Acordei em uma maca do hospital, em um dos boxes da emergência. Uma enfermeira baixa e magrela, com cabelo muito liso e loiro, preso em um rabo de cavalo, sorriu para mim.– Que bom que acordou! Qual é o seu nome? – me questionou.– Sara… Sara Walker.– Muito bem, senhorita Walker… Vou precisar que você assine esses documentos autorizando que a gente faça os exames de laboratório com o sangue que coletamos enquanto a senhorita estava desacordada.– Claro.Eu ainda me sentia muito zonza. Estava difícil processar muitas informações naquele momento. Eu me sentia perdida, sem entender muito bem como tudo aconteceu. O bom é que agora eu finalmente saberia o que estava acontecendo comigo para eu passar sempre tão mal. Depois eu voltaria em Tom para saber como ele estava.Aproveitei para descansar um pouco. Parecia agora que eu vivia em uma exaustão extrema. Tudo me cansava. Ia aproveitar que ali eu estava sendo bem cuidada por alguém, mesmo que fosse por estranhos. A enfermeira sorridente v
Fui sedado e acordei na maca do hospital, usando aquelas camisolas ridículas. Tudo bem que eu havia ficado nervoso, mas os médicos exageraram mandando me sedar à força. Eu só queria garantir que estavam cuidando bem do meu pai.Meu Deus! O que vou fazer agora? Meu pai era minha referência no mundo. Era tudo na minha vida. Era minha mãe e meu pai ao mesmo tempo. Senti o coração apertar. Uma falta de ar ameaçou me dominar. Tentei me acalmar para não me deixar vencer pela ansiedade. Aquelas duas fizeram tanto que acabaram sobrecarregando o coração do meu velho. Nunca vou perdoá-las por isso.Liguei para David vir me encontrar. Expliquei que queria um funeral rápido para que a mídia não nos perturbasse. Karol se ofereceu para garantir a coroa de flores e a decoração que exigia. Aceitei.Eu nem sabia por onde começar a agir. Nunca tinha perdido ninguém. Pelo menos, não para a morte. Desde que conheci Sara, minha vida virou de cabeça para baixo. Cada hora era um acontecimento. Mas eu jamais
Amarraram minhas mãos e colocaram um saco de papel em minha cabeça para que eu não olhasse o caminho. Se o nervosismo já estava me deixando sem ar, o saco só estava piorando. Era uma sensação horrível ficar sem ver para onde estavam me levando e o que iam fazer comigo. Eu precisava dar um jeito de me livrar deles.Pelo menos, Theo tinha visto me levarem. Espero que não me odiasse o suficiente para não fazer nada a respeito. Que pelo menos avisasse à polícia, para eu não apodrecer nas mãos desses bandidos. Eu ainda não entendia por que estavam me levando.– Ei... O que está havendo? Por que vocês me sequestraram? A dívida está paga! Não tem motivo para estarem me levando. Estão me confundindo com alguém!Escutei eles caindo na gargalhada, zombando da minha cara. Meu sangue ferveu. Se eu não estivesse amarrada, teria dado um murro na cara de um deles.– Todos sempre se dizem inocentes, mocinha! Já estamos acostumados. Agora cala a sua boca, senão vou te amordaçar – ameaçou um dos bandid
Respirei fundo para não responder grosseiramente a Antonio. Achei melhor concordar com ele do que enfrentá-lo.– Tem razão. Fiz uma péssima escolha, de cabeça quente. Mas quero corrigir isso agora. Eu deposito a grana, e você solta a Sara imediatamente.– Você acha que dá ordens para mim, Sr. Magnata? Quem dá as ordens aqui sou eu agora, não percebe? Pouco me importam suas escolhas! Isso para mim são negócios. Sabe a questão da oferta e procura? Eu tenho algo que você quer muito, então agora custa bem mais caro.Já era de se esperar que Antonio quisesse tirar vantagem da situação. Eu deveria ter ouvido David. Eles não eram pessoas com as quais eu deveria ter me metido. Tudo culpa do pai da Sara! Não, na verdade, não... Era tudo culpa minha mesmo. Eu não tinha nada que ter desfeito o acordo da dívida. Fui um grande idiot*!– Me fale seu preço.Jack gesticulava para eu não fazer isso. Ele nunca foi a favor de negociar com bandidos. Eles sempre davam um jeito de ferrar ainda mais com a g
