Rio de Janeiro
Setembro de 2010.
O sol raiou por entre algumas nuvens enquanto o vidro da janela embaçava com o hálito quente das respirações aceleradas. Ricardo estava exausto, aquele era o quinto dia em que entrava na UTI neonatal para saber o estado de saúde dos netos, mas não conteve a dor que cresceu no peito, por entre soluços e choro, ele lamentou-se pelo sopro de uma vida que se foi.
Olhou mais uma vez para aquele ser tão pequeno e frágil na incubadora e desviou o olhar para a mulher alta e de cabelos grisalhos que adentrou o ambiente frio e impessoal.
― Precisamos contar ao Alexander! ― falou a voz pesarosa ao fixar os olhos em Sophie.
Ricardo tirou um lenço de linho azul do bolso e enxugou as lágrimas que teimavam rolar pelo rosto marcado por algumas rugas.
― Non! ― Sophie se manteve firme.
Ela ajeitou o terninho preto e caminhou em direção ao filho enquanto os enfermeiros abriam a incubadora.
― Você sabe como o Alexander é fraco, se contarmos o que aconteceu, ele vai largar tudo e voltar para o Brasil.
Ricardo fitou o corpo franzino de Rodolpho que não se movia e mirou no bebê franzino que não parava de se mover na outra incubadora, embora estivesse abaixo do peso, Alex lutava pela vida.
― Como a Nicole é desajeitada! Se ela tivesse mais cuidado ― reclamou em voz baixa enquanto tiravam um dos bebês da incubadora ― isso não teria acontecido ao meu neto.
Ricardo apontou para a equipe de enfermeiros que retirava o nenê da UTI neonatal.
― Vai para casa descansar, meu filho! ― Sophie tocou o ombro largo de Ricardo. ― Deixe que eu cuido de tudo.
Sophie acariciou o rosto do filho e o abraçou. A fisionomia impassível encarava o outro bebê que mexia as pernas na incubadora no meio do quarto com paredes em tons terrosos.
― Vou ver a Nicole. Ela está reagindo bem à cirurgia e eu quero observar de perto a recuperação dela. ― Ricardo se afastou da mãe. ― Logo eu vou suspender a sedação.
Uma mulher esguia entrou no quarto e os cumprimentou, a secretária de Sophie entregou uma folha e, logo em seguida, saiu do quarto.
― Vá descansar! ― Sophie o acompanhou até a porta. ― Eu vou visitar a Nicky e verificar o prontuário dela.
Logo que Ricardo se despediu, Sophie seguiu a passos largos até a equipe médica que solicitava a sua presença.
― O que está acontecendo? ― indagou Sophie com certa hostilidade ao notar que o bebê se mexia.
― Doutora Bittencourt! ― O pediatra esbelto e de pele morena cumprimentou. ― Os enfermeiros me chamaram assim que verificaram o pulso. Esse nenê está vivo, mas ainda inspira cuidados.
― Coloquem ele em outra sala da UTI neonatal e não conte a ninguém da minha família. ― Sophie mirou o bebê.
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Este livro é uma obra de ficção. Todos os personagens, os lugares e acontecimentos descritos nesta obra foram criados pela mente da autora. Toda e qualquer semelhança com nomes, datas ou acontecimentos é apenas uma mera coincidência.
Revisão: Heloísa Braga, Mestra em Língua Portuguesa e em Literatura Brasileira.
Todos os direitos reservados, nenhuma parte deste livro poderá ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem a autorização da escritora.
Só Teu! Volume 2 da trilogia Doce Desejo.
