Esther se manteve firme, sem demonstrar um traço de hesitação. Já Marcelo, embora tão determinado quanto ela, segurava sua mão com força, como se isso fosse o suficiente para protegê-la de todo o perigo.Mateus não disse nada, mas seu olhar era frio como gelo. Ele parecia um espírito vingativo, um guerreiro que emergia diretamente das profundezas do submundo. Líder de uma nação e estrategista em tempos de guerra, Mateus nunca havia ouvido palavras como aquelas ditas com tamanha ousadia em sua presença. Ele respondeu com um tom ameaçador:— É bom que você nunca esteja sozinha, ou... Antes que ele pudesse terminar, Marcelo o interrompeu com um grito cheio de raiva:— Se você fizer algo contra ela, terá que passar por mim primeiro! Os olhos de Marcelo brilhavam com uma intensidade feroz, refletindo sua convicção. Em questão de segundos, parecia que ele havia canalizado toda a sua força em um único objetivo: proteger Esther a qualquer custo.Mateus encarou o filho por alguns instantes,
Bernardo estava tentando, com toda a paciência, fazer Estélio comer mais um pouco.Suas palavras pareciam surtir efeito, mas Estélio, além de comer, não dizia uma única palavra.Bernardo o observava com um olhar preocupado e, após um momento de hesitação, decidiu ligar para Geraldo.A ligação tocou algumas vezes antes de ser atendida. — Sr. Bernardo. — Esther ajudou um garoto, mas ele não fala. Sinto que há algo errado. Você está no País S? Se estiver, poderia vir até aqui dar uma olhada nesse menino? Desde que Esther se mudou para o País S como correspondente de guerra, Geraldo também havia se instalado lá, onde abriu uma clínica para atender os moradores locais.O Faraó sabia da paixão de Geraldo por Esther, e ele havia até ajudado a lhe devolver uma identidade comum.— Sim, vou agora mesmo. — Respondeu Geraldo.Embora Geraldo estivesse sempre atarefado em sua clínica, tentava se encontrar com Esther sempre que possível. Contudo, ela nunca estava disponível, e ele não queria ser i
Os olhos de Geraldo se arregalaram, e a voz dele saiu quase como um suspiro. — Fui chamado pelas tropas. Só agora consegui sair de lá. Bernardo imediatamente entendeu. Com um simples gesto, ele indicou para que Geraldo fizesse o que precisava ser feito. — Basta fazer o exame de DNA entre mim e ele. — Entendido. No entanto, quando Geraldo se aproximou para tirar sangue de Estélio, o garoto imediatamente reagiu. Ele apertou os dentes com força, parecendo uma fera encurralada, pronto para atacar.Com um movimento rápido, Estélio correu para longe.— Só vamos fazer um exame, só para verificar sua saúde. Não estamos tentando te machucar. Somos amigos da Esther, pode confiar em nós. — Bernardo tentou acalmá-lo com uma voz suave e firme. — Você... Está... Mentindo! — Estélio conseguiu dizer, com uma voz rouca e cheia de desconfiança.Bernardo congelou por um momento, surpreso ao ouvir o garoto falar. Porém, naquele instante, ele não tinha tempo a perder. O que ele mais queria era a ver
Esther segurava a mão de Estélio enquanto o guiava até uma barraca de comida. Ela já havia tomado uma decisão. Ela queria deixar de ser correspondente de guerra e voltaria para a capital com Estélio, para viver uma vida mais simples, longe do campo de batalha. Estélio iria para a escola, enquanto ela trabalharia para sustentar a casa.Marcelo percebeu que Esther não estava disposta a conversar naquele momento. Ele se calou, respeitando o espaço dela, sem insistir.Geraldo, por sua vez, já tinha compreendido o que estava acontecendo, e sua expressão séria dizia tudo.Marcelo, que ele acreditava ter morrido, estava vivo. Por um breve instante, Geraldo imaginou que poderia ter uma chance, mas agora, com Marcelo e o filho de Esther vivos, ele sabia que tudo estava perdido para ele. Durante cinco anos, ele se esforçou, mas Esther nunca deu espaço para ele entrar em seu coração. Agora, com a família dela reunida, ele não tinha mais lugar.No fundo, ele só queria que Esther fosse feliz.Bern
