Thomas 320 dias até o casamento As vezes eu me sentia uma farsa, o jovem empresário com a vida perfeita, que tem tudo o que quer, na hora que quer e que não precisa lidar com problemas. De repente, eu me tornei uma farsa: um relacionamento feliz, que nunca existiu. Se Fiorella não tivesse me puxado pela mão, até o seu Bentley Bentayga Azul, eu provavelmente teria ficado paralisado no meio do estacionamento de Stanford. Congelado pela minha própria consciência, intoxicado pelo meu próprio veneno. Me sentia a porra de um invasor. Era o aniversário dela, data em que ela tinha que estar com a família, com as pessoas que genuinamente a amavam, não com um idiota que a pediu em casamento pelos motivos errados. Eu sempre carregaria algum tipo de peso nas minhas costas, por conta daquele contrato. Fui eu que sugeri, a ideia foi minha, eu era o culpado! E eu continuava errando, porque eu quem sugeri passar o fim de semana aqui, mesmo sabendo que era o aniversário dela, porque eu estava
Fiorella 320 dias até o casamento Levar Thomas ao meu apartamento foi estranho. Não sabia se a falta de Maya, durante o resto do dia, seria uma benção ou o nosso maior problema. Não precisaríamos fingir, o que tornaria menos cansativo. Mas de fato, estar cara a cara com alguém com quem você não tinha intimidade não era muito divertido. Não queria que ficasse um clima pesado entre nós, porque, sinceramente, eu não estava com vontade de me sentir mal e desconfortável, naquele dia. E o silêncio já começou a nos atingir nos últimos quilômetros de estrada, depois no caminho que percorremos desde a garagem, até o elevador e enfim ao apartamento. —Você pode ficar no quarto de hospedes, por enquanto. Imagino que queria tomar banho, trocar de roupa e descansar um pouco. Quando Maya estiver chegando, pensamos o que vamos fazer para que ela não estranhe— dei entender que estava falando sobre dormirmos em camas (e quartos) diferentes. Eu o apresentei as áreas comuns, do apartamento duplex
Thomas 320 dias até o casamento Eu e Fiorella não postergamos o momento da refeição, não ficamos sentados frente a frente por mais do que vinte minutos, quando eu levantei do balcão e me convidei para colocar as louças na lavadeira, já que ela tinha assumido o trabalho de montar a mesa. —Maya me mandou uma mensagem dizendo que vai dormir em Lucy e Bash, hoje— ela me disse, ainda sentada no balcão e digitando no seu aparelho celular. —Que bom— eu disse, apenas. Fiorella suspirou, parecendo aliviada e feliz por precisar dormir uma noite a menos ao meu lado. —Perguntei a ela que horas vai voltar amanhã, ela disse que com certeza apenas depois do almoço— contou. —Então podemos dormir e acordar tranquilos— sugeri, com um sorriso fraco no rosto. —Sem desespero de fingimento ou troca de quartos logo pela manhã— caminhou pela cozinha, buscando uma garrafa de água na geladeira. Segui seus passos e, observando a porta do eletrodoméstico, conferi o horário: ainda faltava pelo menos
Thomas 319 dias até o casamento Enquanto eu terminava de comer, podia ouvir Fiorella respondendo as parabenizações de aniversário da sua família, lá da sala. Ela recebeu uma ligação e ouviu alguns audios altos o bastante para que eu escutasse da cozinha, enquanto mais uma vez cuidava da louça. Eu já estava vestido para sair e subi rapidamente apenas para buscar o meu celular e a minha carteira. Não demorou muito até estarmos dentro do carro da minha futura esposa, enquanto ela dirigia até o local onde costumava fazer compras. Não conversamos no trajeto, seja porque em partes dele ela estava conversando com a sua avó, com o celular conectado no computador de bordo do carro, em um italiano rápido demais para eu apenas tentar entender, seja porque no resto do caminho, ela se distraiu com as letras de Taylor Swift que tocavam em sua playlist. Eu aproveitei o tempo para apenas observar a paisagem da cidade e conferir as minhas mensagens no celular, mas não demorou mais de meia ho
