RUBY PORTMANHavia me jogado no sofá com a respiração ainda irregular, o coração batendo rápido por tudo o que havia acontecido naquele escritório. Sophia estava na cozinha, mexendo em algo que eu não conseguia ver, mas sua voz ecoava pela sala, quando me perguntou se eu finalmente ia contar o que estava me deixando tão fora de mim desde que havia voltado do trabalho.Olhei para o vestido preto de cetim que estava antes pendurado no cabide próximo à minha cama. Ele tinha um corte elegante, mas perigoso, ajustado ao corpo de maneira impecável. As alças finas davam um toque delicado, enquanto o decote em V era suficientemente ousado para atrair atenção sem parecer vulgar. O tecido leve e brilhante caía até o meio das coxas, com uma fenda lateral que deixava uma perna à mostra de forma sutil e estratégica. Era o tipo de vestido que costumava usar para eventos mais formais, mas naquela noite parecia quase um escudo. Precisava estar preparada, e parte disso era me sentir no controle — mesm
RUBY PORTMANHarry estava sentado em uma mesa próxima à janela, e mesmo à distância, a sua presença parecia dominar o ambiente. Ele estava arrebatadoramente lindo, como sempre. O terno escuro que vestia parecia feito sob medida para ele, ajustado de maneira impecável ao seu corpo. A gravata preta estava perfeitamente alinhada, e o relógio no pulso brilhava sob a luz suave.Os seus olhos estavam fixos em algo à sua frente, mas não havia dúvida de que ele me notaria assim que eu me aproximasse. O seu rosto, com os contornos firmes e inexpressivos, parecia mais frio do que nunca. Era como se nada ali pudesse tocá-lo, e isso me fez questionar, por um breve momento, se eu havia feito a escolha certa ao aceitar esse jantar.Ainda assim, os meus pés moveram-se quase por conta própria, levando-me em direção a ele. O maître seguiu ao meu lado, pronto para fazer a apresentação, mas naquele momento, tudo o que eu conseguia ouvir era o som do meu próprio coração batendo em um ritmo frenético.O j
RUBY PORTMANEle não reagiu imediatamente, mas seus olhos não deixaram os meus. Era como se estivesse analisando cada nuance da minha expressão, tentando prever o que viria a seguir.— Você terminou comigo sem qualquer aviso, sem explicação. Simplesmente afastou-me de tudo o que você representava. E desde então, vivo com isso.Abaixei o olhar por um momento, sentindo a pressão daquelas palavras me atingindo enquanto elas saíam. Nunca havia admitido aquilo a ninguém.— Os meses que passamos juntos foram tão intensos, Harry, que todos os dias, quando deito na cama, fico me perguntando… o que deu errado? Será que o nosso relacionamento estava fadado ao fracasso desde o início?O silêncio que caiu entre nós foi ensurdecedor e foi como se todo o barulho ao nosso redor também tivesse se silenciado. Olhei para ele, tentando medir a sua reação. Harry sempre fora um mestre em esconder as suas emoções, mas naquele momento, o vi se mexer desconfortavelmente na cadeira. Era quase impercetível, ma
RUBY PORTMANO garçom aproximou-se da mesa com um sorriso educado, carregando o bloco de anotações como se fosse um escudo contra a tensão palpável que pairava entre nós. Eu me endireitei na cadeira, alcançando o menu com um gesto rápido, enquanto sentia o olhar do Radcliffe sobre mim, penetrante como sempre.— Já decidiram o que vão pedir?Ergui o menu, analisando as opções com cuidado. Cada prato parecia mais sofisticado e caro que o anterior, e, embora o preço não fosse algo que me preocupasse naquela situação, já que não seria eu a pagar, é claro, optei pelo item mais caro da lista, um prato de carne que parecia elaborado demais para meu gosto usual.— Vou querer o Wagyu A5 Tomahawk com Purê de Trufas Negras. — Eu pedi fechando a carta e Harry nem sequer olhou o menu.— O prato vegano especial da casa. E traga outra garrafa de vinho.O garçom fez um leve aceno antes de se retirar, deixando-nos novamente em um silêncio pesado que parecia querer engolir a noite. Mantive os meus olho
