Emily Gordon
Seguro firme minha única mala contendo apenas um terço das minhas coisas dentro e luto contra as lágrimas que querem me cegar.
Eu não vou chorar... Chega de chorar, Emily! Seja mulher!
Respiro fundo e continuo caminhando sem rumo pelas ruas da minha cidade procurando um lugar barato para passar a noite, a anterior consegui passar escondida no jardim de um vizinho.
Por que tantas coisas ruins acontecem comigo?
Finalmente encontro um ponto de ônibus e me sento para descansar um pouco, aproveito para procurar meu celular no bolso afim de verificar que horas são, mas lembro-me de que precisei vendê-lo para ter algum dinheiro nas mãos depois de ter sido despejada da casa onde morava, por não ter conseguido pagar o aluguel do mês passado. Até aí tudo bem, se o dono da casa não fosse o meu pai.
Ele simplesmente ficou chateado por eu tê-lo descoberto traindo a esposa - minha madrasta - e ter contado tudo para ela. Se tem uma coisa que eu odeio mais do que estar no meio da rua sozinha, no frio, sem ter para onde ir no meio da noite, são pessoas traiçoeiras fingindo ser algo que não são.
Encosto minha cabeça na barra de ferro que segura o teto do ponto de ônibus na tentativa de conter as lágrimas que parecem querer me sufocar. O meu próprio pai! O meu sangue! Como ele teve coragem de me expulsar de casa sem me deixar levar nada mais que uma mala? Ele sabia que eu não tinha para onde ir, que vagaria sem destino, que não tinha ninguém com quem contar.
Talvez ele pensou que eu pudesse contar com Adam, meu namorado até hoje de manhã, mas o idiota me mandou procurar um hotel barato para ficar. Eu só me lembro de ter mandado ele ir para o inferno e na saída ter esbarrado com uma mulher bonita na porta, ali a minha ficha caiu que eu estava sendo traída com apenas um maldito mês de namoro!
Tudo seria mais fácil se eu apenas pudesse alugar outra casa, mas desempregada não faz dívidas. Meu chefe me demitiu depois de eu ter saído em defesa dos Novas Espécies quando ele estava falando coisas horríveis sobre eles. Nunca foram e nunca serão culpados de terem sido multados com DNA animal contra suas vontades e para ser sincera não me arrependo nenhum pouco de tê-lo mandado ir a merda.
Eu simplesmente odeio os homens, são todos uns mentirosos e grandes idiotas ignorantes!
Eu nunca soube o que era amar ou ser amada, nunca consegui que alguém se importasse de verdade comigo até eu completar dez anos de idade e ser acolhida por uma mulher incrível que me mostrou que eu era importante, antes disso eu vivia de porta em porta sendo rejeitada e como tudo na vida tem que ser mais difícil para mim, a mulher que passei chamar de mãe faleceu há algumas semanas, meu peito dói ao lembrar.
Uma lágrima conseguiu escapar mas limpei rapidamente. Levanto-me e volto a caminhar, preciso chegar ao hotel que uma pessoa na cidade me indicou, disse que era o mais barato e no momento tudo que não custe muito dinheiro é o que eu preciso.
Depois de andar quase uma hora inteira, um movimento de canto de olho chama minha atenção, o local que eu estou é remoto, cheio de árvores ao redor e com uma densa floresta dos dois lados da estrada. Meu coração acelera com medo tomando conta de mim, o que quer que for no meio do mato a essa hora, não pode ser algo bom, assim meus instintos dizem.
Afasto-me um pouco da minha mala, se for preciso correr eu não vou conseguir ir muito longe com peso nas mãos. Minha vida vale muito mais do que alguns pertences e peças de roupas. Olho freneticamente ao redor buscando mais movimentos que indicam que eu serei atacada por algo ou alguém.
Um rosnado soa na mata atrás de mim, instintivamente vou para frente com o coração martelando o peito, está escuro, tem apenas um poste iluminando e para dizer a verdade não está ajudando muito. Galhos na floresta começam a se quebrar, quem estiver andando por eles é bem pesado para fazer um barulho tão específico.
Olho para minha mala, hesito se tento levá-la ou não quando eu começar a correr. Ouço um grunhido vindo de onde o mato se moveu, um arrepio percorre minha espinha, é feroz e selvagem. Dane-se a mala! Corro na direção contrária ao barulho.
A coisa que fez o barulho também começa a correr, eu soube disto quando os galhos começaram a quebrar na medida que eu corria, algo está me perseguindo. Evito a todo custo virar a cabeça para olhar do que eu estou fugindo, estou apavorada.
Ouço um rosnado alto, mas desta vez vem do lado contrário ao que alguém me persegue. Quero gritar por socorro mas duvido que exista alguma casa nessas redondezas e também o medo de atrair ainda mais o predador para mim é maior.
