O festival da Lua Cheia, o principal festival anual da alcateia, iniciou no dia seguinte ao anúncio do casamento arranjado.

Sob a luz prateada do luar, se erguia o palco das celebrações. No centro da imensa plataforma de pedra, se dispunham os cálices de vinho e as oferendas à Deusa Lunar. Atrás do palco, se erguia uma roda-gigante monumental que lançava sombras dançantes sobre a multidão.

Num canto mais afastado, Leo se apoiava com preguiça no tronco nodoso de uma árvore centenária. Segurava com desleixo um cálice prateado, se vangloriando das proezas de caça para o grupo de amigos. Foi Blake, seu amigo, quem primeiro me avistou quando adentrei o salão.

— Ó Leo, sua sombra voltou a te perseguir! — Blake exclamou com risada debochada, fazendo os lobisomens circunstantes se contorcerem de gargalhadas. — E pensar que já estão prometidos, mas ela insiste em te seguir como filhote perdido!

Ao se virar para me encarar, seus olhos transbordavam uma impaciência cortante.

— Tão ansiosa para subir ao altar, Arya? — Sussurrou num tom baixo e cheio de desprezo. — Nem sequer me consultou antes de arranjarem esse compromisso familiar. Agora todo mundo no clã sabe que você vai se grudar na minha família. Esperta como raposa, não?

Cada palavra saía venenosa, enquanto as palavras cortantes me faziam conter a respiração. Contive a turbulência interior e mantive o olhar firme nele.

— Para que eu precisaria da sua permissão, Leo? Afinal... — Deixei a pausa pairar no ar como flecha envenenada. — Não é com você que vou me casar.

Um silêncio elétrico tomou conta do salão antes de ser rompido por gargalhadas estridentes. Blake, entre todos, ria com tal frenesi que mal conseguia se manter em pé.

— Vai lá acalmar sua noivinha, Leo! — Provocou, esbaforido. — Antes que invente jeitos mais criativos para atrair sua atenção!

Os olhos de Leo brilharam gelados ao se fixarem em mim.

— Aprendeu os truques de sedução, Arya? — Ele rosnou com voz contida. — Quem mais te quereria? Só eu vou casar com você. Não esquece que foi você que sempre jurou que ia se casar comigo. Para alcateia, você já é minha propriedade!

Quando se aproximou, seu sussurro ganhou um tom ameaçador:

— Esse noivado, até posso relevar. Até te dou um casamento luxuoso, mas a marca de companheira só vou dar para quem realmente me pertencer.

Surpresa, revivi mentalmente a cena de outra vida: naquela época, Leo tinha seguido as ordens da família direitinho, marcando nosso casamento sem reclamar. Será que ele também havia renascido?

Antes que pudesse formular a pergunta, uma figura conhecida apareceu na entrada da festa. Valentina, minha prima, trajava vestido azul-claro que realçava olhos vermelhos e inchados de chorar. Quando nos viu juntos, o choro explodiu de uma vez.

— Arya... Leo... — Ela soluçou, as palavras se quebrando como vidro. — Ouvi dizer que estão prestes a se casarem. Como não tenho dinheiro para comprar um presente caro, só me resta desejar felicidade para vocês...

Antes de terminar, ela deu meia-volta e saiu correndo desesperada na direção do rio, com o pranto ecoando no ar.

— Olha a cagada que você aprontou! — Leo rugiu, me dando um olhar que parecia queimar o ar entre a gente.

Sem falar mais nada, ele parou um instante e saiu correndo atrás dela.