Sara fez meu sangue ferver ao falar daquela forma com minha mãe. Vi quando ela saiu quase chorando do quarto. Por mais que estivesse tentando me defender, ela não tinha o direito de falar com minha mãe daquele jeito. Às vezes era durona, e outras, uma manteiga derretida que chorava à toa. Aquela era minha mãe. Sara tinha que respeitá-la, e não a afrontar.Para falar a verdade, Tania nem parecia uma mãe. Parecia uma réplica viva da boneca Barbie: loira, magra, com silicone exagerado, preenchimento labial, cílios postiços… Tudo o que deixava as mulheres com aquele ar artificial ela tinha. Todo o dinheiro que meu pai dava Tania gastava com estética. Já tinha feito inúmeras lipos e ainda harmonização facial. Estava bem diferente da mãe que eu conheci um dia.– Você não devia ter falado assim com Sara, Theo! Já não basta tudo o que essa menina já passou? Ela teve muitos motivos para agir da forma como agiu. Chega de causar problemas para os Walker. Já causamos demais! Temos é que nos retra
– Ai, amiga... Não sei, não... Meu pai acabou de falecer e já deve estar se revirando no túmulo só de pensar que eu possa conseguir um emprego na empresa do seu maior inimigo de todos os tempos.– Relaxa, amiga! Primeiro, porque o inimigo dele já está aposentado e afastado da empresa. Segundo, quem comanda a empresa é o filho dele, que não tem nada a ver com a sacanagem que o Sr. Tom Vanderbilt fez com seu pai. Terceiro, é que você nunca vai nem esbarrar com o Theodore Vanderbilt, porque a sala do CEO fica na cobertura do prédio da empresa e a vaga à qual você vai se candidatar é para ficar no 4º andar da empresa, o que é muito, muito distante, já que são 20 andares de diferença!– Mesmo assim, Brenda... A empresa leva o sobrenome dele: Vanderbilt Enterprise. Sabe quantas vezes na vida ouvi meu pai xingar os Vanderbilt? Milhões!– Bom, se seu pai não quisesse você trabalhando para eles, Sara, não deveria ter se afundado em bebidas e jogos de azar nem morrido de repente e deixado de he
Que dia estressante! Liguei mais uma vez para o meu pai e disseram que ele não queria falar comigo. Desde que resolvera se aposentar que andava muito esquisito. Se isolou na fazenda da família que ficava no interior da cidade e não atendia mais minhas ligações. O sinal do celular não pegava bem lá, então eu ligava para o fixo, só para ouvir algum dos empregados me dispensar a pedido de meu pai. Já fazia 2 meses que eu não tinha nenhum contato com ele. Droga! Dei um soco na mesa e algumas coisas saíram do lugar. Eu estava à beira de ter um colapso. Ouço uma batida tímida à porta e vejo-a se abrir lentamente. Denise, minha mais nova assistente, apareceu só com os olhos, deixando o restante do corpo protegido atrás da porta. – Senhor Vanderbilt, o rapaz do aplicativo chegou. Devo mandá-lo entrar? – Denise, eu mandei você cancelar TO-DAS as minhas reuniões de hoje! Como você quer deixar alguém entrar agora? Você está de brincadeira comigo? – gritei a todo pulmão. A porta se fechou imed
Passei no balcão de entrada da Vanderbilt Enterprise para fazer minha identificação. Não acredito que eu iria para uma entrevista naquele estado deplorável. Até na foto de cadastro ficou registrada a blusa toda manchada de café. Que vergonha!Brenda foi entrando na frente porque já estava atrasada, depois daquela confusão que causei. Acho que ela nunca mais vai me perdoar, mesmo eu insistindo em dizer que CEO não costuma conhecer seus funcionários e nem devia saber que ela trabalhava lá. Brenda afirmou que ele conhecia todo mundo da empresa, mesmo não sabendo exatamente os nomes. Acho muito difícil um cara com a responsabilidade e falta de tempo dele se importar em saber quem são as pessoas que trabalham para ele.Recebi o crachá para entrar e fui direto para o quarto andar. Será que isso foi um castigo do meu pai por eu estar aqui tentando uma vaga na empresa do seu inimigo? – pensei comigo. Não viaja, Sara. Seu pai tem mais o que fazer agora do que vir aqui só para te castigar por a
