Gabriel sentiu um aperto no coração, uma dor surda que ameaçava esmagá-lo por dentro. Mas ele manteve a aparência calma, os olhos fixos em Joaquim, como se estivesse olhando diretamente para a alma do homem à sua frente. — Você tem coragem? Coragem de contar a ela o que realmente aconteceu naquela época? Coragem de dizer por que ela te deixou? Ou como sua esposa e seu filho vieram ao mundo? — Provocou ele, pausadamente, cada palavra cheia de um peso insuportável. — Eu acho que, mesmo que Natacha recupere a memória, ela preferiria não saber a verdade. Afinal, Sr. Joaquim, você não deu a ela muitas boas lembranças, né? Era verdade… Tudo o que ele disse era verdade. Joaquim sentiu as pernas fraquejarem, o sangue gelando em suas veias, e ficou paralisado no lugar, incapaz de reagir. As palavras de Gabriel eram como punhaladas em seu peito, dificultando até mesmo sua respiração. “Mesmo que Natacha lembrasse do passado, o que isso mudaria? Ela apenas me odiaria ainda mais…”, pensou Joaqui
Embora Natacha estivesse furiosa, ela ainda conseguiu manter a calma, uma façanha que exigiu todo o seu autocontrole. — Você está tentando se livrar de toda a responsabilidade, né? — Disse ela, a voz cortante como lâminas de gelo, enquanto suas mãos tremiam levemente de raiva contida. — Mas o laudo da autópsia já saiu. A única explicação é que a concentração do medicamento não foi suficiente, por isso a doença do menino não foi controlada e acabou piorando rapidamente. Na prescrição médica, a dosagem estava claramente indicada. E foi você que administrou as injeções. A única pessoa que poderia ter alterado a concentração do remédio foi você. A enfermeira, sentindo o peso das palavras de Natacha, recuou ligeiramente, seu rosto se contorcendo em uma mistura de medo e indignação. — Eu já disse que não sei de nada! Dra. Susan, mesmo sendo uma especialista contratada a peso de ouro pelo hospital, eu também tenho minha dignidade! Com que direito você me acusa assim? — Retrucou ela, a voz
Natacha quase gritou de tão irritada. Sentia o sangue pulsar nas têmporas, como se o controle que mantinha estivesse prestes a se romper. Sua respiração, acelerada, denunciava a fúria que tentava conter. Os olhos, fixos na enfermeira, estavam carregados de uma intensidade quase avassaladora. Ela não suportava mais ouvir desculpas ou evasivas.— Vamos, agora! — Natacha ordenou, a voz baixa. Com um movimento brusco, agarrou o braço da enfermeira, puxando ela sem qualquer cerimônia. Seu olhar, cortante, parecia penetrar a alma da outra mulher, deixando claro que não havia espaço para negociação.A enfermeira, assustada e sem forças para resistir, deixou-se ser conduzida, sentindo o peso da vergonha a esmagar.Ao chegar ao escritório do diretor, seu coração pulsava acelerado, mas sua determinação era inabalável.Não demorou muito para que a polícia fosse chamada. A enfermeira, agora encolhida em um canto, chorava sem parar, enquanto era escoltada pelos policiais. As lágrimas, no entanto,
A experiência de anos no trato da saúde fez com que Rafaela percebesse, quase instantaneamente, que a doença de Domingos havia voltado. Mas, dessa vez, a gravidade parecia ainda maior, como se a vida do filho estivesse pendendo por um fio.— Mãe, eu... Eu tô me sentindo... Muito mal. Será que... eu tô prestes a... Morrer? — Domingos, lutando para respirar, tentava falar, a voz fraca e carregada de medo. As palavras de Domingos atingiram Rafaela como um golpe no estômago. O desespero tomou conta dela. — Não, não diga isso, meu filho! — Ela quase gritou, sua voz trêmula, tomada pelo pânico. — Não fale besteiras! Eu não vou deixar, ouviu?! — Ela segurou o rosto de Domingos com as mãos trêmulas, como se tentasse ancorá-lo à vida através do toque.Em um movimento brusco, Rafaela se virou para Dora, que estava pálida de medo, incapaz de se mover. — Dora, pelo amor de Deus, liga pro Dr. Bryan agora! — Ela gritou, o desespero transbordando em cada palavra. — Faça ele vir aqui imediatamente!
