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Um avião, duas poltronas

Jason Smith POV's

Um dos novos donos da gestão teve a brilhante ideia de literalmente me atirar aos cães. Literalmente.

Eu tentara de tudo para fazer com que aquele evento ridículo de adoção de cães resgatados funcionasse, mas um dos vira-latas mordia insistentemente meu tornozelo e quando tentei dar um peteleco em sua bunda peluda, um dos agentes imediatamente me empurrou para dentro de SUV preto e todas as câmeras começaram a clicar com mais urgência. 

Dentro do carro, um executivo louro, de corpo esguio, terno bem passado e óculos escuros me esperava, sentado mexendo em seu celular. Eu nunca o tinha visto, mas se os boatos que rolavam entre os outros eram verdadeiros, aquele provavelmente devia ser o filho do dono da empresa. Um jovem cujo único talento era ter um pai milionário. 

-Olá, Jason. - ele me cumprimentou assim que entrei no carro. Ele estendeu a mão e eu apertei com certo desgosto - É um prazer imenso finalmente conhecê-lo. Meu nome é Logan.

-Olá. - grunhi, entredentes. - Então foi ideia sua me jogar nessa maldita feira de adoção?

Ele abaixou os óculos e seus olhos intensamente azuis faiscaram em minha direção. Ele lançou um sorriso e guardou os óculos no bolso. 

-Achei que seria mais fácil, mas agora vejo que sua reputação é algo difícil de salvar. - Ele comentou, com um sorriso seco, abrindo o telefone e começando a responder inúmeras mensagens. 

Com um suspiro, fui checar o meu próprio celular. Desde que a maldita campanha de modificação da minha imagem começara, eu não recebia mensagens de mais nenhum dos meus amigos. Até mesmo de Caroline eu não tinha notícias - tirando os stories que ela postava a todo momento em sua rede social, mas nunca se dava ao trabalho de responder as mensagens que eu enviava. No carro, eu estava rodeado de pessoas, mas nunca me sentira mais sozinho. 

O carro parou com um solavanco e eu percebi que estávamos em frente ao aeroporto. Todos os nossos compromissos nos Estados Unidos tinham chegado ao fim e era hora de voltar para Londres para continuar as gravações do nosso segundo CD, que daria início à uma nova turnê e mais uma grande promoção de grandes ações humanitárias da minha parte - quase fui capaz de bufar vendo o grande esforço que eu tinha que fazer para continuar em uma banda que eu sequer gostava. 

Um dos seguranças me arremessou uma mochila e meus óculos escuros e eu desci do carro, bufando. Fui andando com passos lentos em direção ao aeroporto e depois à sala VIP, onde esperaria até o horário do meu voo. Pelos horários que os telões me disponibilizavam, faltava aproximadamente 20 minutos para que o embarque começasse - tempo suficiente para um capuccino com bastante creme. 

Desisti da minha estratégia de Jason bonzinho e simplesmente afundei nos óculos escuros e café com gosto de chocolate até notificarem que devíamos começar o embarque. Agarrei minha mochila e fui o primeiro a sair pela porta. 

[...] 

Mais uma vez eu aguardava sozinho o voo começar. Atrás de mim, Leo e Danny iniciavam uma conversa animada e, imediatamente nas duas poltronas ao meu lado, Zack e Nick mexiam rindo nas micro televisões de bordo - tentei ligar minha própria televisão, sem nenhum sucesso. Sem companhias, coloquei minha mochila na poltrona ao meu lado e deixei as pernas bem abertas. Coloquei os fones de ouvido e fechei os olhos atrás dos óculos escuros, esperando que o avião levantasse logo e todas as luzes se apagassem. 

Alguém subitamente encostou no meu braço.

-Vá embora. - murmurei, sem sequer me dar ao trabalho de abrir os olhos. 

Senti um novo cutucão, mais insistente e mais forte.

-Eu não tiro fotos e não dou autógrafos hoje. Por favor, vá embora. 

Fui cutucado com tanta força que meus óculos chegaram a tremer. Sorri complacente, obstinado a não me descontrolar - eu imaginava quanto dinheiro isso me custaria, caso quebrasse o contrato da minha nova imagem de Jason bonzinho. Então, de repente, meus óculos escuros foram arrancados do meu rosto. 

À minha frente, uma garota de aproximadamente um metro e sessenta me encarava furiosamente, com intensos olhos cinzas que lembravam o mar da Inglaterra. Seu rosto era quadrado, mas seu nariz era arrebitado e arrogante. Ela tinha compridos cabelos castanhos que chegavam até quase sua cintura e usava um vestido amarelo com a cintura bem marcada. Em seus ombros ela tinha uma mochila rosa com orelhas e, em suas mãos, ela girava meus óculos escuros. 

-Você está louca? Quem você pensa que é? - gritei, me levantando e tentando arrancar meus óculos das mãos dela. Ela se desviou com facilidade. - Devolva meus óculos.

-Será que você pode, por obséquio, tirar sua mochila da minha poltrona? - Ela pediu, com arrogância e voz de soprano. 

Soltei uma risada. 