Marcelo se aproximou de Esther com um sorriso suave nos lábios. — Vamos nos casar novamente, Esther. — Ele pausou por um instante antes de continuar. — Vamos voltar para a capital.Era uma decisão firme. Ele finalmente queria estar com ela e com o filho. Uma família reunida, algo que Esther sempre sonhou, mas que, naquele momento, parecia tão distante da realidade. Ela estendeu a mão, tocando o rosto de Marcelo, sentindo cada detalhe de sua pele. Aquilo era real. A sensação de tocá-lo, de tê-lo ali, era tão intensa que ela mal conseguia acreditar.Foi então que, de repente, Estélio caiu no chão. Seu corpo se contorcia e seu rosto se retorcia de dor.— Estélio! — Esther gritou, com uma voz embargada, o desespero tomou conta de seu peito.Antes, ela se sentia apenas comovida com a situação de Estélio. Agora, a dor dele era a sua própria dor. Ela era mãe, e seu instinto a fazia querer proteger o filho a todo custo.Esther o abraçou com força, sentindo o corpo frágil do menino tremendo e
— Está bem.— Geraldo foi o primeiro a responder, mas Esther hesitou. Quando estava prestes a dizer algo, ele a puxou com firmeza. — Esther, agora não vale a pena você ir atrás. Não vai adiantar.— Pode ficar tranquila, tudo o que Marcelo decidir será feito. Se precisar de algum medicamento, pode contar comigo. Eu consigo tudo para você. — Geraldo falou com total convicção, sem se importar se isso significava que teria que se transformar em um homem-erva de novo.Esther sabia que Geraldo a ajudaria, mas sua maior preocupação era Estélio. Um menino tão pequeno, com apenas cinco anos, sofrendo tanto. Ela queria poder assumir essa dor no lugar dele.No entanto, ao mesmo tempo, ela sabia que suas emoções não ajudariam em nada naquele momento. Precisava se manter firme, afastar a tristeza e focar no que realmente importava.Enquanto isso, Marcelo, com Estélio nos braços, se dirigia ao encontro de seu pai.Mateus já esperava por ele, mas não imaginava que Marcelo traria o garoto com ele.— Vo
As vozes em murmúrios começaram a crescer, preenchendo o ambiente com tensão crescente.Porém, Mateus se manteve impassível. Sua postura rígida e olhar sereno não entregavam nenhum sinal de hesitação.Enquanto isso, Marcelo segurava Estélio nos braços com força e determinação. Ele não precisava de palavras, o brilho resoluto em seus olhos falava por si. Cada passo que o levou a este confronto foi cuidadosamente calculado, mas, no fundo, Marcelo sabia que foi Mateus quem o empurrou até este ponto.— Me entregue o antídoto. — Disse Marcelo, com a voz firme. — Nunca neguei minhas raízes no País B. Estou aqui apenas porque você salvou minha vida, mas sempre busquei o momento certo para voltar.Os murmúrios se transformaram em apelos. Conselheiros e aliados próximos de Mateus romperam o silêncio.— Presidente, não podemos abrigar alguém do País B em nosso território!— Presidente, pense no que isso significa para nós!...Mas Mateus, frio e inabalável, manteve seus olhos fixos em Marcelo. E
Se Marcelo e Estélio permanecessem no País S, Esther acabaria sozinha. Geraldo sabia que, apesar de essa situação talvez lhe abrir uma nova chance de se aproximar dela, o sofrimento que isso causaria era insuportável. Não era isso que ele queria para ela. O que importava era que Esther pudesse voltar a sorrir, reencontrar a paz e a felicidade que ela merecia.Tomando coragem, Geraldo deu alguns passos à frente e quebrou o silêncio.— Você não está sozinha, Esther. Eu ainda estou aqui. Também temos o Faraó. Já esqueceu tudo o que sou capaz de fazer?Essas palavras foram o suficiente para fazer Esther pensar. O Faraó, conhecido pelas suas habilidades incomuns e seus experimentos arriscados, havia transformado Geraldo no passado. Se alguém tinha uma solução, esse alguém era ele.Ela estava disposta a ceder por seu filho.O semblante de Esther mudou. A esperança, mesmo que tímida, parecia renascer em seus olhos. Ela se virou para Marcelo e, com determinação, disse:— Vamos para Iurani, Ma