ISBN: 978-65-00-25666-6
Trilogia Doce Desejo:
Só Minha! Volume 1Só Teu! Volume 2
Meu Homem! Volume 3
Rio de Janeiro, Brasil. Setembro de 2015 Por alguns dias, Alexander correu por quilômetros na areia da praia. Nadou no mar e chorou. Depois de sete dias lutando contra as armadilhas da mente, ele passou mais tempo se exercitando na musculação e trabalhou mais do que nunca. Contudo, o sentimento devastador prevaleceu. Em uma tarde chuvosa, ele ajeitou a haste prateada dos óculos, podia ouvir as batidas suaves da chuva fina contra o vidro enquanto lia a carta do pedido de demissão de Nicole. Ele tirou o telefone do gancho e ligou para um número que não existia mais. Bateu o telefone com força e olhou para a porta com uma fisionomia inescrutável. ― Entre! ― Com licença! ― O que você quer, Isabella? ― Bom dia para você também, Alexander! ― Isabella jogou as longas madeixas cor de fogo para trás. ― Eu só quero saber como você está e oferecer meu apoio, caso você precise de alguém para conversar. Desde o jantar que eu não vejo você. ― Não pense que eu sou tão ingênuo para confiar
Rio de Janeiro, Brasil. Setembro de 2015 Por alguns dias, Alexander correu por quilômetros na areia da praia. Nadou no mar e chorou. Depois de sete d O sol mergulhava no horizonte e terminava mais um longo dia no entardecer primaveril. Nicole arrumou o quarto do apartamento de Lana na zona sul do Rio de Janeiro, fechou a persiana em tom bege e acariciou a barriga que começava a tomar forma no tecido leve do vestido verde florido. Fazia alguns dias que Nicole não via Alexander e, por mais que fosse difícil recomeçar a vida em um lugar completamente diferente, ela enfrentava um dia de cada vez. Nicole estava consciente que demoraria algum tempo até ter um sentimento mais positivo em relação a mais uma separação. ― Mamãe, cheguei! Alex entrou no quarto com os cabelos molhados e com um pouco de areia. ― O tio David me ensinou a surfar. ― Um sorriso cruzou o rosto meigo e infantil. ― Foi o melhor aniversário da minha vida! ― Ele mandou bem! David sorriu ao aparecer na porta com ber
O sol mergulhava no horizonte e terminava mais um longo dia no entardecer primaveril. Nicole arrumou o quarto do apartamento de Lana na zona sul do Rio de Janeiro, fechou a persiana em tom bege e acariciou a barriga que começava a tomar forma no tecido leve do vestido verde florido. Fazia alguns dias que Nicole não via Alexander e, por mais que fosse difícil recomeçar a vida em um lugar completamente diferente, ela enfrentava um dia de cada vez. Nicole estava consciente que demoraria algum tempo até ter um sentimento mais positivo em relação a mais uma separação. ― Mamãe, cheguei! Alex entrou no quarto com os cabelos molhados e com um pouco de areia. ― O tio David me ensinou a surfar. ― Um sorriso cruzou o rosto meigo e infantil. ― Foi o melhor aniversário da minha vida! ― Ele mandou bem! David sorriu ao aparecer na porta com bermudão azul florido e uma camiseta preta. ― Acredito que logo você terá um campeão surfista em casa. ― Que legal! Nicole mexeu nos fios de cabelos de A
Alexander pousou a mão entre o pescoço e o ombro depois de se levantar, tirou os óculos e respirou fundo. Por mais que se sentisse frustrado com a situação, não pretendia descarregar a fúria em cima da mãe de seus filhos. ― Eu queria poupar você. ― O tom de voz suavizou enquanto ele explicava. ― Escondi todas aquelas coisas para te proteger. ― Proteger? ― indagou Nicole ao erguer os olhos amendoados. ― Alexander, você mentiu para mim! ― Eu omiti! ― Escorregou os dedos esguios pelo cabelo. ― Os segredos e as omissões sempre machucam alguém ― murmurou Nicole. ― Eu confiei em você. Estou decepcionada! ― Não era a minha intenção! Ele sentou próximo a Nicole, segurou a mão direita, por alguns segundos não houve nenhum som. ― Eu só queria cuidar de você. ― Sentiu a energia do calor da mão atravessar os ossos. ― Tudo o que fiz foi para te proteger, tente me compreender! ― O que você quer que eu entenda? ― Puxou a mão. ― Eu compreendi o seu antigo relacionamento com a Josephiné e a fi
