Os pequenos truques de Lídia foram completamente desmascarados, e sua expressão não poderia estar mais constrangida. Ainda assim, ela se esforçou para manter a pose altiva:— Você acha mesmo que eu e o Sebastião temos algum caso?Será que ela precisava mesmo que alguém dissesse isso para saber? O que eles fizeram já estava mais do que claro. Será que ela não tinha noção do próprio comportamento?Apesar disso, minha educação me impediu de dizer qualquer coisa grosseira. Mas os olhos de Lídia começaram a marejar.— Não pensei que as pessoas pudessem ser tão sujas e mesquinhas hoje em dia.Olha só como ela se colocava em um pedestal de virtude.— Carolina, o Sebastião é um homem bom. O fato de você não conseguir nem confiar nele já mostra que você não o merece. — Lídia soltou essa frase, e então tudo ficou claro para mim. Todo aquele teatro era para chegar a essa conclusão: que eu não era boa o suficiente para ele.Ela com certeza tinha mais para dizer. Eu fiquei quieta, esperando pelo gr
Peguei o copo e bebi mais da metade.— Ele foi embora.— Como assim? — Luana se sentou de pernas cruzadas à minha frente, o rosto cheio de curiosidade.— Eu recusei, e ele foi. Parece que foi trabalhar. Simples assim. — Minhas palavras a deixaram um pouco surpresa.— Foi embora? E nem fez mais esforço para te conquistar? — Luana balançou a cabeça. — Então ele não tem muita determinação, né?— Ele sabe quando avançar e quando parar. Não é do tipo que insiste até o fim. — Comentei, lembrando da aparência bruta e firme de George.Luana inclinou a cabeça, me observando de lado.— Se ele tivesse insistido um pouco mais, você teria...— Não! — Interrompi rapidamente. — Eu não usaria um homem para curar a ferida que outro me causou.— No fim, ninguém consegue substituir o Sebastião tão fácil assim. — Luana concluiu.Eu sorri de leve.— Sebastião concordou com o término.O choque tomou conta de Luana. Coloquei o copo de água na mesa.— Vim aqui para tomar um banho e trocar de roupa antes de ir
Os dois ficaram claramente tensos com o que eu disse. Não era inesperado, mas a ansiedade era evidente.— Carolina, nós já sabemos o que aconteceu. A culpa não é sua. É daquele idiota do Sebastião! Eu já dei uma bronca nele. Vou obrigá-lo a voltar aqui e te pedir desculpas... — Cátia começou a falar antes mesmo que eu pudesse abrir a boca, despejando toda sua raiva em cima de Sebastião.Ela estava tentando, com todas as forças, evitar que eu dissesse o que eles não queriam ouvir.João, por outro lado, era mais racional e interrompeu Cátia.— Deixe a Carolina falar.Cátia apertou ainda mais minha mão, seu olhar cheio de preocupação e nervosismo, refletindo o que ela havia acabado de dizer. Eu abaixei o olhar por um instante, tentando manter o foco e não me deixar abalar por aquele carinho genuíno.— Tio, tia... Eu e Sebastião terminamos. — Minha voz soou firme, mas o silêncio que tomou conta do ambiente foi ensurdecedor. A única coisa que senti foi o aperto ainda mais forte da mão de Cá
Cátia tremeu ao apertar minha mão e, em seguida, explodiu:— Esse desgraçado! Vou ligar para ele agora mesmo e perguntar o que ele pensa que está fazendo! Ele não disse que não tinha nada com essa Lídia?Ela finalmente soltou minha mão e foi em direção ao celular. Eu mexi os dedos, que estavam dormentes depois daquele aperto.— Tia, eu já conversei com ele no escritório. Ele concordou com o término. E tem mais... — fiz uma pausa antes de completar. — Ele colocou a Lídia para trabalhar na empresa também.Hoje, tudo que eu dizia soava como uma série de acusações. Mas, já que era assim, decidi não esconder nada e revelar todas as ações de Sebastião.— O quê? — A surpresa nos rostos dos dois foi imediata. João ficou com a expressão ainda mais sombria, e Cátia se virou para ele, questionando:— Você não disse que estava por dentro de tudo o que acontecia na empresa? Como não sabia disso?Era como eu suspeitava. João sabia de quase tudo o que acontecia na empresa, mesmo estando em casa. Mas
