Rio de Janeiro, Brasil.
Setembro de 2010.
No décimo primeiro andar da unidade de terapia intensiva do hospital São Miguel, uma jovem com aparência debilitada respirava com auxílio de aparelhos. Entre quatro paredes em tons terrosos, a luz halógena pairava sobre o rosto com alguns hematomas e a cabeça enfaixada. Aquela seria mais uma noite como as outras se não fosse por uma inesperada visita.
A silhueta esguia do homem com uma postura sisuda parou próximo à janela do quarto bem arejado. Marcello Bordeaux passou os dedos pelos fios dourados e ajeitou a gola da camisa preta. Olhou na direção dos tubos que auxiliavam na respiração da mulher adormecida e se aproximou da cama.
― Por que você é tão estúpida, Nicky?
Os olhos de água-marinha encaravam o corpo imóvel sobre o leito do hospital. A lembrança da mulher caída na beira da escada em volta de uma poça de sangue ainda o atormentava. Marcello deu as costas e pegou o celular que vibrava no bolso da calça jeans.
― Oi, Alexander! Como vai o passeio com a nova amiga?
Enfiou uma das mãos no bolso e fixou os olhos no respirador que mantinha Nicole viva.
― Entendi! Amigão, você sabe que te considero como um irmão. ― Os dedos finos e pontudos tocaram o nariz afilado. ― Acabei de ver a Nicky com outro homem. ― Marcello tencionou o canto dos lábios. ― Pode acreditar! Você precisa relaxar e esquecer a Nicole, ela não presta.
Esfregou a testa com os dedos e chegou mais perto dela ao notar uma lágrima que fluía pelo canto dos olhos fechados.
― Curta a vida, amigo! Aproveite a viagem com a Isabella. ― As sobrancelhas claras se juntaram. ― Certo! Até breve!
Ele guardou o celular e examinou o semblante com marcas roxas. Marcello não tinha ideia se, mesmo em coma, Nicole escutou a conversa. O dedo indicador tocou o rosto imóvel e secou a lágrima que rolava na pele macia com traços delicados.
― Eu lamento pela morte de um de seus filhos. ― A voz pesarosa cochichou. ― Espero que o outro bebê sobreviva. Adeus, Nicky!
Uma das mãos de Nicole segurou o lençol branco.
Marcello se aproximou do display do ventilador pulmonar. Estava prestes a tocar no circuito dos controles, porém, ele se afastou logo que ouviu o ranger da porta.
― O que você faz aqui? ― Uma senhora de cabelos grisalhos, com um corte na altura do pescoço, ajeitou o blazer do terninho preto assim que atravessou a porta. ― Responda! ― Sophie Bittencourt se impôs com uma seriedade hostil.
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Título original: Só Minha!
Volume I da trilogia Doce Desejo.
Por Yana Shadow.
ISBN: 978-65-00-21193-1
Copyright © 2.021 por Ana Paula P. Silva
Revisão: Heloísa Braga, Mestra em Língua Portuguesa.
Olá, amores! Prólogo tenso! Quem é Marcello e porque ele falou coisas tão ruins sobre a jovem que estava em coma e não podia se defender? Vem comigo, prometo que conto nos próximos capítulos. O livro tem um enredo não-linear. É importante ficar atento as datas. Apesar de ser um livro cheio de paixão e desejo, tem um passado misterioso. Quem teria machucado Nicole e por que Alexander não estava perto para ajudá-la? Quer descobrir mais? Vem comigo e espia os próximos capítulos. Atenciosamente, Yana Shadow.
Centro de Lyon, França Janeiro de 2015 As primeiras chuvas frias do inverno caíram sobre a cidade. Na janela do penúltimo andar do hospital Saint-Mary, Alexander fitou o céu encoberto por nuvens cinzas, ajeitou os óculos e desviou o olhar para a tela do celular, enquanto escutava as batidas suaves das gotas contra o vidro. ― O que você quer, Josephiné? ― O tom na voz rouca soou fria, assim que atendeu a ligação. ― Estou muito ocupado! ― É só isso que você tem a dizer, mon coeur? Tem cinco dias que você não aparece em casa. ― Ficarei por uns dias no hotel aqui perto. ― Você ainda está zangado por que eu sugeri um ménage? Alexander suspirou pesado e sen
Rio de Janeiro, Brasil. Sete de janeiro 2015 O imponente prédio do Hospital São Miguel, por longos anos, era administrado pela Diretora-executiva Sophie Bittencourt. Embora ela comandasse os negócios com mão de ferro, a renomada neurocirurgiã avaliava mentalmente sobre cada minuto que dedicou à empresa nos últimos 40 anos, enquanto captava a imagem cansada no espelho do banheiro. Anos de trabalho e dedicação para preservar os negócios e o bom nome da família Bittencourt não evitaram que Sophie recebesse o temido diagnóstico que a obrigou a se afastar do cargo. A tomografia contrastada do abdômen e a cintilografia óssea detectaram uma metástase. O rosto pálido demonstrava que aqueles dias, entre a internação e a radioterapia, foram os momentos mais dolorosos de sua vida. Uma das enfermeiras a aux
Rio de Janeiro, Brasil Janeiro, 2015. Depois que encarou algumas horas de voo, Alexander alugou o carro e seguiu direto para a casa luxuosa onde seus pais moravam em São Conrado. Ele saiu do automóvel esportivo prata logo depois que estacionou em uma das quatro garagens. Colocou as mãos no bolso da calça e caminhou em volta do deck da suntuosa piscina. Seguiu pelo amplo gramado verde onde costumava passar tardes agradáveis. Ficou imóvel e observou enquanto o sol se escondia no horizonte. Admirar aquela paisagem trazia alguma luz aos pensamentos confusos e paz para a alma. O corpo não cabia no balanço infantil de madeira, as mãos esguias movimentaram a corda ao lembrar de Nicole pedindo para ir mais alto. Esboçou um sorriso com a recordação. A nostálgica tarde de verão recarregou as energias.