-Sua poltrona? - Ri com humor, olhando ao redor - Você só pode estar de brincadeira se acha que alguém venderia pra uma qualquer como você, uma poltrona ao meu lado....

Os olhos da garota se estreitaram furiosos. Danny levantou atrás de mim e Leo apareceu do nada ao meu lado.

-Como é que é? - A garota perguntou, me encarando. - Quem você acha que é?

-Eu acho melhor nós todos nos acalmarmos. - Danny disse, entredentes, me encarando como se eu fosse o pivô da discussão. - E nos sentarmos. 

Soltei-me dos braços protetores que ele tentava passar ao meu redor. 

-Me acalmar é o cacete, eu quero um segurança aqui imediatamente, isso não está certo. - gritei, apontando para uma aeromoça e chamando-o com um aceno - Você pode, por favor, tirar essa mulher daqui? 

Leo tentou dizer alguma coisa para garota, que virou-se para olhar ele em um ledo engano - tempo suficiente para eu esticar minhas mãos e arrancar meus óculos escuros das mãos dela, que me olhou surpresa. A aeromoça se aproximou da jovem e começou a dizer algo, mas, ao ver os tickets dela no celular, se calou imediatamente. 

-Oh, meu Deus, eu não sabia, srta Cannon. - a aeromoça disse, baixando os olhos e com as mãos trêmulas - Se eu puder te oferecer algum lugar mil vezes melhor....

-Espera aí - disse eu, olhando de uma para a outra sem entender nada - A vítima aqui sou eu e...

-Eu acho que já chega. - Leo disse, me empurrando para a poltrona, fazendo com que eu caísse sentado. Ele se inclinou em cima de mim, fazendo com que nossos rostos ficassem à poucos centímetros de distância. - Se você quer acabar com sua carreira, Jason, tudo bem. Mas não se esqueça que você vai pagar caro por isso. 

Sem ter o que argumentar e lembrando do contrato que valia milhões, enquanto encarava por cima do ombro várias pessoas com celulares na mão, afundei em minha própria ignorância e bati a testa na janela do avião, desejando uma dose dupla de tiro na nuca. Leo se levantou e se afastou com passos firmes, pedindo desculpas para a garota no meio do caminho. 

-Não precisa. - Ouvi ela dizer, oferecendo uma mão para a aeromoça apertar - Eu quero ficar aqui. 

-C-c-claro. - A aeromoça gaguejou e saiu com passos firmes em direção aos outros passageiros. 

A garota sorriu vitoriosa para mim e pegou minha mochila de cima de sua poltrona, jogando-a com selvageria em cima de mim. Agarrei-a quando ela bateu em meu peito e olhei-a com desprezo. 

-Com licença. - Ela disse, antes de se sentar e abrir a própria mochila, retirando um notebook imenso da apple e começando a mexer em suas redes sociais.

Tentei fechar os olhos e fingir que dormia com a mão no rosto, mas meus olhos entreabertos se desviavam para o que quer que a garota estivesse fazendo em suas redes sociais. Descobri que seu nome era Ally e ela estava twittando mal de mim. Abafei um grunhido, antes de apertar o botão que indicava à aeromoça que eu queria uma água. 

Ao ouvir os avisos de que o voo começaria muito em breve, Ally fechou o computador e afivelou os cintos, segurando o computador firme em seu colo.

Ela se recostou na própria poltrona, fechando os olhos. Alguns segundos depois, a aeromoça apareceu com um grande copinho de água para mim. Estendi a mão pensando no que faria em um milésimo de segundo....

-OPS! - Gritei quando acidentalmente virei todo o conteúdo do copo de água em cima de Ally e seu computador. 

-Ai meu Deus! - Ela gritou, abrindo os olhos imediatamente e chamando a atenção de todos no avião. Ela tentou se levantar, mas estava com o cinto, então começou a abanar o próprio computador como se ele fosse um leque, mas eu já vira que o símbolo da marca estava começando a perder o brilho. 

-Oh meu Deus, eu posso trazer uma toalha para você, srta. - a aeromoça dizia, desesperada. 

Desafivelei meu próprio cinto.

-Deixa que eu te ajudo. - Ofereci, desafivelando o cinto de Ally que, com as mãos trêmulas, não conseguira. Assim que desafivelei o cinto e ela foi tentar levantar, eu estiquei uma das minhas pernas, fazendo com que Ally tropeçasse e caísse de boca no chão de carpete do avião com um grito. - Ops, como estou desastrado hoje. 

Ally socou o chão com força, me xingando de palavrões tão complexos e americanos que eu sequer conseguia entender. A aeromoça parecia não conseguir levantar Ally, de tanto tremer. Eu me joguei na minha própria poltrona, contendo uma gargalhada, quando a última coisa que vi foi Ally em pé, se preparando para me bater com seu computador estragado.

[...]

Eu definitivamente acho que notebooks são armas melhores que machados, facas e até revolveres. O computador me atingira com uma força tão surreal que eu tinha certeza que uma de minhas bochechas iria exibir para sempre uma maçã mordida. 

