— Cala a boca! — Gritou Esther, tomada pela fúria. — Como você consegue dizer esse tipo de coisa? Eu realmente estava errada sobre você!Marcelo virou o rosto, mas não tentou desviar. Ele aceitou o tapa dela de frente, sem hesitação.Seu rosto estava marcado, a bochecha avermelhada pelo impacto. No entanto, o canto de sua boca se curvou em um sorriso amargo, cheio de desprezo. Ele se virou lentamente, com aquele olhar frio e distante, o mesmo de sempre. Mas agora, a frieza em seus olhos era mais profunda, como um abismo sem fim. Ele riu com escárnio.— Se isso te ajudar a desistir de mim, então é um bom começo. Eu nunca fui o homem certo para você!Esther estava devastada. O corpo dela tremia de tanta raiva e tristeza. Jamais, em toda sua vida, ela havia conhecido um homem tão cruel quanto Marcelo.— Se o seu objetivo era me fazer assinar esses papéis, então você conseguiu. Não pense que é só você que quer o divórcio. Eu também quero! — Ela não hesitou nem por um segundo. Pegou a canet
Sofia já estava sonhando acordada, imaginando como seria o seu casamento com Marcelo. Ela podia visualizar cada detalhe: a cerimônia luxuosa, a atenção de todos voltada para ela, o vestido mais deslumbrante... Ela se via como a noiva mais feliz do mundo, finalmente alcançando o que sempre quis.No entanto, de repente, ela ouviu o som de passos pelo corredor. Pensando que era apenas uma das empregadas, ela disse sem se virar:— Não precisa fazer nada aqui, pode sair.Mas os passos não pararam.Com uma leve irritação, ela franziu o cenho e tirou a máscara do rosto.— Eu já falei que não precisa... — Começou a dizer, mas a frase morreu em seus lábios quando levantou os olhos e viu quem estava à sua frente.Seus olhos se arregalaram de surpresa e ela imediatamente mudou sua atitude, deixando de lado a máscara e endireitando a postura.— Papai. — Ela disse, com a voz um tanto hesitante, mas respeitosa.— Fifi. — O homem sorriu para ela, os olhos brilhando de orgulho. — Há quanto tempo... Vo
Para Sofia, só havia uma saída. Ela sabia qual era....Esther não fazia ideia de como conseguiu passar aquela noite. Cada minuto parecia uma eternidade. Ela ficou deitada no sofá, os olhos bem abertos, sem conseguir dormir um segundo sequer. Quando ela finalmente voltou à realidade, notou que o céu do lado leste já estava tingido por uma leve névoa esbranquiçada, anunciando a chegada do amanhecer.Ela se sentia exausta, arrastando seu corpo cansado até o banheiro. Ao olhar para o espelho, tomou um susto. Por um momento, achou que tinha visto um fantasma refletido ali.Seus olhos estavam avermelhados, como se não tivesse dormido há dias. O rosto estava pálido e marcado pela fadiga. Não havia cor em suas bochechas e ela parecia uma mulher gravemente doente, alguém à beira do colapso.Ela passou a mão pelo rosto, sentindo a textura da pele, mal conseguia acreditar que aquela imagem era sua. Como tinha chegado a esse ponto?— Será que eu vou me afundar por causa de uma desilusão amorosa?
