...

Algum tempo depois, Verônica já andava de um lado para o outro em frente a porta do banheiro, ansiosa para que Maya saísse logo.

Maya estava em frente ao espelho, seu sorriso era diabólico ao constatar que, de fato, estava grávida.Qualquer garota estaria feliz e preocupada, mas Maya estava muito feliz- pena que pelos motivos errados- e preocupação era um sentimento longínquo

-Julio Cesar, você não vai representar nada perto do que o meu filho irá fazer no mundo- murmurou.

-Maya, qual foi o resultado? - ecoou uma voz preocupada e curiosa do outro lado da porta. Maya riu.

Raina e Ivan se hospedaram na casa de Malvina e com toda a tensão do desaparecimento de Katrina, Raina deitou-se cedo- bem antes do marido- que optou por distrair-se com um filme. Pela expressão de seu rosto-segundos antes tranquiloalgo a estava atormentando.

Bem como a Sheila que também se recolhera mais cedo por não estar com seu filho, a saudade levando-a a exaustão.

No instante em que Maya gritou –estou grávida! - Raina e Sheila tiveram um sobressalto em suas casas e rezaram no silêncio do quarto – que Deus nos ajude – pois ela souberam que tempos de crueldade ainda mais sangrentas estavam por vir.

Soraia estava enfraquecendo, ela sentia isso em seus nervos, tendões, veias, mas não entendia o porquê, afinal ela era uma vampira – e não qualquer vampira, mas a Rainha Kaxal.

A cada passo parecia que ia cair em um buraco, seus olhos estavam ardendo e embaçados e seus sentidos fracos.

Amy riu de algo que Marcus dissera a Augusto e, quando olhou para Soraia para compartilhar o sorriso viu uma aura vermelha cruzar pelo corpo da amiga e antes mesmo de conseguir falar para Augusto, Soraia tombou ao chão.

-Amy, você vê algo em Soraia? - perguntou Augusto já com Soraia em seu colo, tentando

acorda-la com beijos e lhe chamando.

-Sim, mas mal deu tempo de falar. A sombra cruzou por seu corpo e ela caiu - disse Amy ao

tocar o rosto da amiga e chama- la. Marcus levou seus dedos aos olhos de Soraia e os

viu humanos sem o consentimento dela, o que quer dizer que o corpo humano precisa de sangue pra ativar o vampírico.

-Soraia precisa se alimentar – disse convicto.

-E como você sabe? - perguntou Augusto com um tiquinho de ciúme por outro conhecer mais sua Soraia do que ele próprio.

-Por que para nós, vampiros, não é bom sinal nossos olhos voltarem a cor humana sem permitirmos, que é o caso de Soraia.

Augusto abriu os olhos de Soraia - estão negros – constatou.

-A cor dos olhos humanos dela sem ela requisitalos.

-Mas todo vampiro esconde seu olhar de criatura sob o humano – constatou Amy.

-Sim – concordou Marcus – mas abra os olhos dela novamente e fique observando. E assim Amy o fez e todos viram os olhos de Soraia ficarem mudando do negro para o vermelho constantemente .

-O sangue dela está fraco e não sabe qual identidade assumir- demandou ao levantar-se. -O

que você vai fazer?- perguntou Amy encarandoo.

-Vou procurar algum animal – disse ao ver Augusto abrir e fechar a boca, mas acrescentou- eu

vou, pois algo me diz que essa floresta não é nada segura.

-E você ainda quer ir sozinho? - repreendeu Amy.                                                           Marcus agachou-se a sua frente, tocou seu rosto e deu-lhe um beijo breve- não se preocupe, afinal eu sei voar- e transformou-se em morcego antes que o olhar de Amy o fizesse ficar.

-Amy- Augusto a chamou de volta ao presente, pois ela ficara olhando para o morcego que sumia por entre as árvores - ele vai voltar, pelo amor de vocês dois.

-Eu espero, porque, do contrário, eu vou atrás dele e o mato- brincou em tom sério.

