TYGER
— Parado! — solto um rugido alto agarrando o último tigre pelo estômago.
— Tyger! Tem mais um que fugiu da captura de Stone. Precisa pegá-lo, você é mais rápido e com olfato e audição mais aguçados. Ele está quase chegando a estrada, pode estar passando alguém por lá. — Blade grita a distância enquanto segura outro animal.
— Porra! — viro-me a ponto de conseguir olhar bem dentro dos olhos do tigre feroz — Volte! Agora! — ordeno e o animal corre quando o solto.
Apresso-me dentre as árvores grunhindo alto para já chamar a atenção dele, de que estou indo pegá-lo. Chego a margem da estrada, olho em volta, cheiro o ar e descubro a direção que ele está. Aproximo-me correndo dentro do mato para atravessar a estrada e alcançá-lo, quando o avisto ele está parado, o que me faz ficar ainda mais atento, pode estar com alguma presa à vista.
Abaixo-me como um tigre me preparando para imobilizá-lo.
Uma fraca essência floral enche minhas narinas de repente, ouço também mais uma pulsação além da minha e da do animal, está acelerada, o cheiro do medo e pavor fortíssimos me atinge com força. Vem da frente dele, sem sombra de dúvidas é de uma fêmea humana, o corpo grande do felino cobre o provável corpo pequeno dela.
Solto um grunhido alto avisando que estou bem perto, parecendo entender ele recua, sendo assim, sem pestanejar pulo por cima dele e tomo a fêmea em meus braços correndo em seguida para dentro da mata.
— Fique calma, peguei você. Pode confiar em mim. — falo para que não entre em histeria.
Ela se aconchega em meus braços na medida que corro com ela, parece pesar em média cinquenta e oito quilos distribuídos em um metro e sessenta de altura. Sua pele morena está quase gelada e me preocupa um pouco, os cabelos cacheados escondem suas feições de mim, sinto lágrimas molharem meu peito e isso me causa uma estranha fúria e vontade de consolá-la.
No entanto não tenho tanto tempo para estudá-la, preciso deixá-la segura agora. Uma ideia me vem a mente e executo sem hesitar, faço uma curva rápida indo em direção a minha casa, lá a fêmea ficará segura enquanto volto para dar um jeito naquele animal.
***
Sinto meu peito martelar na medida que caminho de volta para casa depois de ter lidado com todos os cinco animais com a ajuda dos meus amigos. Amanhã iremos descobrir quem os soltou.Quando fomos libertados das indústrias Mercile, que sequestraram centenas de mulheres grávidas e bebês recém nascidos para servir de cobaia em seus experimentos, também foram resgatados os animais que assim como nós, foram vítimas de testes na tentativa de transformá-los em monstros selvagens modificando-os.
Tiravam DNA deles para colocar em nós na tentativa de criar uma espécie de máquina híbrida, mais resistente, com habilidades especiais, mais força e sentidos aguçados para sermos vendidos a países em guerra ou sermos escravos.
Os tigres e demais animais resgatados foram colocados em uma área de floresta fechada e adaptada com muros de metal quando ganhamos do governo nossa própria terra, para que não fossem perigosos para um espécie que não têm a habilidade de fazê-los recuar ou para algum humano.Na medida que me aproximo de casa, minha mente se volta para a fêmea que salvei, ela estará lá quando eu voltar e é como se já pudesse esperar por gritos de horror assim que ela notar as diferenças na minha face, como a maioria dos humanos fazem.
Estranhamente parte de mim odiou que ela estivesse sozinha no meio de uma rua deserta cercada por floresta a noite sem ninguém para protegê-la, ela parece tão pequena e frágil.
Entro pela porta e o aroma floral logo prenchee meu olfato, tomo cuidado ao me aproximar, mas para minha surpresa encontro-a encolhida no sofá em modo fetal, sua respiração lenta me assegura que dorme. Chego mais perto para ver se está ferida em algum lugar, com a adrenalina de salvá-la e voltar para caçar o animal se quer pude pensar que talvez estivesse machucada.