Ela sabia que, de certa forma, sua vida era abençoada.Tinha crescido em uma família harmoniosa, rodeada por pessoas que a amavam e cuidavam dela. Sempre tinha sido assim e em muitos aspectos, Esther sabia que era uma pessoa de sorte.Mas quando se tratava do amor, as coisas nunca haviam sido tão fáceis. Esse era o ponto de maior infelicidade em sua vida. Talvez sua existência tenha sido estável demais e o destino resolveu colocar alguns obstáculos, criando turbulências em sua vida amorosa. Como se essa fosse a única área onde o caos precisava acontecer.Suas palavras fizeram Geraldo sorrir.Ele estava sentado ao lado dela, quieto e atento. Seus olhos castanhos brilhavam com uma ternura rara, uma gentileza que ele não costumava demonstrar tão abertamente.— Você nunca precisou sacrificar sua vida por mim, mas, de certa forma, você me deu uma nova chance de viver. — Disse ele, sem tentar desviar do assunto. — Quando você se lembrar, vai entender.Geraldo já tinha sido salvo por ela algu
A expressão de Geraldo ficou complicada. Se ela soubesse o que ele realmente tinha feito, com certeza não diria essas coisas. Ele mal tinha coragem de tocar suas mãos, quanto mais lhe contar os segredos obscuros que carregava.Mesmo assim, Geraldo não recusou mais o toque dela, permitindo que suas mãos ficassem entrelaçadas.Os dois ficaram em silêncio por um longo tempo, um silêncio quase confortável. Foi então que Esther notou algo no bracelete de contas que segurava. A cor vermelha parecia estar se intensificando, se tornando cada vez mais vívida. Ela franziu o cenho e perguntou, intrigada:— Essas contas estão mudando de cor?Geraldo manteve a expressão neutra, seus olhos escurecendo ligeiramente.— Estão?Esther levantou o braço, colocando as contas contra a luz do sol que entrava pela janela. Ela piscou, como se quisesse ter certeza do que estava vendo.— Eu achei que, por usar o bracelete por tanto tempo, ela tivesse escurecido com o tempo, mas essa cor vermelha... Ela parece es
—É a minha primeira vez. — Disse Geraldo, com um leve sorriso.Esther arqueou as sobrancelhas, surpresa.— Até que não está ruim. Vamos ver como você se sai. Vai que você tem um talento natural.Meia hora se passou até que Geraldo finalmente saiu da cozinha. O ar continuava limpo, sem o menor vestígio de fumaça, o que significava que ele, pelo menos, não tinha feito nenhum desastre.No entanto, quando ele colocou os pratos sobre a mesa, Esther ficou completamente chocada. Seus olhos se arregalaram de pavor ao encarar a comida.Percebendo a reação dela, Geraldo manteve a calma e começou a explicar, como se estivesse apresentando uma aula prática:— Isso aqui é coração de galinha, e este é fígado... Ambos são partes dos órgãos internos. E aqui está o corpo da galinha, com a coxa, que tem mais carne e é mais suculenta...Enquanto ele falava, Esther sentia como se estivesse ouvindo uma aula de anatomia. Ela podia até imaginar Geraldo dissecando a galinha com a mesma precisão que utilizava
Geraldo retraiu a mão, claramente tentando evitar ser tocado por Esther. Esse movimento apenas aumentou as suspeitas dela. Seus olhos se estreitaram enquanto ela questionava ele, com uma voz firme:— Por que você ainda está sangrando?Ela sabia que já havia se passado bastante tempo desde que ele havia se machucado, e, mesmo que a recuperação não estivesse completa, não era normal ele continuar perdendo sangue dessa maneira. A única explicação plausível seria um novo ferimento.Geraldo puxou a manga da camisa para cobrir o pulso, mas as gotas de sangue eram evidentes, impossíveis de ignorar. Ele tentou sorrir, forçando uma desculpa casual.— Me cortei sem querer enquanto cozinhava. Não é nada grave.Mas Esther não era tão fácil de enganar. Com um olhar de desconfiança, ela franziu a testa.— Você, que passa a vida com um bisturi na mão, se cortaria desse jeito? Isso não faz o menor sentido! Não vai me convencer com essa desculpa. Como é que você realmente se machucou?Geraldo permanece
Esther voltou a olhar para Geraldo, que observava ela com uma expressão calma e indiferente. Para ele, aquilo já não era novidade, fazia parte da sua realidade. Ele já havia passado por situações sombrias antes e ela sabia que o lugar onde ele viveu no passado não era nada respeitável. Como ele mesmo havia dito, viviam nas sombras, onde a luz jamais poderia alcançar.Ainda assim, Esther estava muito abalada. Ela não conseguia entender como duas pessoas, ambas humanas, podiam levar vidas tão diferentes.— Como você pôde fazer isso por mim? — Questionou Esther, sentindo uma onda de rejeição percorrer seu corpo. — Eu teria acordado sozinha depois de desmaiar. Não precisava se machucar, muito menos cortar o pulso para me dar seu sangue. Isso só prejudica seu corpo. Eu não queria que você fizesse isso.Geraldo soltou um riso leve, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo.— Não foi nada demais. É só um pouco de sangue. Eu não vou morrer por isso.— Não fala assim! — Protestou Esth