Devem ser umas 03h30 da manhã, acordei pela vigésima vez para fazer xixi. Estou saindo do banheiro quando escuto o barulho do portão como se alguém tivesse abrindo, meu coração dispara e sinto todo o nervosismo possível. Coloco minha mão na barriga e me inclino um pouco para ver a janela, a luz do poste lá fora permite que eu veja a silhueta de alguém colocando a chave na porta. Corro na ponta dos pés para cozinha e logo agarro a faca de cortar pão, me agacho por de trás do balcão.Posso ouvir claramente alguém entrando e fechado a porta, penso em mil formas de fazer alguma coisa e a primeira que me passa na cabeça é ligar para Daniel, mas deixei o celular na cama. Estou com tanto medo que sinto que posso fazer xixi a qualquer momento.— Analu? — de repente ouço a voz de Dan e meu coração parece ficar aliviado - Ana, tá em casa? — Espera um pouco. Levanto bem rápido e vejo-o dar um pulinho por conta do susto, ainda seguro a faca e dessa vez na força do ódio.— O QUE PORRA TÁ FAZENDO A
O jantar foi incrivelmente bom, jantamos em um dos restaurantes mais famosos do Rio e o senhor Pompeia foi tão gentil, assim como sua esposa. Ficamos ali conversando e confesso, eles não são como alguns ricos por aí, tem humildade e simplicidade. Saímos do restaurante, mas antes Danilo pergunta se pode me levar para um lugar no qual ele ama muito ir, falo que sim acabamos na praia. Estou segurando o salto e com os pés na água, que está tão gelada que no primeiro toque eu me arrepio toda. Danilo também tirou o sapato, mas deixou na areia, agora ele está com as mãos dentro do bolso e com o olhar distante, como se as respostas estivessem no horizonto. Faço o mesmo, me concentro além do mar, tento imaginar o que há lá e todo mistério que o oceano esconde de nós. — Vou embora daqui alguns dias — diz ele ainda olhando para frente e me viro para encará-lo.— Por que? — pergunto e vejo um sorriso de lado em seu rosto — Não pensou que eu iria morar aqui, né? — diz — Não, mas não pensei que
Nunca me senti tão idiota como estou me sentindo agora. Eu não deveria ter deixado aquele beijo ir adiante, eu deveria ter recuado ou ter dado uma de louca e ter saído correndo. Logo agora que parecia que tudo estava voltando para o lugar! Que raiva!Ainda é de madrugada, para ser exata 01h40. Não consegui dormir e nem acho que vou dormir por agora. Na mente só vejo o beijo de Danilo e a cara de ódio de Daniel. Por que merda Danilo tinha que fazer aquilo e dizer todas as aquelas coisas como se fosse natural? NÃO É NATURAL O IRMÃO ESTAR APAIXONADO PELA A MULHER QUE ESPERA OS FILHOS DO PRÓPRIO IRMÃO. Pensando agora, isso seria um bom argumento... Eu deveria ter dito isso quando eu tive chance.Rodei pela casa toda e já não tem mais para onde ir, fui para e está um deserto completo... fui no quintal, já sentei no vaso, já fiz de tudo um pouco e nada. Eu realmente preciso falar com Daniel ainda hoje ou vou ficar louca. Eu poderia ligar dizendo a ele que os filhos dele estão desejando algo
— Não me importo se matou eles ou não. Só me tira uma dúvida, agradeço agora ou depois? — diz ele e ergo minha sobrancelha. Puxo a cadeira e sento em sua frente — Pergunte o que quiser, contarei tudo! — afirma — E mesmo depois que eu contar tudo, você mude de ideia e me mate, tudo bem, eu não ligo... — Não? — pergunto e ele nega com a cabeça — Por que? — ele encara o chão, parece distante.— Porque eu não tenho coração, já não sinto porra de nada. Quando eu tinha 12 anos, estava dormindo em casa com meus pais, tava tudo normal. Havíamos nos mudado a pouco tempo por conta de problemas financeiros, eu ainda não conhecia nada e nem ninguém... E naquela noite eu acordei com um barulho alto, como se alguém tivesse chutado a porta, me levantei, mas não sai do quarto até ouvir meu pai gritar mandando alguém sair da nossa casa e logo em seguida minha mãe gritou bem alto. Eu corri para o quarto deles e vi meu pai sendo chutado por três caras enquanto Pazzo tentava agarrar minha mãe, ele batia