Minhas pernas já estão se cansando, estou correndo o mais rápido que consigo prestes a desmoronar e em nenhum momento eu parei de ouvir os galhos quebrando dentro do mato. A rua está cada vez mais escura com a pouquíssima iluminação, solto um gemido de dor quando uma pedra no caminho me faz tropeçar e cair com tudo no chão.
Logo de início uma ardência no meu joelho e cotovelos é sentida, minha mente fica zonza por alguns segundos antes que eu reúna minhas forças para me levantar e voltar a correr, não deu tempo. Quando olho para cima vejo um animal de quatro patas que me lembra um tigre mas sua aparência vai além de aterrorizante.
Suas presas enormes a mostra, os olhos de uma cor azul tão intensa que nunca vi igual, e expressão raivosa de quem está pronto para me devorar.
O pânico me atinge forte. Eu vou morrer. Havia perdido minha mãe há algumas semanas, meu pai me colocou para fora de casa, e agora eu iria morrer despedaçada por um animal selvagem no meio de uma estrada escura. Ninguém procuraria por mim, ninguém sentiria minha falta... Eu simplesmente desapareceria no estômago de um animal para sempre.
O animal rosna se aproximando mais e mais de mim até que suas pressas estejam a pouquíssimos centímetros das minhas pernas, fecho os olhos paralisada pelo medo e pavor, parece que minha alma saiu do corpo, lágrimas quentes deslizam pelas minhas bochechas e só me resta esperar pela primeira mordida que rasgará minha pele.
Um segundo depois outro rosnado assustador ressoa bem perto de onde eu estou, obrigo-me a abrir meus olhos quando percebo que não vem do felino que quer me engolir. Agora pronto, vou ser dividida ao meio. Vejo quando o animal recua para longe de mim.
Me assusto quando meu corpo é levantado do chão abruptamente.
- Fique calma, peguei você. Pode confiar em mim. - uma distinta voz grossa muito masculina diz.
Minha mente gira em pura confusão, eu estou nos braços de um homem, muito grande e forte que corre agora comigo para dentro da floresta. Meus olhos se enchem de lágrimas molhando o peito do homem no qual minha cabeça está espremida, o choque de saber que eu estava prestes a morrer é demais para meu coração e não consigo mais segurar a crise de choro.
Não sei quem estava me levando para o meio do mato ou o que fará comigo depois, ele pode ser alguém ruim, mas alguém ruim não me salvaria de ser morta por um tigre gigante. Não importa quem é, ele salvou minha vida e eu estou grata por isso.
O homem corre comigo por alguns minutos até que para, olho adiante e estamos em frente a uma casa de madeira de dois andares, lembra um chalé e uma cabana, mas é uma casa, talvez uma junção dos três gostos.
- Irei deixá-la aqui, não se preocupe, não irei te fazer mal. - ele me solta e puxa minha mão trêmula entrando comigo pela porta.
Sua respiração estava normal quando me soltou gentilmente antes de entrarmos, nem parece que acabou de correr comigo em seus braços por quase cinco minutos. Só então eu percebo como ele correu em uma velocidade fora do comum para um homem normal. Mal tenho tempo de piscar ou olhar para ele, um segundo após deixar-me em segurança ele saí e tranca a porta por fora.
Corro para a janela e olho com estranha fascinação e espanto o quão rápido ele sumiu por dentre as árvores novamente. Minha mente começa a funcionar instantes depois... É isso! Tudo indica que ele é... Ah meu Deus! Ele só pode ser um Nova Espécie!
TYGER— Parado! — solto um rugido alto agarrando o último tigre pelo estômago.— Tyger! Tem mais um que fugiu da captura de Stone. Precisa pegá-lo, você é mais rápido e com olfato e audição mais aguçados. Ele está quase chegando a estrada, pode estar passando alguém por lá. — Blade grita a distância enquanto segura outro animal.— Porra! — viro-me a ponto de conseguir olhar bem dentro dos olhos do tigre feroz — Volte! Agora! — ordeno e o animal corre quando o solto.Apresso-me dentre as árvores grunhindo alto para já chamar a atenção dele, de que estou indo pegá-lo. Chego a margem da estrada, olho em volta, cheiro o ar e descubro a direção que ele está. Aproximo-mecorrendo dentro do mato para atravessar a estrada e alcançá-lo, qua
TYGERPara minha surpresa, ela não grita, a fêmea pisca várias vezes e o olhar começa a viajar sobre meus ombros e braços durante vários segundos, suas bochechas ficam coradas na medida que me encara parecendo disposta a fazer isso eternamente. Seu olhar então fixa-se em meu rosto estudando cada centímetro, parece... Chocada.— Você é... — começa a dizer mas a interrompo.— Um Nova Espécie, sim. — meu tom sai mais ríspido do que eu queria.— Eu sei, mas... Nunca vi um de vocês pessoalmente.— Bem, está vendo agora.— Sim e... Você é lindo... Fascinante.Engulo em seco meio desconcertado. A última coisa que eu esperava era essa fêmea humana me achando fascinante e lindo. Será que está zombando de mim? Não sinto que est&aac
