— O que você quer dizer com isso? — Perguntou Esther, com os olhos semicerrados. — Para se divorciar de mim, você também seria capaz de mentir e dizer que o filho é do Luiz. — Marcelo afirmou, com sua voz carregada de desconfiança. Esther podia contar nos dedos de uma mão as vezes em que havia mentido para Marcelo. Se não fosse necessário, ela nunca mentiria. Essa história de que o filho era de Luiz, bem, essa afirmação nunca saíra de sua boca. Ela jamais admitiu tal coisa. — E se não é do Luiz, vai dizer que é seu? — Esther se virou para encará-lo, com os olhos desafiadores. — Quem é esse Enrico, afinal? — Marcelo perguntou, com os olhos ficando ainda mais sombrios. — Esther, esse cara realmente existiu ou você só inventou isso para me provocar? Ele já tinha investigado tudo sobre o passado dela. Vasculhou cada pessoa com quem Esther havia contato ao longo de sua vida, mas não havia ninguém com o nome de Enrico.Talvez fosse um apelido, mas também não encontrou nenhuma pista.Ao
Esther estava tão certa de que nunca havia desaparecido por um verão inteiro que isso fez Marcelo hesitar por um momento. A firmeza dela o deixou confuso. Talvez aquele verão em que ela havia sumido não fosse tão verdade assim.Sem perceber o que havia de errado, Esther olhou para frente e, ao se aproximar de casa, disse com tranquilidade:— Estamos quase chegando. Pode parar aqui na frente.Gilberto pisou no freio e parou o carro de maneira suave na esquina.Esther abriu a porta e desceu.— Estou indo. Você também deveria ir para casa logo. — Disse ela, em um gesto educado para Marcelo, que a havia levado de volta.Marcelo, porém, não conseguia entender onde estava o erro. Enquanto ele permanecia em silêncio, perdido em pensamentos, Esther, sem esperar por uma resposta, caminhou sozinha em direção ao condomínio, seus passos ecoavam no asfalto.Marcelo observou Esther se afastar, mas não fez nenhum movimento para sair do carro. Ele estava preso em um ciclo de dúvidas, procurando uma ex
Quando Marcelo foi mencionado, Esther também sentiu surgir uma grande dúvida em seu coração. Ela segurava o celular, seus dedos hesitavam sobre a tela por um longo tempo. Era uma pergunta que precisava ser feita. Assim, Esther começou a digitar.[Quando eu estava no ensino médio, teve algum verão em que eu fiquei fora de casa?]Se Marcelo tinha essa dúvida, ela também precisava esclarecer. Contudo, a resposta demorava a chegar. Minutos antes, elas estavam conversando normalmente, e de repente o silêncio fez com que Esther começasse a se sentir um tanto desconfortável. A espera se estendeu por dez minutos até que, finalmente, a notificação do celular trouxe a resposta de Isabela.[Quem te disse isso?]Esther, sem ter certeza do que responder, digitou rapidamente.[Nada demais, só estou perguntando por curiosidade.]Isabela garantiu: [Isso nunca aconteceu. Desde que você era criança, tirando as viagens a trabalho, você sempre esteve em casa. Nossa família sempre foi rígida. Como você p
Demorou um pouco, mas finalmente Murilo desviou o olhar da foto e voltou a encarar Marcelo. A expressão de choque em seu rosto se transformou em confusão. Não entendia por que Marcelo estava tão interessado naquele assunto.— Por que esse interesse todo de repente? — Questionou Murilo. — Mesmo que a garota sequestrada não fosse a Esther, isso seria tão importante pra você?O tom de Murilo não parecia de quem queria esconder algo, nem havia malícia em suas palavras.Os olhos penetrantes de Marcelo relaxaram um pouco, mas ele manteve o tom firme ao responder:— Estou investigando outra questão e acabei esbarrando nisso. Achei que o senhor poderia esclarecer. O sequestro não envolveu a Esther, mas ela tem essas memórias e se vê como essa menina. O nome das duas é o mesmo. Se não houvesse algo escondido, como é possível que Esther tenha essa lembrança?Murilo, ao ouvir isso, ficou visivelmente abalado. Sua expressão mudava de minuto a minuto.— Diretor Murilo, isso aconteceu na escola sob