Entrei na loja e me deparei com um lindo vestido vermelho em uma manequim que estava bem no centro da loja de luxo. Uma vendedora loira, magra, com uma maquiagem leve, apenas para realçar sua beleza de 20 e bem poucos anos, veio em minha direção.– Posso lhe ajudar, Senhor Theodore?Ela me conhecia das outras tantas vezes que eu fora lá para comprar um presente para alguma namorada. O fato é que eu trocava tanto de namoradas que eu estava sempre por lá comprando algum presente para a mais recente felizarda. Apesar de já estar aflorado em mim o desejo de construir uma família, não conseguia encontrar uma parceira com quem eu realmente almejasse o tal “para sempre”.– Olá, Lorena! Vou querer este para presente. – Indiquei o manequim com o exuberante vestido vermelho.Pensar naquela pequena Pinscher vestindo aquela peça fez meu membro latejar. Fazia tempo que meu amigo não era usado. Eu havia desistido de ficar saindo com essas modelos que só estavam interessadas no meu status e dinheiro
Pensei que eu fosse desmaiar bem ali. Minhas pernas ficaram fracas e senti o sangue sumir do meu corpo. Tudo o que eu menos precisava era virar assistente do filho do grande inimigo do meu pai. Tom Vanderbilt tinha acabado com a vida da gente. Ele fez meu pai perder o sonho da sua vida e se manter para sempre como um simples professor de empreendedorismo inovador, que nem um negócio próprio tinha – quanta hipocrisia! Isso o revoltou ainda mais. Deixou-o com “uma mão na frente e outra atrás” logo no momento mais importante de sua vida. Tom fechara negócio com os empresários e o deixara de fora do esquema, recebendo sozinho a mais do que generosa comissão pelo contrato firmado de fornecer transporte de qualidade e a baixos custos para facilitar a importação de produtos da Itália, projeto que tinham elaborado juntos nos últimos anos. Era um contrato milionário, e seu sócio o excluíra por puro egoísmo e ambição. Tom, que se dizia o seu melhor amigo, simplesmente virara as costas para ele
Meu pai continuou contando sobre aquele dia fatídico. Disse que acordara animado para a reunião. Diana foi para uma entrevista de emprego, e ele estava se aprontando para ir para a reunião que poderia mudar tudo para eles. Chegaria mais cedo do que o acordado com Tom, pois estava ansioso e não aguentaria ficar mais tempo naquele apartamento vazio, sem ter ninguém com quem desabafar seu nervosismo.Valter foi pegar o celular, que deixara carregando a noite toda. Droga! Viu que o fio não estava encaixado direito e restavam só 10% de bateria. Mas, não tinha problema. Levaria o carregador e carregaria lá no coworking quando chegasse. Até a hora da reunião, já estaria com a bateria cheia.Nesse momento, seu telefone tocou. Atendeu rápido com medo de a bateria acabar e ser algo importante. Era do Lawrence Memorial Hospital. Sentiu a espinha gelar. O que poderia ter acontecido?– Por favor, fale logo do que se trata, a bateria do meu celular está acabando – suplicou Valter.– Sr. Walker, aqu
Senti as mãos grandes e braços musculosos me segurarem por trás e me levarem até o sofá, que ficava em um canto do escritório. Fiquei grata internamente por aquele suporte, pois achei que realmente desmaiaria bem ali, na frente do CEO. Apesar de arrogante, ele até que foi gentil neste momento. Bati os olhos num porta-retrato que estava bem em cima da mesinha de centro, de vidro, que ficava em frente ao sofá de couro caramelo onde Theodore a havia sentado. Meu coração parou por um instante, junto com minha respiração. Era uma foto de Tom Vanderbilt ao lado de uma versão mais jovem de seu filho. Nesta, ele não estava com os olhos furados, mas dava para identificá-lo muito bem. Theodore puxara os olhos dele, agora podia perceber. De repente, caiu em si.– Tire suas mãos de mim! – vociferei, ainda sentindo muito de perto o calor daqueles braços torneados.– Sua ingrata raivosa! Eu estava tentando te ajudar. Você estava prestes a cair dura bem no meio da minha sala – explodiu ele e se afast