RUBY PORTMANAssim que Harry abriu a porta, fui invadida por uma sensação de déjà vu. Não pela familiaridade do lugar, mas pela atmosfera carregada que parecia seguir Harry como uma sombra. Dei alguns passos hesitantes para dentro, os meus olhos capturando cada detalhe do novo apartamento. Hudson Yards, claro. O endereço já dizia muito sobre a vida que ele levava.As paredes eram em tons de preto e cinza escuro, austeras e frias, como se tivessem sido projetadas para refletir o dono do lugar. Os móveis de madeira em castanho tabaco davam um contraste quente, mas a combinação com vidro fazia o ambiente parecer sério demais, quase depressivo. Tudo nele gritava sobriedade e solidão.Ou talvez fosse apenas a maneira como eu o enxergava agora.Enquanto eu observava o espaço, o moreno já havia fechado a porta automática e atravessado o cômodo em direção ao que parecia ser o bar da sala. Continuei a minha exploração silenciosa, os meus olhos fixos na mobília meticulosamente disposta. Nada pa
RUBY PORTMANOlhei para a tela do computador, mas as palavras no documento pareciam borrões sem sentido. O meu foco havia evaporado há horas, e eu estava simplesmente fingindo que trabalhava, tentando preencher o vazio com tarefas automáticas.Mas, depois de duas horas de luta infrutífera, aceitei a derrota. Suspirei, empurrando a cadeira para trás e me levantando com o objetivo de pegar um café no corredor. Talvez a cafeína ajudasse a trazer um pouco de clareza à minha mente.No entanto, os meus planos foram interrompidos assim que Danile entrou na sala. Ela parecia agitada, suas passadas rápidas ecoando no ambiente. Antes que eu pudesse alcançar a porta, ela gesticulou para que eu voltasse.— Senta aí, Ruby. Precisamos conversar. — A loira apontou e revirei os olhos discretamente, mas me obriguei a voltar para minha cadeira. O tom dela era sério o suficiente para me fazer perceber que isso não seria rápido.— O que foi agora, Danile? — Respondi pela primeira vez com mau humor para a
RUBY PORTMANLevantei da cadeira novamente, frustrada demais para continuar encarando o computador sem propósito algum. Fui para o corredor em busca do café que tinha me prometido mais cedo, ignorando os olhares apressados de alguns colegas que passavam com pilhas de papéis nas mãos. A máquina de café não era a solução para todos os problemas, mas naquele momento parecia o que mais se aproximava disso.Enchi o copo até a borda e voltei à minha mesa com passos mais firmes, decidida a pelo menos tentar fazer algo produtivo. O gosto amargo do café me ajudou a clarear os pensamentos enquanto abria a planilha com os contatos da empresa. A rede de clientes sempre havia sido um ponto de curiosidade para mim, especialmente considerando que a empresa tinha apenas dois anos no mercado e já movimentava contratos consideráveis, mas agora que o Harry havia me colocado a semente da dúvida, é um motivo para procurar.Comecei a rever os nomes um por um, tentando fazer sentido das conexões. Era um exe
RUBY PORTMANCheguei em casa exausta, a minha cabeça latejando com o peso do dia e da confusão que havia começado a se formar dentro de mim. Fui direto para o armário do banheiro e procurei por um analgésico. Depois de engolir o comprimido com um copo de água, peguei a pasta cheia de faturas que havia trazido da empresa e a levei para a mesa de jantar.Respirei fundo antes de abrir a pasta, permitindo-me um breve momento para ajustar a postura e o foco. Assim que levantei a tampa da pasta, o cheiro de papel impresso tomou conta do espaço. Comecei a espalhar as faturas pela mesa, organizando-as de forma meticulosa por perfil de funcionário, cliente e mês.— Sophia? — Minha voz ecoou pelo apartamento silencioso, mas não obtive resposta.Levantei a cabeça por um instante, olhando em direção ao quarto dela. Nenhum som, nenhuma luz acesa. Era provável que tivesse saído para resolver algo de última hora antes da viagem de amanhã. Suspirei e voltei a minha atenção para as folhas à minha fren
