343 para o casamentoFiorella Nossos pratos haviam chegado, o silêncio se espalhava pela mesa por alguns segundos. Já estava constrangida pela falta de conversa, pelos olhares que recebia. Olhei para a minha família, um a um, estava cansada. Arrependida, eu não deveria ter falado nada. Talvez fosse melhor precisar fingir e evitá-los, durante esse período. Agora eu devia explicações, agora eu precisava convence-los de que não estava doida, de que sabia onde estava me metendo. —Não sei se vou me casar de novo, depois de Thomas— anunciei, partindo para a chantagem emocional. Talvez funcionasse— Então, se não for pedir demais, gostaria de vê-los felizes, no dia em que eu subir ao altar. Pelo menos nesse dia, vamos fazer dele algo especial, eu estou disposta a isso e acredito que Thomas também esteja. Mesmo sendo um casamento por contrato, não estamos aqui para fazer da vida do outro um inferno, o que inclui nos apoiarmos e aproveitarmos os momentos "especiais". —Daqui a quanto tempo i
Fiorella 320 dias até o casamento Setembro sempre foi um mês marcante na minha vida, seja porque, desde os meus três anos de idade, era a hora de dizer adeus às férias de verão e voltar a rotina de estudante, seja porque é o mês do meu aniversário. E tudo estava sendo, de certa forma, atípico. Não apenas pelo meu relacionamento peculiar, mas eu me formaria em dois semestres, precisava me dedicar cada vez mais à universidade. Passei pouco tempo com a minha família, em Los Angeles, me dediquei a cursos fora do período letivo e por isso, não visitava a minha cidade natal (nem via meus pais) desde o casamento de Fanny, que havia acontecido na primeira quinzena de agosto. Ela e Henry ainda estavam em viagem de lua de mel, mas viriam passar alguns dias comigo em San Francisco, antes de voltarem para as suas rotinas. Eu sabia que não os veria no meu aniversário e, honestamente, não me importei. Era uma situação esporádica, Fanny sempre moveu mundos e fundos para estar comigo em cada
Thomas 320 dias até o casamento As vezes eu me sentia uma farsa, o jovem empresário com a vida perfeita, que tem tudo o que quer, na hora que quer e que não precisa lidar com problemas. De repente, eu me tornei uma farsa: um relacionamento feliz, que nunca existiu. Se Fiorella não tivesse me puxado pela mão, até o seu Bentley Bentayga Azul, eu provavelmente teria ficado paralisado no meio do estacionamento de Stanford. Congelado pela minha própria consciência, intoxicado pelo meu próprio veneno. Me sentia a porra de um invasor. Era o aniversário dela, data em que ela tinha que estar com a família, com as pessoas que genuinamente a amavam, não com um idiota que a pediu em casamento pelos motivos errados. Eu sempre carregaria algum tipo de peso nas minhas costas, por conta daquele contrato. Fui eu que sugeri, a ideia foi minha, eu era o culpado! E eu continuava errando, porque eu quem sugeri passar o fim de semana aqui, mesmo sabendo que era o aniversário dela, porque eu estava
Fiorella 320 dias até o casamento Levar Thomas ao meu apartamento foi estranho. Não sabia se a falta de Maya, durante o resto do dia, seria uma benção ou o nosso maior problema. Não precisaríamos fingir, o que tornaria menos cansativo. Mas de fato, estar cara a cara com alguém com quem você não tinha intimidade não era muito divertido. Não queria que ficasse um clima pesado entre nós, porque, sinceramente, eu não estava com vontade de me sentir mal e desconfortável, naquele dia. E o silêncio já começou a nos atingir nos últimos quilômetros de estrada, depois no caminho que percorremos desde a garagem, até o elevador e enfim ao apartamento. —Você pode ficar no quarto de hospedes, por enquanto. Imagino que queria tomar banho, trocar de roupa e descansar um pouco. Quando Maya estiver chegando, pensamos o que vamos fazer para que ela não estranhe— dei entender que estava falando sobre dormirmos em camas (e quartos) diferentes. Eu o apresentei as áreas comuns, do apartamento duplex
