Pelo silêncio do esposo, Nicole sabia que ele pensava em alguma coisa, os dedos dele brincavam em seus cabelos. Passaram mais alguns minutos nos braços um do outro enquanto ouviam apenas os ruídos de suas respirações.
― Está preocupado?
Ela ergueu a cabeça e fitou os olhos claros.
― Um pouco! ― Apertou-a por entre os braços e a beijou. ― Esse lance com a Isabella foi longe demais.
― Foi ela que começou! ― Saiu do colo dele e se acomodou no banco traseiro do carro. ― Estou aturando esse comportamento dela há meses.
― Nicky, vem cá! ― Trouxe-a para mais perto. ― Eu não estou culpando você! Fiquei preocupado com a nossa filha. ― Suspirou pesado. ― E se ela reagisse? ― Olhou a testa franzida de Nicole. ― Eu
Como o trânsito estava tranquilo, não demorou muito para que o automóvel chegasse em casa. Fez uma curva e atravessou o portão automático branco logo que abriu. Virou a chave e o motor parou assim que estacionou o carro. Nicole ficou quieta durante toda a viagem, aquele silêncio causava certa angústia em Alexander. Odiava quando ela não o respondia ou não reclamava de alguma coisa, tinha consciência que, quando uma mulher deixava de se importar, poderia ser o fim. Ele seguiu para o outro lado, abriu a porta e tirou o cinto de segurança que prendia Nicole. O coração se compadecia ao vê-la daquela forma. Ajudou-a a descer do carro e juntos seguiram as escadas e foram direto para o quarto. Após o banho, ele escolheu uma das blusas largas nas gavetas do guarda-roupa e vestiu-a com cuidado. Puxou a colcha da cama e de
No escritório, Alexander caminhava de um lado para o outro, discutia com Isabella ao telefone. Embora ela estivesse arrependida, não tinha como retroceder. ― Isabella, eu digitei uma carta de recomendação. Alexander seguiu até a janela e abriu a persiana vertical branca, avistou os filhos que correram pelo gramado bem aparado e subiram até a casa da árvore. Olhou para o lado oposto, onde Nicole plantava algumas roseiras no pequeno jardim. ― Não adianta pedir desculpas ao Henry ou à Nicole ― falou a voz fria. ― Assine a sua demissão e mantenha distância da minha família. Os dedos longos afastaram as palhetas da persiana. Fitou quando a esposa se ajoelhou na terra. Nicole dividiu a planta pelos canteiros e ajeitou as poucas margaridas que floresciam.
Faltavam duas semanas para o parto, Nicole organizou os últimos detalhes na decoração do quarto de Jullie. O branco dava amplitude e o tom rosa bem claro no mosquiteiro e no protetor de berço traziam vivacidade ao quarto infantil. Ela colocou o urso de pelúcia amarelo na poltrona de amamentação e ajeitou a almofada. ― Tudo pronto para você, filha! ― falou ao olhar para a barriga. ― Se bem que ainda tenho que comprar mais fraldas e uma roupa para a sua saída do hospital. Nicole ajeitou a almofada no berço e recuou ao ver Joanna parada na porta. ― Que susto, tia! ― Encostou a mão no peito. ― Não sabia que estava aí. Joanna entrou no quarto em passos lentos. Fez um muxoxo enquanto observava o espaço amplo. ― O que achou, ti
Apesar do trânsito, Alexander chegou logo ao hospital. Enquanto o elevador subia até o andar da maternidade, ele fechou os olhos e começou a pensar em tudo o que aconteceu nos últimos meses. Se culpava por deixar Nicole sozinha com aquela mulher. Levantou os óculos e enxugou a lágrima no canto do olho com a palma da mão. A porta do elevador abriu no segundo andar, o rosto quadrado franziu logo que o doutor Kim entrou. ― Você está bem? ― Os olhos pequenos de David avaliaram Alexander. ― Eu pareço estar bem? ― Tencionou o canto da boca. ― Não! É que... ― Então, não faça perguntas idiotas! ― A voz grossa interrompeu. Ambos saíram no andar da maternidade e caminharam às pressas pelos corredores em tons terro
