— Esther, você tem que voltar inteira, hein? — Disse Eduarda, com a voz embargada.Esther ainda tentou manter a compostura, mas quando Eduarda começou a chorar, não teve jeito. Uma onda de emoção tomou conta de todas ali presente. Logo, lágrimas rolaram pelo rosto das outras pessoas presentes.Rita, no entanto, se manteve firme. Ela deu um passo à frente e bateu com confiança no próprio peito.— Fiquem tranquilas! Comigo aqui, vou garantir que nada aconteça com ela.Para Rita, proteger Esther não era apenas um dever, mas também uma promessa. Era o desejo de Geraldo e a missão que Marcelo havia confiado a ela.Mais tarde, enquanto todas afogavam as emoções na bebida, Rita e Diana permaneceram sóbrias. Esther não podia beber, e Rita sabia que precisava estar alerta para o que viesse.— Diana, você vai levar elas para casa, tá? — Pediu Esther, lançando um olhar firme para a amiga. — Eu tenho que voltar pra casa e me preparar.Não eram necessárias muitas palavras entre as duas. Diana compr
Gilberto estava no Grupo Mendes. Desde que Marcelo havia partido, era ele quem assumiu a maior parte das responsabilidades da empresa. O ritmo era exaustivo, e as demandas se acumulavam a ponto de ele mal conseguir respirar.Por isso, quando o telefone vibrou e o nome de Marcelo apareceu na tela, Gilberto sentiu como se um raio tivesse atravessado seu corpo. Ele pegou o celular de forma abrupta e atendeu com pressa.— Sr. Marcelo!Tudo que ouviu inicialmente foi um som baixo, como um ruído eletrônico.O sinal estava fraco, e Gilberto soube imediatamente que Marcelo ainda estava em Iurani. Aquele lugar era conhecido como o Triângulo de Ouro, uma terra marcada por constantes conflitos armados e instabilidade. Não era difícil imaginar Marcelo, isolado e em perigo, tentando se comunicar dali.Finalmente, a voz clara e firme de Marcelo atravessou o ruído:— Gilberto, como ela está?Era sempre sobre Esther. Não importava a gravidade da situação em que ele se encontrava, ela era a sua priorid
Ela continuava a abrir o aplicativo todos os dias.No fundo de seu coração, ainda havia uma fagulha de esperança. De repente, ouviu batidas leves na porta.— Entre. — Disse Esther, quase por reflexo.Rita abriu a porta devagar e entrou no quarto. Ela havia descido para beber água e percebeu que a luz do quarto de Esther ainda estava acesa. Aquilo só confirmou o que ela já suspeitava, Esther ainda não tinha conseguido dormir.— Por que ainda está acordada? — Perguntou Rita, com uma ponta de preocupação. — Do Porto B até Iurani são mais de 20 horas de voo. Se você não descansar agora, não vai aguentar.Apesar de ter reservado para ambas passagens na primeira classe, Rita sabia que nenhum assento de avião, por mais confortável que fosse, seria melhor que uma cama de verdade. Além disso, ela se preocupava muito com a saúde de Esther, ainda mais considerando tudo que ela já havia enfrentado.Esther forçou um sorriso, mas Rita percebeu que havia algo amargo naquela expressão.Ela sabia o qu
Esther estava sentada ao lado da janela, observando a paisagem através do vidro.Do outro lado, o pátio de aeronaves era visível. Comparado ao aeroporto da capital do seu país, aquele espaço parecia minúsculo. O pátio de concreto mal chegava a um terço do tamanho, com linhas brancas demarcando as áreas, cercado por uma simples grade de arame. Era algo improvisado, sem a grandiosidade que ela estava acostumada.Quando o avião pousou, o impacto foi direto e repentino. A queda brusca fez seu estômago revirar, e ela sentiu uma forte onda de náusea.Antes que pudesse controlar, se inclinou para frente e começou a engasgar em seco.— Esther, calma! — Rita se assustou, se endireitando na cadeira e colocando a mão no ombro dela. — Respira fundo, vai passar logo.Rita, acostumada a situações extremas, sabia como manter a compostura. Afinal, ela já havia enfrentado desafios muito maiores, como se agarrar sozinha a uma corda suspensa de um helicóptero enquanto era lançada de um lado para o outro.