Thomas 320 dias até o casamento Eu e Fiorella não postergamos o momento da refeição, não ficamos sentados frente a frente por mais do que vinte minutos, quando eu levantei do balcão e me convidei para colocar as louças na lavadeira, já que ela tinha assumido o trabalho de montar a mesa. —Maya me mandou uma mensagem dizendo que vai dormir em Lucy e Bash, hoje— ela me disse, ainda sentada no balcão e digitando no seu aparelho celular. —Que bom— eu disse, apenas. Fiorella suspirou, parecendo aliviada e feliz por precisar dormir uma noite a menos ao meu lado. —Perguntei a ela que horas vai voltar amanhã, ela disse que com certeza apenas depois do almoço— contou. —Então podemos dormir e acordar tranquilos— sugeri, com um sorriso fraco no rosto. —Sem desespero de fingimento ou troca de quartos logo pela manhã— caminhou pela cozinha, buscando uma garrafa de água na geladeira. Segui seus passos e, observando a porta do eletrodoméstico, conferi o horário: ainda faltava pelo menos
Thomas 319 dias até o casamento Enquanto eu terminava de comer, podia ouvir Fiorella respondendo as parabenizações de aniversário da sua família, lá da sala. Ela recebeu uma ligação e ouviu alguns audios altos o bastante para que eu escutasse da cozinha, enquanto mais uma vez cuidava da louça. Eu já estava vestido para sair e subi rapidamente apenas para buscar o meu celular e a minha carteira. Não demorou muito até estarmos dentro do carro da minha futura esposa, enquanto ela dirigia até o local onde costumava fazer compras. Não conversamos no trajeto, seja porque em partes dele ela estava conversando com a sua avó, com o celular conectado no computador de bordo do carro, em um italiano rápido demais para eu apenas tentar entender, seja porque no resto do caminho, ela se distraiu com as letras de Taylor Swift que tocavam em sua playlist. Eu aproveitei o tempo para apenas observar a paisagem da cidade e conferir as minhas mensagens no celular, mas não demorou mais de meia ho
Fiorella 319 dias até o casamento Entrei em modo automático, pelo resto da tarde de compras. Thomas me disse algumas coisas, algumas palavras que poderiam parecer óbvias para ele. Talvez palavras que tenham sido ditas da boca para fora, mas palavras que eu definitivamente precisava ouvir. Era até ingênuo da minha parte, porque nunca tinha parado para contestar muitas das coisas que ouvi, ao longo da minha vida. Eu sabia que era vista como uma mulher forte, de personalidade, que lutava pelo que eu queria, pelas minhas opiniões e pelos meus direitos. Eu era a amiga que sempre tinha um ombro disponível para outras mulheres chorarem, que sempre tinha um alerta para dar, sobre relacionamentos tóxicos e sufocantes. Mas há algo que precisa ser dito: não importa, nós podemos passar uma vida inteira dizendo que nunca aceitaríamos certos tipos de comportamento, que faríamos isso ou aquilo para combatê-los. Mas, verdadeiramente, nós não sabemos como vamos reagir (e se vamos ou não perce
Thomas319 dias até o casamentoMinha garganta secou e as palavras sumiram da minha boca, quando coloquei meus olhos em Fiorella, naquela noite. Suspirei mais fundo do que deveria e não pude disfarçar a encarada minuciosa que dei em todo o seu corpo. Ela não parecia discreta, longe disso, qualquer pessoa que passasse do seu lado viraria o pescoço para olhá-la. Naquela noite, mais do que nunca! Não posso mentir, me senti extremamente atraído por ela. E não foi a primeira vez! Também não posso dizer que Fiorella "fazia o meu tipo". Não, ela não fazia. Havia um padrão entre as mulheres que já namorei: discretas, tímidas e calmas. Era o que eu acreditava combinar comigo, porque eu me considerava um cara calmo, discreto e tímido. Meus antigos relacionamentos se iniciaram de uma maneira muito natural. Sempre encontrei parceiras parecidas comigo, com a minha personalidade. E nunca deu certo. Fiorella era diferente, o que não era algo ruim, jamais esperaria que ela mudasse, mas o diferente