Miguel tinha voltado!Eu não esperava por isso, assim como não esperava que ele ainda lembrasse do antigo número de celular do meu pai. João e Cátia também estavam surpresos, olhando para Miguel sem conseguir dizer nada por um longo tempo.Ele havia partido há quatro anos e, desde então, nunca mais voltara. Esse retorno repentino os pegou completamente de surpresa, mas também trouxe alegria.— O que foi, pessoal? Não estão felizes em me ver? — Miguel se aproximou, sorrindo calorosamente.Miguel sempre teve um jeito acolhedor. Nos dez anos em que vivi com a família Martins, antes de ele partir, foi ele quem mais me proporcionou afeto. Só que ele tinha um estilo diferente do Sebastião. Enquanto Sebastião fazia questão de exibir seus gestos de carinho para todos verem, Miguel era mais discreto, demonstrando com ações, não com palavras.— Mano. — Eu o chamei, com a voz carregada de lembranças.Nesse momento, João e Cátia finalmente voltaram a si. Cátia soltou minha mão e foi até Miguel,
Miguel parou e olhou para mim com desconfiança.Eu sorri sem jeito.— Foi a tia que fez a reforma.Depois disso, entreguei a bolsa dele.— Mano, vai lá. Dá uma descansada e organiza suas coisas. Eu também vou arrumar algumas coisas.Ele concordou com um aceno de cabeça, e eu fui para o meu quarto.O quarto ainda estava com as coisas minhas e do Sebastião. Dava para ver que, desde que eu fui embora, ninguém tinha usado o espaço.Pelo jeito, Sebastião não voltou para cá nem uma vez. Então, onde ele estava ficando? Será que estava morando com a Lídia lá na Comunidade Cênica?Essa ideia me apertou o peito. Parece que, mesmo conseguindo tirar o Sebastião do meu coração, a ferida que ele deixou ainda precisava de tempo para cicatrizar.Afastei esses pensamentos e comecei a arrumar minhas coisas na mala.Eu sempre tive o hábito de praticar o “desapego”, então não tinha muita coisa. Minhas roupas e itens pessoais cabiam todos em uma mala.Quando já estava quase acabando de arrumar, ouvi uma ba
— Boba, você ainda tem a mim.Quando Miguel disse isso, sua mão grande deu um leve tapinha na minha nuca, e então ele me soltou.Eu, que tinha segurado as lágrimas até então, senti meus olhos se encherem de repente, e as lágrimas começaram a cair uma a uma, sem que eu pudesse impedir.Eu não podia chorar, isso me entregaria. Tentei engolir o choro, mas quanto mais tentava, mais as lágrimas jorravam. Virei o rosto, tentando esconder minha fragilidade.A mão de Miguel pousou de novo no topo da minha cabeça, fazendo um carinho leve entre os cabelos.— Chorar na minha frente não é vergonha, você esqueceu?Ele já tinha me dito isso antes, e agora repetia. Mas, naquele momento, ouvir aquilo parecia rasgar o último fio da minha dignidade. Virei de costas para ele, enxugando as lágrimas o mais rápido que pude.Percebendo o que se passava comigo, ele pegou minha mala.— Vou colocar no carro para você.Ele saiu, e eu cobri o rosto com as mãos, deixando as lágrimas fluírem livremente.Quando desc
— Não, é pra nós duas. Como a verificação da iluminação precisa ser feita à noite para termos a melhor noção do efeito, talvez tenhamos que trabalhar de madrugada ou até passar a noite. Ir e voltar para casa seria complicado. — Expliquei.Ana levantou o polegar para mim.— Você pensa em tudo!— Se você estiver namorando, avise seu namorado que vai perder um pouco do tempo de vocês nos próximos dias. — Lembrei ela.Ana abriu um sorriso largo e feliz.— Sem problemas, vai ser um bom teste para ele. — Brincou ela.Aquele sorriso era de pura felicidade.— Vamos ao trabalho. Para economizarmos tempo, precisamos identificar todos os problemas. Assim, quando a equipe chegar, eles podem focar diretamente nas soluções. — Organizei o plano.Ana assentiu e pegou as plantas.— Eu fico com as áreas A, D e F.— O resto é comigo. — Embora fosse a líder, nesses momentos, eu fazia questão de trabalhar junto com a equipe, assim como Ana.No dia seguinte, recebemos as duas pessoas da equipe de construção