Fiorella 319 dias até o casamento Entrei em modo automático, pelo resto da tarde de compras. Thomas me disse algumas coisas, algumas palavras que poderiam parecer óbvias para ele. Talvez palavras que tenham sido ditas da boca para fora, mas palavras que eu definitivamente precisava ouvir. Era até ingênuo da minha parte, porque nunca tinha parado para contestar muitas das coisas que ouvi, ao longo da minha vida. Eu sabia que era vista como uma mulher forte, de personalidade, que lutava pelo que eu queria, pelas minhas opiniões e pelos meus direitos. Eu era a amiga que sempre tinha um ombro disponível para outras mulheres chorarem, que sempre tinha um alerta para dar, sobre relacionamentos tóxicos e sufocantes. Mas há algo que precisa ser dito: não importa, nós podemos passar uma vida inteira dizendo que nunca aceitaríamos certos tipos de comportamento, que faríamos isso ou aquilo para combatê-los. Mas, verdadeiramente, nós não sabemos como vamos reagir (e se vamos ou não perce
Thomas319 dias até o casamentoMinha garganta secou e as palavras sumiram da minha boca, quando coloquei meus olhos em Fiorella, naquela noite. Suspirei mais fundo do que deveria e não pude disfarçar a encarada minuciosa que dei em todo o seu corpo. Ela não parecia discreta, longe disso, qualquer pessoa que passasse do seu lado viraria o pescoço para olhá-la. Naquela noite, mais do que nunca! Não posso mentir, me senti extremamente atraído por ela. E não foi a primeira vez! Também não posso dizer que Fiorella "fazia o meu tipo". Não, ela não fazia. Havia um padrão entre as mulheres que já namorei: discretas, tímidas e calmas. Era o que eu acreditava combinar comigo, porque eu me considerava um cara calmo, discreto e tímido. Meus antigos relacionamentos se iniciaram de uma maneira muito natural. Sempre encontrei parceiras parecidas comigo, com a minha personalidade. E nunca deu certo. Fiorella era diferente, o que não era algo ruim, jamais esperaria que ela mudasse, mas o diferente
Fiorella319 dias até o casamento Eu era tudo, menos ingênua. Entendi bem o que Thomas quis dizer, só não entendi se foi uma ideia ou uma sugestão. O que um casal de verdade faria, se tivesse a oportunidade de estar sozinho em um camarote de uma balada? A resposta não precisava ir muito longe, bastava estender meus olhos para as menores cabines daquela casa noturna, só era necessário um pouco de criatividade para descobrir a razão da maioria delas terem as suas cortinas fechadas. Eu sabia o que fariam. Eu sabia que não era aquilo que faríamos. Escolhi aquela casa noturna justamente pelos camarotes individuais. E uma atuação como aquela poderia até garantir que meus amigos jamais desconfiassem do meu relacionamento, mas de toda forma, eu sabia que não seria necessário, que não eram eles que iam me colocar contra a parede de mentiras que criei. E eu sabia que hora ou outra ia acontecer, mas deveríamos postergar até que não fosse mais possível: se a primeira vez que fosse inevitáv
Thomas 319 dias até o casamento O arrependimento me atingiu muito rapidamente: assim que vi os amigos de Fiorella passando pela porta. Eu havia criado o plano mais imbecíl possível. Na verdade, todo o nosso acordo era de uma instabilidade tamanha, mas nós dois sabíamos que fazer as pessoas acreditarem no relacionamento deveria estar no topo de nossa lista de prioridades. Um banheiro, trancados, sozinhos, parecia menos perigoso para o início de uma noite de balada. Ainda estávamos frios, ela ainda estava sóbria. Não, teríamos que dançar juntos, precisaríamos gerar um falso clima e, aí sim, nos prenderíamos em um cubículo, juntos, Não era uma boa ideia e nós dois parecíamos entender isso. A preocupação de Fiorella também era notável. Se eu, que pouco a conhecia, conseguia identificar, imaginava que seus amigos logo notariam o desconforto. E ela levantou da cadeira para receber cada um deles com um abraço e agradecer, de forma um pouco robótica e automática, as felicitações pelo