Tudo indicava que aquilo era um acidente, não algo premeditado.— Eu sei. Vamos partir hoje mesmo. — Disse Esther.Ela não tinha muitas coisas para levar. Apenas duas mudas de roupas para a criança, tudo cabia em uma pequena mochila. Mesmo assim, Esther fez questão de avisar a Bernardo:— Ainda tenho assuntos pendentes aqui. Vou com você para Iurani, mas precisamos ser rápidos. No máximo, fico três dias lá.Três dias, sem contar o tempo de viagem... Era realmente pouco tempo.Mas, pensando bem, o simples fato de Esther ter aceitado ir para Iurani já era algo positivo....Estélio estava sempre ao lado de Esther, em silêncio, sem causar problemas.Bernardo percebeu algo enquanto observava o perfil do garoto. Ele tinha um certo traço parecido com Esther. No entanto, Bernardo sabia muito bem que o filho de Esther e Marcelo tinha morrido há cinco anos.Mesmo que não tivesse morrido, Esther havia procurado por cinco anos sem encontrar nenhuma pista, ademais Marcelo também nunca deu sinal de
Esther permaneceu em silêncio, mas seu olhar cúmplice para Bernardo dizia mais do que palavras.A viagem seguiu, mas o pequeno incidente foi suficiente para deixar Bernardo e Vasco em alerta constante. Até mesmo Esther, apesar de sua aparente calma, não conseguiu tirar o episódio da cabeça.O que nenhum deles percebeu foi a presença discreta de uma equipe que os seguia à distância, garantindo que chegassem em segurança a Iurani.Assim que soube que Esther estava voltando, o Faraó fez questão de preparar para ela um quarto grandioso e repleto de luxos. No entanto, assim que entrou no cômodo, Esther deu meia-volta e saiu sem hesitar.— Quero um quarto mais simples. — Disse Esther, sem espaço para discussões.Ela não precisava de explicações para saber quem estava por trás daquela demonstração exagerada. Era evidente que o Faraó queria se redimir, mas, para Esther, os anos de dor e ressentimento não seriam apagados com gestos superficiais.Desde que chegou, memórias dolorosas vieram à ton
A mulher estreitou os olhos, surpresa por Esther ter mostrado tanta habilidade. Mas isso só a fez ficar ainda mais determinada a colocá-la em seu lugar. Se Esther achava que ia intimidá-la com tão pouco, estava muito enganada.— Não se esqueça de onde você está. Aqui, você não tem importância nenhuma! Não pense que só porque conseguiu se aproximar do Sr. Bernardo que vai virar a primeira dama de Iurani! — Gritou ela, com os olhos brilhando de raiva. — Me deixe te avisar: o controle de Iurani será passado para a Srta. Estrella. Você e esse seu filho bastardo deviam sair daqui agora mesmo, antes de se tornarem uma vergonha ainda maior!As palavras saíram como lâminas afiadas, acompanhadas de uma fúria que parecia incendiar o ar.Se olhares fossem capazes de matar, Esther já estaria caída ali mesmo, diante daquela mulher.Enquanto falava, a mulher avançou rápido, tentando atacar Esther, mas os tempos em que Esther era indefesa ficaram no passado. Esther já sabia se defender e, com apenas
Era Bernardo quem estava falando.Ele foi caminhando a passos largos, com o rosto sério e uma expressão sombria que fazia o ar parecer mais pesado.Com apenas um olhar, Bernardo indicou a Vasco o que fazer, e este prontamente entendeu. Ele puxou a mulher pelo braço, a afastando do local. A mulher percebeu a fúria de Bernardo e não ousou ficar mais um segundo ali.Enquanto isso, Esther se manteve impassível, com uma postura altiva e uma expressão imponente e inabalável.— Esther, me desculpe. — Bernardo parou diante dela, com os ombros ligeiramente curvados em sinal de culpa.Esther manteve o tom distante:— Isso não tem nada a ver com você. Eu aceitei vir para cá apenas por causa do Gustavo. Deixei isso claro desde o início. Quando pretende começar o que planejou?Ela era direta. Não queria perder tempo ou ficar à mercê das circunstâncias.— Descanse hoje. Amanhã começamos. Assim que nos movermos, Gustavo não vai conseguir ficar escondido por muito tempo. — Bernardo respondeu, sério.E