Murilo ficou ainda mais surpreso, não esperava que a situação chegasse a esse ponto.— Eu também só fiquei sabendo disso hoje. Se no passado falei algo que não devia, espero que não leve a mal.Ele ainda se lembrava de quando tentou juntar Esther com Luiz, sem falar das tentativas com sua própria filha.— O senhor está sendo muito educado, diretor Murilo. — Disse Marcelo, cordialmente. — Já está tarde, não quero tomar mais o seu tempo.Apesar do choque, Murilo era uma pessoa acessível e amigável. Ele fez questão de acompanhar os dois até a saída....Já era madrugada.Esther estava deitada na cama quando sentiu o estômago roncar de fome. Naqueles dias, parecia que a fome vinha com muito mais frequência. Além disso, seu paladar estava diferente, com uma queda por alimentos mais salgados e picantes. Antes, ela não suportava tanto pimenta, mas agora... Ela conseguia comer mais do que imaginava.Mesmo com fome, o cansaço tomava conta dela, e tudo o que queria era dormir. Enrolada no cobert
Ao ouvir aquelas palavras, Esther, instintivamente, fechou os punhos, desviando o olhar. Tinha medo de que estivesse se iludindo.— Você só quer mudar porque se importa comigo? Mas por que se importar tanto assim?Marcelo olhou diretamente para ela e respondeu com firmeza:— Você é minha esposa.Esther mordeu levemente os lábios e começou a mexer o hotpot, sem comer nada.— Não foi a gente que decidiu se divorciar? Usar o argumento de que sou sua esposa parece meio forçado. Antes você nunca se importou em mudar nada por mim. Agora, de repente, resolve se preocupar tanto?Marcelo apenas a observava, como se estivesse refletindo sobre algo. Ele não disse mais nada.Sentindo o peso do olhar dele, Esther desistiu de esperar qualquer resposta e abaixou a cabeça, começando a comer.De repente, Marcelo quebrou o silêncio com uma frase que pegou Esther completamente desprevenida:— Acho que estou começando a gostar de você.A frase tão casual a pegou de surpresa, fazendo ela engasgar. O caldo
Ela estava sentada na cama, com o olhar fixo na porta, sabendo que Marcelo estava do outro lado. Mesmo assim, o sono parecia distante. Seu coração não se acalmava, pois as palavras de Marcelo ainda ecoavam em sua mente. No fundo, ela sentia medo. Medo de expor o que realmente pensava e sentia. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela pulsava com uma inquietação incontrolável. Logo, a porta se abriu novamente. Esther levantou os olhos e viu Marcelo entrando no quarto. Ela ficou ali, atônita, observando, da mesma forma como tinha feito na primeira vez que o viu. Sem dizer nada, se limitou a encará-lo, incapaz de pronunciar uma única palavra. Marcelo se aproximou, segurando uma xícara de leite em uma das mãos. Com um tom de voz baixo e profundo, disse:— Beber leite antes de dormir faz bem. Este aqui é doce, ajuda a aliviar o estresse. Esther olhou para o leite à sua frente e, em seguida, para o braço de Marcelo, onde as veias se destacavam levemente. Por um breve momento, ela ficou co
Ao perceber que Marcelo realmente não se lembrava de nada, Esther sentiu uma pontada de decepção no peito. — Nada mais. — Ela balançou a cabeça, resignada.Marcelo não disse nada.Esther se deitou de lado, evitando encarar o rosto dele. No entanto, antes de virar, ela havia notado a tranquilidade no semblante de Marcelo. Como ele não sabia que Enrico era ele mesmo? Será que tinha esquecido completamente aqueles acontecimentos?Mesmo que ele não se lembrasse de tudo, deveria ao menos recordar o nome que usava naquela época. Qual parte dessa história não estava se encaixando?Quanto mais Esther pensava, mais se via presa em um labirinto sem saída. Sua cabeça latejava, a confusão apenas piorava. Ela fechou os olhos, tentando afastar aqueles pensamentos.Marcelo, por sua vez, ajeitou o cobertor sobre ela com cuidado, e permaneceu ali por alguns minutos, observando até perceber que a respiração dela havia se acalmado. Só então, saiu do quarto em silêncio.Fora do quarto, ele pegou o celul