Emily GordonOuço o som da porta bater quando ele sai, a sensação esquisita de vazio que fica faz-me abraçar meu corpo e correr para o sofá. Minha ficha ainda está caindo... Merda, eu estou na casa de um Nova Espécie que me salvou de ser engolida por um tigre medonho.Jurei nunca mais confiar em um homem e odiar todos eles, são traidores, mentirosos e pervertidos mas estranhamente me sinto segura aqui, como se tivesse certeza que posso confiar. Estou assustada, confesso. Não deveria confiar nele, deveria desconfiar até dos seus fios de cabelo, homens sempre escondem as verdadeiras intenções atrás de boas ações.Ele não é um homem! É um macho.Minha mente faz questão de me lembrar dele falando isso para mim.Bom, isso torna as coisas bem diferentes e ele foi tão amável com
Emily Gordon— Quer ou não, Emily? — seu tom não é duro, sua voz está rouca quase animalesca.Respiro fundo controlando minha vontade de quase implorar dizendo sim imediatamente. Ele não pode perceber que estou tão desesperada para beijá-lo. Merda, isso é tão estranho! Mal nos conhecemos e sinto uma intensidade louca, quero demais sentir esses lábios sobre os meus.— Se você quiser, eu quero também. — acho que consegui não soar eufórica.Ele dá um meio sorriso sexy o suficiente para me deixar molhada, posso sentir minha coxa um pouco úmida já que não tem pano nenhum pra cobrir.Engasgo quando Tyger se aproxima mais de mim olhando bem dentro dos meus olhos, seu olhar exótico, o corpo grande que poderia facilmente ganhar um concurso de físico turismo mesmo eu ainda
Emily GordonEu só queria sumir daqui. A vergonha que sinto de mim mesma não tem explicação. Me odeio. Só faço merda. Talvez seja por isso que nada da certo para mim, a única e exclusiva culpada sou eu. Obviamente todas as minhas ações foram idiotas como essa e é por isso que a vida vem querendo me ferrar a qualquer custo.Precisava se jogar para cima do Nova Espécie, Emily?A rejeição dói não importa a quanto tempo você conhece uma pessoa. Sou prova disso depois de ter sido rejeitada tantas vezes na minha vida, tenho um histórico de mãe, pai, amigos, namorado e, até em vagas de emprego.Me sento no sofá sentindo a garganta doer por estar tentando segurar as lágrimas, pareço estar mais sensível que o normal, no entanto tudo que está acontecendo é for
TygerQuase vinte minutos depois, o corpo de Emily relaxa me assegurando que dormiu, meu abraço se intensifica um pouco mais em seu pequeno corpo, cheiro seu cabelo e o seu aroma frutado é meu preferido agora. Ela se encaixa tão perfeitamente em meus braços, quero ficar com ela aqui, para mim.Mas não posso e não irei fazer isso. Amo minha liberdade e me apegar a uma fêmea me faria possessivo além de me deixar vulnerável, viveria apenas para protegê-la de todo o mundo. Emily se tornaria meu ponto fraco, meu vício e se algo acontecesse com ela me tornaria um louco.Acompanhei em primeira mão tudo que aconteceu com os machos que tomaram companheiras humanas e se acasalaram, não foi nada fácil para eles ficarem juntos, sofreram demais e sofrimento não é o que desejo para Emily ou para mim.Sem contar que a cada dia que passa
Emily GordonAcabo de sair do chuveiro quando ouço no andar debaixo o barulho da porta se fechando. Meu coração acelera por saber que Tyger chegou, agora deve ser por volta das cinco. Passei o dia inteiro pensando nele. Fiz algumas coisas na casa para passar tempo e só não preparei o jantar por não saber exatamente o que ele gosta de comer. Eu simplesmente nunca poderei agradecer a ele por estar sendo tão bom.É estranho que eu esteja na casa de um homem que conheço há um dia apenas, mas ele não é como os outros, já me provou isso de muitas maneiras e também é muito melhor estar com alguém tão bom que cuidou de mim quando mais precisei do que em um hotel barato gastando o pouco de dinheiro que tenho.Lavei minha roupa do dia anterior e ela secou, vesti e deixei os cabelos soltos molhados sobre meus ombros. Desço
TygerDe cima da guarita observo a movimentação, estranhamente parece tudo calmo, mas nada é tão fácil para nós. Tem uma van de jornalistas um pouco distante dos poucos manifestantes que restaram perto dos portões, um movimento atrás dela chama minha atenção.— Fiquem atentos a van a dois metros, movimento suspeito na traseira. Pode ser um possível ataque surpresa. — falo no rádio enviando a mensagem para todos os machos que estão fazendo a segurança.— Todos em posição Tyger. — Book responde.Olho atento vendo o dia clarear, ninguém está autorizado a entrar ou a sair pelos portões. Estou furioso e com raiva, humanos filhos da puta! Nós só queremos paz, são eles quem vem infernizar nossas vidas nos portões. Até vivemos reclusos do mundo l&aa