Depois do segundo tapa, ouvi o telefone de Antonio tocar. Ele olhou para a tela e rui.– Ah, agora aquele riquinho de merd* está me ligando, preocupadinho com a donzela em perigo – zombou.Ficaram discutindo ao telefone, até que Antonio colocou o celular perto de mim, para falar com Theo.– Theo? Theo? Me ajuda! – gritei em desespero.Levei um tapa bem mais forte que os outros dois. O canto esquerdo da minha boca começou a sangrar. Aquele gosto metálico de sangue me fez lembrar da fragilidade do meu corpo. Eu tinha que tomar cuidado agora. Não podia fazer mais besteiras que os fizessem me machucar ainda mais.– Então, aguardo você amanhã, às 9h, sem envolvimento da polícia. Não me decepcione.Eu mantive minha cabeça baixa, para evitar qualquer tipo de confronto com Antonio, mas ele parecia querer mostrar poder. Era um grande covarde, na verdade. Batia em uma mulher indefesa, amarrada, sem chance alguma de revidar.– Escute aqui, mocinha. Agora que você e seu namoradinho já entenderam
Vi o desespero de Sara e corri até ela. Quando me gritou para ter cuidado, olhei para trás e vi a arma apontada em minha direção. Parei e levantei as mãos, em rendição. Só senti um grande impacto contra meu corpo e ouvi um disparo.David tinha me jogado no chão, para me proteger. Ficou por cima de mim durante um tempo maior que o esperado. Então empurrei ele para o lado, pois eu ainda precisava buscar Sara. Foi, então, que vi quando começou a sair sangue de sua boca. Procurei algum ferimento por ele e não achei nada.Vire-o de costas e, então, vi um buraco por onde saía mais sangue. Suas costas já formava uma poça. Imediatamente, me lembrei de Brenda. Me bateu um desespero. Meu amigo não podia morrer para me salvar.– David! David! Fala comigo, meu amigo! – Olhei ao redor e comecei a gritar: – Chamem uma ambulância! Por favor! Chamem uma ambulância!Vi alguns policiais à paisana falando em um rádio. Deviam estar pedindo reforços. Eu ia quebrar a cara de Jack! Eu disse para ele manter
– Corre, Sara! – balbuciou Theo, já quase sem forças.Então, eu corri, pois o homem armado já estava bem perto de nós. Vi Theo apagar, ficando com o corpo todo mole, sem reação. Eu precisava acreditar que ele tinha apenas desmaiado. Eu não aguentaria perder Theo, não agora que eu o ouvi dizer que me ama.Achei que ele estivesse com muita raiva de mim, mas ele veio sozinho me resgatar, levou um tiro por mim e ainda disse que me amava. Sonhei tanto com o dia em que seria amada verdadeiramente.Depois de tudo o que eu tinha feito com o Theo, ele ainda dizer que me amava, é porque era amor de verdade, daqueles que supera qualquer obstáculo para estar junto, que não desiste da pessoa, não importava o erro que cometesse.Esse, sim, era o amor verdadeiro, que não vem com a condição de ser tudo o que a gente espera. Se o outro faz algo que não gostamos, não o descartamos na primeira oportunidade. Conversamos, tentamos nos entender e perdoamos. Amor incondicional. Igual ao que temos por filhos
Acordei com Jack me dando tapas na cara, desesperado. Quando abri os olhos, pude ver o semblante de pânico dele e, então, de alívio ao me ver acordar. Ele se sentou no chão e respirou ofegante.– Você quer acabar comigo, Theo? Quase me mata de susto! Achei que tivesse perdido você, cara! Porr*! – brigou comigo Jack.Tentei esboçar um sorriso para ele, mas ainda me sentia muito fraco e zonzo. Estava enxergando tudo meio embaçado. De longe, vi alguém correndo em minha direção, mas não consegui identificar quem era aquele borrão.– Theo! Theo! Graças a Deus, Theo! Meu Deus, que susto você me deu! Achei que tivesse perdido você para sempre. – Sara me abraçou, soluçando de tanto chorar. Ela estava toda machucada e suja, e fedia a cachorro molhado. Essa mulher era forte. Mais forte que eu, inclusive, que nem conseguia dizer uma palavra ainda.Percebendo que eu não conseguia falar, Sara e Jack se entreolharam. Sara correu e chamou o socorrista, que já tinha feito alguns curativos em mim para