Capítulo 3
Valentina também havia reencarnado.

Não era de se estranhar. Afinal, na vida anterior ela e Leo pareciam não ter nenhum vínculo, mas agora, em questão de dias, já agiam abertamente como casal, vivendo todos os gestos e carinhos típicos de relacionamento.

Parecia que ambos já haviam percebido a reencarnação e estavam determinados a aproveitar essa chance para continuar o que não conseguiram concluir na existência passada.

Fechei os olhos e permiti que as memórias da vida anterior dominassem minha mente.

Naquela época, eu estava radiante ao me casar com Leo, acreditando de forma ingênua que encontraria a felicidade.

Com nossa aliança matrimonial, a família de Leo atraiu numerosos estrangeiros que vieram se aliar ao nosso clã. Eu acompanhava Leo constantemente, e juntos recebíamos diversas propostas comerciais. Assim, a alcateia Garra Prateada se ascendeu rapidamente e se tornou a mais próspera entre os lobisomens.

Os anciãos da alcateia Garra Prateada sempre afirmavam que eu era a estrela da sorte, a portadora da prosperidade, e me tratavam com extremo carinho. Contudo, demorei para enxergar as verdades ocultas que se escondiam nas sombras.

Até que finalmente descobri o segredo inconfessável entre Leo e Valentina.

Nesta vida, não repetiria os mesmos erros.

Minha mãe entrou no quarto e me informou que Lucas retornaria da viagem no dia seguinte, após sete dias ausente.

A notícia me surpreendeu. Na vida passada, Lucas, o tio de Leo, jamais se casava, e eu imaginava que nesta vida ele também optaria pela solidão.

Não esperava que nosso noivado progredisse com tanta rapidez.

Me recordei de Lucas como um irmão confiável que, embora mais velho, sempre transmitiu segurança. Casar-me com ele seria infinitamente mais reconfortante do que com qualquer outro. Me sentiria verdadeiramente em casa.

No dia seguinte, me levantei cedo e me dirigi à minha confeitaria, onde comecei a testar sabores e designs para o bolo de casamento.

Desde a faculdade, eu nutrira o sonho de ter meu próprio ateliê de doces. Na vida anterior, Leo sempre fazia comentários insensíveis sobre minhas criações, chegando a dizer que meu sonho não condizia com a esposa do futuro líder da alcateia. Para agradá-lo, acabei abandonando minha paixão, e até o bolo nupcial foi escolhido aleatoriamente.

Nesta vida, finalmente poderia criar o bolo de casamento dos meus sonhos, exatamente como sempre imaginei.

Alguns dias depois, enquanto transportava uma fornada de bolos de mel com castanhas de caju, em formato lunar, para a câmara fria da cozinha, me deparei com a postagem de Valentina nas redes sociais.

Na foto, ela estava sentada na minha bancada de trabalho, com um prato contendo meu Bolo da Deusa Lunar, criação inteiramente minha, todo amassado e deformado, a cobertura espalhada de maneira desleixada. Sorria com ar provocante, recostada em Leo.

[Leo comprou a confeitaria da Arya para mim. O Bolo da Deusa Lunar é tão adocicado! A sensação de ser mimada é maravilhosa, estou tão feliz!]

A chama da raiva me consumiu por dentro. Aquilo era um doce que eu passei dias para aperfeiçoar, cada camada do meu bolo de casamento foi meticulosamente planejada. E agora, ela estava sendo destruída, transformada em um objeto de ostentação barato!

Quando entrei na confeitaria, o ar se impregnou de doce e traição. Valentina se esfregava em Leo como serpente em tronco, a cintura colada aos quadris dele enquanto creme de baunilha escorria entre seus seios. Ela usava os seios cobertos de creme para alimentá-lo, cada mordida acompanhada de suspiro teatral. Seus movimentos eram tão sugestivos que me fizeram querer desviar o olhar.

— Esse é o bolo que eu ia usar no meu casamento! — Eu disse com a voz gelada. — Que diabos pensa, o entregando para essa vadia e ainda deixando profanar assim?

Valentina se virou com sobressalto fingido. Em segundos, as lágrimas de crocodilo já escorriam pelo rosto manchado de chocolate.

— Leo, será que fiz algo errado? Por que a Arya está tão brava?

Ele a puxou para trás do corpo num gesto protetor que me fez ranger os dentes.

— Arya, relaxa. É só massa com açúcar, não é? — Ele disse com um sorriso de escárnio. — No fim das contas, você vai fazer outro. Agora, por que não deixar Valentina provar esse aqui?

— E, além disso. — Seus olhos percorreram meu corpo com desprezo. — Esse sabor e esse design não são nada incríveis. Valentina gostou, você deveria se sentir feliz.

Fiquei sem palavras, incrédula com sua audácia. Ele não só não se importava com o trabalho que eu tinha colocado ali, como ainda zombava de mim!

Olhei ao redor e vi uma espátula de inox na mesa ao lado. Sem hesitar, a peguei e comecei a raspar todo o creme do corpo de Valentina. Em seguida, peguei o bolo que ela havia tocado e joguei tudo no lixo.

— Leo, já que está cagando para isso, olha só o que vai acontecer. — Eu disse com um sorriso frio. — Coisa suja eu descarto, e gente podre também não fico segurando!

O silêncio pesou como glacê derretido. O rosto de Leo congelou, como se ele nunca tivesse visto uma atitude tão decisiva de minha parte.

— Arya! — Ele rugiu, estendendo a mão para me agarrar.

Foi então que Valentina soltou um gemido.

— Leo... — Gemeu Valentina segurando os seios como se fossem desmontar. — Meu peito parece estar ardendo... Está doendo...

Ela puxou o braço de Leo com delicadeza e disse, com um tom fraco:

— Não se preocupe comigo, vai consolar Arya... Foi tudo minha culpa...

Leo hesitou por um momento, mas logo se virou para mim, a raiva queimando em seus olhos.

— Não ligue para ela! — Ele cuspiu friamente. — Mulheres como ela, cheias de inveja, precisam refletir sobre seus próprios erros.

Não olhei mais para ele, simplesmente me virei e fui embora.

Isso era apenas o começo.
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