— Olá. — A voz do outro lado da linha soava em um português com um sotaque tão carregado que Esther reconheceu imediatamente. Era a mesma pessoa que havia usado o telefone de Luiz para ligar para ela dias atrás.— Sou eu, Esther. A pessoa que o dono desse telefone queria contatar. Eu já cheguei a Iurani. Você pode me passar um endereço para nos encontrarmos? Ou, se for mais fácil, me envie o telefone por correio, mas preciso que me diga exatamente onde encontrou o aparelho. Eu prometo uma boa recompensa por isso.Ela precisava daquela informação. A localização exata onde o celular tinha sido encontrado poderia ser a pista que faltava para chegar a Luiz.Mesmo em um momento tão difícil, Luiz ainda tinha se esforçado para gravar uma mensagem, tentando tranquilizá-la e informar sobre sua busca pelo antídoto. Esther sentia que jamais poderia retribuir tamanha bondade, mas tinha a obrigação de encontrá-lo agora.Quanto a Marcelo... Ela também precisava resolver isso. Não queria mais que ele
— Leve isso para se proteger. — Disse Rita, que percebia que Esther hesitava, não deu tempo para protestos e forçou o objeto em suas mãos.O toque frio e pesado do metal preto a fez estremecer. Era algo que Esther já tinha visto antes, geralmente na televisão. Mas ela também se lembrava da vez em que Diego a sequestrou, junto com Sofia. A memória daquele dia ainda era vívida. Fora isso, Marcelo sempre mantinha André e Durval afastados dela quando tinham algo assim por perto.— Eu não sei usar isso. — Esther sentiu o peso do objeto em suas mãos, quase como se fosse uma tonelada. Pensar na possibilidade de um acidente ou de machucar alguém fazia sua mente correr em espiral.Rita, conhecendo bem os receios de Esther, respondeu em um tom rouco:— Não importa se você não sabe usar, Esther. O importante é ter. Aqui não é como no nosso país. Sem algo para se proteger, estamos vulneráveis a qualquer um. Os locais ou até mesmo grupos violentos não pensam duas vezes antes de atacar. — A pausa de
Essas crianças não estavam ali por acaso. Elas claramente se posicionavam estrategicamente para abordar turistas estrangeiros, explorando sua compaixão, pedindo comida, dinheiro ou qualquer coisa que pudessem conseguir. Mas não era só isso: Esther sabia, pelos relatos e pesquisas que havia feito antes de viajar, que alguns refugiados agiam de forma ainda mais cruel. Eles atraíam turistas para locais isolados, onde as vítimas eram drogadas e tinham órgãos como rins e corações retirados para serem vendidos.Esther tinha lido sobre a realidade de Iurani e os países ao redor. A região era marcada por pobreza extrema e conflitos constantes, o que gerava um número alarmante de refugiados e moradores em situações degradantes. Ela sabia que isso fazia parte do cenário, mas nunca havia se deparado com algo tão direto e cruel como naquele momento.— Eu sei que nossa comida e roupas são limitadas. — Esther mordeu o lábio, com os olhos fixos nas crianças, e lançou um olhar significativo para Rita.
No instante em que a mulher avistou o veículo militar, todos os seus movimentos cessaram como se um comando invisível a tivesse paralisado.Esther, por sua vez, sentiu o ar pesar ao seu redor. Seu coração deu um salto, e sua mente, por reflexo, foi inundada pela imagem de Marcelo. Por um momento, ela teve a esperança de que ele estivesse naquela caminhonete e que finalmente se reencontrariam. Mas a realidade foi outra.Os homens que desceram do veículo eram completos desconhecidos, suas peles tinham o brilho metálico de bronzeado extremo, e suas expressões eram severas. Eram soldados estrangeiros.A mulher, que agora parecia encontrar neles um tipo de refúgio, correu na direção deles, carregando o filho nos braços e gesticulando descontroladamente. As palavras que saíam de sua boca eram incompreensíveis para Esther, mas a acusação em seu dedo apontado era clara: ela culpava Esther.Sem hesitar, os soldados começaram a caminhar em direção a Esther. Os passos pesados, combinados com suas