O rosto másculo tinha uma feição estranha ao vasculhar os olhos de Nicole. ― Sim, você é minha! Ainda somos casados. ― Meu advogado entrará em contato para assinarmos os papéis do divórcio. Eu não quero nenhum centavo do seu bolso ou da sua família. Logo eu vou para a minha casa e você poderá visitar os nossos filhos. ― Nicky, você não vai levar os meus filhos para aquela casa caindo aos pedaços. ― Alexander se aprumou ao falar um pouco mais alto. ― Nós vamos para a nossa casa. ― Eu não vou, Alexander! ― Ergueu o queixo. ― Muito bem! Eu vou tomar as providências cabíveis para reaver a guarda dos meus filhos. ― Pegou o copo e terminou de beber o suco. ― Eu sou tutor do Alex. Já que você se recusou a receber a herança dele, fui incumbido legalmente de cuidar dos bens do meu filho. As lágrimas nos olhos amendoados cortavam-lhe o coração, entretanto, Alexander não viu outra alternativa a não ser contra-atacar. Não queria ficar mais um minuto longe da família. ― Você está sem trabalh
No dia seguinte, Nicole ajeitou as ondas que se formavam nas pontas dos cabelos, avaliou o look no espelho, ajeitou a blusa sem manga, mais solta, na cor verde, combinando com a calça social preta e seguiu para a mesa do café da manhã. Jenny sentou-se à mesa, tomou uma aspirina e o café expresso que Lana serviu. Nicole beijou o filho na testa e estudou o rosto da amiga que levava a mão ao topo da cabeça. ― Que dia lindo! ― falou um pouco mais alto. ― Não é mesmo? ― Não precisa gritar! ― Jenny apertou os olhos. ― Dormiu bem no sofá? ― Nicky, vai ver se eu estou na esquina. Lana se aproximou e colocou o prato com dois ovos estrelados e alguns pedaços de bacon sem dirigir a palavra a Jenny. Saiu de perto e voltou para a cozinha ― Ela ainda está zangada. ― Jenny falou baixo. ― A culpa é sua! ― Os lábios delineados pelo batom nude exibiram um belo sorriso. ― Agora você vai pensar duas vezes antes de contar alguma coisa para o Alexander! ― Nicole zombou. ― Você não sabe como aquele
O carro prata se aproximava da passarela três da Avenida Brasil, Alexander fez uma curva e estacionou logo que achou uma vaga. Ficou ali parado no automóvel e refletiu sobre o que estava prestes a fazer. Respirou fundo e saiu do carro. Durante o tempo em que caminhou até o local combinado, ele parou em uma floricultura e pediu que a atendente montasse um buquê de girassóis. Satisfeito, pegou o ramalhete e seguiu até o local marcado sem pegar o troco. De longe, ele contemplou o vestido preto na altura do joelho que valorizava as curvas generosas. Os cabelos voavam a favor da suave brisa que batia contra o rosto, os óculos espelhados escondiam os olhos marejados. Uma mulher de estatura mediana o esperava em frente a um enorme portão de grades com uma enorme placa com a descrição "Memorial da Saudade". — Você está bem? — Os dedos esguios acariciavam o rosto dela e enxugou uma lágrima que rolou na pele macia. — Desculpa por fazer você passar por isso. — Comprimiu os lábios. — Você
As cores delicadas nos tons de verdes traziam uma sensação de tranquilidade e aconchego no ambiente com móveis de madeira no consultório de ginecologia e obstetrícia. Jenny olhou para uma das paredes no canto onde a luz ampliava a sensação de segurança e valorizava a decoração.Ela ajeitou um dos quadros com aquarela em cores quentes de algumas borboletas que voavam em volta de uma gestante e se afastou para avaliar. As batidas na porta tiraram sua concentração.― Entre! ― Ajeitou o jaleco branco.― Com licença! ― Franziu o cenho ao mirar os olhos de Jenny. ― Precisamos conversar.O homem com a postura intimidadora se empertigou ao atravessar a porta.― Tenho alguns minutos antes da Nicky chegar para consulta.A obstetra seguiu até o outro lado e acomodou-se em uma cadeira confortável de madeira com couro sintético bege.― Sente-se! ― Jenny indicou a cadeira com a mão direita.Alexander tirou o bilhete do bolso, abriu os dois botões do blazer azul-escuro e sentou-se. A feição se mantev