Como o trânsito estava tranquilo, não demorou muito para que o automóvel chegasse em casa. Fez uma curva e atravessou o portão automático branco logo que abriu. Virou a chave e o motor parou assim que estacionou o carro.
Nicole ficou quieta durante toda a viagem, aquele silêncio causava certa angústia em Alexander. Odiava quando ela não o respondia ou não reclamava de alguma coisa, tinha consciência que, quando uma mulher deixava de se importar, poderia ser o fim.
Ele seguiu para o outro lado, abriu a porta e tirou o cinto de segurança que prendia Nicole. O coração se compadecia ao vê-la daquela forma. Ajudou-a a descer do carro e juntos seguiram as escadas e foram direto para o quarto.
Após o banho, ele escolheu uma das blusas largas nas gavetas do guarda-roupa e vestiu-a com cuidado. Puxou a colcha da cama e de
No escritório, Alexander caminhava de um lado para o outro, discutia com Isabella ao telefone. Embora ela estivesse arrependida, não tinha como retroceder. ― Isabella, eu digitei uma carta de recomendação. Alexander seguiu até a janela e abriu a persiana vertical branca, avistou os filhos que correram pelo gramado bem aparado e subiram até a casa da árvore. Olhou para o lado oposto, onde Nicole plantava algumas roseiras no pequeno jardim. ― Não adianta pedir desculpas ao Henry ou à Nicole ― falou a voz fria. ― Assine a sua demissão e mantenha distância da minha família. Os dedos longos afastaram as palhetas da persiana. Fitou quando a esposa se ajoelhou na terra. Nicole dividiu a planta pelos canteiros e ajeitou as poucas margaridas que floresciam.
Faltavam duas semanas para o parto, Nicole organizou os últimos detalhes na decoração do quarto de Jullie. O branco dava amplitude e o tom rosa bem claro no mosquiteiro e no protetor de berço traziam vivacidade ao quarto infantil. Ela colocou o urso de pelúcia amarelo na poltrona de amamentação e ajeitou a almofada. ― Tudo pronto para você, filha! ― falou ao olhar para a barriga. ― Se bem que ainda tenho que comprar mais fraldas e uma roupa para a sua saída do hospital. Nicole ajeitou a almofada no berço e recuou ao ver Joanna parada na porta. ― Que susto, tia! ― Encostou a mão no peito. ― Não sabia que estava aí. Joanna entrou no quarto em passos lentos. Fez um muxoxo enquanto observava o espaço amplo. ― O que achou, ti
Apesar do trânsito, Alexander chegou logo ao hospital. Enquanto o elevador subia até o andar da maternidade, ele fechou os olhos e começou a pensar em tudo o que aconteceu nos últimos meses. Se culpava por deixar Nicole sozinha com aquela mulher. Levantou os óculos e enxugou a lágrima no canto do olho com a palma da mão. A porta do elevador abriu no segundo andar, o rosto quadrado franziu logo que o doutor Kim entrou. ― Você está bem? ― Os olhos pequenos de David avaliaram Alexander. ― Eu pareço estar bem? ― Tencionou o canto da boca. ― Não! É que... ― Então, não faça perguntas idiotas! ― A voz grossa interrompeu. Ambos saíram no andar da maternidade e caminharam às pressas pelos corredores em tons terro
No inverno de 2017 fazia um ano e meio que a família residia na nova casa. A luz do luar inundava o quarto da bebê. Nicole levantou da poltrona de amamentação e caminhou até a cômoda com trocador branco. ― Fofinha, por que você não dorme? Nicole deu um sorriso aberto enquanto colocava a fralda da filha, que completou 14 meses de vida. Os olhos pequenos olhavam para mãe, Jullie exibiu os quatro dentinhos de leite e balançou o mordedor rosa em formato de unicórnio. ― Você gosta de dormir no colo do seu pai, não é? ― Colocou a calça rosa, as meias e, em seguida, o casaquinho. ― Seu pai foi colocar os seus irmãos para dormir. ― Onde está o amorzinho do papai? Alexander abriu a porta e seguiu até o berço próxim
