atendeu e, alguns minutos depois, comecei a ouvir gritos distantes, o que me fez pensar que alguma confusão generalizada poderia estar acontecendo em algum dos salões de festa de festas, o que poderia justificar a ausência de funcionários na recepção. Apoiei o meu
343 dias até o casamento Fiorella Acordei com o barulho, pareciam batidas fortes em madeira. Pensei que alguém poderia estar chamando na porta do meu quarto, mas não demorei mais do que alguns segundos para perceber que não estava na minha própria suite. Escutei os passos em volta de mim, deveria ser Thomas, mas não me forcei a abrir os olhos. O meu corpo doía e eu estava cansada demais, não sabia por quanto tempo havia dormido, mas com certeza era pouco, não chegava nem perto do suficiente. Mais batidas se espalharam pelo quarto, mas o ranger me comprovou que Thomas havia atendido a porta. Será que algo estava acontecendo? Alguma emergência? A pessoa do outro lado devia estar muito desesperada. Mas então me lembrei da confusão, estava acontecendo desde que foi dormi. E eu não queria acreditar que já era hora de acordar! Meus pensamentos foram interrompidos, quando eu ouvi a voz do meu futuro marido: —Que porra está acontecendo? A minha mulher está tentando dormir— ele disse
343 dias até o casamento Thomas Eu entrei no restaurante um pouco perdido, sem saber como agir ou para onde olhar. O meu coração batia tão acelerado, mas eu não era o tipo de pessoa que costumava demonstrar nervoso e insegurança. Eu me sentia intimidado, de fato, não sabia se iria levantar da cadeira com um olho roxo, por ter insinuado um relacionamento por contrato com Fiorella Vacchiano. Era duas da tarde e o restaurante estava praticamente vazio, alguns casais sentaodos nas mesas de dois lugares, próximo as janelas e uma grande mesa, ao centro do lugar, ocupada pela família de Fiorella. Eu a segui até lá, sabendo que ela e Luigi tinham armado algum tipo de plano, para comunicarem o resto da família sobre a nossa "união". A conversa que tivemos na última madrugada foi importante, esclarecedora. Fiorella estava certa em esperar para espalhar a notícia, afinal, contar antes de ter certeza parecia desgastantemente desnecessário. E quando eles me viram, ao lado de Fiorella, pude le
343 até o casamento Thomas Era estranho o suficiente para se colocar em palavras. Na vida, de fato, passamos por situações inexperadas, mas nada como sentar frente aos seus futuros sogros, cunhados, etc, para contá-los não só que a filha deles está em um relacionamento, como irá se casar em menos de um ano. E o pior de tudo: Nessa união não há amor e nenhum outro sentimento, além da obsessão por dinheiro. E essa era a dura verdade que tentávamos esconder até de nós mesmos. No fim do dia, não éramos mais do que duas pessoas mercenárias, compradas pelo poder, pelo dinheiro e pela vontade de ter uma imagem, uma reputação, mesmo que essa não fosse condizente com a verdade. Eu ainda não sabia como e se contaria para a minha família. Entendia os motivos de Fiorella, mentir por vinte e quatro horas, em família, seria um inferno. Fingir para quem realmente nos conhece não é fácil e fazer isso por tanto tempo poderia me levar a loucura. Cara a cara com uma família que eu mal conhecia, não
343 para o casamentoFiorella Nossos pratos haviam chegado, o silêncio se espalhava pela mesa por alguns segundos. Já estava constrangida pela falta de conversa, pelos olhares que recebia. Olhei para a minha família, um a um, estava cansada. Arrependida, eu não deveria ter falado nada. Talvez fosse melhor precisar fingir e evitá-los, durante esse período. Agora eu devia explicações, agora eu precisava convence-los de que não estava doida, de que sabia onde estava me metendo. —Não sei se vou me casar de novo, depois de Thomas— anunciei, partindo para a chantagem emocional. Talvez funcionasse— Então, se não for pedir demais, gostaria de vê-los felizes, no dia em que eu subir ao altar. Pelo menos nesse dia, vamos fazer dele algo especial, eu estou disposta a isso e acredito que Thomas também esteja. Mesmo sendo um casamento por contrato, não estamos aqui para fazer da vida do outro um inferno, o que inclui nos apoiarmos e aproveitarmos os momentos "especiais". —Daqui a quanto tempo i
Fiorella 320 dias até o casamento Setembro sempre foi um mês marcante na minha vida, seja porque, desde os meus três anos de idade, era a hora de dizer adeus às férias de verão e voltar a rotina de estudante, seja porque é o mês do meu aniversário. E tudo estava sendo, de certa forma, atípico. Não apenas pelo meu relacionamento peculiar, mas eu me formaria em dois semestres, precisava me dedicar cada vez mais à universidade. Passei pouco tempo com a minha família, em Los Angeles, me dediquei a cursos fora do período letivo e por isso, não visitava a minha cidade natal (nem via meus pais) desde o casamento de Fanny, que havia acontecido na primeira quinzena de agosto. Ela e Henry ainda estavam em viagem de lua de mel, mas viriam passar alguns dias comigo em San Francisco, antes de voltarem para as suas rotinas. Eu sabia que não os veria no meu aniversário e, honestamente, não me importei. Era uma situação esporádica, Fanny sempre moveu mundos e fundos para estar comigo em cada