Rio de Janeiro, Brasil Onze de janeiro de 2015. A luz do sol invadiu o quarto nas primeiras horas do dia. Às sete da manhã, Nicole esticou o braço e desligou o alarme do relógio digital. Sentou na cama e olhou para a parede em tons pastéis que se juntavam ao rosa numa versão bem clara. Alex levantou-se um pouco mais cedo e arrumou o material na mochila para o primeiro dia de aula na escola. Organizou o quarto, vestiu a blusa do uniforme e pegou uma das revistas da coleção. ― Meu filho, o café da manhã está pronto! ― Nicole apareceu na porta. ― Já vou, mãe! A cozinha tinha uma mesa com tampo de mármore e 4 cadeiras. Embora não houvesse muito espaço, tudo era limpo e
A madrugada parecia mais fria, em sua calma escuridão, Alexander virou para o outro lado da cama e recordou dos bons momentos que viveu ao lado de Sophie. Levantou da cama na forma como veio ao mundo e foi direto para o banheiro. Abriu o chuveiro e entrou debaixo da água morna. Os braços estavam apoiados na parede do box e a cabeça baixa, a água se misturava às lágrimas. Colocou um terno microfibra italiano, após o banho. Fechou os dois botões do blazer que sobrepunha uma camisa social preta e em seguida calçou o sapato de couro sintético. Os óculos não disfarçavam a dor no olhar fundo, mas ele pareceu não se importar com o reflexo no espelho. Alexander saiu do quarto e caminhou pelo amplo corredor com carpete vermelho até a escada. Em cada degrau que pisava, a
Na sala de refeições, Jenny trouxe louças e talheres. Entregou uma pilha com pratos de porcelana para a amiga e segurou um dos pratos que quase caiu. Observou Nicole enquanto colocava a mesa. ― Você está tensa! Deixa, eu termino de arrumar. Nicole aproximou-se da janela. Espiou o pai que brincava com o filho e um cão da raça labrador, que Jenny e Lana adotaram. ― Vocês conversaram? Jenny olhou para a amiga que mais parecia uma estátua. ― Um pouco! Falamos sobre o trabalho dele, sobre as viagens que ele fez e sobre o Alex. ― Por que você está nervosa? Tenho certeza que ele não roubará o Alex de você. ― Meu filho não desgrud
Em uma sala reservada, a família Bittencourt aguardava a leitura do testamento. Ricardo e esposa sentaram na cadeira do lado esquerdo. Todos estavam apreensivos, não sabiam com quem estava o testamento. Do outro lado, Alexander verificou a hora no Rolex em aço e voltou a atenção para a porta que se abria. Tinha uma expressão de desagrado ao perceber que Nicole não apareceria. ― Jenny, onde está a Nicky? ― Oi, Alexander! Bom dia! ― Avaliou a sala com calma antes de responder. ― Ela não quis vir. ― O advogado disse que ela deveria participar. ― Ela tinha algumas coisas para resolver no trabalho antes de tirar férias e daqui a pouco ela pegará o Alex na escola. Sabe como ela é com os horários! No caminho até a escola, Nicole se ajeitou no banco e reparou na forma como Alexander encostou o cotovelo ao volante e tocou no lábio inferior. Atento ao semáforo, ele apoiou o queixo com covinha vertical nos dedos longos, olhou de soslaio e esboçou um sorriso sedutor ao vê-la tocar nos cabelos e expor o pulso enfeitado por uma pulseira fina com um pingente de coração. ― Tudo bem? ― Sim! ― Não se preocupe, chegaremos a tempo. Ela cruzou as pernas, sentiu o corpo que contraia sob o olhar dele. Inclinou a cabeça para trás e encostou-se no banco, os seus pensamentos vagavam. Aquele homem à sua frente parecia bem mais maduro e decidido, estava certa que ele só a desejava por uma, talvez até duas noites… tinha cerCapítulo 8