Como exímio caçador, minutos depois, Marcus voltara com um ‘improviso de prato’ - um pedaço de árvore, com certeza ele o ‘moldou’ com as próprias garras para se parecer com um prato e o encheu de sangue.

Marcus ajoelhou-se ao lado de Soraia e pôs o recipiente em frente ao rosto dela erguido por Amy, para que sentisse o cheiro agridoce, quente e fresco do sangue. Assim que o fez, recobrou aos poucos os sentidos e com a ajuda da amiga e Augusto, agora, a amparando por trás, bebeu todo o sangue que até escorreu pelas laterais de seus lábios enquanto seus olhos explodiam em deleite. Da vampira para a Rainha e da Rainha – com consentimento –para o humano.

-Melhor?- perguntou Augusto ao limpar com delicadeza, com os próprios dedos, o sangue dos

lábios e queixo de Soraia que lhe sorriu

. -Nem mesmo a Rainha tem o privilégio de não precisar de sangue – comentou Marcus ao jogar o recipiente fora.

-Já percebi – brincou ao apoiar-se em Augusto que a puxou contra seu corpo- ambos adoraram e trocaram olhares que Marcus e Amy bem perceberam - só para levanta-la..

- Olhem para trás- recomendou Amy sorrindo e quando fizeram todos sorriram felizes.

-Finalmente, as Cavernas do Norte! - exclamou Augusto cheio de alívio e felicidade.

-Mãe - chorou Soraia saindo dos braços de Augusto e correndo para dentro da primeira caverna, rezando para que a mãe estivesse ali.

Depois de entrar em quatro cavernas e ver a frustração nos olhos de Soraia, Augusto agora a

detinha pela mão em frente a quinta caverna. Será que Soraia não via que ele sofria junto com ela a cada vez que ela não encontrava sua mãe. AugustoSoraia o olhou de canto - é melhor eu entrar logo do que ficar adiando – argumentou. Adiando outra frustração- rebateu.

-Ou talvez o reencontro com minha mãe- e dito isso, ela puxou seu pulso da mão de Augusto e entrou na caverna escura e úmida como as demais, mas uma coisa era diferente nesta - sua esperança. Uma emoção tão forte tomou conta do coração de Soraia quando ela avistou sua mãe deitada no chão; ela estava tão pálida e mortuária como quando Soraia quando estivera grávida do filho de Julio Cesar – sendo drenada de dentro pra fora – ficando

velhinha e fraca.

Soraia nem percebera que estava chorando, somente quando as lágrimas começaram a cair no

rosto da mão algo que ela também não percebera, sua aproximação e a de seus amigos á suas costase a mãe praticamente morta em seus braços.                                                             -Por favor, alguém me ajude – pediu aos prantos, olhando em especial para Augusto que

desmoronou por dentro, e acariciou o rosto frio da mãe.

-Vamos leva-la para a parte mais clara da caverna – dissera Marcus ao aproximar-se e pegar Katrina nos braços, enquanto Augusto para disfarçar suas lágrimas, saiu para procurar madeira para acender uma fogueira.

Amy percebera, mas optou por manter-se calada e abraçar Soraia e seguirem Marcus. E assim que ele colocara o corpo de Katrina sobre uma colcha que Amy trouxera, Soraia correu para o lado da mãe e, sem perder tempo, transformou-se em vampira.                                            A única que poderia salvar sua mãe.

-Soraia, o que você vai fazer? -perguntou Augusto assim que terminou de acender a fogueira. Soraia o olhou de relance – minha mãe precisa de sangue, mas não tem forças nem para abrir os olhos, que dirá invocar a sua vampira – e olhou para a mãe novamente.

Marcus olhou nos olhos de Soraia, no relance imediato, soube o que ela pretendia fazer e não

gostou.

-Augusto, não deixe Soraia fazer isso, é muito perigoso – implorou em alerta. Augusto arregalou os olhos, mas enquanto pensava em fazer algo, Soraia os

alertou nada gentil.

