Esther empurrou Marcelo com força, como se quisesse afastar dele toda a dor que sentia. Com a voz tremendo de raiva e tristeza, ela disse:— Desde que meu filho não tenha morrido, vá fazer o que for preciso.— Você não quer mais estar comigo? — Indagou Marcelo.As palavras de Esther o atingiram como um soco no estômago. Ele não queria ouvir o que ela tinha a dizer, mas seus olhos estavam fixos nela, e o reflexo da dor em seu olhar se espalhou por todo o seu rosto. A cor vermelha intensa em seus olhos aumentava, como se uma tempestade estivesse prestes a desabar sobre ele. Ele sabia que, ao voltar após tantos anos, ela estaria furiosa. Sabia que ela o culparia por tudo, mas ele não tinha escolha. Não podia lutar contra o destino, não podia se apresentar diante dela como um homem quebrado e deformado, com tantas marcas físicas que revelavam o que ele havia passado.Esther sentiu seu peito apertar, o sangue fervia em suas veias. Olhou para ele e notou mais uma vez a cicatriz visível na
Com um olhar fixo e profundo, Esther permaneceu em silêncio.O homem percebeu o peso do momento e tentou suavizar a tensão.— Eu não sou seu inimigo. Não quero te machucar. Eu só preciso dizer algumas coisas, coisas que você precisa saber.Ela o observou atentamente, esperando por mais explicações. O homem parecia ponderar por um momento, mas logo continuou, com a voz mais calma:— O Sr. Marcelo foi resgatado pelo presidente. Ele esteve em coma por mais de três anos. A bala esteve a poucos centímetros do seu coração e ele sofreu diversas fraturas. Seu corpo está completamente marcado. Durante o coma, ele não podia fazer nada, enquanto o corpo se recuperava e ele evitava os efeitos da anestesia. Depois disso, durante o ano seguinte, ele passou por inúmeras cirurgias e tratamentos. Sempre que a dor se tornava insuportável, ele chamava o seu nome. O Sr. Marcelo se importa muito com você. Agora, ele está até disposto a desafiar o presidente por você. O presidente tem um plano para elimina
Esther sentiu o coração de Marcelo batendo firme e forte contra o peito dele. Aquele som e a fragrância levemente intensa, marcada por uma aura masculina inconfundível, trouxeram uma sensação de realidade.Ele era o verdadeiro Marcelo!Por mais que Esther estivesse zangada antes, ela sabia que amava profundamente aquele homem diante dela. Nunca, em nenhuma circunstância, ela aceitaria que ele tentasse expiar seus pecados com a própria morte.Além disso, as palavras de Xavier ressoavam em sua mente, assim como as explicações que Marcelo próprio ofereceu. Esther conseguia entender a situação dele, enxergar suas dificuldades. Isso a fazia sentir ainda mais compaixão.Esther apertou Marcelo com mais força, sussurrando com sinceridade:— Marcelo, você tem seus motivos. Para ser sincera, sou muito grata ao seu pai por ter te salvado.Se não fosse pelo presidente, Marcelo teria morrido naquela fria e cruel correnteza. Esther nunca o teria visto novamente, nunca teria mais a chance de abraçá-l
Marcelo agora tinha a coragem de desafiar Mateus abertamente?As decisões de Mateus nunca precisaram de conselhos, muito menos de julgamentos alheios. Com o rosto fechado e a expressão sombria, Marcelo tomou Esther pela mão e a puxou para trás de si, declarando com firmeza:— Se você não quer ouvir, tudo bem. No entanto, cuide da sua própria vida e pare de envolver quem não tem nada a ver com isso. Essas palavras, nas entrelinhas, significavam que ele estava abdicando de seu papel como filho.Tudo isso era por causa de sua decisão de proteger Esther, a mulher por quem ele estava disposto a sacrificar tudo.Mateus, sem perder tempo, sacou sua arma com a precisão e rapidez de um veterano. O clique do gatilho ecoou no ambiente, mas antes que o disparo pudesse ser feito, Marcelo se posicionou na frente de Esther. Ele não hesitaria em dar a própria vida por ela.Mateus, conhecido por sua frieza e crueldade, hesitou por um momento. Ele sabia que Marcelo era mais do que um filho qualquer, e