E agora, aqui estava eu, algemado em uma mesa de interrogatório, encarando os vidros escuros da Polícia Federal do Aeroporto, esperando que a qualquer segundo entrasse um policial bom e um mau, me oferecendo um prato cheio de Donuts para testar minha culpa.

Isso não acontecera nos últimos 30 minutos. 

Ally, por outro lado, parecia realmente concentrada em fazer uma música com a batida das algemas nas pernas da mesa que a prendiam, de frente para mim. Eu encarava seu rosto sem parar nos últimos 30 minutos. Não porque fosse intensamente bonita - o que ela era. E não porque tivesse um ar de mulher problemática que eu gostava - o que ela também tinha. Mas porque eu sentia tanto ódio dela que eu não era nem capaz de colocar em palavras. Durante toda minha inconsciência, eu sonhara em formas de matá-la sem deixar rastros - e eu precisava dizer que o plano para jogá-la aos tubarões numa sacola sabor carne estava sensacional, mas eu ainda não sabia onde achar os tubarões. 

- Você acha que vai demorar muito? - Ally perguntou, finalmente quebrando o silêncio e me encarando. - Digo, já tem uns bons minutos. 

Desviei meu olhar do dela porque aquela cor específica de olhos me incomodava - não era justo que a pessoa que eu mais odiasse tivesse um olhar que me lembrasse do mar da minha casa. 

-Tenho certeza que a qualquer instante vão vir prender você. - Comentei, encarando minhas próprias mãos algemadas e pensando no quanto me custaria a multa por atraso. 

Ally revirou os olhos, me mostrando a língua alguns segundos depois. Bufei.

-Sério, quantos anos você tem? - perguntei, bufando. - Você parece uma criança mimada. 

-Não te interessa. - Ally deu de ombros - Não precisamos conversar. 

-Então por que você começou a puxar conversa? - indaguei, batendo as algemas indignado na mesa. - Guria ridícula. 

Ally grunhiu. 

-Eu só queria quebrar o gelo, eu....

-Você não pode quebrar o gelo depois de ter tentado quebrar todos os ossos do meu rosto. - Respondi seco. 

Ally abaixou a cabeça e eu pude jurar que vi suas bochechas se levantando, num sinal claro de que ela estava sorrindo como se a lembrança lhe trouxesse prazer. Ela ficou mais alguns minutos em silêncio e eu também, até que meus neurônios começaram a se desesperar por algum som. 

-Tá! - grunhi, derrotado, encarando Ally que levantou a cabeça para mim - Vamos conversar. Você costuma agredir pessoas em aviões lotados? 

Ally sorriu para mim, travessa. 

-Só quem merece. 

Sorri amargo para ela. 

-O que você vai fazer em Londres? - Perguntei. 

Ally olhou para os próprios braços por um segundo e fez menção de coçar a cabeça.

-Não deve ser tão difícil assim pensar numa resposta. - sorri, debochado. - Eu posso até adivinhar para você...

-Seja meu convidado. - Ally pediu, virando seus olhos intensos para mim.

-Compras. - dei de ombros - Mulheres sempre viajam para fazer compras. E posts ridículos no i*******m, definitivamente.

Ally soltou uma gargalhada e me lançou o primeiro sorriso sincero que eu vira em alguns dias - eu não sabia dizer quantos. Ela me olhou como se realmente minha companhia não fosse tão detestável. 

- É basicamente isso. - Ela concordou, ainda rindo um pouco. - E você? Vai se inscrever pra algum programa de pegadinhas com passageiras indefesas de aviões internacionais? 

Soltei uma risadinha e depois o óbvio me atingiu. Ally me olhava como se eu fosse uma pessoa normal e não Jason Smith, a maior estrela adolescente em ascensão. Ela realmente não sabia quem eu era? 

-Você tá brincando. - Comentei, dando-lhe a chance de entregar o jogo. 

Seus olhos revelaram confusão, no primeiro sinal de vulnerabilidade que eu vi aquele rosto formar. 

-Eu percebi o sotaque, mas não tô brincando. Digo, a Califórnia é tão mais divertida, tem tanta coisa pra...

Interrompi ela.

-Tá, mas você sabe quem eu sou. 

Ally me olhou em dúvida, erguendo as sobrancelhas. Bufei. 

-Quantos anos você tem?

-18. - Ela respondeu prontamente. 

-E você não sabe quem eu sou? - Perguntei, esperando que o tom de ofensa na minha voz não fosse tão grande.

De repente, a compreensão passou nos olhos da garota. Eu vi ela sibilar as palavras "18 anos" enquanto seus olhos brilhavam.

-Ah, eu já sei. Você é um ator pornô. - ela disse, estralando os dedos como se fosse óbvio - Sabia que te reconhecia de algum lugar. Aquele vídeo das duas garotas e um entregador de pizza tá sensacional, reconfigurou o gênero e...

-Vou te dar uma última chance de dizer a verdade. - ameacei, olhando fundo em seus olhos. 

-Que verdade? 

-Que, obviamente, você gostou mais do filme "duas garotas e o piscineiro do presidente". Óbvio. 

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