-É bom nenhum dos dois tentar me impedir.                                                                          -Marcus, o que Soraia pretende fazer? - perguntou Amy ao encarar todos os olhares hostis, e quando viu Soraia retirar do bolso traseiro de sua calça jeans escura um canudinho clarinho(daqueles de plástico oferecidos em padarias e afins para bebidas) ela entendeu.

-Soraia, você não vai fazer o que estou pensando, vai?

Ela nada disse.

-É claro que vai- irritou-se Marcus, ainda que admirasse o gesto da filha para com a mãe- e isso vai levá-la a exaustão!- e levou as mãos á cintura ao dar de ombros para Soraia.

-Ela não vai fazer nada, por que eu não vou deixar –decretou Augusto nem sabendo o que ela

pretendia enquanto ia ao seu encontro, mas só tentou pois Soraia chamou sua Rainha Kaxal e com o seu poder no olhar ‘parou’ Augusto, ele a encarou com suspeita, ela o encarou de volta com um meneio de cabeça antes de arremessá-lo de volta

para trás e adverti-lo: -Se tentar vir até mim novamente, vou te arremessar com tudo contra as rochas.

-Está bem – disse magoado e sem nenhum outro olhar a ela, marchou rígido para bem longe da caverna. Mas o peso no coração de ambos ficou descrito em seus olhos.

-Marcus, por favor, vá com ele – pediu Soraia ao fazer seu olhar voltar ao humano com ódio e

frustração iguais vistos nos olhos de Augusto, enquanto Marcus assentia e ia atrás do lobo. -

Amy, se quiser ir, tudo bem –disse a amiga ao pegar um canivete pequeno de seu bolso e se preparar física e emocionalmente para o que pretendia.                                                      Amy fora ao seu encontro, ajoelhou-se a seu lado e apertou suas mãos com as suas- somos amigas e amigas enfrentam tudo – Soraia a abraçou e juntas concluíram -juntas.

Miranda estava sentada entre Thiago e Sheila juntos com os demais ao seu redor, ao redor de uma bela fogueira.

Sheila não conseguira dormir depois do pressentimento com Maya, então resolvera

despertar seu lado cigana e fazer a simbólica fogueira de fogo azul e chamou seus ‘filhos de

alma’(inclui-se também os vampiros).

De repente Miranda que estava rindo de algo que alguém contara calou-se e sua expressão mudou da água para o vinho, literalmente, ao sentir um formigamento no peito e uma pulsação ardida e dolorosa nas veias de seu pulso.

-Miranda, está tudo bem? - perguntou Thiago do seu lado ao perceber a perturbação de coçar seu pulso freneticamente. Então ambos arregalaram os olhos ao verem a ponta dos dedos de Miranda com sangue bem como o seu braço.

-Meu Deus! - gritou Miranda erguendo-se apavorada ao ver mais sangue escorrer por seu

braço, deixando todos boquiabertos. O mesmo sangue que começou a escorrer do braço

de Soraia assim que ela o cortou com o canivete para após enfiar o canudinho na veia exposta. Amy virou o rosto enquanto Soraia fazia o mesmo processo sanguíneo com o braço da mãe, ambas ficando cobertas de sangue.

Sentados na entrada de outra caverna, Marcus e Augusto olhavam a imensidão da floresta e do céu, com os braços apoiados nos joelhos dobrados. E inspiravam no ar o cheiro forte e metálico do sangue fresco de Soraia e Katrina.

-O cheiro de sangue vai atrair aqueles que nos cercam – comentou Augusto ao estreitar os olhos em direção a floresta ao ver os olhos noturnos por ali.                                                   -Mas não é isso o que te preocupa - arriscou Marcus ao encara-lo, mas Augusto desviou o olharadmita, senão para mim, para si mesmo- aconselhou.

Augusto suspirou.

-São as atitudes de Soraia que me deixam preocupado.

-Mas a pergunta é -você não faria o mesmo por sua mãe? E será que Soraia também não sentira a mesma angústia que você sente agora?

Não houve resposta e nem mais perguntas, apenas seus olhares fixos na imensidão negra estrelada do céu.