No inverno de 2017 fazia um ano e meio que a família residia na nova casa. A luz do luar inundava o quarto da bebê. Nicole levantou da poltrona de amamentação e caminhou até a cômoda com trocador branco. ― Fofinha, por que você não dorme? Nicole deu um sorriso aberto enquanto colocava a fralda da filha, que completou 14 meses de vida. Os olhos pequenos olhavam para mãe, Jullie exibiu os quatro dentinhos de leite e balançou o mordedor rosa em formato de unicórnio. ― Você gosta de dormir no colo do seu pai, não é? ― Colocou a calça rosa, as meias e, em seguida, o casaquinho. ― Seu pai foi colocar os seus irmãos para dormir. ― Onde está o amorzinho do papai? Alexander abriu a porta e seguiu até o berço próxim
Logo que vestiu o agasalho de ursinho panda na filha, Alexander ajeitou o capuz com orelhinhas pretas e sentou no carpete rosa. Colocou Jullie no chão e achou graça ao vê-la caminhar de forma desajeitada ao redor do quarto. A pequena menina tropeçou no tapete e desequilibrou, as mãos firmes do pai a agarraram antes que ela caísse. ― Você parece a sua mãe. ― O sorriso cortava o rosto em dois. ― Ela vive caindo quando eu estou por perto. ― Papa! ― Jullie apontou para o urso no nicho pintado de rosa na parede próxima à janela. ― Vem cá, eu vou pegar seu amiguinho. Alexander segurou a filha no colo e com a outra mão pegou o ursinho Pooh, de Jullie. Olhou para o relógio de aço no pulso direito, eram quase dez horas da manhã. Estava atrasado para se
Alguns meses se passaram, o amor que sentia pelos filhos possibilitou que Nicole enfrentasse cada dia com a cabeça erguida. Procurou ocupar a mente no trabalho e tentou ser forte todas as vezes que pensou em desistir. Nicole arrumava os documentos sobre a mesa e encerrava mais uma reunião exaustiva. Embora estivesse habituada e agisse com naturalidade na empresa, que outrora era administrada pela família Bittencourt, a jovem de boa aparência não se deixava intimidar. Aprendeu muita coisa durante o pouco tempo em que administrou a empresa ao lado de Alexander e de seu pai. Nicole deu algumas instruções à gerente administrativa e liberou a verba necessária para compra dos novos respiradores e equipamentos para o projeto social "Médicos do Bem". ― Isso é tudo? ― Nicole fechou a pasta após assinar alguns documentos e
Rio de Janeiro Setembro de 2010. O sol raiou por entre algumas nuvens enquanto o vidro da janela embaçava com o hálito quente das respirações aceleradas. Ricardo estava exausto, aquele era o quinto dia em que entrava na UTI neonatal para saber o estado de saúde dos netos, mas não conteve a dor que cresceu no peito, por entre soluços e choro, ele lamentou-se pelo sopro de uma vida que se foi. Olhou mais uma vez para aquele ser tão pequeno e frágil na incubadora e desviou o olhar para a mulher alta e de cabelos grisalhos que adentrou o ambiente frio e impessoal. ― Precisamos contar ao Alexander! ― falou a voz pesarosa ao fixar os olhos em Sophie. Ricardo tirou um lenço de linho azul do bolso e enxugou as lágrimas que teimavam rolar pelo rosto marcado por algumas rugas. ― Non! ― Sophie se manteve firme. Ela ajeitou o terninho preto e caminhou em direção ao filho enquanto os enfermeiros abriam a incubadora. ― Você sabe como o Alexander é fraco, se contarmos o que aconteceu, ele v