O olhar de Esther repousou sobre Marcelo e sua voz saiu hesitante:— É verdade?Os olhos de Marcelo, sempre tão profundos e misteriosos, agora pareciam ainda mais escuros e frios. Ele encarou o rosto de Esther, que parecia prestes a se quebrar em mil pedaços, mas continuou em silêncio.Esther insistiu, sua voz já começava a falhar:— Você e a Sofia, vocês estão juntos? Me diz, é verdade? Eu só acredito em você!Mais uma vez, o silêncio de Marcelo permaneceu como uma barreira intransponível. As lágrimas começaram a surgir nos olhos de Esther. Ainda havia uma centelha de esperança dentro dela, uma esperança frágil, mas presente.— Se você me disser que nada disso é verdade, eu posso esquecer. Mesmo que eu tenha visto você com ela, mesmo que eu tenha visto ela segurando o seu braço... Eu vou acreditar que você tem uma explicação, eu vou acreditar em você, mas por que você não fala nada? Fala alguma coisa! Me dá um motivo, uma esperança... Só um pouco.A cada palavra, o coração de Esther
Quando Sofia ouviu aquelas palavras, por um momento, ela ficou sem reação. Será que Marcelo não sabia que Esther estava grávida? Ou havia outro motivo por trás disso?No entanto, o olhar de Marcelo não mudou em nada. Seus olhos profundos permaneceram frios, vazios de qualquer emoção. Para ele, parecia que tudo o que envolvia Esther já não fazia mais parte da sua vida.Esther, no fundo, ainda alimentava uma pequena esperança. Ela acreditava que, talvez, o fato de estar grávida pudesse tocar o coração de Marcelo e fazer ele reconsiderar. Mas, no final das contas, era ela que estava se iludindo.Quando um homem decide ser frio e implacável, nem mesmo um filho é suficiente para mudar isso.Talvez fosse melhor nem ter contado nada.A última esperança de Esther não teve efeito algum. Ela sentiu seu coração se partir, morrendo aos poucos.— Marcelo, vamos embora. — Sofia quebrou o silêncio entre eles, se encostando no braço de Marcelo, como se quisesse selar sua vitória definitiva. — Esther,
Mesmo que o filho nascesse, ele nunca seria bem-vindo por Marcelo. Melhor seria que ela cuidasse da criança sozinha do que tê-lo ao lado de um pai como ele.A mansão estava silenciosa, quase fria de tão vazia.Esther ficou sentada ali por horas, imóvel, perdida em seus próprios pensamentos. Revivia em sua mente todos os momentos que viveu ao lado de Marcelo. Desde quando ela, jovem e cheia de sonhos, havia começado a trabalhar na mesma empresa que ele, até o momento em que havia se tornado sua esposa. Durante todos esses anos, mesmo sem receber um olhar de carinho, ela tinha suportado tudo, calada, esperando que um dia ele notasse ela. Quando finalmente decidiu desistir, deixou o caminho livre para que ele fosse atrás do seu verdadeiro amor. Mas, ironicamente, ele voltou a procurar ela, se envolvendo novamente com ela.Parecia que o destino havia decidido pregar uma peça cruel em Esther. Não importava o que fizesse, o final sempre seria trágico.Dessa vez, não havia escapatória. O divó
— Cala a boca! — Gritou Esther, tomada pela fúria. — Como você consegue dizer esse tipo de coisa? Eu realmente estava errada sobre você!Marcelo virou o rosto, mas não tentou desviar. Ele aceitou o tapa dela de frente, sem hesitação.Seu rosto estava marcado, a bochecha avermelhada pelo impacto. No entanto, o canto de sua boca se curvou em um sorriso amargo, cheio de desprezo. Ele se virou lentamente, com aquele olhar frio e distante, o mesmo de sempre. Mas agora, a frieza em seus olhos era mais profunda, como um abismo sem fim. Ele riu com escárnio.— Se isso te ajudar a desistir de mim, então é um bom começo. Eu nunca fui o homem certo para você!Esther estava devastada. O corpo dela tremia de tanta raiva e tristeza. Jamais, em toda sua vida, ela havia conhecido um homem tão cruel quanto Marcelo.— Se o seu objetivo era me fazer assinar esses papéis, então você conseguiu. Não pense que é só você que quer o divórcio. Eu também quero! — Ela não hesitou nem por um segundo. Pegou a canet
