Marcelo estava fazendo uma análise cuidadosa da situação. Utilizando a lógica da exclusão, chegou à conclusão de que o gangue tinha algo pessoal contra ele. Eles atiraram para matá-lo, o que fez ele pensar que havia uma inimizade anterior. O único caso não resolvido do passado que lhe veio à mente foi o de uma rede de tráfico de pessoas.A questão é que, dessa vez, o alvo parecia ser Esther. Ela não era uma criança, o que era incomum para esse gangue, já que eles geralmente focavam no tráfico infantil. No entanto, também poderia se tratar de um caso de tráfico de órgãos.Se fosse apenas isso, após terem sido expostos na primeira tentativa, seria prudente evitar uma segunda tentativa contra a mesma pessoa em tão pouco tempo. Além disso, considerando a posição de Esther, não parecia provável que ela fosse um alvo comum para esse gangue. A hipótese mais provável era que alguém havia encomendado o ataque, pagando para que machucassem Esther.— Capitão Marcelo, aquela mulher que veio ontem
O que estava acontecendo? Será que o relacionamento entre Marcelo e Esther estava melhorando?Sofia pensava nisso, remoendo suas intenções. Seu plano de separar os dois parecia estar saindo pela culatra. Em vez de afastá-los, parecia que ela estava ajudando a aproximá-los ainda mais. A ideia de que seus esforços pudessem acabar servindo apenas para fortalecê-los deixava Sofia furiosa. Seus dedos se apertavam com força, o sentimento de frustração e ciúmes prestes a transbordar dos olhos. Sofia simplesmente não conseguia aceitar que Esther tivesse Marcelo.“Eu conheci Marcelo primeiro! Até arrisquei minha vida por ele. Não é justo que Esther consiga tudo tão facilmente!”, pensou ela, furiosa.A indignação fervilhava em seu peito, a enchendo de ressentimento. Ela não podia suportar a ideia de ver Esther ter o que ela tanto queria.— Sofia. — A voz firme de Marcelo a tirou de seus pensamentos. Seus olhos afiados encaravam ela diretamente. — Você ouviu o que eu disse?Sofia rapidamente se
Esther assentiu com a cabeça. Marcelo havia acabado de terminar o soro e decidiu que era hora de comerem algo juntos.Dentro do quarto do hospital, tudo já estava pronto. Marcelo havia preparado uma refeição rica e nutritiva, especialmente pensada para uma mulher grávida. Ele abriu o recipiente da sopa e a colocou diante de Esther, a entregando com um sorriso gentil.Ela tomou um gole, para sua surpresa, o sabor era delicioso, muito melhor do que ela poderia fazer. Nos últimos tempos, seu apetite havia aumentado consideravelmente.Marcelo se sentou à sua frente, a observando enquanto ela experimentava a comida. Esther pegou um pedaço de fígado de porco, mas logo fez uma careta. O sabor estava forte demais para seu paladar.— Isso aqui tá meio forte. Não gostei. Fica pra você. — Disse ela, jogando o pedaço no prato de Marcelo, e logo voltou a tomar sua sopa sem se importar muito.Marcelo olhou para o pedaço de fígado no prato e depois levantou os olhos para Esther, percebendo como ela
Esther ficou surpresa com a atitude dele.— Como você sabia que eu queria comer bolo de morango?Marcelo sorriu com os lábios levemente curvados.— Eu faço mágica.Esther revirou os olhos, sem acreditar na coincidência. Aquilo não podia ser obra de mágica, com certeza. Ela olhou para o armário onde ele havia tirado o bolo e, desconfiada, caminhou até lá para conferir. Ao abrir a porta, ficou surpresa com o que encontrou: o armário estava abarrotado de coisas. Lanches, frutas, bolos, uma variedade de snacks, tudo perfeitamente organizado ali.Ela se virou para Marcelo, que, sem jeito, apertou os lábios antes de se justificar:— São para mim. Eu como isso tudo.Esther riu abertamente.— Você está mentindo. Tudo isso só pra me agradar, né? Aposto que você pensou bastante antes de planejar isso.O rosto de Marcelo ficou um pouco sem cor e ele imediatamente lançou um olhar para Durval, que estava na porta, sem jeito, tentando disfarçar a situação. Ao perceber o olhar do chefe, Durval começo