Logo que vestiu o agasalho de ursinho panda na filha, Alexander ajeitou o capuz com orelhinhas pretas e sentou no carpete rosa. Colocou Jullie no chão e achou graça ao vê-la caminhar de forma desajeitada ao redor do quarto. A pequena menina tropeçou no tapete e desequilibrou, as mãos firmes do pai a agarraram antes que ela caísse. ― Você parece a sua mãe. ― O sorriso cortava o rosto em dois. ― Ela vive caindo quando eu estou por perto. ― Papa! ― Jullie apontou para o urso no nicho pintado de rosa na parede próxima à janela. ― Vem cá, eu vou pegar seu amiguinho. Alexander segurou a filha no colo e com a outra mão pegou o ursinho Pooh, de Jullie. Olhou para o relógio de aço no pulso direito, eram quase dez horas da manhã. Estava atrasado para se
Alguns meses se passaram, o amor que sentia pelos filhos possibilitou que Nicole enfrentasse cada dia com a cabeça erguida. Procurou ocupar a mente no trabalho e tentou ser forte todas as vezes que pensou em desistir. Nicole arrumava os documentos sobre a mesa e encerrava mais uma reunião exaustiva. Embora estivesse habituada e agisse com naturalidade na empresa, que outrora era administrada pela família Bittencourt, a jovem de boa aparência não se deixava intimidar. Aprendeu muita coisa durante o pouco tempo em que administrou a empresa ao lado de Alexander e de seu pai. Nicole deu algumas instruções à gerente administrativa e liberou a verba necessária para compra dos novos respiradores e equipamentos para o projeto social "Médicos do Bem". ― Isso é tudo? ― Nicole fechou a pasta após assinar alguns documentos e
Rio de Janeiro Setembro de 2010. O sol raiou por entre algumas nuvens enquanto o vidro da janela embaçava com o hálito quente das respirações aceleradas. Ricardo estava exausto, aquele era o quinto dia em que entrava na UTI neonatal para saber o estado de saúde dos netos, mas não conteve a dor que cresceu no peito, por entre soluços e choro, ele lamentou-se pelo sopro de uma vida que se foi. Olhou mais uma vez para aquele ser tão pequeno e frágil na incubadora e desviou o olhar para a mulher alta e de cabelos grisalhos que adentrou o ambiente frio e impessoal. ― Precisamos contar ao Alexander! ― falou a voz pesarosa ao fixar os olhos em Sophie. Ricardo tirou um lenço de linho azul do bolso e enxugou as lágrimas que teimavam rolar pelo rosto marcado por algumas rugas. ― Non! ― Sophie se manteve firme. Ela ajeitou o terninho preto e caminhou em direção ao filho enquanto os enfermeiros abriam a incubadora. ― Você sabe como o Alexander é fraco, se contarmos o que aconteceu, ele v
Rio de Janeiro, Brasil. Setembro de 2015 Por alguns dias, Alexander correu por quilômetros na areia da praia. Nadou no mar e chorou. Depois de sete dias lutando contra as armadilhas da mente, ele passou mais tempo se exercitando na musculação e trabalhou mais do que nunca. Contudo, o sentimento devastador prevaleceu. Em uma tarde chuvosa, ele ajeitou a haste prateada dos óculos, podia ouvir as batidas suaves da chuva fina contra o vidro enquanto lia a carta do pedido de demissão de Nicole. Ele tirou o telefone do gancho e ligou para um número que não existia mais. Bateu o telefone com força e olhou para a porta com uma fisionomia inescrutável. ― Entre! ― Com licença! ― O que você quer, Isabella? ― Bom dia para você também, Alexander! ― Isabella jogou as longas madeixas cor de fogo para trás. ― Eu só quero saber como você está e oferecer meu apoio, caso você precise de alguém para conversar. Desde o jantar que eu não vejo você. ― Não pense que eu sou tão ingênuo para confiar