RUBY PORTMANLevei as mãos ao rosto, pressionando as têmporas enquanto tentava absorver o que havia acabado de encontrar.Se isso fosse mesmo o que parecia ser, não era apenas um problema para a empresa. Era um problema para mim, para Danile, e para qualquer pessoa associada a essas transações.Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro, o meu coração martelando no peito. Eu precisava pensar. Precisava decidir o que fazer com essas informações.Pensei em Danile. Será que ela sabia? Era difícil acreditar que ela fosse completamente alheia a algo tão sério, mas, ao mesmo tempo, o seu comportamento impulsivo e às vezes descuidado sugeria que talvez não estivesse no controle de tudo como gostava de fazer parecer.E Harry? Ele sabia disso antes de mim. Claro que sabia. O que me levava a perguntar como ele havia conseguido essas informações e por que não tinha tomado medidas mais drásticas antes. Faz sentido do porquê o filho da puta não querer fechar contrato.Voltei a sentar, e
HARRY RADCLIFFEDescobrir que Ruby trabalhava para Danile Migler havia sido um golpe inesperado, mas não um que eu não pudesse transformar a meu favor. Quando a informação chegou a mim, o primeiro impulso foi mandá-la sair de lá imediatamente. Não era seguro, e eu sabia disso melhor do que ninguém. Mas Ruby sempre foi teimosa, uma qualidade que podia ser encantadora e exasperante na mesma medida.Se eu simplesmente exigisse que ela se despedisse, era óbvio que ela faria exatamente o contrário. A sua independência e orgulho não permitiriam outra coisa.Então, por que não deixá-la permanecer no meio da confusão?Encostei-me na mesa do meu escritório, segurando o copo de uísque com uma mão enquanto encarava a vista da cidade pela janela, deveria certamente ordenar que instalassem uma cortina de persiana, a vista em si já começava a se tornar muito tediosa.Robert Migler era um nome que já havia cruzado o meu radar antes, mas nunca com tanta relevância. Até então, ele havia sido apenas ma
HARRY RADCLIFFE— O que aconteceu? — Minha pergunta foi direta, mas não obtive uma resposta imediata. Em vez disso, ela começou a falar, as palavras saindo tão rápido que pareciam atropelar umas às outras.— Eles vão me prender, Harry! Eu vou ser presa! Tudo isso está na minha frente, os papéis, os nomes, os valores… Eles vão achar que eu sabia! Que eu fazia parte disso!Olhando para ela, percebi que a sua respiração estava acelerada, quase ofegante. Ela estava à beira de um colapso, e eu sabia que precisava tomar o controle da situação antes que ela caísse em uma espiral sem volta.— Ruby. Pare.A minha voz cortou o ar como uma lâmina, e ela parou finalmente de falar, os olhos fixando-se nos meus com uma mistura de pânico e confusão.— Você não vai ser presa.— Como você pode ter certeza? — A voz dela estava cheia de desespero, quase histérica.— Porque eu não vou permitir.Afastei-me ligeiramente, ainda segurando os seus braços, e a fiz sentar-se novamente no sofá. Caminhei até o ba
RUBY PORTMANDesliguei o tablet e o deixei de lado, pousando-o sobre o sofá. Peguei a minha taça de vinho branco, girando o líquido suavemente antes de levar a taça aos lábios. Três anos. Três longos anos haviam se passado desde o desaparecimento de Harry e da sua família. Eu estava prestes a completar 30 anos, uma nova década de vida se aproximando, mas minha mente ainda insistia em voltar ao que aconteceu, ou ao que deixou de acontecer. Três anos de ausência, de silêncio, de especulações e de um vazio que, por mais que eu tentasse, nunca conseguia preencher completamente.Durante esse tempo, eu havia tentado de tudo para esquecer, para seguir em frente. Queria sentir raiva de Harry, nutrir um ressentimento profundo por ele, por ter me deixado sem respostas, sem um adeus. Queria odiá-lo, desejar que ele pagasse por tudo de ruim que significou na minha vida. No entanto, a cada semana, sem falhar, eu pegava-me lendo tabloides, procurando por qualquer sinal, qualquer notícia que dissess