Minhas narinas farejam um cheiro agradável vindo do seu pequeno corpo, vai além do cheiro frutado, muito doce... Porra! Ela está ovulando, bem no início mas já posso sentir. Machos espécies ficam loucos quando uma fêmea está nesse período que aprendemos ser chamado período fértil para fêmeas humanas, nós apenas chamamos de cio, mas elas parecem detestar esse termo.
Preciso me manter o mais longe dela possível.
Começo a estudar seu corpo me esforçando para me concentrar apenas no cheiro do seu shampoo. Ela é linda, não posso negar, suas feições humanas são delicadas, seus lábios cheios, nariz pequeno, talvez a fêmea humana mais bonita que eu já vi em todo meu tempo convivendo com eles.
O cheiro frutado do seu shampoo quase mascarou o cheiro de sangue que sinto em seguida baixando o olhar para sua perna, um joelho e os dois cotovelos estão feridos.
— Merda! — murmuro indo atrás do kit de primeiros socorros.
Volto para o sofá me abaixando em sua frente começando a tratar dos machucados, limpo com muito cuidado e faço curativos. Sinto-me aliviado por ela não ter acordado no processo, apenas se remexeu um pouco, deve estar muito cansada, todavia fiz o possível para meu toque ser o mais sensível.
Fêmeas humanas são sensíveis e frágeis, aprendemos sobre isso assim que ganhamos nossas terras pelo acaso de algum dos nossos machos terem interesse em se relacionar com elas.
Algo que eu não entendo como ou porquê, elas não aguentariam nossos corpos, repito que são pequenas e frágeis, não são de qualquer forma compatíveis conosco, machos espécies são maiores do que os homens humanos em todos os sentidos e muito mais intensos também, selvagens e brutos.
Não há graça em compartilhar sexo com uma fêmea se vamos ter que nos preocupar em manter o controle o tempo todo, tira toda a graça de apreciar o momento.
Balanço a cabeça afastando-me do sofá, não faz o menor sentido eu estar tendo esse tipo de pensamento quando nunca tive a intenção de fazer sexo com uma fêmea humana, alguns de seus homens nos disseram que elas são pegajosas e carentes, algo que eu estou disposto evitar a todo custo.
Nossos instintos protetores nos fazem ser capazes de qualquer coisa por alguém que é importante para nós.
Uma companheira é tudo que eu não quero no momento, tiraria minha liberdade, minha independência e eu teria que viver para protegê-la pois se tornaria meu ponto fraco, porque é assim que os machos espécies são, nós protegemos e matamos qualquer um que ousar tocar no que é nosso ou represente ameaça.
Somos extremamente possessivos e não podemos controlar isso porque faz parte do nosso DNA. A fêmea ficaria assustada e me rejeitaria, me deixaria por ser assim, eu ficaria louco e com muita raiva, destruiria tudo e todos no meu caminho para tê-la de volta.
Sendo assim é melhor não me apegar a nenhuma fêmea. Não quero me transformar nisso.
Só quero viver a minha vida, aproveitar a liberdade que me foi tomada por anos, tentar superar as lembranças ruins dos abusos e maus tratos dolorosos. Meu foco é somente em trabalhar com meu povo para caçar os filhos da puta que fizeram isso conosco e nos vingar.
Resolvo tomar um banho enquanto ela dorme, não sei se acordará ainda hoje visto que já é madrugada, estou suado e sujo. Quando termino vou até a cozinha vestindo uma calça moletom cinza e uma camiseta preta.
Olho pela janela e constato que o tempo esfriou, irá chover logo logo, a fêmea ainda dorme tranquilamente no meu sofá começando a me deixar inquieto e preocupado, mas sem conseguir evitar meus instintos protetores me aproximo dela novamente a cobrindo com uma coberta.
