— Eu ainda tenho chance de voltar a estudar? — Domingos perguntou, a voz cheia de esperança, piscando os olhos.Natacha concordou, se inclinando levemente para ele, como se quisesse transmitir segurança através de sua postura. — Sim, desde que você siga meu tratamento direitinho, com certeza vai ter a mesma oportunidade que as outras crianças. — Ela disse, com um tom encorajador.Nesse exato momento, a porta se abriu com um baque, e Rafaela entrou rapidamente, os olhos fixos em Natacha como se fossem lanças. Ela foi direto em direção a Natacha, empurrando-a com força para o lado. Natacha, apanhada de surpresa, quase perdeu o equilíbrio, mas conseguiu se segurar na parede a tempo. Seu coração disparou com a brusquidão do gesto, mas ela manteve a compostura.Com os olhos arregalados de incredulidade, Natacha a encarou, sua respiração ainda um pouco descompassada pela surpresa. — O que você pensa que está fazendo? — Ela perguntou, o tom carregado de indignação.Rafaela, ainda furiosa,
Rafaela não queria mostrar seu lado sombrio na frente do filho, então, com muito esforço, segurou a raiva que fervilhava em seu peito e forçou um sorriso, embora seus olhos ainda estivessem carregados de ressentimento. — Filho, a mamãe errou, eu sei... — Ela começou, a voz embargada pela tentativa de manter a calma. — Mas eu não tenho escolha. Você acha que essa mulher realmente quer te ajudar? Na verdade, ela quer roubar o seu pai de nós.Domingos olhou para a mãe, a confusão refletida em seus olhos. Ele franzia a testa, como se estivesse tentando entender o que sua mãe estava dizendo. — Não é possível, mamãe... — Murmurou ele, balançando a cabeça, com o olhar ainda perdido. — A doutora não parece ser esse tipo de pessoa. Ela é muito gentil... Rafaela soltou um suspiro sarcástico, seus lábios curvando-se em um sorriso que não alcançava os olhos. — Tudo isso é fingimento, meu amor... — Disse ela. — Se ela não estivesse armando alguma coisa, por que estaria usando você para se aprox
Joaquim ficou em silêncio por um momento, seu olhar distante, como se estivesse procurando as palavras certas em algum lugar dentro de si. Após alguns segundos que pareceram se arrastar, ele sorriu levemente, tentando aliviar a tensão que sentia no peito. Seus olhos suavizaram ao olhar para Domingos, e ele falou com uma ternura que só um pai poderia oferecer: — Meu pequeno... Papai e mamãe te amam muito. Nós nunca vamos te deixar... Domingos, sentindo o calor e a sinceridade na voz do pai, não conseguiu conter a emoção que o invadiu. Ele se jogou nos braços de Joaquim, agarrando-o com força, como se não quisesse nunca mais soltá-lo. — Eu sabia, papai! — Exclamou, sua voz cheia de uma felicidade genuína, enquanto escondia o rosto no peito de Joaquim. — Eu sabia que você jamais me abandonaria... Joaquim abraçou o filho com força, sentindo o pequeno corpo tremer levemente em seus braços. No entanto, os olhos de Rafaela mostravam uma profunda melancolia, uma tristeza que parecia ter s
Otília, com sua vozinha doce e olhos brilhando de expectativa, se aproximou da câmera com um sorriso encantador. — Eu quero que a mamãe me abrace pra dormir e também quero que a mamãe leve a gente para a escola. — Disse ela, quase como se estivesse fazendo um pedido irrecusável, enquanto seus olhinhos pediam carinho e atenção. Natacha sorriu, mas antes que pudesse responder, Adriano, com a energia típica de um irmão, empurrou Otília de lado com um gesto firme, tomando seu lugar na frente da câmera. Sua expressão séria e determinada contrastava com a leveza de Otília. — Mamãe, eu e a Otília somos brasileiros, isso quer dizer que nosso pai também é brasileiro. — Disse ele, com a voz baixa, mas cheia de convicção. Seus olhos, grandes e inquisitivos, encaravam a câmera como se quisesse desvendar algum grande segredo. — Você viu alguém parecido com o papai aí? Natacha, que estava relaxada até então, sentiu o sangue gelar num instante. A surpresa a pegou de tal forma que ela ficou sem pa
