Esther sentiu uma dor profunda tomando conta de sua garganta, um nó que parecia impossível de desfazer. Sua voz saiu em um tom quase inaudível, carregado de autodepreciação:— Era isso que eu queria?Gilberto permaneceu em silêncio, sem palavras para responder. Ele era testemunha do longo caminho que Esther e Marcelo haviam trilhado juntos nesses anos. Ambos tinham dado tudo de si um pelo outro, mas, naquele momento, ele não sabia como quebrar o silêncio que pesava entre eles.Esther, no entanto, não conseguiu conter a torrente de emoções que a dominava. Seu riso nervoso logo foi tomado por uma expressão amarga, e o sorriso em seus lábios se transformou em pura ironia.— O que eu quero não é nada disso!Sua voz estava cheia de emoção, e o tom desesperado ecoava no quarto. Era como se toda a dor guardada em seu coração tivesse encontrado uma brecha para escapar, deformando suas palavras e expressão.Gilberto ficou paralisado, chocado com a intensidade do momento. Para ele, Marcelo tinha
Antes de partir, Marcelo cuidou para que todos os detalhes fossem resolvidos. Ele não apenas deixou claro que Esther deveria seguir suas instruções, como também confiou a Gilberto a tarefa de cuidar dela em sua ausência.Alguns minutos depois, Gilberto finalmente deixou o quarto, mas Esther permaneceu em silêncio. Rita, ao seu lado, também não sabia o que dizer. O ambiente no quarto ficou completamente tomado pelo silêncio.Rita olhou para Esther, a inquietação crescendo a cada segundo. O semblante da amiga, tão frio e distante, lhe causava uma pontada de preocupação.— Esther, fala alguma coisa... Você assim está me assustando.A resposta veio curta e seca:— Estou bem.Por dentro, era como se um furacão devastador tivesse passado, deixando tudo em pedaços. Mas ela não era o tipo de pessoa que se entregava à autopiedade, e isso ficou evidente.— Que tal dar uma volta? Ou, se preferir, posso chamar alguém para vir te ver. O que acha? — Sugeriu Rita, cautelosa.Esther, no entanto, se de
— Foi o Sr. Marcelo que entrou em contato comigo... — Disse Gilberto, com a cabeça ligeiramente baixa, como se temesse a reação.Ele jamais ousaria mentir, e, além disso, era a verdade.Esther permaneceu em silêncio. Marcelo escolheu se comunicar com Gilberto, mas ignorava completamente as tentativas dela de contato. Ele havia se distanciado dela com precisão cirúrgica, como se quisesse apagar qualquer vínculo que os ligasse.Naquele momento, Nanda se aproximou, segurando a mão de Esther com um sorriso animado.— Esther, lembra daquele prêmio que a gente não pôde ir pegar porque você não estava bem? Pois é, ganhamos outro! Reservei um salão VIP no Restaurante Lua. Todo mundo vai! Vai ser incrível!Antes que Esther pudesse responder, uma voz feminina, carregada de suavidade e um toque de sarcasmo, ecoou pelo ambiente, se aproximando lentamente:— Pelo visto cheguei na hora certa.Todos no quarto se viraram ao mesmo tempo, curiosos com a interrupção. O olhar deles foi direto para a figur
Naquele instante, a imagem do rosto de Marcelo surgiu clara na mente de Esther, e, como se fosse uma reação física, seu coração se apertou em uma dor aguda e avassaladora. Mas, logo em seguida, um outro pensamento tomou conta dela, o do filho que havia perdido.Um nó se formou em sua garganta. Ela nunca chegou a ver o bebê. Jamais pôde segurá-lo em seus braços ou sequer vislumbrar como ele seria.Quanto mais lutava para não pensar, mais as imagens se repetiam, invadindo sua mente. Sentiu o controle de suas emoções escapar.— Eu preciso ir ao banheiro. — Sua voz saiu baixa, quase inaudível, enquanto se levantava apressada.Melissa, que estava ao seu lado, percebeu imediatamente que algo não estava bem. Seus olhos atentos notaram a vermelhidão nos olhos de Esther e o tremor leve em suas mãos. Sem hesitar, ela se levantou e foi atrás da amiga.No banheiro, Melissa encontrou Esther apoiada sobre o lavatório. Suas mãos seguravam firme a borda da pia, como se aquele fosse o único ponto de ap