Faço o possível para não inalar o cheiro que vem dela, ficarei louco se passar mais que alguns segundos muito próximos.
Quando amanhecer me encarregarei pessoalmente de levá-la para sua casa em segurança, entretanto ficará difícil se estiver caindo uma tempestade, ela poderá pegar um resfriado ou algo do tipo, então se começar não poderei levá-la enquanto a chuva não passar, ela terá que ficar aqui e seu cheiro me deixará a ponto de dor dentro da minha calça.
Faço um café e comida para alimentá-la quando despertar e me sento à mesa com uma xícara pela metade, meus olhos fixos nela. Alguns segundos depois seu pequeno corpo se mexe levemente junto com o barulho da chuva que começa a cair.
Continuo encarando-a de longe com uma estranha ansiedade até que ela rola do sofá caindo no chão, levanto-me automaticamente indo até ela preocupado que tenha se machucado, a fêmea parece assutada como se tivesse acabado de sair de um pesadelo.
Observo seu rosto que está com uma expressão de pura confusão, sua respiração está ofegante quando finalmente olha para mim, seus olhos são castanhos escuros e bonitos. Estendo meus braços para tirá-la do chão e simplesmente espero pelo momento que perceba que sou um Espécie e comece a gritar.
TYGERPara minha surpresa, ela não grita, a fêmea pisca várias vezes e o olhar começa a viajar sobre meus ombros e braços durante vários segundos, suas bochechas ficam coradas na medida que me encara parecendo disposta a fazer isso eternamente. Seu olhar então fixa-se em meu rosto estudando cada centímetro, parece... Chocada.— Você é... — começa a dizer mas a interrompo.— Um Nova Espécie, sim. — meu tom sai mais ríspido do que eu queria.— Eu sei, mas... Nunca vi um de vocês pessoalmente.— Bem, está vendo agora.— Sim e... Você é lindo... Fascinante.Engulo em seco meio desconcertado. A última coisa que eu esperava era essa fêmea humana me achando fascinante e lindo. Será que está zombando de mim? Não sinto que est&aac
Emily GordonOuço o som da porta bater quando ele sai, a sensação esquisita de vazio que fica faz-me abraçar meu corpo e correr para o sofá. Minha ficha ainda está caindo... Merda, eu estou na casa de um Nova Espécie que me salvou de ser engolida por um tigre medonho.Jurei nunca mais confiar em um homem e odiar todos eles, são traidores, mentirosos e pervertidos mas estranhamente me sinto segura aqui, como se tivesse certeza que posso confiar. Estou assustada, confesso. Não deveria confiar nele, deveria desconfiar até dos seus fios de cabelo, homens sempre escondem as verdadeiras intenções atrás de boas ações.Ele não é um homem! É um macho.Minha mente faz questão de me lembrar dele falando isso para mim.Bom, isso torna as coisas bem diferentes e ele foi tão amável com
Emily Gordon— Quer ou não, Emily? — seu tom não é duro, sua voz está rouca quase animalesca.Respiro fundo controlando minha vontade de quase implorar dizendo sim imediatamente. Ele não pode perceber que estou tão desesperada para beijá-lo. Merda, isso é tão estranho! Mal nos conhecemos e sinto uma intensidade louca, quero demais sentir esses lábios sobre os meus.— Se você quiser, eu quero também. — acho que consegui não soar eufórica.Ele dá um meio sorriso sexy o suficiente para me deixar molhada, posso sentir minha coxa um pouco úmida já que não tem pano nenhum pra cobrir.Engasgo quando Tyger se aproxima mais de mim olhando bem dentro dos meus olhos, seu olhar exótico, o corpo grande que poderia facilmente ganhar um concurso de físico turismo mesmo eu ainda