Natacha havia aceitado a proposta de Gabriel para começarem um relacionamento, mas em nenhum momento considerou o que isso significaria para o futuro. A princípio, parecia mais simples, algo sem grandes compromissos, mas agora, a ideia de um futuro concreto, de um possível casamento, pesava em seus ombros como uma nuvem carregada prestes a desabar. Quando Otília mencionou casamento, a palavra soou como um eco distante, algo fora de sua realidade. A sensação de que essa ideia estava muito longe de seu mundo a deixou ansiosa e um tanto nervosa.Sem pensar muito, ela pegou o frasco de remédios que o Dr. Mark, seu médico no exterior, havia receitado. O frasco parecia pesado em suas mãos trêmulas, enquanto abria o frasco e deixava cair duas pílulas na palma da mão. Tomou duas pílulas e bebeu um pouco de água morna, sentindo o líquido descer pela garganta, trazendo um alívio momentâneo, mas que logo se dissipou.Depois de se preparar para dormir, Natacha se deitou na cama, puxando os cobert
Joaquim não disse nada. Em vez disso, se agachou na frente de Natacha e começou a tirar seus sapatos com delicadeza, o toque de suas mãos revelando uma mistura de urgência e cuidado. Surpresa com a ação repentina, Natacha exclamou, assustada e quase puxando o pé de volta: — Não faça isso! — Fica quieta, deixa eu ver se você machucou o tornozelo. — Disse Joaquim, num tom firme, mas gentil, ignorando a resistência dela. Seus olhos estavam fixos no tornozelo inchado, e seu rosto mostrava uma preocupação sincera enquanto removia também a meia, segurando o delicado pé de Natacha em suas mãos como se fosse um objeto frágil que pudesse se quebrar a qualquer momento.Natacha sentiu uma mistura de emoções que a deixava à beira de um colapso. O calor das mãos de Joaquim em contato com sua pele fria, o gesto de preocupação, e a delicadeza que ele demonstrava, tudo isso mexia com suas defesas. Ela sempre se orgulhava de sua independência e força, mas agora, naquela situação, parecia que as barre
Natacha decidiu ignorar a sensação de desapontamento que a invadia, sentindo uma mistura de frustração e resignação se acumular dentro dela. Ela disse a Joaquim, assumindo um tom mais formal e distanciado: — Eu sou médica. Desde o momento em que aceitei cuidar do seu filho, me comprometi a fazer o meu melhor para salvar ele. Então, não precisa mais se preocupar em me trazer café da manhã. Normalmente, eu sempre como em casa antes de sair para o trabalho. Hoje foi uma exceção. Joaquim franziu o cenho, sentindo que Natacha estava se fechando novamente, erguendo as barreiras que ele tentava, de alguma forma, derrubar. — Mas, Natacha... — Chamou ela com suavidade. Porém, ao abrir a boca, as palavras que estavam em sua mente pareciam travadas na garganta, pesando em sua língua. O coração de Natacha disparava, batendo com força em seu peito. Ela não sabia ao certo o que Joaquim pretendia dizer, mas o simples fato de estar ali, ao lado dele, fazia com que suas emoções ficassem ainda mais
Nesse instante, uma voz fria ecoou no ambiente: — Eu cheguei. Todos se viraram ao mesmo tempo em direção à porta, onde Natacha, vestida com um jaleco branco, caminhava lentamente para dentro do quarto. O Sr. Henrique rapidamente se aproximou de Natacha e disse em voz baixa: — Dra. Susan, onde você esteve? Por que só agora você apareceu para o trabalho? — Torci o pé. — Natacha respondeu de maneira simples e explicou para o Sr. Henrique. — Se você não acredita em mim, posso ir com você ao ortopedista para que ele comprove isso. O Sr. Henrique prontamente disse: — Não precisa, se você diz, por que eu duvidaria? Seu pé está bem? Rafaela soltou uma risada sarcástica e comentou: — Então, é isso? Vocês estão encenando na minha frente para fugir da responsabilidade? Assim que Rafaela terminou de falar, Natacha sorriu e, olhando para a porta, disse: — Agora você vê o tipo de pessoa que sua esposa é? Rafaela se sobressaltou, e no segundo seguinte, viu Joaquim entrar com u