UM MÊSJá faz um mês que Daniel teve que sair da Rocinha, não tem um dia que eu não sinta falta dele. Tive que ir para a consulta sozinha e isso me fez ficar triste porque, acima de tudo, eu o queria lá, mas ele mandou um recado por Luan dizendo que sentia muito, que ainda não podia voltar para a Rocinha, sendo assim não podia ir para a consulta comigo. Se fosse a Ana Luíza de seis meses atrás não entenderia e ficaria com raiva, mas essa não. Simplesmente pedi para a medica a foto do ultrassom e mandei para Luan para que ele enviasse para Daniel. Luan assim o fez, e retornou dizendo que ele ficou muito feliz e que ainda lamentava por muito não ter ido comigo. Estou a um passo de entrar no quinto mês de gestação, sabe o que isso significa? Poderemos saber o sexo dos meus nenéns, não que isso importe muito porque, o que vier, eu amarei como nunca amei ninguém. Mas deve ser mais legal conversar chamando-os pelo nome, meus apelidos para eles já acabaram. Outra coisa que vem me incomodan
Tem dois policias ao meu lado e desde que saímos eles estão fazendo perguntas sobre quem é o pai e se eu tenho alguma relação com o dono da Rocinha. Eu repito várias vezes que não e, depois de muitas pergunta, escolho ficar calada. Não consigo ver se Danilo está mesmo atrás de mim e isso me deixa nervosa. — Você pode soltar minhas mãos? Estou sentindo dor na barriga — peço. — Não — curto e grosso — Aguente! — sinto vontade de chorar. Chegamos na delegacia e logo vejo um carro branco para, dele descem Danilo, Luan e Paulo, mas só Danilo entra comigo. Vejo que ele começa a conversar com o delegado e a todo momento eles me olham, em certo momento Danilo os convence de que aquelas algemas eram demais. Eu estou grávida, além de ser uma mirrada indefesa. O delegado manda que tirem os objetos de mim e assim é feito. Na mesma da hora coloco a mão na barriga e com outra limpo meu rosto, as lágrimas caem sem controle algum.Ouço de longe que terei de passar a noite na prisão feminina enquant
Ao chegar na Rocinha vejo alguns meninos comemorando, eles conseguiram. A rocinha voltou ao domínio de Daniel e agora eu estou nervosa, assim como quando marcamos o primeiro encontro com alguém que queremos muito ver. Danilo me olha e sorri, percebo que estamos indo para a casa de Dan. Ao chegar eu desço na hora, e um dos meninos me fala que ele está lá dentro, então corro em direção a residência, abro o portão e já vejo ele na porta da sala com outro cara, eles estavam conversando, mas Daniel para assim que me vê, caminha em minha direção e eu corro em direção a ele, me jogando em seus braços assim que o alcanço. Sinto ele me apertando pela cintura e me levantando do chão. Sua boca está em meu pescoço e sinto seu hálito quente.— Eu estava morrendo de saudades! — digo quando ele me coloca no chão. Sinto suas duas mãos em meu rosto. — Você tá bem? Eles fizeram algo com você? — pergunta preocupado.— Eu estou bem e eles não fizeram nada — digo e ele me beija, um beijo cheio de saudad
Acordo com o barulho do guarda roupa, me viro e vejo Daniel vestindo uma camiseta azul. Ele está com um jeans preto, boné do Flamengo virado para trás e o cheiro do perfume dele toma de conta do quarto todo.—Que horas são? — pergunto me sentando e ele vira pra mim, olha no relógio e diz: — 05h40, volte a dormir — ele volta a atenção para o guarda roupa, o vejo pegar uma arma e colocar na cintura.— Pra onde vai assim tão cedo? — pergunto.— Tenho coisas a resolver — diz e depois de verificar o celular vem até mim e beija minha testa — Volte a dormir, vida — apenas concordo e vejo ele saindo do quarto, que Deus proteja esse homem.Acordo novamente, são 06h20 e não consigo dormir mais, então levanto, escovo meus dentes e amarro meu cabelo, visto o que está mais fácil, um short jeans e uma blusa de Daniel. É estranho estar em uma casa grande sozinha, antes tinha Danilo para encher meu saco, mas agora ele não fica aqui, se eu não me engano está na casa de sua mãe, então hoje é apenas eu