Esther parecia não entender direito.— O que aconteceu? Que história é essa de seriedade?Durval suspirou, com uma expressão de cansaço no rosto.— Ontem o capitão Marcelo me castigou, me fez treinar até tarde da noite e ainda me acordou antes do amanhecer. Foi de lascar!— Mas ele me disse que você gosta de treinar à noite, não é verdade? — Esther comentou surpresa, sem imaginar que a situação fosse tão difícil.Durval, segurando a vontade de chorar, apenas aceitou o destino.— Se ele falou isso, então é verdade... Gosto de treinar à noite. — Disse com uma expressão derrotada. Quando chegaram ao andar em que morava, Esther disse:— Esperem aqui. Eu já volto. Vai ser rapidinho.— Ok.Durval, como sempre, ficaria atento à segurança dela, mas também respeitaria a privacidade de Esther. O prédio já havia sido inspecionado previamente e, ao que tudo indicava, o ambiente era seguro.Entrando em casa, Esther caminhou com passos decididos, mas ao passar pela porta do quarto de Geraldo, ela h
— Como assim?Esther nunca tinha imaginado ver Geraldo dessa forma. Como ele poderia ter medo de que ela deixasse de gostar dele? Ele, que sempre pareceu tão seguro, tão capaz, alguém que jamais deveria temer a desaprovação de qualquer pessoa.Agora, no entanto, o que ela precisava fazer era cuidar dos ferimentos dele. Esther se aproximou, com uma voz suave, e disse:— Fica quieto, deixa eu tratar esses machucados primeiro.Geraldo ainda parecia hesitante, com os olhos baixos, como se estivesse lutando contra algo dentro de si. Mas Esther já não podia perder tempo, ela queria resolver o problema que estava bem na frente deles. Com mãos cuidadosas, ela desabotoou a camisa dele, revelando a pele clara, marcada por cicatrizes profundas e assustadoras. A visão dessas marcas deixou ela angustiada. Cada cicatriz parecia contar uma história de dor que ela ainda não conhecia.Sobre a mesa de centro havia alguns medicamentos. Ela os pegou e, com delicadeza, começou a aplicar nas feridas. Enquan
Esther levou um susto com a reação repentina de Geraldo.— O que você está fazendo? — Perguntou ela, pressionando a mão contra o peito dele, tentando afastá-lo.Os olhos de Geraldo escureceram e ele respondeu friamente:— Você entra assim, sem mais nem menos, no quarto de um homem que mal conhece, não tem medo de que algo ruim aconteça?Esther manteve a calma e retrucou:— Nós já nos conhecemos há algum tempo.— Você sabe quem eu realmente sou? — Geraldo continuou, sua voz cheia de uma frieza desconcertante.Esther mordeu o lábio, mas não demonstrou medo. Seus olhos encaravam os dele com uma determinação feroz.— Você ousaria? — Ela deu um passo à frente, desafiadora, chegando ainda mais perto dele. — Mesmo que eu não saiba tudo sobre você, será que você teria coragem de fazer alguma coisa contra mim?Geraldo hesitou. O olhar dele se tornou mais complexo, e quando Esther avançou, ele deu um passo para trás. Ela sabia. Sabia que as ameaças de Geraldo eram apenas palavras vazias. Se ele
Quando Durval viu Esther, ele comentou com um leve sorriso de alívio:— Sra. Esther, você demorou. Eu estava quase indo bater à sua porta.Esther não mencionou nada sobre seu encontro com Geraldo, preferindo manter o assunto em segredo.— Estava conversando com minha editora-chefe sobre alguns detalhes. Demorou mais do que eu esperava. Vamos?Durval assentiu, mas ao se aproximar, franziu o cenho, percebendo algo estranho.— Sra. Esther, você está sentindo esse cheiro? Parece... Sangue. Você se machucou?— Não, claro que não. — Esther se deu conta de que o cheiro provavelmente vinha de Geraldo. — Talvez seja Marcelo.Durval não insistiu mais no assunto, mas observou com curiosidade o bralecete de contas que agora adornava o pulso de Esther. O tempo todo, enquanto caminhavam, ela não parava de tocar as contas, como se tentasse decifrar seu significado.Ela não conseguia entender por que Geraldo insistiu tanto para que ela usasse aquilo. Examinando as contas com mais atenção, percebeu que