Marcelo encarou o olhar firme do presidente. Cada palavra saiu de sua boca com uma precisão calculada.Naquele momento, Marcelo não usava sua máscara habitual. Ele estava ali como o terceiro filho do presidente do País S, e essa identidade já era suficiente para colocar sua vida em risco. Afinal, o Marcelo que todos acreditavam estar morto havia renascido.Ser um ex-líder de alto escalão do País B e, agora, assumir um papel no País S era algo que inevitavelmente atrairia críticas e condenações de todos os lados.Mas Marcelo não parecia se importar.Era evidente que ele e Esther já haviam se reencontrado.— Não me importa o que você prometeu a Esther ou quais são os seus planos! — Declarou o presidente, com uma frieza cortante. — Agora que você é meu filho, vai seguir as minhas ordens sem questionar. Caso contrário, tudo o que você teme, eu vou transformar em realidade.Com essas palavras, o presidente virou as costas e subiu no helicóptero. Ele foi até ali apenas para colocar Marcelo e
Esther sentiu a mãozinha de Estélio agarrar a sua e balançar suavemente.Ele não disse nada, mas era óbvio que queria ficar com ela.— Nesse caso, podemos emitir os documentos necessários. Se nenhum parente dele aparecer, você poderá levá-lo para o seu país, registrá-lo e matriculá-lo na escola. — Disse o responsável.— Tudo bem. — Respondeu Esther, acenando com a cabeça enquanto esperava na embaixada com o menino.Os papéis ficaram prontos em poucos minutos.Quando Esther e Estélio saíram da embaixada, a luz do sol iluminou seus corpos, projetando uma longa sombra no chão.Por um instante, Esther ficou perdida em seus pensamentos. Ao ver a sombra dos dois entrelaçada, ela imaginou como seria se estivesse segurando a mão de seu próprio filho.Seu filho teria mais ou menos a mesma idade de Estélio.A lembrança fez uma pontada de dor surgir em seu peito. Marcelo ainda se recusava a contar onde estava a criança.Sem conseguir conter a angústia, Esther pegou o celular e ligou para Marcelo.
A verdade sobre o pai biológico de Esther veio à tona.Além disso, surgiram revelações sobre a guerra civil em Iurani: saques, incêndios, violência e, o mais cruel, os campos de escravos criados pelo Faraó, onde seres humanos eram usados como cobaias em experimentos.O impacto foi imediato. Esther recebeu o rótulo de “filha do demônio”. A notícia tomou conta dos fóruns internacionais, gerando uma onda de indignação.[Quem diria! A jornalista que sempre pregou a paz é, na verdade, filha de um monstro. Olhem para o pai dela! É um verdadeiro tirano!][Só mesmo o País B, com toda a sua tolerância, para não retaliar Iurani por causa dela.][Exatamente! Se fosse outro país, já teriam acabado com Iurani faz tempo!][A Esther quer posar de heroína da justiça, mas é ridículo. Ela é filha de um demônio!][Ela está na capital como espiã, enviada pelo Faraó, com certeza!][E ainda tem essa: ela foi casada com o Marcelo. Depois ele morreu em Iurani... Foi ela que o matou!][Essa mulher é uma traido
Esther percebeu que a presença de Bernardo ali poderia causar problemas para ele. Com um semblante sério, ela disse com firmeza:— Bernardo, é melhor você ir embora.— Você acha mesmo que eu vou te deixar aqui sozinha? — Rebateu ele, segurando a mão dela com firmeza. Bernardo não tinha intenção de abandoná-la. Além disso, considerando a relação entre Iurani e o País B, ele sabia que dificilmente seria detido, ainda mais porque a morte de Marcelo havia passado por todos os processos oficiais de investigação e auditoria, não havia motivos para Bernardo encontrar complicações.Esther não encontrou palavras para retrucar.Ela sabia que não era uma espiã, mas o País B precisava dar satisfações à sua população. Isso significava que ela teria que ser investigada, incluindo a análise de seus registros de chamadas recentes.Esther seria levada. Estélio, no entanto, não quis deixá-la ir. O menino agarrou sua mão com força, sem querer soltá-la. Foi preciso que Esther se abaixasse e, com muita pa