Esther se manteve firme, sem demonstrar um traço de hesitação. Já Marcelo, embora tão determinado quanto ela, segurava sua mão com força, como se isso fosse o suficiente para protegê-la de todo o perigo.Mateus não disse nada, mas seu olhar era frio como gelo. Ele parecia um espírito vingativo, um guerreiro que emergia diretamente das profundezas do submundo. Líder de uma nação e estrategista em tempos de guerra, Mateus nunca havia ouvido palavras como aquelas ditas com tamanha ousadia em sua presença. Ele respondeu com um tom ameaçador:— É bom que você nunca esteja sozinha, ou... Antes que ele pudesse terminar, Marcelo o interrompeu com um grito cheio de raiva:— Se você fizer algo contra ela, terá que passar por mim primeiro! Os olhos de Marcelo brilhavam com uma intensidade feroz, refletindo sua convicção. Em questão de segundos, parecia que ele havia canalizado toda a sua força em um único objetivo: proteger Esther a qualquer custo.Mateus encarou o filho por alguns instantes,
Bernardo estava tentando, com toda a paciência, fazer Estélio comer mais um pouco.Suas palavras pareciam surtir efeito, mas Estélio, além de comer, não dizia uma única palavra.Bernardo o observava com um olhar preocupado e, após um momento de hesitação, decidiu ligar para Geraldo.A ligação tocou algumas vezes antes de ser atendida. — Sr. Bernardo. — Esther ajudou um garoto, mas ele não fala. Sinto que há algo errado. Você está no País S? Se estiver, poderia vir até aqui dar uma olhada nesse menino? Desde que Esther se mudou para o País S como correspondente de guerra, Geraldo também havia se instalado lá, onde abriu uma clínica para atender os moradores locais.O Faraó sabia da paixão de Geraldo por Esther, e ele havia até ajudado a lhe devolver uma identidade comum.— Sim, vou agora mesmo. — Respondeu Geraldo.Embora Geraldo estivesse sempre atarefado em sua clínica, tentava se encontrar com Esther sempre que possível. Contudo, ela nunca estava disponível, e ele não queria ser i
Os olhos de Geraldo se arregalaram, e a voz dele saiu quase como um suspiro. — Fui chamado pelas tropas. Só agora consegui sair de lá. Bernardo imediatamente entendeu. Com um simples gesto, ele indicou para que Geraldo fizesse o que precisava ser feito. — Basta fazer o exame de DNA entre mim e ele. — Entendido. No entanto, quando Geraldo se aproximou para tirar sangue de Estélio, o garoto imediatamente reagiu. Ele apertou os dentes com força, parecendo uma fera encurralada, pronto para atacar.Com um movimento rápido, Estélio correu para longe.— Só vamos fazer um exame, só para verificar sua saúde. Não estamos tentando te machucar. Somos amigos da Esther, pode confiar em nós. — Bernardo tentou acalmá-lo com uma voz suave e firme. — Você... Está... Mentindo! — Estélio conseguiu dizer, com uma voz rouca e cheia de desconfiança.Bernardo congelou por um momento, surpreso ao ouvir o garoto falar. Porém, naquele instante, ele não tinha tempo a perder. O que ele mais queria era a ver
Esther segurava a mão de Estélio enquanto o guiava até uma barraca de comida. Ela já havia tomado uma decisão. Ela queria deixar de ser correspondente de guerra e voltaria para a capital com Estélio, para viver uma vida mais simples, longe do campo de batalha. Estélio iria para a escola, enquanto ela trabalharia para sustentar a casa.Marcelo percebeu que Esther não estava disposta a conversar naquele momento. Ele se calou, respeitando o espaço dela, sem insistir.Geraldo, por sua vez, já tinha compreendido o que estava acontecendo, e sua expressão séria dizia tudo.Marcelo, que ele acreditava ter morrido, estava vivo. Por um breve instante, Geraldo imaginou que poderia ter uma chance, mas agora, com Marcelo e o filho de Esther vivos, ele sabia que tudo estava perdido para ele. Durante cinco anos, ele se esforçou, mas Esther nunca deu espaço para ele entrar em seu coração. Agora, com a família dela reunida, ele não tinha mais lugar.No fundo, ele só queria que Esther fosse feliz.Bern