Uma nova Katrina foi surgindo, literalmente. As várias rugas que adquirira, principalmente na face foram se preenchendo e sumindo, deixando uma pele lisa e radiante; o cabelo acinzentado tornou-se negro e brilhante e o corpo magro pela falta dos minerais presentes no sangue tornou-se curvilíneo novamente. Quem não estava nada saudável agora

era Soraia e isso Amy percebeu assim que encarou sua amiga enfraquecida, em todos os sentidos,

-Pelo amor de Deus, Soraia, para! - gritou Amy ao tocar a pele já enrugada de Soraia e os cabelos não tão mais brilhantes assim, com lágrimas ardendo em seus olhos aflitos.

-Ainda não - murmurou fracamente.

Thiago a pedido de Sheila que os seguia, levava Miranda para a tenda. Sheila já trocara a faixa do pulso dela pela segunda vez e está já encontrava-se empapada de sangue.

-O que será que está acontecendo com Soraia? - perguntava-se Thiago ao trazer uma bacia com água para perto de Sheila que mergulhou o pulso de Miranda ali.

-Eu não sei – disse Miranda num fio de voz, a água da bacia já vermelha e, então ela tombou na escuridão.

-Miranda!

-Soraia, para!

Gritaram Thiago e Amy em situações opostas; ele acarinhou os cabelos de Miranda; Amy apavorada ecoou sua voz, mediante a teimosia da amiga, que chegou a Augusto e Marcus que se levantaram, entreolhando-se ao sussurrarem – Soraia. Amy – e correram para a caverna. Quando chegaram ao interior da caverna a cena os paralisou – Katrina ainda desacordada e coberta de sangue, bem como Amy com Soraia desmaiada em seus braços com as

roupas e um pouco da pele também coberta de sangue.

-Deus! - exclamou Augusto ao correr e ajoelhar-se junto com Marcus ao lado das garotas e, ao

contrário de Amy, Augusto precisou retirar os canudinhos da veia de Soraia e de Katrina

Thiago também estava preocupado e dava tapinhas no rosto de Miranda, tentando reanima-la em seu colo.

Então, do nada, Miranda dera um suspiro e acordou como se estivesse dormindo a dias.

Thiago riu e beijou-lhe a boca, apressado entre suspiros.

Sheila suspirou de alívio, pois já estava com uma pilha de toalhas ensanguentadas a seus pés.

-O que aconteceu com você? -perguntou Thiago ao descolar seus lábios dos dela, que acariciou seu rosto, e ele beijou-lhe a mão.

-Está sentindo algo, querida? -perguntou Sheila e ambas encararam o tanto de sangue seco em seu braço. Miranda meneou a cabeça.

-Não é comigo o problema, é com Soraia – disse ao olhar aflita para Sheila que levou a mão ao coração como se sentisse a preocupação e angústia que Augusto sentia ao pegar Soraia em seus braços e acomoda-la em uma colcha desacordada. Assim como Miranda, Katrina dera um suspiro profundo e acordou totalmente recuperada e sorriu para Amy e Marcus que estavam sobre seu rosto. Mas algo no semblante dos dois também a preocupou.

-Amy, onde está minha filha?

Amy passou a língua pelos lábios secos e olhou para Marcus em pé a seu lado com as mãos em seus ombros e, sem saber o quê ou como deveriam falar apenas olharam para o lado e, então Katrina que acompanhou os olhares, viu um Augusto curvado, acariciando o rosto...de sua filha desacordada e fraca.

-Soraia! - gritou e, de gatinho fora até a filha, lágrimas pingando no chão e temendo o pior.

Katrina pegou as mãos gélidas e enrugadas da filha entre as suas e as esfregou e beijou-as, bem como a sua testa e bochechas, enquanto Augusto acariciava o cabelo grisalho de Soraia. Lentamente, Soraia abriu os olhos de vampira que se transformaram em humanas e sussurrou - mãe - e ambas se abraçaram fortemente, enquanto os demais comemoravam

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