Bernardo explicou que o Faraó tinha delegado muitos poderes a Gustavo. Apesar disso, o Faraó nunca esteve fora de si. Ele sabia exatamente o que Gustavo fazia e, de certa forma, permitia. Agora que havia se afastado, o objetivo era que Bernardo reconstruísse Iurani...— Por hoje, descanse. Não vou forçar você a nada, nem deixarei que ninguém a incomode. — Bernardo respirou fundo, encerrando a conversa antes de se retirar, deixando Esther sozinha.Pouco tempo depois, levaram uma variedade de comidas para Esther. Eram pratos requintados, dispostos como se fossem para um banquete, mas ela não tocou em nada.Esther chamou Estélio para perto de si.— Deve estar com fome, né? Pode comer o quanto quiser. — Esther sorriu para ele, tentando parecer descontraída.Estélio, porém, não moveu um único dedo para comer. Ele apenas pegou um par de talheres e os ofereceu a Esther, olhando para ela com olhos brilhantes, cheios de expectativa.Ela suspirou, afagando a cabeça dele com ternura.— Tá bom, va
Esther não obteve nenhuma resposta do homem.Quando tentou puxar a máscara com mais força, ele segurou seu pulso firmemente.— Senhorita, você está enganada. Eu não sou quem você pensa. Eu... — Disse o homem.— Se estou enganada, então por que você apareceu justo para me salvar? — Esther o interrompeu, com a voz firme e fria.Seus olhos penetrantes, negros e brilhantes, estavam fixos nele, buscando qualquer sinal que confirmasse sua suspeita.A máscara prateada cobria o rosto do homem, deixando à mostra apenas seus lábios finos e os olhos sombrios. A proximidade entre eles tornava o momento quase insuportável.Nesse instante, Esther teve certeza de que ele era Marcelo!— Marcelo, você não acha que está sendo cruel comigo? — A voz dela falhou, embargada pela dor que vinha guardando há tanto tempo. — Você deixou que eu acreditasse na sua morte. Ficou cinco anos sem me procurar! E o nosso filho? Por que não me contou onde ele está? Por que foi tão cruel? Quem sou eu para você, afinal?As
Marcelo sentia o coração apertado ao olhar para Esther naquela condição. Nos últimos cinco anos, ela viveu entre perigos e tiroteios. Desde que ele acordou e soube onde ela estava, fez de tudo para protegê-la, mesmo sem se revelar.Não era porque não queria vê-la, mas porque não podia. Não tinha coragem.Esther, no entanto, não estava disposta a ouvir desculpas. Ela soltou uma risada amarga e balançou a cabeça.— É claro... Se eu não tivesse te pressionado, você nunca teria tirado essa máscara para me encarar. Marcelo, o que eu sou para você?Ela sabia que Marcelo se importava. Afinal, ele deixou todos os bens para ela e preparou uma rota de fuga para garantir sua segurança. Mas isso não apagava a mágoa.Ele a deixou sozinha por todos esses anos. Se tivesse enviado qualquer mensagem, por menor que fosse, ela não teria passado por tanto sofrimento. Não estaria tão destruída agora.Marcelo não respondeu. Não era que não queria, mas porque simplesmente não conseguia. Parecia que algo bloq
Gustavo foi arrastado até o laboratório sem piedade.Sem hesitar, forçaram ele a ingerir todas as toxinas que um dia usou em suas vítimas. A dor era insuportável. Ele se contorcia no chão, o rosto estava pálido como cera, e espuma escorria de sua boca. Seus gritos de agonia ecoavam no espaço, mas ninguém demonstrava compaixão. Especialmente o Faraó.O Faraó se aproximou lentamente, enquanto Gustavo sofria, e começou a torturá-lo com uma lâmina.— Se não fosse por você, eu nunca teria sido separado da minha filha Estrella. Ela também não teria carregado essa mágoa contra mim durante todos esses anos. Você ainda teve a audácia de criar uma impostora para me enganar. Se não fosse pela desconfiança de Bernardo, minha Estrella estaria morta agora. — O Faraó disse um tom frio, mas firme. Era evidente que, para ele, nada era mais importante do que sua filha. Gustavo, por outro lado, havia ultrapassado todos os limites.No passado, o Faraó não aceitava a ideia de que sua filha estava morta. E