Finalmente, retiraram o saco de estopa que cobria o rosto de Esther.Assim que sua visão se ajustou, Esther notou a luz amarelada que vinha de uma lâmpada fraca no teto do carro. Olhando ao redor, percebeu que vários homens estavam presentes, todos segurando armas, a atmosfera estava carregada de tensão.Um deles, sentado ao lado dela, tinha fios brancos nas têmporas. A sombra no rosto do homem escondia seus traços, dificultando que ela enxergasse claramente quem ele era.Ele curvou levemente os lábios em um sorriso gelado antes de falar:— Então, por que tem tanta certeza de que te pegamos só para trocar pelo Gustavo?Esther não respondeu, se mantendo em silêncio enquanto seus pensamentos corriam.Se o objetivo não era trocá-la por Gustavo, então o que seria? Será que as matérias que ela publicou prejudicaram interesses cruciais dos militares? Talvez esses homens fossem agentes militares das alianças e planejavam usar Esther para negociar algo com Iurani.A possibilidade deixou Esther
Marcelo não queria arrastá-la ainda mais para a confusão, mas a realidade é que Esther estava envolvida diretamente em tudo aquilo, e ela tinha o direito de saber a verdade.Ele sabia da teimosia dela e que, naquele momento, ela estava cheia de raiva. Depois de alguns segundos de silêncio, ele falou calmamente:— Esses homens trabalham para o meu pai. Joana não é minha mãe biológica e Vítor não é meu pai verdadeiro. Meu pai é o presidente do País S. Foi ele quem me salvou quando caí no rio que corta todo o território de Iurani. Passei um bom tempo me recuperando, e depois ele fez várias articulações para mim... Esther, eu fiz um acordo com ele, e havia coisas que eu precisava cumprir.Mesmo sabendo que ele não estava morto, o fato de Marcelo ter ficado longe por tantos anos fazia Esther se sentir vazia. Ela até tentava entender o que ele passou, mas ouvi-lo explicar tudo daquela forma a machucou profundamente.Esther tentou estender a mão para abraçá-lo, mas a lembrança da criança a im
Esther empurrou Marcelo com força, como se quisesse afastar dele toda a dor que sentia. Com a voz tremendo de raiva e tristeza, ela disse:— Desde que meu filho não tenha morrido, vá fazer o que for preciso.— Você não quer mais estar comigo? — Indagou Marcelo.As palavras de Esther o atingiram como um soco no estômago. Ele não queria ouvir o que ela tinha a dizer, mas seus olhos estavam fixos nela, e o reflexo da dor em seu olhar se espalhou por todo o seu rosto. A cor vermelha intensa em seus olhos aumentava, como se uma tempestade estivesse prestes a desabar sobre ele. Ele sabia que, ao voltar após tantos anos, ela estaria furiosa. Sabia que ela o culparia por tudo, mas ele não tinha escolha. Não podia lutar contra o destino, não podia se apresentar diante dela como um homem quebrado e deformado, com tantas marcas físicas que revelavam o que ele havia passado.Esther sentiu seu peito apertar, o sangue fervia em suas veias. Olhou para ele e notou mais uma vez a cicatriz visível na
No hotel, tudo estava uma bagunça.Esther Moura acordou com uma dor intensa pelo corpo.Ela massageou a testa, pronta para se levantar, e olhou para a figura alta deitada ao lado dela.Um rosto exageradamente bonito, com traços definidos e olhos profundos.Ele ainda dormia profundamente, sem sinal de despertar.Esther se sentou, o cobertor deslizou, revelando seus ombros brancos e sensuais, marcados por algumas manchas.Ela desceu da cama, e no lençol havia marcas claras de sangue.Ao ver a hora, percebeu que estava quase na hora de ir para o trabalho. Pegou o tailleur que estava jogado no chão e vestiu.As meias-calças estavam rasgadas por ele.Ela as amassou e jogou no lixo, calçando os sapatos de salto alto.Ao mesmo tempo, alguém bateu na porta.Esther já estava vestida e pronta, parecendo novamente a secretária eficiente, pegou sua bolsa e foi em direção à saída.Quem entrou foi uma jovem de aparência pura e inocente.Ela quem tinha chamado.Exatamente o tipo que Marcelo Mendes go