RUBY PORTMANAssim que Harry abriu a porta, fui invadida por uma sensação de déjà vu. Não pela familiaridade do lugar, mas pela atmosfera carregada que parecia seguir Harry como uma sombra. Dei alguns passos hesitantes para dentro, os meus olhos capturando cada detalhe do novo apartamento. Hudson Yards, claro. O endereço já dizia muito sobre a vida que ele levava.As paredes eram em tons de preto e cinza escuro, austeras e frias, como se tivessem sido projetadas para refletir o dono do lugar. Os móveis de madeira em castanho tabaco davam um contraste quente, mas a combinação com vidro fazia o ambiente parecer sério demais, quase depressivo. Tudo nele gritava sobriedade e solidão.Ou talvez fosse apenas a maneira como eu o enxergava agora.Enquanto eu observava o espaço, o moreno já havia fechado a porta automática e atravessado o cômodo em direção ao que parecia ser o bar da sala. Continuei a minha exploração silenciosa, os meus olhos fixos na mobília meticulosamente disposta. Nada pa
RUBY PORTMANOlhei para a tela do computador, mas as palavras no documento pareciam borrões sem sentido. O meu foco havia evaporado há horas, e eu estava simplesmente fingindo que trabalhava, tentando preencher o vazio com tarefas automáticas.Mas, depois de duas horas de luta infrutífera, aceitei a derrota. Suspirei, empurrando a cadeira para trás e me levantando com o objetivo de pegar um café no corredor. Talvez a cafeína ajudasse a trazer um pouco de clareza à minha mente.No entanto, os meus planos foram interrompidos assim que Danile entrou na sala. Ela parecia agitada, suas passadas rápidas ecoando no ambiente. Antes que eu pudesse alcançar a porta, ela gesticulou para que eu voltasse.— Senta aí, Ruby. Precisamos conversar. — A loira apontou e revirei os olhos discretamente, mas me obriguei a voltar para minha cadeira. O tom dela era sério o suficiente para me fazer perceber que isso não seria rápido.— O que foi agora, Danile? — Respondi pela primeira vez com mau humor para a
RUBY PORTMANLevantei da cadeira novamente, frustrada demais para continuar encarando o computador sem propósito algum. Fui para o corredor em busca do café que tinha me prometido mais cedo, ignorando os olhares apressados de alguns colegas que passavam com pilhas de papéis nas mãos. A máquina de café não era a solução para todos os problemas, mas naquele momento parecia o que mais se aproximava disso.Enchi o copo até a borda e voltei à minha mesa com passos mais firmes, decidida a pelo menos tentar fazer algo produtivo. O gosto amargo do café me ajudou a clarear os pensamentos enquanto abria a planilha com os contatos da empresa. A rede de clientes sempre havia sido um ponto de curiosidade para mim, especialmente considerando que a empresa tinha apenas dois anos no mercado e já movimentava contratos consideráveis, mas agora que o Harry havia me colocado a semente da dúvida, é um motivo para procurar.Comecei a rever os nomes um por um, tentando fazer sentido das conexões. Era um exe
RUBY PORTMANCheguei em casa exausta, a minha cabeça latejando com o peso do dia e da confusão que havia começado a se formar dentro de mim. Fui direto para o armário do banheiro e procurei por um analgésico. Depois de engolir o comprimido com um copo de água, peguei a pasta cheia de faturas que havia trazido da empresa e a levei para a mesa de jantar.Respirei fundo antes de abrir a pasta, permitindo-me um breve momento para ajustar a postura e o foco. Assim que levantei a tampa da pasta, o cheiro de papel impresso tomou conta do espaço. Comecei a espalhar as faturas pela mesa, organizando-as de forma meticulosa por perfil de funcionário, cliente e mês.— Sophia? — Minha voz ecoou pelo apartamento silencioso, mas não obtive resposta.Levantei a cabeça por um instante, olhando em direção ao quarto dela. Nenhum som, nenhuma luz acesa. Era provável que tivesse saído para resolver algo de última hora antes da viagem de amanhã. Suspirei e voltei a minha atenção para as folhas à minha fren