Emily GordonEu só queria sumir daqui. A vergonha que sinto de mim mesma não tem explicação. Me odeio. Só faço merda. Talvez seja por isso que nada da certo para mim, a única e exclusiva culpada sou eu. Obviamente todas as minhas ações foram idiotas como essa e é por isso que a vida vem querendo me ferrar a qualquer custo.Precisava se jogar para cima do Nova Espécie, Emily?A rejeição dói não importa a quanto tempo você conhece uma pessoa. Sou prova disso depois de ter sido rejeitada tantas vezes na minha vida, tenho um histórico de mãe, pai, amigos, namorado e, até em vagas de emprego.Me sento no sofá sentindo a garganta doer por estar tentando segurar as lágrimas, pareço estar mais sensível que o normal, no entanto tudo que está acontecendo é for
TygerQuase vinte minutos depois, o corpo de Emily relaxa me assegurando que dormiu, meu abraço se intensifica um pouco mais em seu pequeno corpo, cheiro seu cabelo e o seu aroma frutado é meu preferido agora. Ela se encaixa tão perfeitamente em meus braços, quero ficar com ela aqui, para mim.Mas não posso e não irei fazer isso. Amo minha liberdade e me apegar a uma fêmea me faria possessivo além de me deixar vulnerável, viveria apenas para protegê-la de todo o mundo. Emily se tornaria meu ponto fraco, meu vício e se algo acontecesse com ela me tornaria um louco.Acompanhei em primeira mão tudo que aconteceu com os machos que tomaram companheiras humanas e se acasalaram, não foi nada fácil para eles ficarem juntos, sofreram demais e sofrimento não é o que desejo para Emily ou para mim.Sem contar que a cada dia que passa
Emily GordonAcabo de sair do chuveiro quando ouço no andar debaixo o barulho da porta se fechando. Meu coração acelera por saber que Tyger chegou, agora deve ser por volta das cinco. Passei o dia inteiro pensando nele. Fiz algumas coisas na casa para passar tempo e só não preparei o jantar por não saber exatamente o que ele gosta de comer. Eu simplesmente nunca poderei agradecer a ele por estar sendo tão bom.É estranho que eu esteja na casa de um homem que conheço há um dia apenas, mas ele não é como os outros, já me provou isso de muitas maneiras e também é muito melhor estar com alguém tão bom que cuidou de mim quando mais precisei do que em um hotel barato gastando o pouco de dinheiro que tenho.Lavei minha roupa do dia anterior e ela secou, vesti e deixei os cabelos soltos molhados sobre meus ombros. Desço
TygerDe cima da guarita observo a movimentação, estranhamente parece tudo calmo, mas nada é tão fácil para nós. Tem uma van de jornalistas um pouco distante dos poucos manifestantes que restaram perto dos portões, um movimento atrás dela chama minha atenção.— Fiquem atentos a van a dois metros, movimento suspeito na traseira. Pode ser um possível ataque surpresa. — falo no rádio enviando a mensagem para todos os machos que estão fazendo a segurança.— Todos em posição Tyger. — Book responde.Olho atento vendo o dia clarear, ninguém está autorizado a entrar ou a sair pelos portões. Estou furioso e com raiva, humanos filhos da puta! Nós só queremos paz, são eles quem vem infernizar nossas vidas nos portões. Até vivemos reclusos do mundo l&aa
Emily GordonOlho para Creek e mais algumas mulheres espécies que conversam tranquilamente em sofás na sala de televisão, todas foram muito amigáveis comigo e estou contente que não me ignoraram por segundo eles, ser humana.— Então você está vivendo com Tyger, hein? — uma delas diz sorrindo.Meu rosto esquenta.— Sim. — respondo timidamente.— Você gosta dele? — a voz de Timber, o macho que foi atribuído para ficar aqui dando suporte fala.Nos últimos minutos ele esteve conversando comigo sobre como tinha interesse em acasalar uma fêmea, mas as espécies não queriam se prender a ninguém, então ele tinha interesse em humanas.— Sou grata por tudo que ele fez por mim. — espero que eles não vejam que estou me apaixonando, já que sentem tudo.