Joaquim estava decidido a levar Domingos ao hospital, e Rafaela não teve escolha a não ser acompanhá-lo. Sentada no banco do passageiro, seu olhar estava fixo no filho, que mal conseguia respirar. De repente, ela pegou o cartão de visita que Joaquim havia dado antes e, com um gesto nervoso, devolveu-o a ele. — Natacha me detesta. — Sua voz saiu trêmula, carregada de ressentimento. — Ela não vai querer me ajudar. Melhor você ligar pra ela. Rafaela desviou o olhar, tentando esconder a humilhação que sentia só de imaginar ter que pedir ajuda a Natacha.Joaquim soltou um suspiro pesado, pegando o telefone e discando o número.Do outro lado da linha, Natacha atendeu. Joaquim explicou rapidamente a situação. Ele sabia que, apesar de qualquer ressentimento que Natacha pudesse ter, ela era uma profissional dedicada. Além disso, ele já havia salvado a vida dela antes, o que, sem dúvida, pesaria na decisão.Natacha concordou rapidamente em ajudar.O carro voava pelas ruas.Assim que chegaram
E o pior de tudo é que ainda era um encontro totalmente às claras. De repente, como se um relâmpago atravessasse sua mente, Rafaela abriu a boca e soltou a pergunta que a corroía por dentro.— Assinar aquele termo de consentimento, o que isso significa? Se nós assinarmos, e o Domingos acabar como aquele outro garoto, morrendo nas suas mãos, você também vai sair dessa sem nenhuma responsabilidade, jogando toda a culpa em nós? — Rafaela perguntou com um tom de desafio, cruzando os braços e erguendo o queixo, tentando mascarar a insegurança que sentia.Os olhos de Natacha se fixaram nela, afiados como lâminas, sem deixar transparecer um pingo de emoção. — Esse caso já foi esclarecido no site oficial do hospital. Sugiro que você dê uma olhada. — Disse Natacha, com a voz firme e um leve sorriso irônico nos lábios. — Além disso, se você não confia em mim, pode levar seu filho embora a qualquer momento. Inclusive agora, se quiser, eu não vou te impedir. Rafaela ficou completamente dividida
— Eu ainda tenho chance de voltar a estudar? — Domingos perguntou, a voz cheia de esperança, piscando os olhos.Natacha concordou, se inclinando levemente para ele, como se quisesse transmitir segurança através de sua postura. — Sim, desde que você siga meu tratamento direitinho, com certeza vai ter a mesma oportunidade que as outras crianças. — Ela disse, com um tom encorajador.Nesse exato momento, a porta se abriu com um baque, e Rafaela entrou rapidamente, os olhos fixos em Natacha como se fossem lanças. Ela foi direto em direção a Natacha, empurrando-a com força para o lado. Natacha, apanhada de surpresa, quase perdeu o equilíbrio, mas conseguiu se segurar na parede a tempo. Seu coração disparou com a brusquidão do gesto, mas ela manteve a compostura.Com os olhos arregalados de incredulidade, Natacha a encarou, sua respiração ainda um pouco descompassada pela surpresa. — O que você pensa que está fazendo? — Ela perguntou, o tom carregado de indignação.Rafaela, ainda furiosa,
Rafaela não queria mostrar seu lado sombrio na frente do filho, então, com muito esforço, segurou a raiva que fervilhava em seu peito e forçou um sorriso, embora seus olhos ainda estivessem carregados de ressentimento. — Filho, a mamãe errou, eu sei... — Ela começou, a voz embargada pela tentativa de manter a calma. — Mas eu não tenho escolha. Você acha que essa mulher realmente quer te ajudar? Na verdade, ela quer roubar o seu pai de nós.Domingos olhou para a mãe, a confusão refletida em seus olhos. Ele franzia a testa, como se estivesse tentando entender o que sua mãe estava dizendo. — Não é possível, mamãe... — Murmurou ele, balançando a cabeça, com o olhar ainda perdido. — A doutora não parece ser esse tipo de pessoa. Ela é muito gentil... Rafaela soltou um suspiro sarcástico, seus lábios curvando-se em um sorriso que não alcançava os olhos. — Tudo isso é fingimento, meu amor... — Disse ela. — Se ela não estivesse armando alguma coisa, por que estaria usando você para se aprox