Sofia já estava sonhando acordada, imaginando como seria o seu casamento com Marcelo. Ela podia visualizar cada detalhe: a cerimônia luxuosa, a atenção de todos voltada para ela, o vestido mais deslumbrante... Ela se via como a noiva mais feliz do mundo, finalmente alcançando o que sempre quis.No entanto, de repente, ela ouviu o som de passos pelo corredor. Pensando que era apenas uma das empregadas, ela disse sem se virar:— Não precisa fazer nada aqui, pode sair.Mas os passos não pararam.Com uma leve irritação, ela franziu o cenho e tirou a máscara do rosto.— Eu já falei que não precisa... — Começou a dizer, mas a frase morreu em seus lábios quando levantou os olhos e viu quem estava à sua frente.Seus olhos se arregalaram de surpresa e ela imediatamente mudou sua atitude, deixando de lado a máscara e endireitando a postura.— Papai. — Ela disse, com a voz um tanto hesitante, mas respeitosa.— Fifi. — O homem sorriu para ela, os olhos brilhando de orgulho. — Há quanto tempo... Vo
Para Sofia, só havia uma saída. Ela sabia qual era....Esther não fazia ideia de como conseguiu passar aquela noite. Cada minuto parecia uma eternidade. Ela ficou deitada no sofá, os olhos bem abertos, sem conseguir dormir um segundo sequer. Quando ela finalmente voltou à realidade, notou que o céu do lado leste já estava tingido por uma leve névoa esbranquiçada, anunciando a chegada do amanhecer.Ela se sentia exausta, arrastando seu corpo cansado até o banheiro. Ao olhar para o espelho, tomou um susto. Por um momento, achou que tinha visto um fantasma refletido ali.Seus olhos estavam avermelhados, como se não tivesse dormido há dias. O rosto estava pálido e marcado pela fadiga. Não havia cor em suas bochechas e ela parecia uma mulher gravemente doente, alguém à beira do colapso.Ela passou a mão pelo rosto, sentindo a textura da pele, mal conseguia acreditar que aquela imagem era sua. Como tinha chegado a esse ponto?— Será que eu vou me afundar por causa de uma desilusão amorosa?
Ela sabia que, de certa forma, sua vida era abençoada.Tinha crescido em uma família harmoniosa, rodeada por pessoas que a amavam e cuidavam dela. Sempre tinha sido assim e em muitos aspectos, Esther sabia que era uma pessoa de sorte.Mas quando se tratava do amor, as coisas nunca haviam sido tão fáceis. Esse era o ponto de maior infelicidade em sua vida. Talvez sua existência tenha sido estável demais e o destino resolveu colocar alguns obstáculos, criando turbulências em sua vida amorosa. Como se essa fosse a única área onde o caos precisava acontecer.Suas palavras fizeram Geraldo sorrir.Ele estava sentado ao lado dela, quieto e atento. Seus olhos castanhos brilhavam com uma ternura rara, uma gentileza que ele não costumava demonstrar tão abertamente.— Você nunca precisou sacrificar sua vida por mim, mas, de certa forma, você me deu uma nova chance de viver. — Disse ele, sem tentar desviar do assunto. — Quando você se lembrar, vai entender.Geraldo já tinha sido salvo por ela algu
A expressão de Geraldo ficou complicada. Se ela soubesse o que ele realmente tinha feito, com certeza não diria essas coisas. Ele mal tinha coragem de tocar suas mãos, quanto mais lhe contar os segredos obscuros que carregava.Mesmo assim, Geraldo não recusou mais o toque dela, permitindo que suas mãos ficassem entrelaçadas.Os dois ficaram em silêncio por um longo tempo, um silêncio quase confortável. Foi então que Esther notou algo no bracelete de contas que segurava. A cor vermelha parecia estar se intensificando, se tornando cada vez mais vívida. Ela franziu o cenho e perguntou, intrigada:— Essas contas estão mudando de cor?Geraldo manteve a expressão neutra, seus olhos escurecendo ligeiramente.— Estão?Esther levantou o braço, colocando as contas contra a luz do sol que entrava pela janela. Ela piscou, como se quisesse ter certeza do que estava vendo.— Eu achei que, por usar o bracelete por tanto tempo, ela tivesse escurecido com o tempo, mas essa cor vermelha... Ela parece es