Esther não disse nada. Não havia palavras que ela pudesse dizer naquele momento. Sua garganta parecia que tinha engolido uma lâmina afiada, e a dor só aumentava conforme os pensamentos invadiam sua mente. Tudo era tão claro, tão vivo, como se os acontecimentos do passado estivessem se desenrolando novamente diante de seus olhos.Ela sabia que ainda carregava em seu corpo os resquícios do veneno KA48. Porém, após o nascimento do bebê, o veneno não havia surtido efeito. Marcelo, em sua determinação protetora, havia planejado tudo. Ele cuidara de cada detalhe, antecipando cada possibilidade, incluindo Sofia... Até mesmo as lembranças confusas que Esther tinha, misturadas com a dor pela perda do bebê.Ela se lembrou de quando Marcelo, sem saber que o filho era dele, perdeu o controle. Ele ficou furioso, descontando sua raiva nela. Mas, no fim, ele decidiu ficar ao lado dela e do bebê, o aceitando como parte de sua vida. Esse gesto dizia muito sobre o quanto ele a amava.E, ainda assim, el
— Esther, você tem que voltar inteira, hein? — Disse Eduarda, com a voz embargada.Esther ainda tentou manter a compostura, mas quando Eduarda começou a chorar, não teve jeito. Uma onda de emoção tomou conta de todas ali presente. Logo, lágrimas rolaram pelo rosto das outras pessoas presentes.Rita, no entanto, se manteve firme. Ela deu um passo à frente e bateu com confiança no próprio peito.— Fiquem tranquilas! Comigo aqui, vou garantir que nada aconteça com ela.Para Rita, proteger Esther não era apenas um dever, mas também uma promessa. Era o desejo de Geraldo e a missão que Marcelo havia confiado a ela.Mais tarde, enquanto todas afogavam as emoções na bebida, Rita e Diana permaneceram sóbrias. Esther não podia beber, e Rita sabia que precisava estar alerta para o que viesse.— Diana, você vai levar elas para casa, tá? — Pediu Esther, lançando um olhar firme para a amiga. — Eu tenho que voltar pra casa e me preparar.Não eram necessárias muitas palavras entre as duas. Diana compr
Gilberto estava no Grupo Mendes. Desde que Marcelo havia partido, era ele quem assumiu a maior parte das responsabilidades da empresa. O ritmo era exaustivo, e as demandas se acumulavam a ponto de ele mal conseguir respirar.Por isso, quando o telefone vibrou e o nome de Marcelo apareceu na tela, Gilberto sentiu como se um raio tivesse atravessado seu corpo. Ele pegou o celular de forma abrupta e atendeu com pressa.— Sr. Marcelo!Tudo que ouviu inicialmente foi um som baixo, como um ruído eletrônico.O sinal estava fraco, e Gilberto soube imediatamente que Marcelo ainda estava em Iurani. Aquele lugar era conhecido como o Triângulo de Ouro, uma terra marcada por constantes conflitos armados e instabilidade. Não era difícil imaginar Marcelo, isolado e em perigo, tentando se comunicar dali.Finalmente, a voz clara e firme de Marcelo atravessou o ruído:— Gilberto, como ela está?Era sempre sobre Esther. Não importava a gravidade da situação em que ele se encontrava, ela era a sua priorid
Ela continuava a abrir o aplicativo todos os dias.No fundo de seu coração, ainda havia uma fagulha de esperança. De repente, ouviu batidas leves na porta.— Entre. — Disse Esther, quase por reflexo.Rita abriu a porta devagar e entrou no quarto. Ela havia descido para beber água e percebeu que a luz do quarto de Esther ainda estava acesa. Aquilo só confirmou o que ela já suspeitava, Esther ainda não tinha conseguido dormir.— Por que ainda está acordada? — Perguntou Rita, com uma ponta de preocupação. — Do Porto B até Iurani são mais de 20 horas de voo. Se você não descansar agora, não vai aguentar.Apesar de ter reservado para ambas passagens na primeira classe, Rita sabia que nenhum assento de avião, por mais confortável que fosse, seria melhor que uma cama de verdade. Além disso, ela se preocupava muito com a saúde de Esther, ainda mais considerando tudo que ela já havia enfrentado.Esther forçou um sorriso, mas Rita percebeu que havia algo amargo naquela expressão.Ela sabia o qu